Re: [Museum] [Histport] † Adriano Vasco Rodrigues

[Luís Raposo <3raposos@sapo.pt>]

Junto-me ao voto de pesar do Vitor Oliveira Jorge e confirmo o que ele diz: também para mim o livro/manual de Adriano Vasco Rodrigues, Arqueologia da Península Hispânica, que recordo na sua sobrecapa negra com motivos de arte pré-histórica, constituiu uma porta de entrada na arqueologia. Seguiu-se por exemplo manual de Abel Viana, Algumas noções elementares de arqueologia prática, e, claro, os trabalhos carinhosos de Eduardo da Cunha Serrão, no humilde Boletim do Centro de Estudos do Museu Arqueológico de Museu de Sesimbra.

Bem vistas as coisas, tirei muito mais proveito dos que estavam fora do que dos que estavam dentro do sistema (mesmo do universitário).  Até do esconjurado Mário Saa e da sua Erridânia. A Geografia Mais Antiga do Ocidente, eu tirei proveito. Já de Mendes Corrêa, por exemplo, definitivamente não: não pela política, mas pelas teses científicas bacocas, quase absurdas (sendo este um exemplo de como a velha senhora Universidade se verga facilmente ao poder de cada tempo e produz ídolos de pés de barro, mesmo em termos científicos).

Foi assim  que cresci e crescemos quase todos, arrisco dizer.

Adriano Vasco Rodrigues, que apenas conheci ao longe num congresso, está nesse grupo dos que me e nos construíram. Pouco importa que tenha tipo opções políticas contrárias às minhas e de muitos de nós. Sendo muito, a política é pouco quando pensamos em como construímos o nosso ser adentro do pensamento e sobretudo da prática científica.

RIP.

Luís Raposo

--- Mensagem de Vitor Oliveira Jorge <vitor.oliveirajorge@gmail.com> ---------

Data: Thu, 23 Jan 2025 09:36:02 +0000

De: Vitor Oliveira Jorge <vitor.oliveirajorge@gmail.com>

Assunto: Re: [Museum] [Histport] † Adriano Vasco Rodrigues

Para: Lídia Fernandes <lidiafernandes@egeac.pt>

Cc: museum <museum@ci.uc.pt>, porras <pporras@der.ucm.es>, histport <histport@uc.pt>, archport <archport@ci.uc.pt>

Bom dia 

No meu Facebook publiquei esta simples nota:

"Através da lista Archport, comunica o meu colega e amigo José d' Encarnação o falecimento do Professor Adriano Vasco Rodrigues, com 96 anos.

O velório realizar-se-á hoje, 23, das 11.30 às 20 h, na igreja do Cristo Rei, no Porto; o funeral está previsto para amanhã, sexta-feira, após missa de corpo presente às 10.30 h.

Um dos primeiros livros que tive, ainda adolescente, sobre arqueologia, foi a "Arqueologia da Península Hispânica", de 1960. Este livro tinha a vantagem de indicar bibliografia sobre a arqueologia portuguesa e foi com base nela que fui muitas vezes à Biblioteca Nacional (que então admitia a entrada de jovens que ainda usavam calções!!...) ler, nomeadamente trabalhos de Eduardo Serrão, que mais tarde viria a ser o meu primeiro mestre em Arqueologia.

À família enlutada apresento as minhas condolências."

Vítor Oliveira Jorge

Em qui., 23 de jan. de 2025 às 09:18, Lídia Fernandes <lidiafernandes@egeac.pt> escreveu:

Estimado Professor José d’Encarnação

 

Lamento profundamente mais esta perda. No dia 18 de janeiro morreu Urbano Torgo Rebelo, o guarda incansável do Teatro Romano de Lisboa, onde trabalhou com Irisalva Moita e depois comigo, acompanhando todos os mandos e desmandos que foram feitos a este monumento e às pessoas que nele trabalharam durante tanto tempo.

O Teatro Romano de Lisboa está, definitivamente, de luto.

Cumpre-me referir que o Professor Adriano Vasco Rodrigues foi convidado pela Câmara Municipal de Lisboa para dirigir o Gabinete Técnico quando este foi criado em 1987, convite endereçado pelo então Presidente da CML Engº Nuno Abecassis.

Foi através do Professor Adriano Vasco Rodrigues que, passado pouco mais de um ano, entrei no Gabinete e conheci o Teatro Romano de Lisboa. Foi uma entrevista rápida, simpática, para a qual me havia preparado com grande nervosismo. Depois de algumas perguntas, muto simples, fez-me uma visita ao local e houve uma empatia imediata, penso que de ambas as partes.

Vasco Adriano Rodrigues era de uma enorme simpatia e afabilidade, um homem alto, muito bonito e elegante, com vivos olhos azuis. Era, com efeito, um perfeito cavalheiro.

Foi de seu punho, logo em 1987, uma extensa publicação sobre o monumento:

“O Teatro Romano de Felicitas Julia (Lisboa)”. Suplemento da Ingenium – Revista da Ordem dos Engenheiros, 1987

 

Os meus sentimentos à sua família pois partiu um Homem Bom.

 

Lídia

 

Lídia Fernandes

Coordenadora

 

MUSEU DE LISBOA - Teatro Romano

Rua de São Mamede nº 3A · 1100-532 Lisboa

T +351 215 818 530 (Chamada para a rede fixa nacional)

 

museudelisboa.pt | Facebook

 

 

 

 

De: histport-bounces@uc.pt <histport-bounces@uc.pt> Em Nome De José D´Encarnação
Enviada: 23 de janeiro de 2025 08:37
Para: archport <archport@ci.uc.pt>; histport <histport@uc.pt>; museum <museum@ci.uc.pt>; porras <pporras@der.ucm.es>
Assunto: [Histport] † Adriano Vasco Rodrigues

 

         Com a provecta idade de 96 anos, faleceu o Professor Adriano Vasco Rodrigues.

         O velório realizar-se-á hoje, 23, das 11.30 às 20 h, na igreja do Cristo Rei, no Porto; o funeral está previsto para amanhã, sexta-feira, após missa de corpo presente às 10.30 h.

         A seus filhos, Isabel, Miriam e Luís apresentamos os mais sentidos pêsames.

 

         Se a algumas pessoas é legítimo aplicar a expressão «uma lenda viva» ou «lutador incansável» Adriano Vasco Rodrigues é uma delas, pelo dinamismo que sempre caracterizou a sua vida.

Deixa uma obra notável, foi pioneiro em muitas iniciativas, a história e a arqueologia do distrito da Guarda nunca poderá fazer-se sem o recurso ao muito que sobre esses temas escreveu. Recorto duma das listas que me chegou:

• Catedral da Guarda na História e na Poesia (1953)
  
• Prospecções Arqueológicas na Região de Longroiva (1954)
  
• As Lapidas sepulcrais da Capela-Mor da Sé da Guarda (1956)
  
• Subsídios Arqueológicos para a História de Celorico da Beira (1956)
  
• Monografia artística da cidade da Guarda (1957)
  
• Um caso de usurpação de direitos de autor (1957)
  
• Arqueologia da Península Hispânica (1960)
  
• História Geral da Civilização - 2 Vol. - 8 Edições (1962-1975)[7]
  
• Retrospectiva Histórica dos Concelhos de Meda, Longroiva e Marialva (1976)
  
• Celorico da Beira e Linhares: monografia histórica e artística (1979)[7]
  
• O Despotismo e a Igreja (1983)[7]
  
• Terras da Meda: Natureza e Cultura (1983)[7]
  
• Os Lusitanos : mito e realidade (1998)[7]
  
• Guarda - Pré-História, História e Arte (Monografia) (2001)[7]
  
• Provérbios de origem sefardita no interior da Beira e em Trás-os-Montes (2004)[7]
  
• Salvador de Nascimento: Uma Vida - Um Ideal (2005)[7]
  
• Felgar (colaboração com Maria da Assunção Carqueja Rodrigues) (2006)[8]
  
• História Breve da Engenharia Civil – Pilar da Civilização Ocidental (Ed. Ordem dos Engenheiros) (2006)[8]
  
• As terras da Beira nas invasões francesas (2006)[9]
  
• S. Pantaleão – Padroeiro do Porto, Médico e Mártir (2009)
  
• De Cabinda ao Namibe - Memórias de Angola (2010)[1]
  
• Almeida: da pré história aos nossos dias (2010)[7]
  
• A Fortificação das Fronteiras na estratégia da Expansão Portuguesa (2011)[8]
  
• De Vale de Ladroens a Valflor: a história e as suas gentes (2013)[8]
  
• Gente de nação além e aquém do Côa: (Judeus Sefarditas) (colaboração com Maria da Assunção Carqueja Rodrigues)(2013)[8]
  
• Judeus, judiarias e cristãos-novos na Beira Interior (2014)[8]
  
• General Claudino Pimentel - Glórias e Agruras (2015)[1]
  
• 40 anos do poder local, Freguesia da Guarda (2017)[10]
  

 

Estudei, como muitos da minha geração, por um livro seu, pioneiro também ele, sobre essa História Geral da Civilização (que ainda guardo) e, também, a Arqueologia da Península Hispânica. Tive ocasião de partilhar com Adriano Vasco Rodrigues não apenas as evocações de Almeida na Guerra Peninsular mas também publicações. Só não consegui falar com ele no seu último aniversário, a 4 de Maio do ano passado; era sempre uma conversa amigável, duma afabilidade extrema, de que ora passo a ter saudades.

Um cavalheiro, um Amigo, um Sábio!

Que descanse em paz!

 

                                               José d’Encarnação

 

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