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[Archport] mais sarrabiscos

To :   Archport <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] mais sarrabiscos
Date :   Fri, 11 Jul 2008 20:09:28 +0100


Vendo os comentários no Archport ficamos a saber que, para alem de MST, ainda há mais quem pense que as gravuras do Côa são forjadas. Como disse, já se provou sem margem para dúvida que as gravuras da Rocha 1 do Fariseu são paleolíticas. Mas também é preciso admitir que este é o único caso de datação directa de gravuras que temos até ao momento no Côa. Assim sendo, hipoteticamente, poderia de facto acontecer que todas as restantes gravuras que consideramos paleolíticas fossem de facto falsificações recentes. Façamos então momentaneamente esse exercício de imaginação. Isso significa que bem mais de 400 rochas em toda a área do parque teriam sido gravadas, por uma ou mais pessoas, fazendo uns quantos milhares de motivos a imitar deliberadamente os estilos dos motivos da arte paleolítica europeia, e com extraordinária qualidade. Convém dizer que essas rochas não se encontram unicamente nas margens do Côa, ao contrário do que ao princípio se chegou a pensar, mas se distribuem ao longo das encostas do rio e afluentes, em todas as cotas possíveis, do rebordo do planalto ao fundo do vale, frequentemente em sítios de acesso difícil e com denso matagal. Há alguns casos em que as rochas e respectivas gravuras estão parcialmente tapadas por sedimentos, por vezes com assinalável profundidade e, admitindo que estas falsificações são recentes, tal significa que os falsificadores se deram ao trabalho de escavar a rocha, apesar de frequentemente terem ao lado outras superfícies rochosas à mão de semear sem qualquer traço gravado. Noutros casos, as gravuras encontram-se em zonas muito altas da superfície e inacessíveis ao comum dos mortais, pelo que os falsificadores tinham que carregar escadas pelo mato fora e encostas acima e abaixo. Também há aqueles casos, relativamente frequentes, em que as gravuras ditas paleolíticas estão sobrepostas por outras gravuras de outros estilos, e para as quais se propõe diversas cronologias mais recentes. Mas, uma vez que as paleolíticas são forjadas recentemente, então as outras também tem que ser, o que significa que todas as gravuras do Côa teriam que ser falsificações, não só as paleolíticas. Ainda no que toca aos motivos paleolíticos, os atarefados falsificadores tiveram também que forjar a patina e o desgaste dos traços que caracterizam a generalidade dos motivos considerados paleolíticos, uma vez que qualquer traço recentemente feito em xisto tem uma coloração branca e aspecto fresco que salta à vista, sendo muito numerosos os casos, particularmente nas gravuras incisas, em que o desgaste é de tal ordem que nem com a melhor luz rasante se consegue aperceber nitidamente o motivo. Quanto à complexidade dos vários milhares de motivos ditos paleolíticos, esta varia enormemente, desde os muito simples e rapidamente graváveis aos de extrema dificuldade, e cuja execução demoraria umas quantas horas, mesmo para o mais habilidoso artista. Tendo em conta o panorama atrás descrito, devo dizer que gostaria de conhecer esses falsificadores. Terão conseguido fazer, presumivelmente em pouco tempo, uma obra imensa e extraordinariamente trabalhosa que, estimávamos nós, se teria desenrolado paulatinamente ao longo de uns 15.000 anos no Paleolítico Superior. Devem ser umas pessoas notáveis, de fantástica energia e enorme sabedoria artística. Por mim, proporia alegremente uma homenagem nacional a tão notável espírito empreendedor e, se não fosse já o caso, sugeriria à UNESCO que este magnífico trabalho de falsificação fosse elevado à categoria de Património Mundial!
Viva a iniciativa!

Mário Reis



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