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Re: [Archport] «Os aposentados são para deitar fora?»

To :   archport <archport@ci.uc.pt>, museum <museum@ci.uc.pt>, histport <histport@ml.ci.uc.pt>
Subject :   Re: [Archport] «Os aposentados são para deitar fora?»
From :   Luís Raposo <3raposos@sapo.pt>
Date :   Sat, 16 Jan 2016 17:52:50 +0000

Só agora, depois de lidos os comentários dos amigos Alicia Canto e Manuel Martin-Bueno, que saúdo, me apercebo do conteúdo do comentário do também amigo José d? Encarnação. Junto-me a todos, na amargura e até indignação que exprimem.

Choca-me profundamente a ingratidão em geral. Choca-me sobremaneira quando provem de quem não pode invocar a ignorância e deveria estar na linha da frente do respeito devido a quem antes de nós nos permite ser o que somos ou temos a pretensão de ser.

Muitas vezes já me revoltei, por vezes comigo próprio e com a minha ignorância, por não dar a devida atenção, ou simplesmente não tratar com a deferência devida, aqueles que hoje nos aparecem simplesmente como velhos, sem que saibamos ou, pior ainda, sem que queiramos lembrar a grandeza que possuíram quando, em bastos casos, tiveram o mundo a seus pés.

A Universidade, velha senhora, é useira e vezeira neste tipo de comportamentos que estão longe de limitar-se à questão da caixa de correio electrónico (embora esta seja sintomática e altamente simbólica). Como o Exército, constitui força fática altamente hierarquizada. Mas diferentemente do Exército falta-lhe a solidariedade que leva a chamar o parceiro por camarada, por força das vivências comuns em cenários críticos. Vive somente de estrelas colocadas em galões, merecidos uns imerecidos outros. Pior, pior mesmo, só as academias, antros de ?macacos empalhados? como lhes chamava o saudoso Octávio da Veiga Ferreira, onde o imerecimento sobreleva de longe o merecimento e tudo se conduz entre salões à espera que o primeiro morra e o seguinte lhe tome a cadeira? de número.

O mal é, todavia, mais vasto. Recordo o caso de um museu em que, mal um dos seus principais vultos se reformou, logo lhe foi retirado o gabinete, situado aliás em autêntico vão de escada.

Claro que cada caso é um caso e não se pode tratar igual o que é diferente. Percebe-se que em certas situações seja necessário assumir rupturas com o passado. E aqueles que se reformam ou simplemente deixam de exercer funções de chefia têm também as suas obrigações. Tão má como a ingratidão de quem sucede é a arrogância de quem sai e pretende continuar a pairar sobre os mais novos, fazendo de alma penada.

Tenho a enorme felicidade de viver situação de uma exemplaridade extraordinária onde quem me sucede na Casa que sirvo desde há quase quatro décadas, para além humanamente bem formado (o quer já não é pouco nos dias que correm), possui e promove a visão estratégica de que a grandeza de uma instituição está na soma dos seus diferentes tempos, o passado, o presente e o futuro.

Afinal tudo se resume a boa educação, humanismo, civilidade e... sentido teleológico do tempo e da história.

Luís Raposo

Quoting José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>:

         Permita-se-me que remeta de novo para a crónica publicada ontem e que disponibilizei em http://notascomentarios.blogspot.pt/2016/01/os-aposentados-sao-para-deitar-fora.html , porque são já 23 as reacções ali publicadas, oriundas dos mais diversos quadrantes e que reflectem o estado de espírito em que estamos.

         O comentário do Prof. Manuel Martin-Bueno é, porém, muito longo (para as regras dos blogues) e, como tive necessidade de o dividir em partes, achei por bem partilhá-lo aqui por inteiro, agradecendo-lhe, naturalmente, a atenção que me dedicou.

         Votos de um fim-de-semana sereno e cheio de tempo!

 

                                                                           J. d?E.

 


De:Manuel Martin-Bueno [mailto:mmartin@unizar.es]
Enviada em: sábado, 16 de Janeiro de 2016 11:19
Para: jde@fl.uc.pt
Assunto: Asunto Burdeos III

 

CONVERSACIONES XXIX: Obsolescencia programada

«L?université de Bordeaux 3 ayant décidé de supprimer les adresses courrier des retraités, je vous prie de correspondre désormais avec moi à l?adresse suivante [?]». Senti, confesso, um nó na garganta, quando, às primeiras horas da manhã do Dia de Reis, o correio me trouxe essa novidade: a Universidade de Bordéus III decidira retirar aos seus aposentados a possibilidade de terem um endereço electrónico através do servidor universitário! E fez-me lembrar logo aquela história que já contei, mas que vale a pena recordar de vez em quando, e que se passou com a Universidade de Porto. Uma semana depois de um docente se ter aposentado, eu precisei de o contactar por uma questão de serviço que ficara pendente e pedi o contacto. Já não o tinham: «Esse senhor já foi abatido!». Não, ainda não havia nas televisões as notícias do Estado Islâmico. E fiquei chocado: «Abatido?». Como se abate um velho móvel ao rol do equipamento, porque? foi para o lixo?!... Como se imagina, qualquer que tenha sido a razão pela qual os mui inteligentes cérebros da Universidade de Bordéus III tomaram essa decisão, entra pelos olhos adentro de qualquer outra inteligência de que essa é uma atitude suicida (cá estamos de novo com os parâmetros da actualidade!...). É que, nos tempos que correm, um aposentado, designadamente se da docência universitária, continua a produzir ciência, a escrever artigos, a fazer conferências, a integrar júris? E, normalmente, apresenta-se como aposentado ou jubilado da universidade onde fez a sua carreira. Isso acontece, aliás, com o professor que me enviou a informação; e com a quase totalidade daqueles que eu conheço e que se encontram na mesma situação que eu. E pergunto: que vontade vai ter doravante o meu colega, esses meus colegas, de, no mui louvável trabalho que continuam a desenvolver em prol das Artes, das Ciências e das Letras, que vontade vão ter de assinalar o seu vínculo a uma instituição que os rejeitou? Lamento profundamente que uma universidade, que, em teoria, deveria proclamar o Humanismo, o respeito pelas pessoas, se comporte desta forma. Replicar-se-me-á: «Não percebo o teu agastamento! É apenas uma mudança de endereço!». Parece, mas não é: é apenasuma lamentável mudança de? mentalidade! José d?Encarnação Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 677, 15-01-2016, p. 12. ?.

El texto no tiene desperdicio, tiene esa dosis de amargura, sorpresa e indignación que resume en tres palabras los sentimientos que le produjo, como a mi cuando recibí idéntico mensaje, esa sensación de abandono por parte de SU INSTITUCION por excelencia, la Universidad de Burdeos III, a la que había dedicado toda su vida como profesor e investigador, sin importar periodos de vacaciones, domingos y fiestas de guardar, horarios infinitos si las necesidades departamentales lo requerían y un sinfín mas de obligaciones naturales o voluntariamente adquiridas por la mayor parte de los profesores universitarios que eligen la senda de la investigación y la docencia por encima de otras posibilidades de disfrutar de la vida, fuera del propio horario de trabajo que para nosotros simplemente no existe porque es de dedicación exclusiva e ilimitada.

Mi colega portugués decidió verificar si la medida ya era efectiva e hizo la consulta y para su sorpresa y enojo recibió, como él mismo relata la contestación en forma de frase lapidaria que le dieron hace años en la de Porto ante un caso similar: ?Ese profesor ya fue abatido?. Tal y como suena es terrible y aunque la traducción al portugués nos de esa respuesta tremenda que suena a talibanismo radical de la peor estofa, la realidad es esa. Todos sabemos que unas cuentas mas de correo electrónico para una universidad no son nada, son gratis porque gozan de contratos de suministro cerrados y por lo tanto el ahorro será inexistente, pero lo peor no es ser tratado como el perro o el gato que accidentalmente se atropella en la carretera y queda en la cuneta, sino como aquellos de tiempos de perturbaciones indignas que quedaban en la cuneta deliberadamente y sin mayor consideración. Si ya se, soy un poco tremendista, pero mi enojo y mas todavía, mi cabreo, es grande, quiero manifestarlo y ya tenemos edad para decir lo que consideremos oportuno sin muchos miramientos.

En el caso que nos ocupa no son máquinas, son seres humanos, docentes e investigadores de probada profesionalidad y entrega, que pueden seguir siendo muy útiles a sus instituciones con sus investigaciones, con sus publicaciones, con sus enseñanzas y consejos, pero, ha habido personas (¿?) que han decidido que deben privarles de esas migajas de ayuda a su tarea en forma de cuenta de correo electrónico institucional. Inconcebible pero cierto. Lo terrible del caso es que tal vez haya habido algún funcionario que haya calculado eso del ¿ahorro? de esta manera arbitraria, pero no hay que olvidar que la medida, como otras se habrá tenido que aprobar en algún Consejo de Gobierno de la Universidad Michel de Montaigne, Burdeos III, que está constituido mayoritariamente por profesores de esa Institución, es decir por compañeros de aquellos a los que ahora se les deja injustamente en la cuneta. ?Arrieritos somos? que reza el refrán popular español.

Prof. Manuel Martin-Bueno

Catedrático de Arqueología, E. y N.

Dpto. CCAA, Universidad de Zaragoza

c. Pedro Cerbuna 12

50009 ZARAGOZA

 

I.P. Grupo de Investigación Consolidado URBS

Miembro del I.U.C.A.

Director del Museo de Calatayud

 

mmartin@unizar.es

martinbuenomanuel@gmail.com


 


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