[Archport] Ainda sobre os SIG.
Ainda sobre os SIG.
Suponho que o colega Rudolfo Dias tem bastante razão quando alerta para o perigo em que incorre o arqueólogo que por mera imposição do mercado ou moda (digo eu) deseja especializar-se em várias áreas simultâneamente (*). Corre o risco de investir demasiado na aprendizagem de uma ferramenta, descurando os princípios que estão por detrás da mesma. Como já foi mencionado, provavelmente é mais importante um arqueólogo ter uma boa formação em Geografia do que em SIG, visto a última ser uma mera ferramenta ao serviço da primeira.
O mesmo pode ser aplicado a outras ferramentas informáticas, como o Desenho Assistido por Computador, Sistemas de Gestão de Bases de Dados, Sistemas de Posicionamento Global, Programação Informática (em várias linguagens), etc.
É interessante (e necessário) que vários arqueólogos optem por especializações noutras áreas, assim como o contrário. Mas ainda mais necessário é a formação académica básica de qualquer arqueólogo incluir o conhecimento da existência e potencialidades de todas estas ferramentas, e acima de tudo, das ciências que lhe servem de génese.
De outro modo corremos o sério risco de nos deixarmos seduzir pelas potencialidades destas ferramentas ao negligenciar a qualidade de informação que lhes fornecemos para ser processada. Os resultados práticos são sobejamente conhecidos:
-> Gráficos coloridos baseados em dados que ignoram as regras mais elementares da estatística.
-> Habitats atribuídos a um dado período, localizados rigorosamente em áreas que na época estavam cobertas pelas águas do oceano ou de um estuário.
-> Modelos tridimensionais de edifícios estruturalmente inviáveis, criados a partir de plantas arqueológicas, mas ignorando princípios elementares de arquitectura, etc.
Infelizmente, na falta da interdisciplinaridade tantas vezes aludida ao nível da formação académica e da estrutura das equipas de trabalho, acabamos quase todos por ser empurrados para esta situação e transformados em especialistas de tudo e simultâneamente de nada.
Nesta situação, também não ajuda a falta de bibliografia especializada, nomeadamente de manuais que reúnam o conhecimento considerado indispensável para um domínio mínimo de certas temáticas com que lidamos no nosso quotidiano profissional. Podemos aludir o exemplo inglês onde são disponibilizados regularmente, e de forma gratuita, pelo English Heritage, manuais introdutórios sobre Geologia aplicada a contextos arqueológicos, SIG, GPS, Acções preventivas de conservação de artefactos, etc.
(*) Sobre a aludida “arqueo-moda” dos SIG, não deixa de ser interessante constatar a enorme quantidade de artigos sobre a temática que têm surgido internacionalmente em actas de encontros dedicados à aplicação da informática na investigação arqueológica. Especialmente se tivermos em conta outros interessantes passos dados recentemente em áreas como a verificação de hipóteses através de modelos matemáticos; o reconhecimento automático de padrões decorativos de artefactos / reconstituição virtual automática de artefactos; a identificação de padrões por “Data Mining”, etc.
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