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[Archport] Tudo diz respeito à Arqueologia...

Subject :   [Archport] Tudo diz respeito à Arqueologia...
From :   rudolfo_dias@iol.pt
Date :   Tue, 13 Jan 2009 09:41:33 +0000

«Prémio atribuído pela FIFA

O futebolista internacional português Cristiano Ronaldo, jogador do Manchester United, foi esta segunda-feira eleito o melhor jogador do Mundo de 2008 pela Federação Internacional de Futebol (FIFA), na Gala do organismo, em Zurique, Suíça.

Cristiano Ronaldo, que já havia ganho a "Bola de Ouro" do France Football, tornou-se o segundo português a arrebatar o troféu, depois de Figo, em 2001.

Em 2008, o extremo luso, de 23 anos, venceu o Mundial de clubes, a Liga dos Campeões e a Liga inglesa, sendo eleito o melhor jogador da "Champions" (também o melhor avançado) e da "Premiership", provas em que foi igualmente o melhor marcador.

Com os 31 golos apontados na edição 2007/2008 do campeonato inglês, Cristiano Ronaldo conquistou também a "Bota de Ouro", num ano em que só lhe faltou brilhar pela selecção das "quinas" (eliminação nos quartos-de-final do Europeu, face à Alemanha).

Cristiano Ronaldo tornou-se igualmente o segundo jogador a conquistar no mesmo ano a Bota de Ouro, a Bola de Ouro e o troféu da FIFA, depois do brasileiro Ronaldo, em 1997.

"Um momento especial"

"� um momento especial minha vida e queria deixar uma mensagem à minha mãe e às minhas irmãs, que podem largar fogos. � um momento único na minha vida", disse Ronaldo, após receber o troféu das mãos do "rei" Pelé em Zurique.

Numa declaração emocionada, o jogador do Manchester United deixou agradecimentos: "Quero agradecer à minha mãe, ao meu pai, às minhas irmãs, a toda a família e aos meus amigos".

"Eles sabem quem são, o Zé, o Jorge Mendes e os meus colegas de equipa, pois sem eles não conseguia ganhar esta coisinha aqui. Estou muito feliz. � um dos momentos mais felizes da minha vida... espero cá voltar outra vez", frisou.

Com Lusa»

In SIC Online, 13 de Janeiro de 2009

Perante isto, urge fazer uma manifestação em frente a uma embaixada qualquer! O futebol também é uma manifestação cultural e mesmo antropológica, plena de ritos que podem muito bem ser analisados à luz da investigação histórica e mesmo arqueológica...

E já agora: que me dizem alguns arqueólogos da aceitação constitucionalmente forçada do Estatuto dos Açores, pelo PR? E qual a perspectiva arqueológica da entrevista, ontem, do Mário Crespo ao Alberto João Jardim? E será que as recentes teorias arqueológicas sustentam a actuação da Protecção Civil nos recentes eventos meteorológicos extremos?

Não perca estas e outras grandes problemáticas arqueológicas num bog de Arqueologia perto de si...

----- Email de v.m.borges@netcabo.pt ---------
Data: Tue, 13 Jan 2009 04:16:50 -0000
De: "V. Machado Borges" <v.m.borges@netcabo.pt>
Responder Para: v.m.borges@netcabo.pt
Assunto: Re: [Archport] Ainda sobre a Palestina
Para: archport@ci.uc.pt

Caro Rui Gomes Coelho,

Obrigado por esta bela lição.

Fiquei tão mal impressionado com uma mensagem sobre este tema que apareceu recentemente nesta lista, tão desumana e tão inculta, que resolvi nem responder. E ainda bem, porque não saberia dar uma lição tão bem dada sobre cultura como esta o foi. E para mim foi também uma lição de humildade, porque não devemos abandonar as pessoas à sua arrogante ignorância, mesmo quando elas são insultuosas.

Eça de Queiroz qualificava bem e sem papas na língua, o provincianismo bacoco dos que só olham para o seu umbigo.

Bastaria fazer uma pesquisa sumária na net, mesmo não sendo arqueólogo, para ficar com uma ideia, mesmo que não de um cientista, sobre o que significa bombardear uma zona rica em vestígios arqueológicos (além de - coisa pouca â?? densamente povoada). ) 900 mortos, mais de 3500 feridos, para certos â??cientistas imparciaisâ?? certamente nada significam. Mas pelo menos os sítios arqueológicos deveriam merecer-lhes alguma preocupação.

Por isso a Convenção de Genebra protege o património cultural e os locais de uso civil. Por isso a Convenção de Hague para a Protecção do Património Cultural em Caso de Conflito Armado, de 14 de Maio de 1954.

Mas que é isso para â??cientistasâ?? â??imparciaisâ?? â??inteligentesâ?? e â??dignosâ?? que querem â??ser respeitadosâ??. Meras irrelevâncias...

Votos de uma vida em Paz, que é uma coisa que gerações inteiras nunca conheceram.

V. Machado Borges

From: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] On Behalf Of Rui Gomes Coelho
Sent: segunda-feira, 12 de Janeiro de 2009 20:24
To: Archport
Subject: [Archport] Ainda sobre a Palestina

Esta questão do que tem a arqueologia a ver com política (e com o mundo, em última instância) só me faz lembrar do eterno e explícito problema de Alberto Caeiro: perante a negação absoluta da metafísica, o que se constrói senão uma outra metafísica?

Para muitos politólogos (como Philippe Schmitter, insuspeito do que chamam de â??lutas político-partidáriasâ??), à partida, assume-se que qualquer acontecimento social é potencialmente político, num sentido abrangente e que vai beber à própria origem etimológica do termo. Então vamos lá ver: o problema aqui não é saber se se deve politizar a arqueologia ou não, enquanto ciência social. A arqueologia é, precisamente por ser uma ciência social (feita por pessoas, sobre pessoas, para pessoas) inerentemente política. E a verdade é que a melhor forma de confrontarmos as circunstâncias intrínsecas a esse dado é precisamente através da compreensão e crítica (e eventual transformação) da complexidade da sua teia de interesses, processos e objectivos.

A mim isto parece-me evidente desde a raiz: a arqueologia nasceu e foi construída em determinados contextos sociais; ao longo da sua já relativamente longa história, dela fizeram parte as agendas mais diversas, sustentadas pelos grupos mais diversos. Não é por acaso que o rei de Nápoles mandou escavar Pompeia; que a Europa tenha enviado missões antropológicas e arqueológicas para as suas colónias; que a arqueologia integrou a Junta Nacional de Educação durante o Estado Novo; que a â??questão Côaâ?? tenha acontecido em determinado momento, com determinadas expectativas por parte de todos os seus actores, e que se tenha realizado sob diversas formas. Não é por acaso também que os inquéritos processualistas e pós-processualistas tenham nascido no mundo anglo-saxónico, e a arqueologia marxista na URSS. A história da própria institucionalização da arqueologia (veja-se o caso do nosso país, para não irmos mais longe) é marcada por acontecimentos políticos muito concretos, e naturalmente tudo isso tem impactos diversos nos processos de investigação arqueológica. As preocupações com o património que se protege e não protege, assim como com o retorno social da investigação arqueológica são atitudes políticas de primeira instância, porque prevêem uma intervenção clara na sociedade em que é produzida, visando a justificação da própria arqueologia como actividade e até a transformação crítica da comunidade. Como introdução a este assunto, vale bem a pena ler o clássico A history of archaeological thought (1989) de Bruce Trigger, que foi publicado em castelhano pela Crítica (1992). Em Portugal são essenciais os trabalhos de Ana Cristina Martins, Carlos Fabião, João Luís Cardoso e Katina Lillios, mais para o século XIX e primeira metade do século XX, e a AAP publicou um volume exclusivamente sobre a construção da arqueologia no século XX.

Parece-me por isso um pouco ingénuo assumir que aos arqueólogos só dizem respeito os aspectos técnicos e metodológicos da profissão, ou ainda que os resultados da investigação estejam imaculados do que esteja fora da arqueologia. Surpreende-me, sobretudo, porque desde os anos de 1970-1980 que as críticas pós-processualistas vieram pondo em causa a candura científica do positivismo em arqueologia. Pelo mundo inteiro. Certo é que a arqueologia dos nossos dias vive uma diversidade teórica e debates de potencialidades imensas. A imparcialidade depende sobretudo da atitude consciente, crítica e meticulosa sobre o que andamos a fazer (é preciso dizer que, no limite, os profissionais das ciências naturais e exactas dificilmente vêem a arqueologia, a história, a antropologia ou a sociologia como ciências). Invocá-la sem perceber o conteúdo e o que a rodeia, é perigoso.

E acho especialmente perigoso que não haja consciência destes aspectos por uma razão essencial: se não tivermos as ferramentas necessárias para identificar as condicionantes da nossa acção científica e profissional e não tentarmos lidar com elas, mais facilmente seremos enrolados e pressionados por factores de índole ideológica, ou outros (o código deontológico da APA, embora não sendo obrigatório a toda a comunidade arqueológica, é por todos mais ou menos assumido; o §7 incide precisamente sobre esta questão).

Daqui volto rapidamente à questão de Israel e da Palestina, e do património cultural no meio de um conflito armado. Como já disse em mensagens anteriores, a experiência histórica mostra-nos como o património cultural foi e é manipulado e até destruído em conflitos do género por questões que nada têm a ver com aspectos técnicos e metodológicos da arqueologia enquanto ciência. Sendo pragmático, não me parece que a actividade arqueológica decorra normalmente num contexto de guerra, e tenho a certeza absoluta que as pressões serão muitas (imagine-se o que uma intervenção arqueológica israelita no terraço das mesquitas em Jerusalém, buscando o Templo, pode suscitar junto da comunidade islâmica). Por outro lado estamos a assistir àquilo que já muitas vezes aconteceu no passado: destroem-se as marcas identitárias de um determinado grupo em certo território para obliterar a sua consciência história e obliterar as suas pretensões a esse território, ao mesmo tempo que se justificam as pretensões dos invasores.

Os arqueólogos e as pessoas que mais directamente lidam com o património cultural são os primeiros a tomar consciência disto. Não se deve denunciar a negligência e destruição premeditadas do património por parte de um grupo armado? Conhecendo e ignorando tornamo-nos cúmplices daquilo que é, no fim de contas, uma verdadeira operação ideológica com fins sinistros e proveitos sociais realmente duvidosos.

Quanto ao ponto aqui levantado sobre a pertinência de em Portugal se levantarem questões sobre a arqueologia no Médio Oriente, acho que não há muito a dizer. Acho que a ciência há muito ultrapassou as questões fronteiriças e quilométricas, e prova disso é existem instituições, congressos e colaborações internacionais em projectos que se baseiam geograficamente em lugares bem longe da origem dos seus protagonistas. Além disso estamos a falar de uma região que é uma referência para todos nós, em termos culturais, e sobretudo acho que este tipo de questões não têm fronteiras. � evidente que começo por me preocupar com o que se passa no sítio onde nasci e vivo, mas também sou sensível ao resto. � uma questão de humanidade. Basta ver que em Lima, no Perú, houve uma concentração só de arqueólogos em torno da questão que originou toda esta discussão.

Sobre o resto: para sermos respeitados pela sociedade enquanto profissionais temos de nos relacionar com a sociedade. E tal coisa faz-se pensando e discutindo. Infelizmente isso nem sempre parece existir no meio arqueológico português.

Saudações

PS: Bem a propósito, valerá a pena ler o que António Valera escreve em Irrealidade Prodigiosa: http://irrealidadeprodigiosa.blogspot.com/2009/01/0030-irrealidade-20.html



----- Fim do email de v.m.borges@netcabo.pt -----



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