Já agora no meio de tanta discussão sobre empresas, exploração e propinas, deixem-me meter mais uma colherada, passível de toda a refutação:
Conheço alguns professores universitários(não falo em regra, obviamente) críticos da "privatização" da Arqueologia, ou melhor, da existência de empresas privadas no exercício da actividade, mas que simultaneamente estimulam o trabalho voluntariado de seus estudantes, outros fazem à boa maneira espanhola( e italiana) e criam campos de trabalho para estudantes ricos norte-americanos e europeus terem oportunidade de escavar em sítios mais apetecíveis ou contactarem com verdadeiros "mestres da arte". Mais! Entendem que as empresas foram um papão para a arqueologia nacional, mas se tivessem mais trabalho para si, a expensas de alunos expoliados, não ficariam nada insatisfeitos.
Outra coisa que me suscita alguma interrogação é a legitimidade moral de professores universitários que fazem investigação pela universidade que representam e recebem por isso, irem ainda receber do Estado para escavarem a título individual? Muitas vezes são convidados apenas para darem o nome enquanto coordenadores científicos, recebem uma batelada de dinheiro e pouco ou nada fazem na prática, deixando para estagiários, novatos e arqueólogos com menor CV o trabalho a sério!! Há dignidade em professores que criticam as empresas de Arqueologia e actuam depois desta forma? Há honestidade intelectual em professores universitários que acabam por receber por duas vezes para efectuarem o mesmo trabalho? Pois ainda que trabalhem no Verão em investigação e excavações arqueológicas que direito têm de receber honorários por esse trabalho, quando a universidade que o tem como auxiliar ou agregado lhe paga exactamente para isso?
Quanto ao colega que despoletou a questão do provincialismo do país face ao centralismo de Lisboa, deixe-me dizer que, para mim que sou eborense, esse centralismo já é bicéfalo e esse Ortro dá pelo nome Lisboa/Porto. E se assim é, é por conquista da sua cidade e todo o resto do país, deve chamar a si a responsabilidade de agir e despoletar interesse. Só actuando podemos vencer. Não basta sentarmo-nos à espera que o comboio passe. Muitas vezes temos que correr atrás da carruagem para podermos mudar o rumo das nossas vidas. Pense no seu país(pois eu também adoro Portugal) dessa forma, que só agindo podemos alterara realidade vigente...sou e serei, enquanto cidadão e eborense responsável pelo que se passa na minha cidade, independentemente do poder central há muito ostracizar o interior...
Se me permite um conselho, não esmoreça. Ponha de lado esse pessimismo e lute por um mundo melhor. Se para si for através da Arqueologia, que seja, não desista!!
Atenciosamente,
Frederico Carvalho
técnico de Património
From: "Alexandre Monteiro" <alexandre.monteiro@gmail.com>
To: "Jorge Cruz" <jpsc@sapo.pt>
CC: archport@list-serv.ci.uc.pt, archport@ml.ci.uc.pt, archport@lserv.ci.uc.pt,archport@ci.uc.pt
Subject: Re: [Archport] A verdadeira Revolta da Provincia!!
Date: Wed, 24 Oct 2007 14:00:29 +0100
>Costuma dizer-se quem está mal, muda-se. Afinal, que eu me lembre,
>ninguém é forçado a trabalhar em arqueologia. Uma coisa é a classe
>unir-se para elevar, corporativamente, a fasquia relativa às condições
>cientificas e laborais sob as quais a arqueologia é feita em Portugal;
>outra, totalmente ilegitima é clamar, como cantava há muitos anos
>atrás o Sérgio Godinho, por "um empregozinho" - quiçá na função
>publica, bem remunerado, pouco cansativo, com ADSE e demais prebendas
>e alcavalas.. Esse foi chão que já deu uvas! Que o digam os milhares
>de professores no desemprego e que, suspeito, também têm contas de
>final do mês para pagar.
>
>On 10/24/07, Jorge Cruz <jpsc@sapo.pt> wrote:
> > pois... foi mesmo assim, de mansinho, com todas as justificações e
> > desculpas, com uma leitura pela positiva e com a eterna desculpa dos custos
> > e da aprendizagem... que o macaco foi à mãe.
> > Estamos aqui estamos a pagar para trabalhar todos os dias... se é que isso
> > não acontece já em algumas profissões, porque o que se ganha não dá para
> > comer e para pagar as deslocações para o trabalho.
> > JC
> > ----- Original Message -----
> > From: sonia_bombico@portugalmail.pt
> > To: Archport
> > Sent: Wednesday, October 24, 2007 12:55 PM
> > Subject: [Archport] A verdadeira Revolta da Provincia!!
> >
> >
> >
> >
> > Caros archporiamos,
> >
> > Perante a ultima polémica do pagar para escavar, gostaria de dizer que
> > acho efectivamente inadmissível que qualquer instituição de Ensino Publico
> > que tenha previsto no currículo académico a realização de trabalho de campo,
> > contando esse trabalho como créditos para a Licenciatura, possa cobrar por
> > essas escavações o que quer que seja, uma vez que os alunos pagam propinas!
> >
> >
> >
> > No entanto, existe por todo o mundo uma coisa chamada "Campos de Trabalho
> > de Arqueologia", em que se dá formação e em que efectivamente as pessoas
> > pagam para escavar. Existe, inclusivamente, um autêntico turismo
> > arqueológico neste sentido, pessoas que não são estudantes de Arqueologia,
> > simples entusiastas e curiosos que querem aprender, ou simplesmente ter umas
> > ferias diferentes. Nesses casos, sou totalmente a favor do pagamento de uma
> > taxa de participação, quer pela formação que é dada (estou a falar de
> > formação efectivamente, com calendarização de aulas), quer pela alimentação
> > e estadia. Um quadro destes faz parecer que estamos a capitalizar a
> > Arqueologia, mas existindo um controle do rigor científico do trabalho, por
> > parte da tutela, parece-me uma forma inteligente de capitalizar a
> > Arqueologia. Isto porque se faz Arqueologia de investigação tendo meios
> > financeiros para a fazer, em que o dinheiro pago é canalizado para o
> > projecto. Parece-me que tem de haver mais projectos autárquicos, de
> > associações, empresas, centros de estudos, e Universidades, mas que não
> > dependam exclusivamente de Bolsas do FCT e do financiamento do IGESPAR. É
> > exactamente aqui que entra o "provincianismo", ou seja, gostamos da nossa
> > terra, do sítio onde nascemos? Então façamos alguma coisa por ela,
> > procuremos formas de financiar a investigação, apostar na inovação,
> > aliarmo-nos à museologia, ao ambiente, e ao Turismo Histórico e Cultural!
> > Façamos a Arqueologia chegar às pessoas, para que elas cheguem a nós, e com
> > elas os Museus, os verdadeiros centros de investigação, e o Turismo.
> >
> > Não quero com isto desresponsabilizar a tutela, o seu papel dinamizador é
> > e tem de ser ainda mais importante, e deverá ter um papel cada vez mais
> > sólido na fiscalização e controle da qualidade científica do trabalho,
> > parece-me, no entanto, essencial que cada vez mais consigamos trabalhar sem
> > depender economicamente dela.
> >
> >
> >
> > Obvio que há sempre "bons" e "maus" profissionais, o que eu acho que não
> > pode continuar a haver são os chamados arqueólogos de primeira e de segunda,
> > arqueólogos que fazem investigação e aqueles que fazem acompanhamentos de
> > obras e minimizações. Fazer um acompanhamento ou uma minimização, é muitas
> > vezes considerado "chato" pelos recém-licenciados, a questão aqui é que se
> > diz: "não foi para isto que estudei", o problema é esse mesmo, as faculdades
> > não nos preparam para esse trabalho, mas afinal ele existe, está previsto na
> > Lei, é muito importante, e dá trabalho a 75% (ou mais) dos arqueólogos em
> > Portugal.
> >
> > Mas a arqueologia não pode continuar, exclusivamente, a andar "à boleia"
> > das obras públicas, e de um ou dois tostões dados a um ou dois arqueólogos
> > para fazerem investigação.
> >
> > Porque, um dia, e para esse dia não falta muito, o "boom" das grandes
> > obras públicas, que alimentam as dezenas de empresas de Arqueologia que
> > proliferam por aí, vai acabar!
> >
> >
> >
> > Sónia Bombico
> >
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