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Re: [Museum] A nova definição do ICOM e os “museus-não-museus”, por Luís Raposo.

To :   Pedro Pereira <pedropereiraoffic@outlook.com>, museum <museum@ci.uc.pt>
Subject :   Re: [Museum] A nova definição do ICOM e os “museus-não-museus”, por Luís Raposo.
From :   Luís Raposo <3raposos@sapo.pt>
Date :   Tue, 13 Sep 2022 11:11:37 +0100

Pedro,

Agradeço o comentário. Como sabes, concordando ou não, leio e as mais das vezes aprendo com os teus textos e recordo as ocasiões em que te convidei para participares nas actividades do ICOM Portugal, quando o presidia. 

Muitos desviar-se-ão depressa demais, a meu ver, das tuas construções, que lhes parecerão irreais, senão estéreis. Eu confesso que às vezes também as considero irreais. Nunca estéreis. Mais que não sejam porque me obrigam a esforço de entendimento e, por vezez, me ensinam coisas novas.

Quanto ao que agora dizes, acho que nos situamos em planos diferentes. Eu e o ICOM, ouso dizer, no da sabedoria popular, do género de "quem anda à chuva, molha-se" ou "amanhã haverá novo dia"... mesmo que biblicamente saibamos que o Apocalipse virá aí e com ele o fim dos tempos. Tu, no plano cosmogénico ou até metafísico, aquele que diz que nem sequer sabemos definir com rigor o que seja a vida - algo tão certo como o saber que nos ensine que uma cachaporrada bem aplicada pode acabar com ela.

Finalmente e talvez para tua aprendizagem (desculpa a presunção, mas eu como disse antes também aprendo contigo): o museu no sentido em que usas a palavra é bem anterior  aos Homo sapiens. Não vai até às "algas" verdes-azuis ou os protocariotes, é certo. Mas é pelo menos dos Homo neanderthalensis, como em tempos disse à Madalena Brás Teixeira, que o incluiu na tese de doutoramento. E que museu era esse? Colecções de coisas bizarras para eles (fósseis, minerais), guardadas e expostas em nichos nas cavernas.

Cá está: colecções e expostas, aquilo que a sabedoria popular e qualquer dicionário rasca nos diz ser um museu.

Um abraço amigo do,

Luís Raposo 

----- Mensagem de Pedro Pereira <pedropereiraoffic@outlook.com> ---------
Data: Mon, 12 Sep 2022 15:20:31 +0000
De: Pedro Pereira <pedropereiraoffic@outlook.com>
Assunto: [Museum]  RE: A nova definição do ICOM e os “museus-não-museus”, por Luís Raposo.
Para: museum <museum@ci.uc.pt>

 

 

Mas só será relevante como museu, se se mantiver museu.”

(Luís Raposo)

 

 

Permitam partilhar, o total acordo com a opinião de Luís Raposo.

 

De facto, só é importante para a Vida aquilo que lhe dá maior probabilidade de Continuar. E só é a isso que a Sociedade dá recursos e meios para se desenvolver.

Há muitas maneiras de avaliar aquilo que é relevante para a Vida em cada época. Por exemplo, as áreas e os projetos humanos em que o valor dos investimentos é superior. E, a montante, de modo consentâneo com essa “escolha”, por exemplo, no próximo ano lectivo 2022-2023, o valor das notas exigidas aos jovens da nova geração para ingressarem nos três cursos universitários (formação) que dão acesso a essas áreas onde o investimento é maior. A escolha da Relevância, e as atividades que beneficiam de maiores recursos, medem-se através destes indicadores concretos e objetivos.

Um museu para se manter museu”, como defende Luís Raposo neste artigo, necessita de saber com rigor e precisão aquilo que o define, aquilo foi a causa da sua origem, e a missão que a Sociedade Humana espera deles no presente e futuro.

O “nome” não é a “coisa nomeada” (como afirmou G.Bateson). De facto, a Vida não começou quando xs humanos inventaram a palavra “vida”. O mesmo acontece com o Museu. A “definição de Museu” são palavras recentes, criadas apenas após o aparecimento do dito “ser-humano” (homo sapiens sapiens). Porém, muito antes, no momento em que ocorreu o caminho que conduziu a esse “ser-humano”, há mais de 2 mil milhões de anos, o atual “museu” teve por antecedente a estratégia de Vida eucariote: “Os eucariotes, diferentemente dos procariotes e das eubactérias, guardam as informações vitais no núcleo da célula, protegidas por uma membrana, para as transmitirem as gerações seguintes.” (G. Lecointre; H. Le Guyader, 2001, “Classification phylogénétique du vivant“, Belin, Paris, p.56).

Logo, se quisermos recuperar o prestígio do Museu, e obter mais recursos para o desenvolver, não podemos defini-lo como o ICOM e o ICOFOM fizeram, no séc.XX, após 1945.

O lugar o Património, quer no «modelo de compreensão do comportamento humano», quer nessa estratégia eucariote da Vida, são a condições essenciais para que as palavras de Luís Raposo possam ter um efeito prático.

Concretamente, definir Museu e a sua Missão devem ter em consideração o seu contributo na estratégia da Vida e da Sociedade humana:

 

Variável 1

Variável 2

Variável 3

Variável 4

Variável 5

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> 

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> 

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CORPO

COGNIÇÃO

COMPORTAMENTO

REGULAÇÃO SOCIAL

RELEVÂNCIA-VALOR

 

Suporte e infraestrutura herdada, memória codificada a priori

 

Atividade não-visível provocada pela gradual complexidade do cérebro

 

Atividades visíveis; formas, acções, técnicas e práticas físicas exteriorizadas

 

Institucionalização do efeito coletivo e colaborativo dos comportamentos individuais

 

Escolha, hierarquização e classificação de «aquilo que é Relevante» (dito, “património”) e deve permanecer em memória

 


 

[A «escolha da Relevância» (“património”) interfere com a Variável 1, e Re-inicia a condição inicial do processo]

 

A utilização de «suportes» feitos de partículas sub-atómicas (eletrões e fotões, etc.) para a transmissão de informações foi a condição que permitiu interferir culturalmente na “Variável 1”. Pois o nível Físico está (em termos de escala e energia) a montante do nível Biológico (químico, molecular, proteico) inerente àquilo que se designa por “Vida”.

 

 


 

Homo habilis, há 2,4 milhões de anos, cérebro com 600 cm3 ... Cérebro dos atuais humanos (média) 1450 cm3” ... “O que é sentido pelo corpo é transmitido ao cérebro. A resposta é coordenada pelo córtex e executada pelo corpo. Tudo acontece tão rapidamente que parece ser instantâneo” (“Cérebro”, 2019, F.C.Gulbenkian, p.36).

«Ensinar as máquinas a aprenderem a aprender» (2022, IA, machine-learning).

«Robotizar o comportamento humano» (2022, robótica, redes neurais).

«Expandir-se e evoluir fora da Terra».

 

 

 

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Comportamento (gestus) é um movimento (motus) com uma determinada forma (figuratio) que procura um efeito-resultado (agendi, acção) e um valor (habendi, atitude)”. [Hugues de Saint-Victor (1117-1141) “De institutione novitiorum. De virtute orandi. De laude caritatis. De arrha animae”]

 

 


 

Human Evolution: the rise of the innovative mind” … “It’s not how smart you are. It’s how well connected you are" (M.Thomas)… “The ability to pass on knowledge from one individual another” … Worked collaboratively” (H.Pringle, march2013, Scientific American).

“O individual sob a influência do coletivo“. “As representações públicas colocam as memórias individuais em rede” (D.Sperber, 2006, Les Dossiers de la Recherche n.º22, p.78-79).

“Confiando na escrita (e na linguagem), é o exterior (o social), e não o interior de si mesmos, que servirá para os indivíduos passarem a lembrar-se e a remorarem as coisas” (Platão, Fedro, anos 385-370 a.C., pp.274-275).

 

 

< 

 

It was an enhancement of working-memory capacity that powered the final evolution of modern mind.” (Wynn & Coolidge, 2010, “Working Memory: Beyond Language and Symbolism”, Current Anthropology, vol. 51, Sup. 1, June 2010, p.S5).

 

 

 

Pedro Manuel-Cardoso


----- Fim da mensagem de Pedro Pereira <pedropereiraoffic@outlook.com> -----


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