Caro Carlos :
É com bastante agrado que leio esta tua última intervenção, que verbaliza algumas das preocupações que nos assolam frequentemente.
As questões que levantas são pertinentes e interessantes, embora possam ter várias respostas, senão vejamos:
"Ao elevado manancial de informação, tem correspondido igual valor de conhecimento?"
O problema do manancial de informação, não é de agora, desde os anos 60/70 que arqueologia vem num crescendo de acumulação de dados e estatísticas. Esta gestão de informação é um dos problemas, não só da arqueologia, mas de toda a sociedade globalizada do século XXI. Creio que o conhecimento gerado não tem correlação directa com a informação obtida, mas também nunca teve .
"Tem havido realmente divulgação?"
Na minha opinião, não tem existido divulgação suficiente. Mas vai existindo alguma em congressos, mesas redondas, conferências, revistas de divulgação e claro aqui no Archport.
È preciso ter em mente que alguma da informação gerada, não justifica uma divulgação para além do relatório produzido (que é de consulta publica).
Todos os que já escavaram alguns logradouros no Porto sabem bem do que falo.
"Tem sido produzida, verdadeiramente, a "ciência" que os Arqueólogos afirmam perante os leigos?"
Confesso que tive alguma dificuldade em perceber esta questão.
Tem sido produzido algum conhecimento, não o ideal nem sequer o suficiente, mas ainda bem que temos consciência disso.
A nossa relação com os "leigos" é complicada, se por um lado a nossa actividade tem uma aura de fascínio e interesse para os outros é também verdade que é encarada demasiadas vezes como um empecilho, obrigando-nos continuamente a justificar a sua necessidade e importância.
"Estarão as empresas a cumprir o seu papel social e profissional nesta economia que se diz "do conhecimento"? Ou apenas estarão a "ir na onda", enquanto ela dura (pouco ou nada diferindo das empresas e empreitadas de construção civil, que muito criticamos nas nossas conversas de café), praticando também, e desde há muito, a "flexisegurança" de que tanto se fala agora?"
Muitas empresas estão a tentar, desde a sua fundação, criar condições para permitir que arqueologia "comercial" seja uma opção de trabalho para todas as centenas de arqueólogos e técnicos que saíram das faculdades e escolas técnicas nos últimos anos.
Muitas empresas perdem concurso atrás de concurso porque se recusam a pagar menos de 1250 euros por mês mais alojamento, mais deslocações, mais gasolina, mais todos os meios necessário a um eficaz desenvolvimento da actividade (computador, máquina fotográfica ect.).
Muitas empresas sabem que ao valorizar o arqueólogo estão a valorizar e dignificar a arqueologia.
Muitas empresas sabem que alguns salários praticados são absolutamente indigentes e são só aceites por profissionais recém licenciados que ainda não se apercebem que ninguém lhes está a fazer um favor quando lhes pagam 45 euros por dia num acompanhamento (mesmo que este dure mais 8 h por dia).
Creio que é obvio para todos que a arqueologia comercial tem que ter lucros, mas nunca às custas do profissional da arqueologia, que afinal de contas somos todos nós.
"disparidade metodológica das suas intervenções; escassa qualidade geral dos seus trabalhos , o que permite, desta forma, um inevitável e desejável baixo custo das suas intervenções!"
Toda a empresa que ganha algum concurso e mais tarde não respeita o plano de trabalhos e caderno de encargos, está claramente a actuar de forma prejudicial em relação á actividade arqueológica baixando os níveis razoáveis de exigência.
Não tenho dúvidas em afirmar que as entidades que nos tutelam deviam ter meios legais para actuar em todas as situações deste tipo.
Acabamos por sair todos a perder!
Embora não partilhe da versão maniqueísta de alguns, não tenho dúvidas em afirmar que as empresas de arqueologia são, em grande parte, responsáveis pela situação actual da actividade arqueológica mas também creio que as empresas serão também a chave para a regeneração.
Saudações a todos
Abraço Carlos
André Nascimento (Empatia Arqueologia
Lda.)
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