Re: [Archport] Património - e não só
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To:
Joana Santos <azrael_jo@hotmail.com>, Archport <archport@lserv.ci.uc.pt>
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Subject:
Re: [Archport] Património - e não só
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From:
Ricardo Santos <ricardo.jd.santos@gmail.com>
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Date:
Fri, 30 Dec 2005 17:04:30 +0000
Caros colegas,
Devo confessar que é com algum agrado que vejo de novo retomado aqui neste
"forum" o tema do Património que, como é sabido, é um tanto ou quanto
sensível e polémico. (...)
Com certeza que nós recém-licenciados ficamos com a alma despedaçada quando vemos certas atrocidades a serem cometidas. Algumas até por quem anda nisto há mais tempo que nós.
O professor Jorge de Alarcão disse numa conferência ["Arqueólogos: como nos vemos e como nos vêem a nós"] na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra que ele devia ser dos últimos arqueólogos românticos. Por olhar para a Arqueologia como verdadeira paixão e não como um trabalho ou obrigação. Nessa altura pensei comigo próprio que discordava. E realmente só envereda pela Arqueologia quem gosta mesmo. Contudo, agora vejo a que se referia. Por exemplo, nós, acabados de formar, que queremos tornar-nos independentes dos nossos pais , quando os temos, ou que temos contas para pagar, quando estamos por nossa conta, vamos deixando para trás esses moralismos porque isso não nos dará o que comer.
Não estou a dizer que deixemos tudo cair. Não. Também já localmente me insurgi contra coisas que estavam a ser feitas incorrectamente, ou contra situações que todos assobiavam para o lado e "deixa andar".
Quando estiver no activo, espero fazer tudo ao meu alcance para combater os vícios e a incúria de outros, e salvar quanto mais possível melhor. Todavia há sempre alguém superior que não entende as heranças culturais materiais e imateriais que temos e que nos identificam como povo português. E esses que detem o poder muitas vezes não querem saber. Só a economia interessa, e tgv's, e ota's, e estádios. Museus, escolas, hospitais (grandes e de qualidade pelo menos em todas as capitais de distrito) nada.
Mas vivemos numa democracia quem está sentado foi eleito, ainda que depois todos digam: Eu não votei nesse... Todo o Zé Povinho vive à romana: ainda vai tendo algum pão, e circo futebolês.
Mas Eduardo Prado Coelho dizia mais coisa, menos coisa: "Cada gente tem os políticos que merece." Eles nem sempre serão os responsáveis pelo andar da carruagem. Falta, isso mesmo, abanar a cabeça, a mentalidade de muitos neste nosso país, pelo menos aqueles que estão em idade escolar podemos "tratá-los" - eles poderam dar no futuro um outro rumo a Portugal. Mas se os puserem a estudar Educação Sexual e Inglês logo na Primária é claro que a coisa vai descambar. Nem falar bem a própria língua saberão - se calhar já acontece hoje; e a calculadora substituirá de vez a massa encefálica.
É preciso de vez em quando pôr o dedo na ferida, ainda que doa a alguém - espero que não seja a mim por este acto. Mas num país de chicos-espertos, alego insanidade e ainda me safo!
Ricardo Santos