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[Museum] MUSEU DO SER-HUMANO | 1 agosto 2023 | Debate sobre a história e a arqueologia dos conceitos humanos de Real e Realidade | Um exemplo: “Doação Xavier Monnet” (Exposição temporária no ‘Museu do Oriente’)

To :   museum <museum@ci.uc.pt>
Subject :   [Museum] MUSEU DO SER-HUMANO | 1 agosto 2023 | Debate sobre a história e a arqueologia dos conceitos humanos de Real e Realidade | Um exemplo: “Doação Xavier Monnet” (Exposição temporária no ‘Museu do Oriente’)
From :   Pedro Pereira <pedropereiraoffic@outlook.com>
Date :   Tue, 1 Aug 2023 16:48:16 +0000

 

 

            Decidimos ontem (31 julho 2023) – após a exposição realizada no ‘Museu do Ser-Humano’ subordinada à questão: “O ser-humano perante a história e a arqueologia do conceito humano de Real-Realidade: Quais e quantos foram os conceitos de Real e Realidade ocorridos na história humana” – continuar o debate, hoje, dia 1 de agosto 2023, no ‘Museu do Oriente’. Concretamente, no espaço da exposição temporária intitulada “Doação Xavier Monnet”.

           

 

As origens da coleção:

Na década de 1980, Xavier Monnet abandonou o negócio de venda de arte erudita chinesa para encetar uma «resiliência etnográfica» nas regiões remotas de Yunnan, Guanxi, Guizhou, Hunan e Hainan. Fixando-se durante longos períodos junto de comunidades Dong, Yao, Yi, Naxi e Shui, Xavier Monnet acompanhou de perto as suas vivências quotidianas, recolhendo informação de contexto, registos fotográficos e testemunhos materiais. Daqui nasceu uma colecção com cerca de 180 artefactos e registos representativos de aspectos fundamentais destas culturas, (....). Em 2021, Xavier Monnet decidiu doar a colecção à Fundação Oriente.(folheto da exposição, s/a)

 

 

            Por uma razão que se liga diretamente ao tema do debate sobre os diferentes conceitos de Real-Realidade. Mas também, porque se conecta profundamente com a questão dos Museus e do Património.

            A razão, são as palavras do coleccionador, ditas por ele próprio sem intermediação, como sendo a justificação e o motivo desta coleção. Passamos a citar:

 

 

Tornei-me especialista da arte destas minorias. Constituí uma grande coleção e uma biblioteca a estas dedicadas, que vendi a coleccionadores particulares, mas guardei e acarinhei algumas das mais bonitas e curiosas peças.” (Xavier Monnet, in folheto da exposição temporária “Doação Xavier Monnet”, Museu do Oriente, 23 junho a 10 setembro 2023).

 

 

            De facto, as palavras do autor, e o contexto que deu origem a esta coleção, remetem para o debate sobre os conceitos de Real-Realidade, tal como as palavras escritas nos Quadros adiante demostram:

 

 

Acerca das coisas que se dá, das coisas que se vendem, e das que não se devem dar nem vender e se devem guardar(Maurice Godelier, 2000 (1996), “O Enigma da Dádiva”, edições 70, Lisboa, ISBN 972-44-1063-3, p.9, tradução modificada por Pedro Manuel-Cardoso)

 

 

Na evolução filogenética e epigenética daquilo a que a atual ciência designa por ‘Vida, ocorrida no Terra há mais de 4600 milhões de anos, constatamos que, há mais de 1600 milhões de anos, no momento da passagem das células procariotes para as células eucariotes, surgiu um núcleo, protegido por uma membrana, onde se passaram a guardar as informações mais valiosas e vitais a transmitir às gerações vindouras. Aa células eucariotes deram origem a mais de 1.738.571 espécies diferentes (segundo a contagem realizada em 2001), entre as quais os seres designados por ‘humanos’. É a esse fenómeno, e a essa coisa física e química que chamamos «o primeiro Museu».” (Pedro Manuel-Cardoso, 2010, “A Origem do Museu e do Património”, ULisboa, Lisboa)

[Outras Referências: Guillaume Lecointre, Hervé Le Guyader, 2001, «Classification phylogénétique du Vivant», Belin, Paris; Marie Benoiste, 2013, «Les Origines de la Vie», Les Dossiers de La Recherche, n.º2, février-mars 2013, Paris, pp.8-9)].

 

 

A questão do conceito de Real-Realidade liga-se diretamente ao que foi escrito no Quadro anterior:

 

 

“E eu estava influenciado por uma terceira convicção, provinda igualmente de Lévi-Strauss, a do primado do simbólico sobre o imaginário e sobre qualquer coisa indefinida a que se chamava o «real». Pois, para Lévi-Strauss, o símbolo seria no fundo mais real do que a «realidade» que significava (....) A desintegração destas evidências começou cedo mas processou-se lentamente. No terreno, junto dos Barula, observei a prática da dádiva e da contradádiva na troca de mulheres, mas nada vi de «potlatch».(Maurice Godelier, 2000 (1996), “O Enigma da Dádiva”, edições 70, Lisboa, ISBN 972-44-1063-3, p.16)

 

 

Qual será a regra de direito e de interesse que nas sociedades de tipo atrasado ou arcaico faz com que o presente recebido seja obrigatoriamente retribuído? Que força haverá na coisa que se dá que faz com que o donatário a retribua?(Marcel Mauss, 1925, «Essai sur le don. Forme et raison de l’échange dans les sociétés archaïques», L’Année sociologique, nouvelle série, I, 1925, in id., Sociologie et Anthropologie, Paris, PUF, p.258)

 

 

Em primeiro lugar, a ideia de que se a dádiva se encontra em toda a parte, isso não seria apenas uma maneira de partilhar o que temos, mas também de combater o que temos; tratava-se da ideia – que eu atribuía a Mauss – de que a lógica das dádivas e das contradádivas culmina no ‘potlatch’. A segunda ideia, inspirada em Lévi-Strauss, era que a Sociedade assenta na troca e só existe pela combinação de toda a espécie de trocas – de mulheres (parentesco), de bens (economia), de representações e de palavras (cultura).” (Maurice Godelier, 2000 (1996), “O Enigma da Dádiva”, edições 70, Lisboa, ISBN 972-44-1063-3, p.16)

 

 

Pedro Manuel-Cardoso

 

 


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