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[Museum] Exposição: “Cerimónia de inauguração do busto de D. João da Câmara, em Lisboa em 22 de maio 1987”. Coleção do “Museu da Gestualidade”.

To :   museum <museum@ci.uc.pt>
Subject :   [Museum] Exposição: “Cerimónia de inauguração do busto de D. João da Câmara, em Lisboa em 22 de maio 1987”. Coleção do “Museu da Gestualidade”.
From :   Pedro Pereira <pedropereiraoffic@outlook.com>
Date :   Thu, 13 Oct 2022 12:29:45 +0000

 

 

O Museu da Gestualidade expôs, no passado dia 12 de outubro de 2022, na Oficina do Impronuncialismo, parte da sua coleção referente à “Cerimónia de inauguração do busto de D. João da Câmara, em Lisboa, ocorrida no dia 22 maio de 1987”.

Seguida de Debate sobre o «conceito heptadimensional de Objeto» (i.e., facto, coleção, acervo, património, Realidade) apresentado no texto “Património, Cognição, e Evolução Humana” (Pedro Manuel-Cardoso, 2022, 46 pgs.). Adiante, partilho alguns pedaços dos textos que fizeram parte das ‘folhas de sala’ da Exposição:

 

 

[....]

“Naquela conduta colectiva, tudo o que fragmentadamente se arquitectara foi sujeito a uma metódica reconstrução sequencial, cuja eficácia adveio de conseguirem disfarçá-la de ‘naturalidade’. Essa reconstrução utilizou a mesma técnica e o mesmo plano das demais Cerimónias – uma meticulosa e sincopada sucessão de fragmentações, repetidas obcessivamente, de trás para a frente, do centro para a periferia, do alto para o baixo...

 

11h34. O Presidente da Câmara chegou ao local. A recebê-lo esteve, à porta da viatura, o Chefe do Protocolo, com o qual trocou um ‘aperto de mão’.

11h35. Acompanhado pelo Chefe do Protocolo, percorreu o primeiro itinerário de cerca de quarenta passos, até à ‘zona de entrada’ (zona 1) para o espaço da Cerimónia.

11h37. O Presidente da Câmara cumprimenta diversas Autoridades. A seguir, cumprimenta os descendentes mais próximos do Homenageado (o falecido D. João da Câmara, que dará o seu nome aquele sítio da Cidade). A descendente feminina mais próxima trajava de preto, a descendente feminina mais jovem trajava de vermelho (a única, entre os convidados e participantes na Cerimónia, que vestia aquela cor).

(….)

11h40m. A Cerimónia encaminhava-se para o seu zénite. A expectativa era sentida por todos que a ela assistiam (através de uma mudança na gestualidade das interações e na relação entre o som, as palavras e o silêncio). O Presidente da Câmara entregou à anciã o fio branco que permitia descerrar a bandeira da CML que cobria o busto. Os bombeiros alinharam as pernas, e agarraram as mãos atrás das costas. Precisamente às 11h40 o busto foi descerrado. Enquanto o pano foi caindo, a música tocou, todos bateram palmas. Espectadores e convidados irmanaram-se naquela tentativa cerimonial (ritual) de solucionarem aquela inexorável porção de espaço-tempo que separa, no viver humano em sociedade, ‘o antes do depois’, ‘o passado do futuro’, ‘o caos da ordem’.

11h43. A música findou. O Presidente da Câmara apertou a mão à anciã (descendente mais próxima em idade do Homenageado).

11h45m. Outro itinerário foi iniciado. A passadeira de menor comprimento levou, quem ia discursar, ao estrado. O primeiro a falar foi o descente direto masculino mais idoso. A seguir, discursou o Presidente da Câmara. O público não arredava pé, assistia debruçado sobre as grades de delimitação, e nalgumas janelas dos edifícios circundantes. Os discursos usaram palavras que referiram o elo que se deveria manter entre os tempos e os espaços do passado e do futuro, para que o sentido (o ‘valor’ daquilo que se designa por ‘humanidade’) não se perdesse nos hiatos que fisicamente os separam.

11h50. Os discursos terminaram.

11h51. Inicia-se um novo itinerário, o da assinatura do livro-de-honra. Pela seguinte ordem:

> Primeiro assinou o Presidente da Câmara;

> Depois, a descendente feminina mais próxima do homenageado (a Senhora que descerrou o busto);

> A seguir, o descendente masculino mais próximo do homenageado (o Senhor que discursou antes do Presidente da Câmara);

> Depois, a filha mais nova da anciã (a Senhora que trajava de vermelho);

> De seguida, os restantes Convidados;

> Por fim, as Autoridades.

11h53. Os técnicos do som começaram a desmanchar a instalação, ainda que a sequência de assinaturas dos Convidados continuasse a decorrer, cadenciada, até às 12h15m. Nessa altura o Público anónimo, que assistira à Cerimónia, e que dela serviu de testemunha pública (‘testemunha’ daquele facto social, que agora constitui um ‘objeto patrimonial’ do acervo de um Museu) começou a abandonar o local (agora designado, “Praça D. João da Câmara”, situada entre a Praça dos Restauradores e a Praça D. João IV-Rossio em Lisboa).

11h57m. Os três bombeiros saem de cena. Os convidados e demais participantes na Cerimónia continuaram a cumprir o anterior posicionamento espacial, todavia descoreografaram por completo a ‘gestualidade cerimonial’.

12h03m. Enquanto são eram retirados os altifalantes, os convidados abeiraram-se do busto, e admiraram-no. As autoridades voltaram a ser sub-grupos de dois-três interactuantes.

12h11m. O Presidente da Câmara concedeu uma entrevista em cima do estrado (zona 7) enquanto os convidados aguardavam informalmente o desfecho final.

12h13m. As grades que delimitavam o espaço da cerimónia foram retiradas. Os espectadores anónimos iam diminuindo. Já ninguém assistia nas janelas circundantes.

12h15. O Presidente da Câmara desce do estrado, e dirige-se à zona das Autoridades (zona 3), enquanto era fechado o ‘livro das assinaturas’ e retirados os objetos postos em cima da mesa.

(Etc...)

 

 

E assim sucessivamente, em fotos que constituíram o conteúdo da Exposição, e que documentam esta Cerimónia, ocorrida há 35 anos. Desde a sua preparação na via pública dias antes de 22 de maio de 1987 (colocação do busto); aos momentos (iniciados às 9h15m, de 22maio1987) que antecederam o seu início; aos comportamentos gestuais do público anónimo que a ela assistiu, e lhe serviu de testemunha; até ao seu final, às 12h21m (momento final, inverso e isomorficamente simétrico, do inicial que ocorreu às 11h34). Um final, exactamente através da mesma gestualidade de um ‘aperto de mão’ entre o Presidente da Câmara e o Chefe do Protocolo, igualmente, à porta da mesma viatura que o tinha trazido à Cerimónia.

Em suma, um conjunto de cem fotografias que mostram as sete zonas pelas quais o espaço da Cerimónia foi decomposto: 1 (zona de chegada), 2 (zona de partida), 3 (zona das Autoridades), 4 (zona dos Convidados), 5 (zona do Busto), 6 (zona dos Discursos, ou ‘zona da oralidade’), 7 (zona das Assinaturas no livro-de-honra, ou ‘zona da escrita’). Acompanhadas de gráficos e esquemas que quantificam, em termos de duração e distância, os vários itinerários e os diferentes actos gestuais (quinésicos, proxémicos, prosódicos, orais, não-verbais) que serviram para a construir.

Passando, devido a este trabalho de um Museu (neste caso, do Museu da Gestualidade), a constituir um ‘objeto patrimonial musealizável’, logo, possível de ser codificado e transmitido às gerações seguintes.

 

Pedro Manuel-Cardoso

 


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