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Boa noite, caros Archportinianos,
Joana Isabel Piorro
From: archport-request@lserv.ci.uc.pt Reply-To: archport@lserv.ci.uc.pt To: archport@lserv.ci.uc.pt Subject: Digest Archport, volume 36, assunto 63 Date: Sat, 30 Sep 2006 12:00:06 +0100
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1. Trabalho Digno (Andre gregorio)
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Message: 1 Date: Sat, 30 Sep 2006 02:04:39 +0000 From: "Andre gregorio" <andregregorio@hotmail.com> Subject: [Archport] Trabalho Digno To: archport@lserv.ci.uc.pt Message-ID: <BAY113-F103749E3FDDE25D1B15FB8BF190@phx.gbl> Content-Type: text/plain; format=flowed
Em bom tempo surgiu uma polémica que pôs finalmente a comunidade a discutir algo, cuja necessidade de discussão se tornou evidente pela quantidade de mensagens enviadas abordando este tema: o estatuto sócio-profissional dos profissionais de arqueologia e a melhor forma de o promover e dignificando ao mesmo tempo a actividade.
Gostaria em primeiro lugar de apelar aos membros registados do Archport que não se limitem a ler as opiniões dos outros, mas que façam ouvir a sua voz (neste caso ler as suas palavras).
Só assim será possível alargar ao máximo o âmbito desta discussão, tornando assim possível avaliar a sensibilidade da comunidade dos profissionais do meio no que diz respeito a esta questão.
É importante que as pessoas se pronunciem, discutam e porventura possam chegar a alguma conclusão.
Em seguida gostaria de deixar algumas considerações em relação a algumas
questões levantadas por vários membros do archport que merecem ser debatidas
e esclarecidas.
Em primeiro lugar, e concordando totalmente com a opinião expressa pelo
Carlos Delgado, tomar a responsabilidade e assumir o risco de abrir uma
empresa de arqueologia implica bem mais que assumir o status de empresário.
Implica também uma resposabilidade social acrescida devido ao papel
económico e social que a entidade que cria passa a desempenhar.
Todas as dificuldades porque passa uma empresa de arqueologia, referidas
pelo Ricardo Abranches, ao nível das obrigações fiscais, salariais ou até da
própria cobrança de facturas são comuns a quase todas as empresas não
financeiras deste país.
Mas não são muito diferentes das dificuldades porque passam a maioria dos
profissionais da arqueologia. Também já tive que entregar dinheiro de IVA às
finanças por ter passado recibos sem ter recebido.
Também tenho uma despesa fixa de segurança social que, ao contrário das
empresas incide sobre um valor absoluto e não sobre uma percentagem do
rendimento, o que significa que tenho que pagar quer receba quer não.
O que faz toda a diferença é que para uma empresa estes são riscos que têm
muitas vezes recompensa. Existe lucro e existe criação e apropriação de mais
valia.
Mas para o profissional independente (que ajudou a criar essa mais valia) o
risco chama-se precariedade, incerteza, impossibilidade de criar cenários
que ultrapassem o curto-médio prazo.
É preciso que as pessoas não se esqueçam que as margens criadas que permitem
a obtenção de lucro decorrem da diferença entre o que uma empresa ganha e
aquilo que gasta, sendo que o factor de produção mais sacrificado para criar
essas margens é o factor trabalho.
É a partir dos vencimentos dos profissionais que as empresas de arqueologia fazem o seu lucro. Quanto mais baixos os vencimentos, maior o lucro.
Já para o profissional independente, a recibos verdes, não há por onde criar
margens, não há factor que se possa baixar para criar mais-valia, existe uma
impossibilidade prática de obter lucro.
A não ser que deixe de pagar renda ou prestação de casa, que deixe de pagar
as contas, que deixe de pagar ao infantário (sim, há quem, como eu, tenha
filhos!...), ao pediatra, não compre livros e aperte bem o cinto, quase ao
jeito de banda gástrica, para poupar na comida.
Por outro lado alega-se que a situação a que se chegou decorre de um natural
desenlace provocado pela evolução do mercado e pelo aumento exponencial de
empresas de arqueologia, com o efeito mais visível a ser a descida a pique
dos preços apresentados por estas.
No entanto, esta situação também se deve à irresponsabilidade das empresas
de arqueologia em geral, que são incapazes de comunicar, de se entender, de
estabelecer estratégias que permitam a promoção e dignificação da sua
própria actividade junto dos grupos sociais, institucionais e económicos que
lidam directa ou indirectamente com o património arqueológico.
A maledicência e o denegrimento continuam, à boa maneira da comunidade arqueológica no seu pior, a dominar as relações entre as empresas.
A recente polémica relacionada com a alegada destruição de vestígios arqueológicos em Tomar põe a nú a natureza da relação inter-empresarial no meio da arqueologia comercial.
Não existe uma estratégia de promoção e valorização de produto pelo meio
empresarial no seu conjunto, assim como ainda não vi nenhuma vontade de
regulamentar a actividade, nem de criar instrumentos de regulação do mercado
que evitem a sua implosão por excesso de concorrência.
Estes factos assim sucintamente expostos, servem também para responder ao
Alexandre Monteiro, explicando porque é que eu pessoalmente nunca encarei
sériamente a possibilidade de criar uma empresa, assim como considero que o
excesso de empresas prejudica o mercado, assim como põe em causa a qualidade
dos serviços prestados.
Assim, se as empresas não se entendem, entendamo-nos nós, os profissionais da arqueologia.
Estruturar a carreira, estabelecer graus de progressão e critérios claros para essa progressão, estabelecer valores salariais minimos para cada grau, estabelecer regras para o relacionamento social entre empresas e profissionais, combater os vínculos precários, criar uma entidade representativa dos profissionais, de natureza sindical ou sócio-profissional, são factores que ajudarão a acabar com a lei da selva que se vive neste momento no mercado laboral da arqueologia comercial.
Além de assegurar a dignidade profissional e social dos profissionais da Arqueologia acabarão por criar condicionantes que em última análise permitirão que o mercado se desenvolva de uma forma sustentada e com base numa concorrência bastante mais saudável e que privilegie como factores concorrenciais a qualidade, o rigor científico, as boas práticas e a aplicação e desenvolvimento de novas metodologias ao nível do trabalho científico e da publicação e apresentação dos seus resultados.
Espero que haja mais colegas que partilhem da minha opinião quanto ao
caminho a seguir, espero que haja mais colegas a intervir neste fórum, a
propor alternativas, a dar as suas opiniões e sobretudo a elevar o nível de
uma discussão que tendo surgido de forma transviada é fundamental para o
futuro da arqueologia enquanto actividade profissional digna, prestigiante e
fundamental para a salvaguarda e estudo do Património Cultural do nosso
País.
Com os melhores cumprimentos,
André Gregório
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Fim da Digest Archport, volume 36, assunto 63 *********************************************
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