[Archport] Fwd: SITUAÇÃO DA ARQUEOLOGIA EM PORTUGAL

[Alexandre <no.arame@gmail.com>]

---------- Forwarded message ----------
From: Alexandre <no.arame@gmail.com>
Date: Mon, 7 Jan 2008 10:40:00 +0000
Subject: Re: [Archport] SITUAÇÃO DA ARQUEOLOGIA EM PORTUGAL
To: "Carla Alexandra N. C. Lopes" <calopes@ippar.pt>

Talvez uma ordem o devesse fazer. Dando o exemplo pela parte que me
toca, relembro que só pode ser engenheiro quem cursou um curso
creditado pela Ordem dos Engenheiros (ou que, não o tendo cursado,
satisfez as provas de admissão à mesma ordem) - tal leva a que existam
em Portugal vários licenciados em arqueologia que não podem assinar
projectos de engenharia nem se intitular engenheiros.
Outro exemplo: o Estado pode legislar sobre o estatuto
académico-profissional de uma dada actividade. Eu próprio, não tendo
"qualificação própria" para o ensino das disciplinas do 11 Grupo B de
Biologia/Geologia, fui docente durante 4 anos no ensino secundário do
mesmo, porque me foi reconhecida pelo Estado "habilitação suficiente
do 1 escalão" - e isto apesar de não ser um licenciado em Biologia,
via ensino.

On 1/7/08, Carla Alexandra N. C. Lopes <calopes@ippar.pt> wrote:
> Bom depois de ler isto e mais algumas enormidades filosóficas fiquei
> absolutamente esmagada e o que me ocorre dizer em alto e bom som é: ACABEMOS
> COM A ARQUEOLOGIA!! Se qualquer um pode ser arqueólogo, a arqueologia então
> o que é? Um NADA
> Se ser um somatório de vários saberes, se ser multidisciplinar ou se ser
> especialista anula um investigador em Arqueologia, ou um arqueólogo então
> estamos muito muito mal.
> Não defendo o purismo de "Só é Arqueológo quem é licenciado em Arqueologia",
> até porque todos sabemos que as licenciaturas "puras" em Arqueologia são
> recentíssimas, mas...para ser arqueólogo implica, obviamnente uma prova
> académica nesse sentido seja ela licenciatura, mestrado ou doutoramento em
> Arqueologia e se assim não fôr, se não são as universidades que creditam os
> Arqueólogos então quem o faz?
>
> carla lopes
>
> -----Mensagem original-----
> De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt]Em nome
> de rudolfo_dias@iol.pt
> Enviada: sexta-feira, 4 de Janeiro de 2008 22:31
> Para: archport@ci.uc.pt
> Assunto: [Archport] SITUAÇÃO DA ARQUEOLOGIA EM PORTUGAL
>
>
> A estes "puristas" da Arqueologia eu apenas pergunto: qual a sua verdadeira
> e esxclusiva especificidade enquanto arqueólogos?
>
> - Provavelmente muitos antiquários sabem mais de cerâmica do que alguns
> arqueólogos;
> - a Sedimentologia e a Pedologia são ciências ramificadas da Geologia e
> mesmo da Geomorfologia (ramo da Geografia Física);
> - o recurso às fontes primárias documentais é área principal de investigação
> dos Historiadores (sobretudo no que à Paleografia e Diplomática diz
> respeito);
> - a Antropologia Física cabe - e muito bem - a antropólogos físicos;
> - a terminologia e os conhecimentos de Arquitectura são veiculados por
> arquitectos ou Historiadores de Arte;
> - problemas de Engenharia são, justamente, solucionados por engenheiros;
> - estudos de Urbanismo, Planeamento, Ordenamento do Território podem e devem
> ser desenvolvidos com maiores competências por geógrafos (sobretudo nas
> questões de análise espacial, onde muitos arqueólogos foram "beber" os seus
> conhecimentos);
> - a Estatística é área fundamentalmente desenvolvida por matemáticos e
> especialistas no ramo;
> - análises de Antropologia Cultural e Social têm sido desenvolvidas com
> acuidade por antropólogos e por sociólogos;
> - os Sistemas de Informação Geográfica e a produção de cartografia de
> qualidade são genericamente desenvolvidas e trabalhadas por Geógrafos,
> Engenheiros Geógrafos e mesmo Topógrafos.
> - grande parte dos conhecimentos utilizados em Pré-História são coincidentes
> e desenvolvidos com grande fidelidade pelas áreas de Geologia e Geografia do
> Quaternário;
> - as novas tecnologias utilizadas pela arqueologia (detecção remota, métodos
> de datação, análises químicas, gestão de bases de dados, etc...) são
> produzidas, desenvolvidas e utilizadas por pessoas "não-arqueólogas";
> - um desenhador técnico tem mais capacidades de produzir bons desenhos
> técnicos (de espólio ou de campo), com rigor e obedecendo às regras e normas
> de desenho técnico, e utilizando com mais versatilidade os programas
> informáticos actualmente ao dispôr;
> - as ditas "arqueociências" são genericamente desenvolvidas por
> "não-arqueólogos" (geólogos, geógrafos, botânicos, biólogos, etc.);
> - inclusivamente qualquer operário ou indiferenciado, devidamente
> acompanhado e ensinado, consegue (e todos sabemos que sim - não sejamos
> hipócritas!) escavar com minúcia, rigor, perfeição, quando nos referimos ao
> acto de escavação per si (pelo contrário, já vi muito arqueológo "de
> licenciatura" a quem um simples colherim faz confusão..., por falta de
> jeito, prática, ou porque pura e simplemente acham que lhes faz calos nas
> maõs);
>
>
> Poderia continuar aqui a enumerar um rol extenso de práticas e actividadas,
> produção de conhecimentos e de técnicas, a que os "arqueólogos de formação"
> recorrem quase parasiticamente...
>
> Um pouco de humildade e reconhecimento não fica mal à classe profissional,
> que tanto se julga acima das demais.
>
>
> Saudações a todos, com graduação em arqueologia ou não...
>
>
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