• Índice por assuntos | Lista archport | Índice cronológico • | ||
< Anterior por data | < Anterior por assunto | MENSAGEM Nº 00220 de 1192 | Próxima por assunto > | Próxima por data > |
Caro
Professor Castro, Muito
obrigado pela informação e levantar a questão a caça ao tesouro, que também é
ilegal em Moçambique. Se vamos falar nas calmas e não levantar a questão a quem
pertence barco afundado há mais do que um seculo podemos fazer muito junto para
o Património Subáquatico da Humanidade. Cumprimento Leonardo
Adamowicz -----Original Message----- Peco desculpa por não ter tempo para mandar
copias desta resposta a todas as pessoas que já envolvi nesta discussão, mas
estou com trabalho demais, e não tenho tempo para me envolver em polemicas que
não vão mudar nada. Parece-me obvio que ningeum tem a menor intenção de
mudar nada, nem em Moçambique, nem em Portugal. De qualquer forma aqui
vão, muito sucintamente alguns comentários: A caca aos tesouros e ILEGAL em Portugal e
nos EUA. O papel da convenção da UNESCO e criar um texto de referencia
para os apises onde a caca ainda e, infelizmente, legal A sua defesa da empresa e da situação foi
pronta e enérgica. Se V.a Ex.a se preocupasse minimamente com este
assunto não teria saltado para a ribalta no minuto em que eu levantei a
questão, com alusões a relatórios e a uma hipotética qualidade do trabalho
cientifico da empresa Arqueonautas. A aprovação do ICOMOS tem alias sido
utilizada pela empresa como prova da sua idoneidade cientifica!!! Para lhe dar uma idéia das minhas
preocupações, junto lhe envio o email que escrevi ao arqueólogo da Arqueonautas
há um mês, e para o qual ainda não obtive resposta: ----- Original Message ----- From: fvcastro To: polar@ARQ.DE Sent: Monday, March 15, 2004
10:02 PM Subject: Howdy? Excelente Alejandro, (...) Em relação a Arqueonautas, acho que não faz muito sentido
perguntar-te as coisas que eu queria saber sobre a empresa e a forma como os
trabalhos foram conduzidos. Tenho a certeza que não me vais contar
segredos, e acho que o Niki não gostaria se tu confirmasses as historias que eu
ouvi ao Ricardo Teixeira Duarte. Quem me disse que tu e o M. Bound estavam de saída foi
a Tatiana. Espero que percebas que eu não acredito que a
Arqueonautas SA alguma vez vá publicar alguma coisa sobre a arqueologia dos
sítios que destruíu em busca de tesouros. Eu acho que o Sr. D. Duarte de
Bragança é um imbecil, e que o Niki é um snob. Porque carga de água é que
eles agora, um belo dia, iriam acordar com uma consciência, ao fim destes anos
todos? Eu admirava-me muito se ao fim de nove anos alguém
tivesse o mínimo interesse em publicar o que quer que seja. As pessoas
são o que são e eu só acho mal que a Arqueonautas SA não assuma que se está
absolutamente nas tintas para a arqueologia e para os pobres dos paises onde
opera. Percebes? Não e a caça aos tesouros que me incomoda, é a
hipocrisia descarada. Onde é que na América Latina ou na Ásia algum caçador
de tesouros se preocupou com o património? Porque é que agora eu haveria
de acreditar que a Arqueonautas, ao fim de 9 anos, se vai começar a
preocupar? Em relação ao IDM-002, as informações que eu gostava
de ver publicadas são absolutamente básicas: a) comprimento da quilha; b) secção; c) numero de paus que a
constituem; d) havia couces? e) Havia coral? f) Havia
sobre-roda? g) tipo e numero de
escarvas; h) pregadura; i) comprimento
da roda; j) secção; k) numero de paus que a
constituem; l) tipo
de escarvas; m) pregadura; n) raio de curvatura da
roda; o) altura do cadaste; p) secção; q) numero de paus que a
constituem; r) tipo de escarvas; s) pregadura; t) inclinação; u) comprimento da
sobrequilha; v) numero de paus; w) escarvas; x) pregadura; y) pe do mastro; z) bombas; aa) Caverna mestra: secção; bb) Largura do plão; cc) Numero total de cavernas; dd) Numero de cavernas gabaritadas; ee) Numero de cavernas mestras; ff) Numero de cavernas
assentes sobre a quilha gg) Numero de cavernas assentes sobre os
enchimentos, corais, ou sobre-rodas; hh) Raios de curvatura da caverna
mestra e almogamas; ii) Tipo de marcas der
gabarito: números romanos? Eixo da quilha? Astilhas? Marcas de côvado? jj) Cavilhas de madeira nas
faces anterior e posterior das cavernas? Onde? kk) Ligação caverna/braço: escarvas –
tipo e numero; ll) Ligação caverna/braço:
pregadura; mm)
Escoas: numero e distancia a sobrequilha a meia nau; nn) Numero de cobertas; oo) Arranjo da ligação vaus/cavernas; pp) Numero de pés de carneiro; qq) Tabuado de casco: grossura; rr) Comprimento Maximo das
tabuas; ss) Largura máxima; tt) Calafete; uu) Havia tiras de chumbo entre as
tabuas? vv) Havia fiadas bem definidas? ww)
Quantas fiadas ate a primeira cinta? xx) Que tipos de madeira e que foram
utilizados? Etc. A geometria dos castelos seria absolutamente
formidável! A posição dos pés dos mastros e o arranjo das madeiras,
enfim. Eu não tenho a certeza que alguém ai na empresa compreenda a
raridade e a importância do navio IDM-002, dada a extensão com que o casco esta
conservado. Era um achado mais importante (muito mais importante!) que o Mary Rose! Acho que daqui a 10 anos vais pensar neste email e
dar-me razão: a caça aos tesouros é uma actividade criminosa, sem justificação
possível, e os snobs que a promovem são iguais aos industriais que deitam
poluentes nos rios, na atmosfera e no mar! Pode ser que nessa altura
possamos beber umas cervejas juntos e conversar sobre estas coisas... Um grande abraço, filipe Sem outro assunto, Filipe -----Original Message----- Exmo Senhor Prof. Dr Filipe Castro, Em nenhuma parte da minha carta
escrevi a “enérgica defesa” da empresa chamada Arqueonautas SA. Eu entrei
nesse “palco” relativamente tarde. Antes de mi, colaboraram com ELES, aqueles
que agora, por razões que ignoro, estão muito CONTRA! Respeito opiniões de
outros e desde, que meus “argumentos” estão pouco “lógicos”, não tentarei
procurar a lógica no comportamento dos terceiros. A Direcção Nacional do Património
Cultural e o Dept. de Arqueologia e Antropologia da Universidade Eduardo
Mondlane pediram-me fiscalizar os resultados da pesquisa dos Arquenautas SA e,
ao mesmo tempo, acompanhar uma especialista portuguesa em cerâmica da Dinastia
Ming (2x5 dias em 2002 e 2003). Durante cada visita tivemos a nossa disposição:
registo computerizado, Diário de Pesquisas Sub-áquatica, inventário, fichas com
fotografias e descrição, fotocópias do relatório. etc. Durante último encontro
recebi primeiro draft da públicação final. Empresa Arquenautas SA assinou
contrato com o Governo Moçambicano de acordo com a Lei em vigor. E quem sou eu para
questionar a legitimidade do contrato. A única coisa que podia fazer como o
presidente em exercício do ICOMOS, era propôr em 2003 o Regulamento sobre as
pesquisas sub-aquáticas e o Governo aceitou a proposta. Agora só devemos
confiar que os que governam respeitam as leis por si aprovadas e que não
admitirão no território nacional qualquer caça aos tesouros ou destruição do
património cultural da humanidade (o património cultural potuguês incluindo se
for tal caso). Acho que Senhor Professor
conhece muito melhor a lingua portuguesa do que eu e por isso gostaria de
pedir-lhe que me indiquea o paragrafo no meu texto onde eu como representante
do ICOMOS estou “aplaudir
a destruição e a venda do patrimonio cultural português”!?. Concluindo, as minhas sinceras desculpas pela
provocação do “choque”. Não foi esta a minha intenção. Respondendo ontem
a carta do Excelentissimo Senhor expressava somente a minha opinião
pessoal (ICOMOS pode ter outra) que de acordo com a mesma Convenção da UNESCO
que o Exmo Sr. Professor menciona, considera-se os achados arqueológicos
encontrados no teritório ou nas áquas territoriais de Moçambique como
património moçambicano e que Moçambique já é 29 anos independente e sabe o que está a fazer. Com mais elevada estima e consideração Leonardo Adamowicz PS. Não deu me resposta se os EUA e Portugal
ratificaram a Convenção da UNESCO? -----Original Message----- Exmo. Sr. Dr. Leonardo
Adamowicz A pronta e enérgica defesa da empresa Arqueonautas SA
espantou-me e chocou-me. Espantou-me porque eu julgava que o ICOMOS se
pautava por princípios sérios, e pugnava pela defesa do patrimonio da
Humanidade, considerado como uma propriedade de todos, e não de uma empresa
privada qualquer. Chocou-me porque V.a Ex.a parece não compreender qual e
o objecto social da empresa em questão. Assim, e para que não restem
duvidas sobre a minha posição, julgo pertinente informá-lo dos seguintes
factos: 1. A Arqueonautas SA e uma empresa privada com fins
lucrativos cujo objectivo e a obtenção de lucro com a venda de artefactos
recuperados de sítios arqueológicos subaquáticos. Isto configura, sem
qualquer margem para duvida, a actividade de uma empresa de caca aos tesouros. 2. Como todas as outras empresas de caca aos tesouros
que conheço – e eu conheço muitas – a empresa Arqueonautas SA nunca publicou
uma única linha sobre os navios cujas cargas recuperou em nenhum jornal com
credibilidade cientifica mínima. 3. Nos últimos nove anos a empresa Arqueonautas SA
anunciou que ia recuperar, ou que havia recuperado, “tesouros” de mais de uma
dezena de navios, em Cabo Verde e em Moçambique. 4. Ate ver uma prova escrita de que o Sr. Mensum
Bound, ou a Dra. Margaret Rule, ou o Sr. Alejandro Mirobal pertencem, de facto,
a Universidade de Oxford, não vejo nenhuma razão para acreditar nas informações
distribuídas pela empresa Arqueonautas SA sobre a eventual credibilidade
cientifica dos seus arqueólogos e as alegadas relações da empresa com a
referida universidade. 5. Alias não conheço nenhuma organização respeitável
que tenha escavado mais de uma dezena de navios ao longo de quase dez anos e
nunca tenha publicado um único artigo cientifico sobre nenhum dos sítios.
As duas únicas publicações de que tenho conhecimento, nos últimos 10 anos,
sobre a actividade da empresa Arqueonautas SA são dois catálogos de leiloes, um
da Sotheby’s e um da Christie’s. 6. Assim, só posso lamentar que o ICOMOS venha
defender e promover tão energicamente a actividade desta empresa de caca aos
tesouros, e se atreva a afirmar que esta actividade e compatível com os
princípios que informam a UNESCO e deviam informar o ICOMOS. 7. Quanto aos seus argumentos sobre a alegada
brutalidade da expansão portuguesa poderem justificar a destruição do
patrimonio português, julgo que não devo deixá-los sem três comentários: Em primeiro lugar quero-lhe dizer que espero que
ninguém no ICOMOS ache que eu me devo calar perante a destruição do patrimonio cultural
português em Moçambique porque sou português e ha seiscentos anos uns
portugueses se portaram de forma desumana no território onde hoje e Moçambique; Em segundo lugar porque os seus argumentos não são
sequer lógicos. Mesmo que e expansão portuguesa em África tenha sido
extremamente violenta para as populações africanas, não me parece que seja
licito o ICOMOS aplaudir a destruição e a venda do patrimonio cultural
português. Seguindo esta lógica será licito aplaudir também a destruição
do patrimonio dos Romanos? E o dos Persas? Em terceiro lugar, e talvez mais importante do que os
insultos étnicos ou que a falta de lógica implícitos nos seus argumentos,
gostava de lhe lembrar que o papel dos historiadores e das pessoas dedicadas ao
estudo e preservação do patrimonio cultural da Humanidade não é coleccionar
ofensas antigas para os políticos usarem em proveito próprio, lançando os povos
uns contra os outros. Sem outro assunto, Respeitosamente, Filipe Castro Assistant Professor Nautical Archaeology Program Texas A&M University College Station, Texas, USA C.C.: ICOMOS Secretariat in Paris -----Original Message----- Estimado Senhor Professor Filipe
Castro, Não pretendo entrar á Guerra entre actuais
e antigos caçadores ao tesouro. Isso, eventualmente, pode ser da competência de
um Estado soberano, neste caso a República de Moçambique. Da minha parte
quero somente informar que no dia 18 de Abril de 2003 o Comité Nacional –
ICOMOS Moçambique, apresentou ao Governo, perante muitos especialista da área,
um projecto do Regulamento sobre as actividades arqueológicas em meio
subaquático, que completa a lei sobre a protecção do património cultural de
10/1988 e é de acordo com o espirito da Convenção da UNESCO. O Ministério da
Cultura está já na fase final da aprovação. Nem agora, nem depois da aprovação
do Regulamento nenhum pais do Mundo poderia reclamar os achados arqueológicos
encontrados nas águas territorias de Moçambique. Gostaria de lembrar que muitos
consideram a expansão maritima europeia como exploração, bandidagem e pura caça
aos tesouros. Incas, Aztecas, Moçambicanos, podem contar as longas histórias
sobre efeitos desta “acção civilizatória”. A proposito: gostária de saber
quando o Congresso dos Estados Unidos e o parlamento do Portugal ratificarão a
Convenção da UNESCO?... para que a leilão, na Christie’s de Amsterdão, sejá
último. Com mais elevada estima e
consideração Leonardo Adamowicz Arqueologo Presidente Executivo do Comité
ICOMOS – Moçambique PS. Não
pretendo defender os Arqueonautas SA, que de acordo com um contrato assinado
com o Governo Moçambicano trabalham na Ilha de Moçambique. O C.N. ICOMOS –
Moçambique só exigia, que a empresa apresente um relatório detalhado, uma
publicação e obrigatoriamente deixa em Moçambique todas peças únicas e aquelas
que sejam consideradas de grande valor (NB. pelos especialistas chamados do
Portugal). Sinceramente lamento leilão e tenho a esperaça que os fundos serão
utilizados para formação dos arqueólogos subaquáticos moçambicanos.
Pessoalmente, estou muito contente da publicação científica dos achados, ainda
este ano. A monografia será a primeira deste genero na história de Moçambique
(tal colonial, como independente).
-----Original
Message----- Vai amanhã (dia 19) a leilão, na
Christie’s de Amsterdão, parte da carga de um navio português do século XVI
naufragado na Ilha de Moçambique. A carga que agora se vai dispersar foi
salva pela empresa de caça aos tesouros Arqueonautas SA. Em todo o mundo se aperta o cerco contra a
actividade das empresas de caça ao tesouro. A aprovação de uma convenção
da UNESCO para a proteção do património cultural subaquático da Humanidade é um
bom exemplo desta tendência. Por outro lado, cada vez mais governos de países
com um passado ligado a expansão marítima europeia reclamam direitos sobre os
restos dos seus navios, perdidos nos quatro cantos do mundo. Assim, o
governo espanhol ganhou recentemente um processo em tribunal, contra uma
empresa de caça aos tesouros e o Estado da Virgínia, nos EUA, que havia
atribuído a concessão de salvados. Acho que temos o direito de saber porque é
que o estado português não faz nada para proteger os restos arqueológicos dos
nossos navios, à semelhança dos outros países do mundo. Filipe Castro, Ph.D. Assistant Professor Nautical Archaeology Program Texas A&M University College Station, Texas, USA |
Mensagem anterior por data: Re: [Archport] Procuto Foto da Forma Dr 24/25C T.S. Sud-Gálica |
Próxima mensagem por data: [Archport] "A Conquista de Lakhish por Senaquerib em 701 a.C.: as fontes escritas, arqueológicas e paleo-biológicas", conferência por Álvaro Figueiredo, dia 26/5/2004 na FCSH-UNL |
Mensagem anterior por assunto: [Archport] Resposta a Armando Sabrosa |
Próxima mensagem por assunto: Re: [Archport] Património - e não só |