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Parece-me oportuno este excerto! A Disposição da Razão Não são apenas as febres, as beberagens e os grandes infortúnios que abatem o nosso julgamento; as menores coisas do mundo o transtornam. E não se deve duvidar, ainda que não o sentíssemos, que, se a febre contínua pode arrasar a nossa alma, a terçã também lhe cause alguma alteração de acordo com o seu ritmo e proporção. Se a apoplexia entorpece e extingue totalmente a visão da nossa inteligência, não se deve duvidar que a coriza a ofusque; e consequentemente mal podemos encontrar uma única hora da vida em que o nosso julgamento esteja na sua devida disposição, estando o nosso corpo sujeito a tantas mutações contínuas e guarnecido de tantos tipos de recursos que (acredito nos médicos) é muito difícil que não haja sempre algum deles andando torto. De resto, essa doença não se revela tão facilmente se não for totalmente extrema e irremediável, pois a razão segue sempre em frente, mesmo torta, mesmo manca, mesmo desancada, tanto com a mentira como com a verdade. Assim, é difícil descobrir-lhe o erro e o desarranjo. Chamo sempre de razão essa aparência de raciocínio que cada qual forja em si - essa razão por cuja condição pode haver cem raciocínios contrários em torno de um mesmo assunto, é um instrumento de chumbo e de cera, alongável, dobrável e adaptável a todas as perspectivas e a todas as medidas; é preciso apenas a habilidade de saber dar-lhe contorno. Por melhor intenção que tenha um juiz, se não se escutar de perto (coisa em que poucas pessoas se ocupam), a inclinação para a amizade, para o parentesco, para a beleza e para a vingança - e não apenas coisas de tanto peso, mas esse instinto fortuito que nos faz favorecer uma coisa mais do que outra, e que nos faz, sem autorização da razão, escolher entre dois objectos semelhantes, ou alguma sombra igualmente vã - podem insinuar insensivelmente no seu julgamento a recomendação ou o desfavor de uma causa e fazer pender a balança. Michel de Montaigne, in 'Ensaios'
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