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Re: FW: [Archport] "Extinção" do IPA


•   To: Filipe Castro <fvcastro@tamu.edu>, archport@ci.uc.pt
•   Subject: Re: FW: [Archport] "Extinção" do IPA
•   From: J M <jmarques_64@yahoo.com>
•   Date: Thu, 9 Feb 2006 04:59:43 -0800 (PST)

Caro Filipe,

Todas as crises de crescimento e identidade levam
algum tempo a ultrapassar assim como as grandes
rupturas, em que muitas vezes a negar o "pai", parece
a forma acertada de afirmar uma pessoa ou instituição,
que para o caso do IPA o foi IPPC e o organismo que
lhe sucedeu, o IPPAR.
É muito importante reter esta dimensão histórica sobre
os organismos que desde meados do século XX têm
tutelado o património em Portugal, para perceber que a
nossa pequenez não deveria ser factor de desunião mas
sim de coligação, porque as lutas fratricidas dentro
do património só estão a desembocar nesta situação de
desagregação das instituições, e aqui não falo só do
IPA, falo também do IPPAR e quem sabe do IPM e de
outras que mal nasceram e tiveram tempo para se
afirmarem.
Considero as suas palavras como resultantes de um
preconceito que resulta de um ónus que a sociedade
cobra ao IPPAR e consequentemente aos seus
funcionários.
Esse ónus não resulta da inacção, como se depreende
das suas palavras, mas resulta antes da acção que
geralmente não é pública e visível, como são, grosso
modo, os licenciamentos em zonas de protecção e
centros históricos, que nem sempre tornam o IPPAR
popular junto das autarquias e dos donos de obra. 
Também se poderá dizer que essa fraqueza vem também de
ataques de outras instituições que sentem o seu espaço
ocupado, se calhar por terem perdido o comboio da
história e ainda venerarem o intervencionismo puro e
não reconhecerem, por exemplo, a valorização como um
motor da salvaguarda do património.
Sublinho que o IPPAR tem nos seus funcionários o seu
maior capital humano, quer pelos seus curricula,
académico e profissional, e que têm efectuado
trabalhos de reconhecido mérito e interesse público.
Será isto para desperdiçar? Vai-se deitar fora este
saber, saber que não é estático que tem evoluído e que
tem trazido para o país muitas experiências inéditas e
até inovadoras?
Não se pode aceitar de forma leviana conceitos e
ideias feitas que só servem para criar uma diversão e
distrair-nos do que realmente é essencial, continuo a
afirmar, a protecção, salvaguarda, investigação e
apresentação pública do património.
Estes ataques, que se vêm sucedendo ao longo dos anos,
parece que de facto enfraqueceram a instituição e
agora frutificaram num modelo que ninguém conhece mas
de que já existem sinais preocupantes que apontam para
uma desagregação, esvaziamento e submissão a
concepções passadistas.
É com seriedade e argumentos, bons argumentos, que se
pode fazer a discussão e a fundamentação das
asserções.
Quem me conhece, sabe que desde a primeira hora em que
foi anunciada a fusão do IPA com o IPPAR que me
manifestei contra. 
Manifestei essa minha posição publicamente ao então
senhor Presidente do IPPAR e tento demonstrar a minha
solidariedade junto dos colegas que conheço no IPA.
Não posso admitir, de forma alguma, considerações e
insinuações injustas e pouco consistentes sobre o
IPPAR e os seus funcionários: estaremos todos mais uma
vez a dar um tiro nos pés! 
Acho até inadmissível que no momento em que o IPPAR se
encontra no limiar de um possível desmembramento,
esvaziamento de competências e perda de autonomia, se
olhe para o mesmo como um inimigo e alvo a abater e
até se regozijarem com o seu fim.
Não nos podemos esquecer que para além das pessoas,
também aqui o património e o seu futuro é importante
como objecto dos nossos esforços.

Cumprimentos,

João Marques  



--- Filipe Castro <fvcastro@tamu.edu> wrote:

> Mais uma vez, parabéns à Jacinta Bugalhão!  Pela
> coragem, pela inteligência
> e pela calma com que faz as coisas.
> 
>  
> 
> Parece impossível, mas a verdade é que tudo indica
> que este governo, como
> outros, prefere destruir um instituto pequeno,
> barato e ágil, que funciona ?
> apesar de, em minha opinião ter dois problemas
> (enormes) que eu me vou
> escusar de nomear aqui ? do que renovar o IPPAR!
> 
>  
> 
> Sem querer generalizar ? todas as generalizações são
> injustas ? para quem
> está de fora o IPPAR aparece, consistentemente e
> independentemente dos
> governos para quem trabalha, como uma massa informe,
> onde imperam a
> preguiça, a ignorância, a irresponsabilidade e o
> cinismo.  Onde grande parte
> dos funcionários não tem convicções, nem brio, nem
> sentido das
> responsabilidades, nem espírito de equipa.  
> 
>  
> 
> O IPPAR é o tipo de organização que só aparece nos
> jornais quando acontece
> uma calamidade.
> 
>  
> 
> E é o IPPAR que a ministra quer proteger e
> encarregar de zelar pela
> arqueologia em Portugal?  
> 
>  
> 
> É espantoso como a política promove este tipo de
> pessoas.  Refiro-me aos
> ministros em geral.  Com raras e honrosas excepções,
> pode-se sempre contar
> com eles para nos demonstrarem um zelo infinito
> pelas próprias carreiras,
> uma falta de coragem abjecta, uma subserviência
> absoluta aos poderes
> instalados (os dirigentes profissionais da
> administração pública, que vivem
> acima da crítica e do escrutínio dos mortais) e uma
> visão do futuro que
> corresponde aos interesses pessoais de curto prazo. 
> 
> 
>  
> 
> E como em Portugal a Arqueologia não tem qualquer
> impacto na vida das
> pessoas (é uma actividade secreta e esotérica, que
> acontece por trás de
> tapumes e nunca é publicada senão em relatórios que
> ninguém lê), deve ser
> facílimo tramar os arqueólogos sem sofrer
> consequências políticas, para além
> duma reacção corporativa. 
> 
>  
> 
> Filipe Castro
> 
> College Station, TX
> 
>  
> 
> P.S.:  E acho que devíamos todos escrever ao Partido
> Socialista a pedir que
> pare de andar a fazer danças do ventre à nossa volta
> e mude o nome, de uma
> vez por todas, para Partido Neo-Liberal, ou Partido
> do Mercado, ou Partido
> do Capitalismo Selvagem, ou Partido da Direita
> Católica e Conservadora.
> Ficava-lhes bem assumir as coisas (estas e outras)
> volta e meia.
> 
>  
> 
>   _____  
> 
> From: archport-bounces@lserv.ci.uc.pt
> [mailto:archport-bounces@lserv.ci.uc.pt] On Behalf
> Of Jacinta Bugalhão
> Sent: Wednesday, February 08, 2006 10:58 AM
> To: archport@list-serv.ci.uc.pt
> Subject: [Archport] "Extinção" do IPA
> 
>  
> 
> Caros colegas, 
> 
> Como todos os arqueólogos temos acompanhado
> atentamente o evoluir da
> situação relativamente a reorganização orgânica do
> Ministério da Cultura,
> que aparentemente se encontra em curso. Como parte
> interessada resolvemos
> desenvolver algumas iniciativas de divulgação da
> nossa posição sobre a
> matéria. Assim, junto a esta mensagem, cópia do
> comunicado de imprensa que
> divulgámos no princípio da semana e que, grosso
> modo, exprime o nosso
> ?estado de espírito?.
> 
>  
> 
> Saudações arqueológicas
> 
>  
> 
> Jacinta Bugalhão
> 
>  
> 
>  
> 
> COMUNICADO
> 
>  
> 
> Em 2002, Pedro Roseta, ministro do governo de Durão
> Barroso, anunciou a
> ?fusão? do Instituto Português de Arqueologia (IPA)
> com o Instituto
> Português do Património Arquitectónico (IPPAR). Este
> processo arrastou-se
> penosamente por meses e anos, até que, em Julho de
> 2004, a então Ministra da
> Cultura, Maria João Bustorff, anuncia a decisão
> governamental de abandonar a
> medida de fusão entre os dois Institutos.
> 
> Vemos agora novamente recuperada esta ideia,
> inserida numa mega
> reestruturação da administração pública, acerca da
> qual vão surgindo, dia
> após dia, rumores veiculados pela comunicação
> social, em forte contraste com
> o silêncio da tutela. Esta situação reveste-se de
> maior perplexidade, pois
> não só o PS tinha concedido apoio inequívoco aos
> protestos da comunidade
> arqueológica em 2002, como o novo governo integra
> algumas das personalidades
> que explicitaram o seu apoio à manutenção da
> autonomia orgânica do IPA,
> entre os quais se conta a actual Ministra da
> Cultura, na altura exercendo as
> funções de deputada pelo Partido Socialista.
> 
> Parece certa, neste contexto, a perda da autonomia
> orgânica da arqueologia,
> sem que em momento algum tenha sido auscultada a
> comunidade arqueológica. 
> 
> Por considerarmos que esta medida continua a
> encerrar todos os malefícios e
> problemas que motivaram a nossa mobilização em 2002
> e também por, mais uma
> vez, não se detectar qualquer intenção de ter em
> conta os pontos de vista
> dos arqueólogos, previamente à concretização da
> reorganização do sector,
> vimos por este meio solicitar a colaboração dos
> órgãos de comunicação
> social, respeitando as opções de política editorial,
> na divulgação das
> nossas preocupações, que consideramos revestirem-se
> do maior interesse
> público.
> 
>  
> 
> *   Uma vez mais esta proposta de reestruturação da
> gestão pública
> arqueológica não é precedida do devido debate, que
> envolva verdadeiramente
> os profissionais do sector (nem o Ministério da
> Cultura, nem a comissão de
> reestruturação do mesmo, conta, que se saiba com
> qualquer colaborador ou
> assessor da área da Arqueologia) ou as suas
> associações representativas.
> 
> *   Consideramos que a atitude do actual Ministério
> da Cultura ? como dos
> dois executivos anteriores, ao manterem por quatro
> anos a Arqueologia
> 
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