Boa tarde Graça Cravinho
Em resposta ao seu pedido de ajuda, informo que a Apenas
Livros publicou há anos atrás um livrinho de cordel intitulado Lenda da
Fundação de Portugal, Irlanda e Escócia. Na sequência dessa obra, a autora,
Gabriela Morais, tem em fase de quase publicação um título que completa a
informação da lenda através da genética, da linguística, da arqueologia,
etc. (A Lenda da Fundação de Portugal, Irlanada e Escócia vista à luz
da Genética e da Teoria da Continuidade Paleolítica). Esta obra surge
depurada através da crítica activa do linguísta espanhol Xavério Ballester,
pertencente ao grupo da www.continuitas.com liderado por
Mario Alinei.
Verá neste site a resposta à pergunta que faz e a
muitas outras que nem imagina que tem para fazer.
Aliás, muito em breve, a Apenas Livros iniciará uma
colecção de livrinhos de cordel, designada exactamente «teoria da continuidade
paleolítica», dirigida por Xavério Ballester e com o beneplácito de Mario
Alinei, onde os documentos da continuitas serão publicados em
português.
Cumprimentos
Fernanda Frazão
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de Torres, 97-3º Dto 1750-140 Lisboa tel./fax: (00351) 217582285 tm.
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----- Original Message -----
Sent: Tuesday, April 22, 2008 11:19
AM
Subject: [Archport] os carapinhas do
Sado
Alguém poderá
elucidar-me sobre os fundamentos científicos desta teoria? Apenas tenho lido
relatos jornalísticos e visto reportagens televisivas.
Antecipadamente
grata,
Graça
Cravinho
Sobrevivência das
populações cónias na actual população portuguesa 17 06 2006
Não é
possível que a etnia que durante séculos habitou todo o sul do território
português tenha desaparecido sem deixar na genética da actual população
portuguesa qualquer vestígio. A inferior densidade demográfica que sempre
caracterizou os territórios a sul do Tejo é um testemunho bastante elucidativo
da inexistência de grandes invasões, com massas demográficas esmagadoras que
tenham massacrado ou absorvido completamente as populações locais. Fenícios e
gregos, embora tenham estado nesta região, nunca a colonizaram e a sua
presença limitou-se a umas dezenas de indivíduos isolados nas feitorias
costeiras, sem penetrações significativas ou permanentes no interior. Mais
tarde, os romanos haveriam de apreciar esta região, construindo aqui várias
villas e cidades na confluência de rotas comerciais terrestres, quase sempre
sobre ou nos arredores de povoados indígenas, mas também com Roma, não houve
uma verdadeira colonização, nem tão pouco haveria com os invasores muçulmanos.
Sabe-se que os iemenitas, árabes e sírios ocupavam nas hostes muçulmanas
posições de destaque, posições que também desempenhariam nas cidades islâmicas
até à época da Reconquista Cristã. Mas estas etnias eram largamente
minoritárias junto dos invasores muçulmanos, sendo que a sua esmagadora
maioria era formada por populações berberes do Marrocos e da Argélia actuais.
Estas populações norte-africanas, que se viriam a misturar facilmente com as
populações indígenas eram oriundas da mesma matriz étnica dos indígenas, razão
pela qual a sua integração seria tão fácil e natural. Mas todos estes
invasores não destruíram significativamente a matriz étnica local e é essa que
é possível ainda hoje observar em Alcácer do Sal. Data de 1956 a publicação de
um curioso estudo: "Mulatos no Concelho de Alcácer do Sal - subsídios para
definição étnica das gentes do vale do Sado" da autoria de Manuel Gaio Tavares
de Almeida. Neste texto, o autor escrevia assim: "Segundo me parece e pude
depreender dos documentos consultados, os 'carapinhas do Sado' são o resíduo
de uma raça oriunda de África que, não tendo representado, em épocas passadas,
qualquer influência de ordem sociológica ou considerável peso demográfico mas
apenas algum valor de ordem económica, vem em tempos modernos, por ironia do
destino, a revestir-se de particular interesse". E ainda: "Na verdade, por
muito estranho que possa parecer, este núcleo de gente teve já certa
relevância internacional, prendendo não só as atenções mas chegando a ser
usado como argumento nas teses de certos doutrinados racistas que não perderam
a oportunidade de apontar a chamada 'zona negra do Sado' como índice e
justificação plausível da tese da origem negróide dos portugueses" Nesta raça
- e que tem exemplos na minha própria família - sobreviveria ainda hoje um
traço desta população pré-indoeuropeia. Algo que, aliás, já o conhecido
historiador Oliveira Martins havia defendido na sua "História da Civilização
Ibérica" ao encontrar nos Cabilas da Argélia a matriz étnica original dos
portugueses. Admitindo a tese deste historiador, os chamados "carapinhas do
Sado" seriam os últimos sobreviventes destas populações indígenas,
sobrevivendo através de milénios de invasões sucessivas vindas do norte, leste
e sul, que, não sem haverem sofrido cruzamentos étnicos, haviam ainda mantido
alguns traços distintivos originais e tipicamente africanos, tais como a tez
escura da sua pele e o cabelo encarapinhado que caracteriza as populações
africanas. É claro que a tese africana da origem dos portugueses colide que as
teses que pretenderam fazer de nós povos celtas ou "arianos" (Leite de
Vasconcelos) ou ainda povos semitas (Moisés Espírito Santo). A tese "africana"
colhe contudo fortes argumentos da arqueologia pré-histórica do nosso
território e até na genética (Cavalli-Sforza) e confere em absoluto com este
estranho fenómeno étnico que são os "carapinhas do Sado".
Com efeito, C.
Sforza afirma no seu basilar livro "The History and Geography of Human Genes"
que se uma língua pode desaparecer em apenas três gerações, geralmente em
consequência de uma invasão em que um grupo numericamente reduzido de
guerreiros impõe a sua cultura e língua às massas dominadas; esse grupo
minoritário não pode fazer desaparecer os genes do grupo majoritário e estes
podem ser observador durante dezenas de milhares de anos, muito para além da
data máxima de sobrevivência de qualquer língua humana.
A tabela que
Cavalli-Sforza apresenta sob o número 2.3.1.A "Genetic Distances between the
42 Populations" uma reveladora tabela que apresenta numerosos dados sobre as
distâncias genéticas entre povos tão diversos como os Bantu e os Esquimós.
Aqui, interessam-nos sobretudo os berberes, os bascos, os sardos, os gregos e
os italianos. Todos estes povos são provavelmente testemunhos modernos da
existência do Substrato Mediterrâneo resultante das migrações paleolíticas dos
Capsenses. Não nos interessando todos os dados desta tabela, apresentemos
somente aqueles que respeitam ao nosso
tema:População:
* População: Populações que lhe são
próximas: * Berberes Ingleses (44); Dinamarqueses (61);
Italianos (51); Gregos (69) * Bascos Ingleses (21);
Dinamarqueses (34); Gregos (50); Sardos (55) * Sardos
Gregos (30); Italianos (35); Ingleses (59); Dinamarqueses
(61) * Gregos Italianos (34); Iranianos
(70) * Italianos Ingleses (51); Dinamarqueses (72);
Gregos (77)
Na tabela 2.3.1.B, Cavalli-Sforza apresenta ainda dados
genéticos complementares da tabela 2.3.1.A:
*
População: Populações que lhe são próximas: * Berberes
Ingleses (8); Italianos (9); Bascos (10); Dinamarqueses (10); Gregos (12);
Iranianos (14) * Bascos Italianos (4); Ingleses (4);
Dinamarqueses (6); Gregos (8); Sardos (11) * Sardos
Gregos (5); Italianos (10); Ingleses (14); Dinamarqueses
(14) * Italianos Ingleses (11), Dinamarqueses (13);
Gregos (13)
Destes dados genéticos se pode concluir da efectiva
proximidade entre estas populações mediterrâneas, nomeadamente entre Berberes,
Italianos, Gregos e Sardos. Aqui também se observa um fenómeno que pode
parecer estranho a quem conheça a posição de distanciamento tipológico entre
os bascos e as demais populações europeias e que é a apresentação de
proximidades entre estes e dinamarqueses e ingleses, algo que contudo pode ser
explicado por serem todas elas populações periféricas, habitando ou em ilhas
(locais onde a pureza genética resiste com mais intensidade às vagas de
invasores). A proximidade constatada entre Berberes e Ingleses oferece alguma
força às teses de Lewis Spence e à tese da origem mediterrânea comum quando se
observa a sua proximidade em relação a gregos e italianos.
(http://movv.org/2006/06/17/sobrevivencia-das-populacoes-conias-na-actual-populacao-portuguesa/)
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