Eu não quero ser chato, mas gostava de lembrar aqui que não é por não ter tentado que não trabalho em Portugal. E gostava de lembrar que me ofereci ao IGESPAR para escavar, conservar e publicar o navio da Namibia, e que só me afastei do projecto porque o IGESPAR "não prescindia de liderar o processo", inviabilizando qualquer possibilidade minha de obter as bolsas necessárias para pagar a conservação dos artefactos. Como Portugal de responsabilizou, eu afastei-me, descansado, e nunca mais pensei nisso. Mais: acho justo lembrar aqui que se vai sair um artigo na NatGeo (em Setembro, em princípio) a ideia foi minha e o artigo resultou de uma data de conversas, telefónicas e por carta e email, minhas e dos meus chefes, na universidade e no INA. Estou convencido que o artigo vai sair fantástico e que vai avançar muitíssimo a causa da arqueologia náutica, e por isso dei os cantactos todos aos arqueólogos que escavaram o navio quando me afastei do projecto. E acho que não faz sentido nenhum fulanizar a questão. E muito menos deitar as culpas para cima do Dr. Francisco Alves (que me mandou o relatório da Namibia e as fotografias todas no dia em que chegou a Portugal). Toda a gente sabe que sem ele não havia arqueologia subaquática em Portugal (e que sem ele eu nunca teria abandonado a minha profissão para ir estudar arqueologia nos EUA). Nesse sentido, o país deve-lhe tudo e eu devo-lhe imenso. As minhas diferenças com o Dr. Francisco Alves não interessam para esta discussão. Aliás são públicas e não têm solução: ele acha que em Portugal "os filhos comem os pais" e eu acho que "os pais comem os filhos" :o) Como somos os dois adultos, resolvemos não tentar trabalhar juntos nos próximos 150 anos, mais ou menos, e nunca mais tivemos problemas. Além disso, daqui a dois anos torno-me cidadão americano e o mundo, visto daqui, é enorme. Não tenho a menor intenção de voltar a tentar trabalhar em Portugal. Mas muito para além das minhas frustrações pessoais (ou das do Dr. Francisco Alves), acho que a lógica e a cultura do IPPAR/IPA/IGESPAR são do século passado e não têm futuro: no contexto político actual são absolutamente disfuncionais. Não é justo pedir aos políticos que valorizem duas pirogas, preciosas, que ninguém sabe que existem. Nem é justo pedir aos jornalistas que percebam a diferença entre arqueólogos e antiquários e tomem partido pelos arqueólogos. Nem é possível esperar que a equipa do CNANS/DANS chegue para apagar os fogos todos, planear, gerir, estudar, escavar, conservar e publicar os sítios todos que aparecem. Em meu ver, se não houver opinião pública não há futuro para a arquelogia. Criar uma opinião pública é uma tarefa da inteira responsabilidade dos arqueólogos. Aqui nos EUA trabalhamos todos os dias com esse objectivo e estamos sempre a milhas de o alcançar. E tem de haver um consenso qualquer sobre quem faz o quê: se não houver participação das câmaras municipais, dos museus e das universidades, o DANS sózinho não pode resolver problemas nenhuns, nem com um quadro de 50 pessoas. Isto é a minha opinião, claro está. Filipe Castro Texas Windows Live™: Keep your life in sync. Check it out. |
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