Re: [Archport] Vestígios romanos
Algumas notas relativamente a este caso
(algumas que já coloquei nourto lado)
Primeiro, embora possa ser compreensivel
a tendência para uma certa desculpabilização, é bom lembrar que o desconhecimento
da lei não pode ser evocado quando praticamos actos que a contrariam. É
óbvio que a Arqueologia tem fortes responsabilidades na ingnorância em
que grande parte da população se mantém relativamente a práticas, exigências
e resultados da disciplina e prática profissional. Quando recentemente,
no âmbito dos debates patrocinados pela Almadan, afirmei que o retorno
social não era na proporção dos gastos sociais em Arqueologia realizados
na última década, vários colegas discordaram, mas estas situações
são elementos de diagnóstico que revelam que o enraizamento da Arqueologia
como prática científica e técnica que requer formação específica e é regulamentada
por normativos está longe de estar bem interiorizada pela "sociedade
civil" (neste caso, os não arqueólogos). A maioria das pessoas não
reconhece, porque não sabe ou não entende, a razão de ser dos procedimentos
técnicos da disciplina (situação expansível, diga-se, a muitos licenciados
em arqueologia). E não se pense que é apenas o agricultor iletrado. É o
empreendedor, o engenheiro, o gestor, que não entende porque tem que pagar
operações por vezes tão minuciosas e demoradas. E a Arqueologia adjectiva-os,
pensado que os seus procedimentos, as suas razões, são algo que se auto
revela. Não são e temos que assumir as nossas responsabilidades.
Mas este assumir de responsabilidades
nossas não pode ser desresponsabilizador das responsabilidades outras.
Um jornalista, que passa ao lado do cerne da notícia como este passou,
que revela a ignorância que este revelou, que nem da sua investigação (jornalística)
parece ter boa prática (quando mais poder falar de investigações alheias),
é igualmente responsável, e com ele toda uma tendência irresponsável, de
um imenso poder, para a superficialidade e espectacularidade. Os jornalistas
são também cidadãos a quem se deve pedir responsabilidades.
Os serviços públicos, nomeadamente autárquicos,
também não se podem excluir às responsabildades. O Estado central, que
tem a incumbência de uma inventariação nacional e de estabelecer medidas
de preservação ainda menos.
Esta situação, que aparenta ser cândida,
poderá ser objecto de atenuantes, mas ela é o espelho do que, apesar da
evolução das últimas décadas, é o país em matéria de cultura e educação.
E essa tolerância, essa compreensão, não é mais que o reconhecimento do
(ainda) fracasso da afirmação social da Arqueologia portuguesa. Fosse
um acto médico que tivesse sido praticado e toda a história seria outra.
António Carlos Valera
Direcção do Núcleo de Investigação Arqueológica - NIA
ERA Arqueologia SA.
Cç. de Santa Catarina, 9C,
1495-705 Cruz Quebrada - Dafundo
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