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RE: [Archport] Património cultural subaquático


•   To: icomosmoz@yahoo.com.br
•   Subject: RE: [Archport] Património cultural subaquático
•   From: "Paulo Monteiro" <paulo_monteiro@hotmail.com>
•   Date: Wed, 19 May 2004 15:31:49 +0000

Caro Dr. Leonardo Adamowicz,

Um dia, nós, vós, os vossos filhos, os vossos netos, lamentarão a venda dos artefactos. Tal como hoje em dia não passaria pela cabeça de alguém vender as ânforas ou os instrumentos paleolíticos encontrados numa escavação em terra, no intuito de subsidiar a formação futura de arqueólogos - que ficariam inactivos, ficando a braços com sítios pilhados e museus vazios, sem colecções para estudar - também não deveria passar pela cabeça de alguém vender o seu património.

Foi, contudo, essa a opção de Moçambique. Está no seu direito. Contudo, ao proceder assim, perdeu uma oportunidade soberana de se afirmar como Estado culto e responsável, orgulhoso do seu passado, e das lições que poderia tirar dele, tanto as boas, como as más.

Assim sendo , acabou por ir engrossar, à custa de uns quantos meticais, o pelotão dos países do terceiro mundo, de onde Portugal escapou, in extremis, em 1996.

Paulo Alexandre Monteiro





Estimado Senhor Professor Filipe Castro,

Não pretendo entrar á Guerra entre actuais e antigos caçadores ao tesouro.
Isso, eventualmente, pode ser da competência de um Estado soberano, neste
caso a República de Moçambique. Da minha parte quero somente informar que no
dia 18 de Abril de 2003 o Comité Nacional ? ICOMOS Moçambique, apresentou ao
Governo, perante muitos especialista da área, um projecto do Regulamento
sobre as actividades arqueológicas em meio subaquático, que completa a lei
sobre a protecção do património cultural de 10/1988 e é de acordo com o
espirito da Convenção da UNESCO. O Ministério da Cultura está já na fase
final da aprovação. Nem agora, nem depois da aprovação do Regulamento nenhum
pais do Mundo poderia reclamar os achados arqueológicos encontrados nas
águas territorias de Moçambique. Gostaria de lembrar que muitos consideram a
expansão maritima europeia como exploração, bandidagem e pura caça aos
tesouros. Incas, Aztecas, Moçambicanos, podem contar as longas histórias
sobre efeitos desta ?acção civilizatória?.
A proposito: gostária de saber quando o Congresso dos Estados Unidos e o
parlamento do Portugal ratificarão a Convenção da UNESCO?... para que a
leilão, na Christie?s de Amsterdão, sejá último.


Com mais elevada estima e consideração

Leonardo Adamowicz
Arqueologo
Presidente Executivo do Comité ICOMOS ? Moçambique

PS. Não pretendo defender os Arqueonautas SA, que de acordo com um contrato
assinado com o Governo Moçambicano trabalham na Ilha de Moçambique. O C.N.
ICOMOS ? Moçambique só exigia, que a empresa apresente um relatório
detalhado, uma publicação e obrigatoriamente deixa em Moçambique todas peças
únicas e aquelas que sejam consideradas de grande valor (NB. pelos
especialistas chamados do Portugal). Sinceramente lamento leilão e tenho a
esperaça que os fundos serão utilizados para formação dos arqueólogos
subaquáticos moçambicanos. Pessoalmente, estou muito contente da publicação
científica dos achados, ainda este ano. A monografia será a primeira deste
genero na história de Moçambique (tal colonial, como independente).


-----Original Message-----
From: archport-bounces@list-serv.ci.uc.pt
[mailto:archport-bounces@list-serv.ci.uc.pt]On Behalf Of fvcastro
Sent: 18 May 2004 21:44
To: Subject: [Archport] Património cultural subaquático

Vai amanhã (dia 19) a leilão, na Christie?s de Amsterdão, parte da carga de
um navio português do século XVI naufragado na Ilha de Moçambique.  A carga
que agora se vai dispersar foi salva pela empresa de caça aos tesouros
Arqueonautas SA.

Em todo o mundo se aperta o cerco contra a actividade das empresas de caça
ao tesouro.  A aprovação de uma convenção da UNESCO para a proteção do
património cultural subaquático da Humanidade é um bom exemplo desta
tendência.

Por outro lado, cada vez mais governos de países com um passado ligado a
expansão marítima europeia reclamam direitos sobre os restos dos seus
navios, perdidos nos quatro cantos do mundo. Assim, o governo espanhol
ganhou recentemente um processo em tribunal, contra uma empresa de caça aos
tesouros e o Estado da Virgínia, nos EUA, que havia atribuído a concessão de
salvados.


Acho que temos o direito de saber porque é que o estado português não faz
nada para proteger os restos arqueológicos dos nossos navios, à semelhança
dos outros países do mundo.


Filipe Castro, Ph.D. Assistant Professor Nautical Archaeology Program Texas A&M University College Station, Texas, USA

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