[Archport] Isabel Pires de Lima, “uma ministra de má memória (Jornal Reconquista Castelo Branco online)
Serviços da Cultura com excesso de burocracia
O arquitecto José Afonso reformou-se da sua actividade de director de
serviços da Direcção Regional de Cultura do Centro. Na hora da
despedida deixa uma nota negativa ao excesso de burocracia e uma nota
positiva às obras de Castelo Branco
O arquitecto José Afonso acaba de se reformar da administração
pública. Nos últimos oito anos, assumiu o cargo de director regional
de Castelo Branco do ex-Instituto Português do Património
Arquitectónico (IPPAR) e do ex-Instituto de Gestão do Património
Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) e, por fim, director de
serviços da Direcção Regional de Cultura do Centro, organismos que, em
termos geográficos abrangem os distritos de Castelo Branco e Guarda e
o concelho de Mação.
Com a reforma administrativa decorrente das políticas de Isabel Pires
de Lima, “uma ministra de má memória”, as direcções regionais do
IGESPAR foram extintas, mas a de Castelo Branco passou a ser uma
delegação da Direcção Regional de Cultura do Centro. José Afonso sai e
está a decorrer um concurso público para encontrar o seu substituto.
Sai com espírito de dever cumprido, mas lamenta que o serviço tenha
sido “bloqueado totalmente das suas competências anteriores”. E
explica: “a mudança de uma telha num edifício dentro de uma zona de
protecção, ou de uma janela ou de uma porta, era um processo que antes
se resolvia numa hora ou num dia, mas neste momento pode levar muitos
meses”, porque, “o requerente dá entrada do processo na câmara e esta
envia-o para a delegação de Castelo Branco, de onde segue para
Coimbra, que despacha e remete novamente para Castelo Branco. Daqui
segue para o IGESPAR de Lisboa, onde percorre vários serviços, até que
é despacho para Coimbra, que o remete a Castelo Branco, que despacha
para a câmara e esta para o requerente. Se depois de tudo isto houver
uma imprecisão, nem que seja um grão de areia, repete-se tudo”.
Este procedimento administrativo é, segundo José Afonso “altamente
atentatório e lesivo do procedimento desburocratizado de que tanto se
fala. É um procedimento que revela gente incompetente, do ponto de
vista técnico, para resolver problemas deste nível. É também lesivo
dos elementares direitos dos cidadãos, no que respeita aos
procedimentos administrativos, que devem ser céleres e rápidos. Não se
entende como é que hoje se comunica em segundos com o outro extremo do
mundo, e nestes processos se encontram estes circuitos ridículos e de
um centralismo incompreensível”.
Obras importantes da cidade
Num momento de crise e orçamentos escassíssimos, José Afonso
congratula-se com o facto da Câmara Municipal de Castelo Branco
conseguir “ter uma frente de obras admirável”.
Quanto ao património, fez uma resenha leve pelas obras que considera
de maior relevo e nas quais há uma parceria, ou parecer e
acompanhamento por parte da delegação de Castelo Branco da Direcção
Regional de Cultura do Centro, reiterando que “em toda a frente de
obras tem havido um suporte de investigação histórica e arqueológica e
de acompanhamento e pesquisa que fundamentam a generalidade das
intervenções”.
No castelo, o arranjo urbanístico foi precedido de pesquisa
arqueológica (escavações, movimentos, estudos,…), com “resultados
notáveis”, que permitem, por exemplo, “ver que o morro do castelo foi
habitado na pré-história, pois foi ali encontrado um machado e
cerâmica de vários períodos, a começar pelo neolítico, mas também
moedas de várias épocas, muitas delas da época de D. João V”. Por
outro lado, “as escavações atingiram o nível da base do arco da
alcáçova e, ao contrário do seu aspecto baixo e até pouco monumental,
pode agora constatar-se que por ali passava um cavalo claramente,
porque tem um pé direito que o permite. Foram encontradas várias
sepulturas, uma estela funerária importantíssima, da época original da
fundação do castelo e da cidade, com uma cruz templária inscrita. Mais
recentemente foi encontrada parte da base de um baluarte redondo, que
não se imaginaria, nem mesmo nas plantas e desenhos de Duarte D’Armas,
do século XVI”, pelo que, a equipa de arqueologia manifestou vontade
de, gratuitamente, completar os estudos desse baluarte que pode trazer
dados novos.
No Largo de São João, “as obras vieram revelar um troço da rede de
abastecimento de água dos séculos XVIII/XIX, de que será feito um
painel elucidativo, pois o seu todo foi levantado ao milímetro,
podendo, se se pretender, ficar visitável”. Esta “é uma intervenção
que vai melhorar significativamente aquela zona, acrescida de parque
de estacionamento que permite retirar automóveis da zona nobre,
evidenciando melhor o Paço, o Jardim do Paço e toda aquela zona da
cidade”.
Na Postiguinho de Valadares lamenta que “não tenha sido implodido o
mastodonte”, por razões técnicas, mas “foi banida toda uma área de
construção envolvente, que se espera possa minorar o impacto negativo.
Foi recuperada uma área significativa para o largo e criado mais
estacionamento para a zona antiga e histórica. Valorizou-se também de
uma forma notável troços de muralhas naquela área, uma intervenção
ainda em curso, e que está a ser feita com rigorosos critérios
técnicos e de acompanhamento arqueológico e de arquitectura”.
Na zona história destaca ainda “uma frente de ruas extraordinária, com
uma recuperação, sempre que possível da calçada antiga e colocação de
uma laje de granito, um tapete, para melhor regularização das calçadas
e melhor circulação pedonal”, além das obras de ampliação do antigo
Solar dos Cavaleiros, onde está instalado o Museu Cargaleiro, bem como
a requalificação da Praça Académica, onde também foi criado mais
estacionamento.
Refere-se ainda o projecto de intervenção no Largo de São Marcos, “de
forma a salvar o chafariz quinhentista de São Marcos, classificado e
que é urgente ser intervencionado, aguardando neste momento
autorização do IGESPAR para que a obra possa avançar, para que não se
perca irremediavelmente esta referência para a cidade, pois foi o
ponto de encontro e de abastecimento de água até ao século XX”.
Os novos desafios
No âmbito do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN),
conjuntamente com as cidades do Fundão, Covilhã e Guarda, Castelo
Branco integrou o projecto Cidades em Rede para o Património, que pode
permitir “dotar um pólo, que será um centro interpretativo da cidade
quinhentista, que deverá funcionar no antigo edifício dos CTT, indo
depois referenciar outros pólos que venham a ser criados do
património. Este projecto é uma forma de promover o turismo cultural,
em rede, um exemplo extraordinário que permite à região ganhar
dimensão e impacto a nível nacional ou internacional”. José Afonso
recorda que “na cidade quinhentista existe património cristão,
património cristão-novo e património judaico, um conjunto que a nível
da Beira Interior Norte e Sul e Norte Alentejano tem impacto que pode
atingir o interesse mundial, porque é predominantemente sefardita, que
tem de estar prioritariamente ligado ao património espanhol na área de
fronteira”.
Volta a lamentar que, neste âmbito, “os projectos de rotas que vinham
sendo tratados pela ex-direcção regional do IGESPAR em Castelo Branco,
e que englobavam toda esta ara, foram parados desde que os serviços
foram integrados na Direcção Regional da Cultura do Centro, mas podem
ser retomados pelos municípios e entidades públicas e privadas, porque
são a resposta adequada à paralisia do Ministério da Cultura neste
momento”.
O arquitecto destaca ainda, no âmbito das obras realizadas na Sé de
Castelo Branco a pintura do tecto da Capela do Santíssimo e a
cobertura da Capela da Senhora da Piedade. Neste momento está também
em curso a melhoria da iluminação da Sé.
Quanto ao Polis XXI, também se mostra satisfeito por ser “comandando
directamente pela Câmara Municipal e por certos projectos do Polis
anterior estarem a ser revistos”.
Dentro da área do património referiu ainda uma intervenção de grande
importância que está em curso no Miradouro de São Gens. “A aquisição
de uma passagem que existiu no século XIX, da Rua do Mercado ao
Miradouro, onde se fizeram recentes pesquisas arqueológicas permitiu
que se descobrissem dados importantes, tendo o antigo projecto do
Polis para o Miradouro de São Gens também sido banido”. A Câmara
adquiriu também alguns terrenos, confiantes com a muralha, estando a
proceder, faseadamente, à desmatação e arranjo daquelas zonas, de modo
a que, na medida do possível, fique à vista o máximo de troços de
muralhas.
“A Câmara tem vindo a fazer melhorias extraordinárias, em questões de
pormenor, ou até globais em alguns projectos do antigo Polis e isso é
de louvar e de apoiar”, conclui.
António Correia
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