[Archport] Descobertos destroços da fragata francesa "L'astrée" que naufragou junto ao Pico em 1796
Açores: Descobertos destroços da fragata francesa "L'astrée" que
naufragou junto ao Pico em 1796
28 de Agosto de 2008, 09:45
*** João Aranda e Silva, da Agência Lusa ***
Angra do Heroísmo, 28 Ago (Lusa) - Uma equipa de investigadores da
Direcção Regional da Cultura (DRCAç) dos Açores localizou, pela
primeira vez, os destroços da fragata francesa "L'ástrée" que afundou
junto de Santo Amaro do Pico, a 29 de Janeiro 1796.
Catarina Garcia, arqueóloga da DRCAç, disse à Agência Lusa que "a
fragata encontra-se a oito metros de profundidade numa zona de
orografia difícil com rochedos e abismos próximos que vão a mais de
cinquenta metros de profundidade".
"É um sítio difícil e até mesmo assustador o que leva agora a
compreender porque foi difícil encontrar os vestígios do naufrágio",
explicou a arqueóloga.
No acervo da Biblioteca Publica de Angra do Heroísmo, encontra-se uma
carta do Juiz de Fora da Ilha do Pico que dá conta da ocorrência
sublinhando que "naufragou na Costa do Norte desta Ilha, junto a hum
lugar chamado de Santo Amaro, do termo desta Villa, huma Fragata
Franceza denominada Astrea".
"Vinha da Ilha Guadelupe, para França, carregada de asucar, e café da
Convençaõ, trazendo 18 peças d' artilharia de guarniçaõ, e 180
pessoas", específica a correspondência.
O Juiz, Luiz Correia Teixeira Bragança, faz o balanço do desastre,
especificando que "de toda aquella gente somente se salvaraõ 57
pessoas; a saber 7 Inglezes (de 12 que vinhaõ na Fragata como
prizioneiros de guerra), e 50 Francezes, tudo Marinheiros, e alguns
officiais de manobra, morrendo 123".
O magistrado explica mesmo as providências que tomou sublinhando que
foi logo ordenar "enterrar os mortos, por evitar algum contagio e
depois de dár as providencias, que me pareseraõ necessarias, para se
pôr a salvo tudo aquillo, que pudese sahir; recolhime para esta
Villa".
A situação na ilha do Pico, naquela altura, não era a melhor uma vez
que "por espaço de des dias, que aqui se demoraraõ, trateios com
homanidade, sem os meter em prizaõ e ainda que o quisesse fazer naõ há
nesta Villa cadeas, porque se demoliraõ, (palavra ilegível)
inteiramente".
Além disso, a ilha tinha falta de alimentos dizendo o juiz de fora que
"contribuilhe o seu necessario sustento, quazi tudo á minha custa,
athe emfim vendo que elles naõ podiaõ subsestir nesta Ilha, pela falta
que há nella dos generos da primeira necessidade estive para os
remeter para essa Capital".
É ainda o relato do juiz, acompanhado do seu escrivão, Joaquim José da
Rosa, que constataram que "a Fragata se tinha feito em pedaços e que o
mar (por ser neste Sitio o tempo muito tromentoso) logo levou consigo
a mayor parte da dita Fragata deixando unicamente hum grande monte de
Cabos e algumas vellas envoltas com huns bocados de mastros".
São estes vestígios que agora foram localizados e vão ser
inventariados pelos investigadores da Direcção Regional da Cultura.
As acções dos investigadores têm por objectivo a continuada elaboração
da Carta Arqueológica Subaquática dos Açores (CASA).
Os trabalhos, coordenados cientificamente pela DRCAç, têm o apoio
técnico, desde 2006, da fundação Rebikoff-Niggeler, com quem foi
estabelecido um protocolo para pesquisas na costa sul da Ilha Terceira
e que este ano se estendeu às ilhas do Pico e Faial.
No âmbito das pesquisas a equipa de investigação esteve igualmente
junto do local (costa da Madalena-Pico) onde se afundou o navio
"Caroline" (1901) que controlava o mercado europeu de adubos.
Catarina Garcia revelou que "este local tem potencialidades de vir a
ser um parque arqueológico" uma vez que possui "uma enorme diversidade
de vestígios em ferros numa área de cerca de 50 metros, em águas
cristalinas".
"Vai ser efectuado um levantamento mais profundo e elaborado um mapa
que sirva para o turismo arqueológico subaquático", disse a
investigadora.
Também entre os locais de Porto Pim e Praia do Almoxarife, na ilha do
Faial, foram localizadas, a 40 e 50 metros de profundidade, diversas
âncoras e locais de naufrágio, que vão agora ser estudados para a sua
identificação.
Lusa/fim
PS: a documentação histórica sobrevivente está integralmente compulsada aqui:
http://nautarch.tamu.edu/shiplab/indexacores.htm