[Archport] Universidade dos Açores pioneira no estudo de esqueletos humanos antigos
E como é raro mencionar nesta lista Archport as regiões autónomas aqui
vai uma notícia do Açoriano Oriental online:
Açores entram no mundo do estudo dos esqueletos
Regional
Imediatamente reconhecido pela sua ligação à Justiça, o estudo dos
esqueletos pode também ajudar a traçar o perfil de uma população
antiga. Nos Açores, a universidade está a ser pioneira no estudo de
ossadas, que podem revelar como eram os povoadores das ilhas e que
tipo de vida levavam
Pela primeira vez nos Açores está-se a fazer o estudo de esqueletos
humanos antigos, num trabalho que antes era feito com o recurso a
empresas de arqueologia do continente. Agora, a própria Universidade
dos Açores tem um pequeno laboratório onde é possível estudar os
achados. Um trabalho tornado possível através de um protocolo firmado
no final de 2007 com a Direcção Regional da Cultura, visando a análise
dos restos esqueléticos encontrados em contextos arqueológicos e que
possibilitou a vinda para os Açores de Xavier Jordana, bolseiro da
Região num programa de pós-doutoramento, afecto ao Centro de
Investigação de Recursos Naturais (CIRN), do Departamento de Biologia
da Universidade dos Açores.
“Os achados antropológicos são muito comuns na Península Ibérica e
fazem-nos recuar até às populações pré-históricas. Aqui, a população
açoriana é muito mais recente, mas não deixa de ter interesse para a
Antropologia estudar como foram os colonizadores das ilhas e como se
adaptaram a este ambiente”, afirma Xavier Jordana ao Açoriano Oriental
Online. Um trabalho que está ainda numa fase inicial e a ser cruzado
com um outro, de características genéticas, com base em indivíduos
actuais para tentar chegar aos seus antepassados, dirigido pela
investigadora Manuela Lima. “Foi um passo muito importante que demos,
pois é uma área pioneira nos Açores e este é um bom serviço que a
universidade e o CIRN prestam à comunidade”, afirma a investigadora ao
Açoriano Oriental Online.
Xavier estuda os restos esqueléticos das populações antigas dos
Açores, não com o objectivo forense de identificar as pessoas ou
sequer saber qual foi a causa da sua morte, mas sim com a intenção de
saber como viviam e que características físicas tinham os povoadores
dos Açores.
“Podemos não conseguir distinguir um português de um espanhol, mas
conseguimos, com certeza, saber se era um norte-africano, se era de
origem judaica ou se era asiático”, afirma Xavier Jordana.
Ou seja, o trabalho deste investigador é um pouco o de ‘conversar’ com
os ossos. “Desde logo, os ossos podem-nos dizer se era homem ou mulher
e que idade tinha quando morreu. Mas também nos dizem que constituição
física tinha e que tipo de trabalho desenvolveu ao longo da sua vida,
nomeadamente se trabalhava na terra, com muito esforço físico, ou se
tinha antes um trabalho mais sedentário. Os ossos revelam-nos ainda
que tipo de doenças as pessoas podem ter tido durante a sua vida. Se
alargarmos este estudo a vários esqueletos de um mesmo lugar, podemos
aos poucos fazer um retrato daquela população”, explica o investigador
espanhol ao Açoriano Oriental Online.
O seu material de estudo provém de escavações arqueológicas que muitas
vezes são acidentais, sempre que se fazem obras de restauro ou
ampliação de templos, ou mesmo grandes remoções de terras para fazer
estradas, como é o caso recente da ilha de São Miguel, com a
construção das SCUT. “Quando se escava num convento ou numa igreja
antiga, o normal é encontrar um cemitério e todos os restos
esqueléticos que tenham mais de 100 anos são considerados achados
arqueológicos e têm, por isso, de ser preservados. É aqui que entram
os antropólogos”, refere Xavier, que actualmente trabalha nos restos
esqueléticos encontrados no Convento de São Gonçalo, na ilha Terceira,
retirados de várias sepulturas do século XVI e XVII, mas também em
achados da igreja da Misericórdia de Angra do Heroísmo e de outros
locais da Terceira e de São Miguel.
As técnicas que Xavier usa são parecidas às usadas pelos antropólogos
forenses, cujo trabalho tem sido divulgado por séries televisivas onde
os investigadores fazem ‘falar’ os cadáveres até a verdade sobre um
crime vir à tona. Séries que despertam nos jovens de hoje um fascínio
idêntico ao que as séries sobre advogados despertaram nos jovens dos
anos 80 e que fazem, segundo admite Manuela Lima, com que sempre que
se fale de Antropologia Forense nas aulas universitárias, surja logo
um brilho nos olhos dos alunos.
Como encontrar num cadáver a explicação para um crime
Na maioria dos caos, é possível encontrar a resposta para uma morte
num cadáver?
Ignasi Galtés, antropólogo forense do Instituto de Medicina Legal da
Catalunha, em Espanha, fornece a resposta ao Açoriano Oriental Online.
“Podemos resolver praticamente todos os casos, mas o problema é que a
resposta só surge no longo prazo. Este é o grande problema da
Antropologia Forense, pois recorre a uma metodologia de trabalho e de
estudo que é muito complexa e lenta. A informação que temos,
cruzamo-la com a informação da polícia sobre os desaparecidos e
possíveis vítimas e, na maior parte dos casos, o processo corre
devagar, embora no geral acabemos sempre por identificar as pessoas e
o crime, sobretudo em casos de homicídios violentos”, afirma, logo
após uma palestra na Universidade dos Açores, onde deu a conhecer
alguns dos mistérios da Antropologia Forense.
A identificação de um corpo e as causas da sua morte são os dois
grandes propósitos da Antropologia Forense. Para fazer falar um
cadáver, por assim dizer, a equipa ideal de investigadores deve ser
constituída por um antropólogo físico, por um médico forense, por um
odontólogo (para estudar a dentição) e um por um biólogo, para cruzar
informações de DNA, nos casos em que seja necessário chegar a esse
ponto.
A acção bacteriana da decomposição de um cadáver fornece muitas vezes
as chaves para um crime, mas também pode confundir os investigadores.
Por isso, há que saber distinguir fenómenos. Há quatro fases de
decomposição de um cadáver, que vai desde o estado fresco ao estado
esquelético. Nesse processo de decomposição, há vários sinais no corpo
que se podem confundir com lesões, doenças ou fracturas e que podem
dirigir os investigadores para uma resposta errada às causas de uma
morte. Por exemplo, quando um cadáver não está envolvido por terra e
decompõe-se num espaço vazio, é natural que a cabeça se possa deslocar
do corpo sem que isso indicie fractura na coluna ou, por limite, uma
decapitação. Por outro lado, a deslocação de ossos em cadáveres
envolvidos em terra, normalmente é sinal de fracturas feitas em vida e
encontram-se situações dessas sempre que se escava uma vala comum
feita durante uma situação de guerra. Mas um cadáver pode aparecer a
um investigador mumificado (devido a fenómenos de decomposição),
sabonizado (quando é retirado da água) ou mesmo congelado (retirado de
neves ou gelos eternos), situações que podem facilitar, mas também
dificultar a determinação da causa da morte, sobretudo se esta não
tiver sinais visíveis.
Como afirma Ignasi Galtés, o trabalho da Antropologia Forense é longo,
desenvolvendo-se por várias fases, que começam sempre - tal como se vê
nos filmes e nas séries televisivas - com a protecção do lugar em que
é encontrado um cadáver e com a reportagem fotográfica do mesmo. A
radiografia muitas vezes ajuda a encontrar causas de uma morte que a
simples autópsia não revela, o que acontece muito em cadáveres
carbonizados ou em avançado estado de decomposição. Como já se disse,
por vezes a decomposição engana os investigadores, mas há marcas muito
claras, como as extremidades de um rasgo, a correspondente lesão óssea
ou os sinais de hemorragia, que ajudam a distinguir o que foi feito em
vida, do que resultou da decomposição ou do manuseamento do cadáver. E
essas marcas ajudam também o investigador a descobrir se a lesão
ocorreu antes da morte (até 72 horas), no momento da morte ou após a
morte. E isso faz-se avaliando a reacção do corpo à fractura. Quanto
maiores forem os sinais de recuperação natural da fractura, mais
antiga ela é. Normalmente, os investigadores interessam-se pelas
fracturas que não demonstram qualquer sinal de recuperação do corpo,
que indiciam terem sido provocadas no momento da morte. A análise da
fragmentação dos ossos e do seu contexto ajuda também a determinar se
a fractura terá sido acidental ou intencional.
Rui Jorge Cabral
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http://www.jcp-pt.org/
http://www.youtube.com/watch?v=4StmVYSVms8
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