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RE: [Archport] Património cultural subaquático


•   To: <icomosmoz@yahoo.com.br>, "Paulo Monteiro" <paulo_monteiro@hotmail.com>
•   Subject: RE: [Archport] Património cultural subaquático
•   From: "ICOMOS - Mozambique" <icomosmoz@yahoo.com.br>
•   Date: Thu, 20 May 2004 15:40:16 +0200

Caro Dr Paulo Monteiro,
A nossa conversa já é como entre surdo e mudo! Por isso estou anexar o meu
primeiro e-mail em resposta a carta do Professor Filipe Castro. Peço, mais
uma vez, encontrar o paragrafo no meu e-mail onde estou a defender empresa
Arqueonautas SA ou uma pelo menos palavra onde escrevi que o ICOMOS de
Moçambique não concorda com politica do UNESCO!!!! Vamos manter a ética
profissional dos homens da ciência ou acabar com esta onda electrónica das
fofocas e ameças. E ainda mais
1. Lamentei e lamento o facto de leilão;
2. Lamento atitude dos arqueologos portugueses que pretendem ser "donos dos
barcos" afundados no s. XVI, com a porcelana chinesa da Dinastia Ming, em
águas interiores de Moçambique (Se Portugal já ratificou a convenção deve
saber que  "Os Estados Partes no exercício da sua soberania têm o direito
exclusivo de regulamentar e autorizar actividades dirigidas ao património
cultural subaquático nas suas águas interiores , nas suas águas
arquipelágicas e no seu mar territorial" Artigo 7, p. 1, Convenção UNESCO,
2001); Alguns acham, que os chineses podiam ter muito mais razões e direito
para reclamar este património, mas não fazem isso porque respeitam soberania
de Moçambique e consideram leilão das certas peças como uma boa oportunidade
de divulgar a cultura chinesa e o seu alto valor.
3. Lamento, que chagamos a ponto de ameaças "...talvez estejamos na altura
de ser derrogada à ilha de Moçambique o seu estatuto de Património da
Humanidade. Perda por perda, ao menos que se faça caça ao tesouro sem o
guarda-chuva do ICOMOS". Não  compreendi? Por causa de uma pequena parte da
parcelane chinesa, de valor 100.000,00 EURO alguns arqueologos portugueses
estão propôr a retirada do estatuto de Património da Humanidade à Ilha de
Moçambique. Assim os Portuguese perderam "duplamente" a porcelana chinesa e
uma boa parte de 500 anos da sua história em Moçambique;  Humanidade já
perdeu com tal tipo de logica muitas coisas durante a sua existência;
ICOMOS de Moçambique testemunhou a deposição da documentação e das melhores
peças únicas ou colecções completas no Museu na Ilha de Moçambique e tem
certeza que esta colecção não foi objecto de exportação e nunca será
comercializada. Agora estou a ler numa mensagens que "A Arqueonautas propôs
ao IPM oferecer uma série de peças recuperadas
em Moçambique a um museu português. O instituto está ainda a analisar a
questão." Precisamos verificar isso. O contrato assinado entre Governo
Moçambicano e os Arqueonautas não preve o direito de fazer as prendas por
estes últimos aos museus portugeses. Se sobrou qualquer coisa deste infeliz
leilão, deve voltar mais rápido possivel a Moçambique. Sei, que o dinheiro
ganho no leilão será investido na formação dos arqueologos sub-aquaticos
moçambicanos, fundação do Instituto da Arqueologia Subaquática na Ilha de
Moçambique e preparação da exposição permanente da ceramica chinesa na Ilha.
Os Chineses são interessados na cooperação, alguns Portuguese também já
participam. Para proteger o Património da Humanidade qualquer ajuda é bem
vinda.

Cumprimentos

Leonardo Adamowicz

Em anexo minha primeira carta:
Estimado Senhor Professor Filipe Castro,

Não pretendo entrar á Guerra entre actuais e antigos caçadores ao tesouro.
Isso, eventualmente, pode ser da competência de um  Estado soberano, neste
caso a República de Moçambique. Da minha parte quero somente informar que no
dia 18 de Abril de 2003 o Comité Nacional - ICOMOS Moçambique, apresentou ao
Governo, perante muitos especialista da área, um projecto do Regulamento
sobre as actividades arqueológicas em meio subaquático, que completa a lei
sobre a protecção do património cultural de 10/1988 e é de acordo com o
espirito da Convenção da UNESCO. O Ministério da Cultura está já na fase
final da aprovação. Nem agora, nem depois da aprovação do Regulamento nenhum
pais do Mundo poderia reclamar os achados arqueológicos encontrados nas
águas territorias de Moçambique. Gostaria de lembrar que muitos consideram a
expansão maritima europeia como exploração, bandidagem e pura caça aos
tesouros. Incas, Aztecas, Moçambicanos, podem contar as longas histórias
sobre efeitos desta "acção civilizatória".
A proposito: gostária de saber quando o Congresso dos Estados Unidos e o
parlamento do Portugal ratificarão a Convenção da UNESCO?... para que a
leilão, na Christie's de Amsterdão, sejá último.

Com mais elevada estima e consideração

Leonardo Adamowicz
Arqueologo
Presidente Executivo do Comité ICOMOS - Moçambique

PS. Não pretendo defender os Arqueonautas SA, que de acordo com um contrato
assinado com o Governo Moçambicano trabalham na Ilha de Moçambique. O C.N.
ICOMOS - Moçambique só exigia, que a empresa apresente um relatório
detalhado, uma publicação e obrigatoriamente deixa em Moçambique todas peças
únicas e aquelas que sejam consideradas de grande valor (NB. pelos
especialistas chamados do Portugal). Sinceramente lamento leilão e tenho a
esperaça que os fundos serão utilizados para formação dos arqueólogos
subaquáticos moçambicanos.  Pessoalmente, estou muito contente da publicação
científica dos achados, ainda este ano. A monografia será a primeira deste
genero na história de Moçambique (tal colonial, como independente).





4.

-----Original Message-----
From: Paulo Monteiro [mailto:paulo_monteiro@hotmail.com]
Sent: 20 May 2004 11:46
To: icomosmoz@yahoo.com.br
Cc: archport@list-serv.ci.uc.pt
Subject: RE: [Archport] Património cultural subaquático

Caro Dr. Leonardo  Adamowicz

Não digo que seja fácil ao ICOMOS de Moçambique cumprir com as regras que
orientam a protecção do património. Aqui também não foi fácil. Houve
carreiras prejudicadas e ameaças de morte, muitas feitas à minha pessoa.

Fácil é cruzar os braços e dizer que sim a tudo. Mais do que passivo, vejo o
ICOMOS de Moçambique como defensor de uma empresa pós-colonialista que
expolia o povo moçambicano daquilo que é seu património cultural,
efectivamente coarctando o direito das gerações futuras em poder usufruir de
um museu e de informações sobre a sua história.

Mas enfim, se o ICOMOS de Moçambique não está de acordo com as políticas
internacionais que a UNESCO preconiza, talvez estejamos na altura de ser
derrogada à ilha de Moçambique o seu estatuto de Património da Humanidade.
Perda por perda, ao menos que se faça caça ao tesouro sem o guarda-chuva do
ICOMOS.


>
>Caro Paulo Monteiro,
>Muito obrigado. É facil lamentar e gritar de fora. Nos aqui precisamos ser
>mais diplomaticos e com calma criar os indispensáveis instrumentos
>políticos. Infelizmente "revindicações" tipo Prof. dr Filipe Castro não
>ajudam e provocam muitas confusões. Para todos (muitos) que mandaram sua
>opinião "pro e contra" meus sinceiros agradecimentos.
>Cumprimentos
>Leonardo Adamowicz
>
>

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