Num
curto espaço de tempo vieram a público, no Público, artigos de opinião sobre os
Museus em Portugal. Felicito os autores dos mesmos. Felicitar, aplaudir, não
significa concordar. Ainda que esteja de acordo com o que a maioria escreveu.
Várias questões, estruturantes, foram enumeradas, nomeadamente no que diz
respeito a debilidades. Fraquezas essas que, de modo resumido, se podem traçar
da seguinte forma:
Envelhecimento dos mapas de pessoal, sem entrada de novos recursos, que resulta na inevitável transferência de conhecimentos;
As habilitações académicas dos diretores de museus e as suas competências concretas, efetivas e afetivas;
A teoria de se ser museu “versus” a realidade.
Infelizmente não é nada de novo. São problemas que se arrastam há demasiado tempo. Quem trabalha em museus, na cultura, já os sabe de “cor e salteado”. Sabe o Assistente Operacional, sabe o Assistente Técnico, sabe o Diretor, sabe a Direção-Geral do Património Cultural, sabem os Secretários de Estado e os Ministros da Cultura. Isto apenas falando nos museus, monumentos e palácios tutelados pelo Estado Central. Também, infelizmente, sabem desta precariedade os visitantes; sabem as chamadas partes interessadas (essa comunidade que todos querem integrar, mas que é quase como uma nuvem negra que paira no ar, dado que poucos se dão ao trabalho de a estudar); sabem os mecenas (acho ridículo falar-se de mecenato cultural em Portugal). Resumindo, acho que já não há ninguém que não saiba.
Há, no entanto, outras questões que, ainda que retóricas, me parecem pertinentes e que pretendo partilhar:
Se os Museus tutelados pelo Estado Central se deparam com tamanhas carências, como não estarão os Museus Municipais ou de carácter Regional?
Ainda centrando a questão nos Museus Nacionais – todos eles, de forma automática, credenciados na Rede Portuguesa de Museus –, não deviam cumprir, no mínimo, com o estatuído na Lei-quadro dos Museus Portugueses? A RPM não devia ter medidas coercivas para quem não cumpre com a sua missão?
Será que nas universidades que ministram cursos relacionados com a Museologia, dentro de toda a sua doutrina académica, não está a faltar uma aproximação mais com a realidade ao invés de cenários utópicos, que só existem mesmo em teoria?
Deixando as questões, coloco algumas considerações:
Não há, não tenho forma de dizer diferente, uma política concertada no âmbito da cultura em Portugal. São demasiadas experimentações baseadas na “tentativa-erro” e no “vamos aplicar os melhores exemplos internacionais;
Portugal tem importado excessivas tendências que resultam nos grandes museus internacionais, esquecendo-se que uma casa se constrói pela base (alicerces) e não pelo telhado;
Não se pode exigir mais a um diretor de museu, quando a própria tutela não cumpre com o que está estatuído em lei;
Os museus vão acabar amanhã? Não. Mas depois, não sei.
Humberto Rendeiro
(Museólogo)
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