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[Archport] RE: Um texto sobre o património arqueológico subaquático

Subject :   [Archport] RE: Um texto sobre o património arqueológico subaquático
From :   filipe castro <fvcastro@hotmail.com>
Date :   Thu, 15 Jan 2009 04:17:46 +0000

Eu não quero ser chato, mas gostava de lembrar aqui que não é por não ter tentado que não trabalho em Portugal.  E gostava de lembrar que me ofereci ao IGESPAR para escavar, conservar e publicar o navio da Namibia, e que só me afastei do projecto porque o IGESPAR "não prescindia de liderar o processo", inviabilizando qualquer possibilidade minha de obter as bolsas necessárias para pagar a conservação dos artefactos.  Como Portugal de responsabilizou, eu afastei-me, descansado, e nunca mais pensei nisso. 

Mais: acho justo lembrar aqui que se vai sair um artigo na NatGeo (em Setembro, em princípio) a ideia foi minha e o artigo resultou de uma data de conversas, telefónicas e por carta e email, minhas e dos meus chefes, na universidade e no INA.  Estou convencido que o artigo vai sair fantástico e que vai avançar muitíssimo a causa da arqueologia náutica, e por isso dei os cantactos todos aos arqueólogos que escavaram o navio quando me afastei do projecto.

E acho que não faz sentido nenhum fulanizar a questão.  E muito menos deitar as culpas para cima do Dr. Francisco Alves (que me mandou o relatório da Namibia e as fotografias todas no dia em que chegou a Portugal).  Toda a gente sabe que sem ele não havia arqueologia subaquática em Portugal (e que sem ele eu nunca teria abandonado a minha profissão para ir estudar arqueologia nos EUA).  Nesse sentido, o país deve-lhe tudo e eu devo-lhe imenso.

As minhas diferenças com o Dr. Francisco Alves não interessam para esta discussão.  Aliás são públicas e não têm solução: ele acha que em Portugal "os filhos comem os pais" e eu acho que "os pais comem os filhos"  :o)  Como somos os dois adultos, resolvemos não tentar trabalhar juntos nos próximos 150 anos, mais ou menos, e nunca mais tivemos problemas.  Além disso, daqui a dois anos torno-me cidadão americano e o mundo, visto daqui, é enorme.  Não tenho a menor intenção de voltar a tentar trabalhar em Portugal.

Mas muito para além das minhas frustrações pessoais (ou das do Dr. Francisco Alves), acho que a lógica e a cultura do IPPAR/IPA/IGESPAR são do século passado e não têm futuro: no contexto político actual são absolutamente disfuncionais.  Não é justo pedir aos políticos que valorizem duas pirogas, preciosas, que ninguém sabe que existem.  Nem é justo pedir aos jornalistas que percebam a diferença entre arqueólogos e antiquários e tomem partido pelos arqueólogos.  Nem é possível esperar que a equipa do CNANS/DANS chegue para apagar os fogos todos, planear, gerir, estudar, escavar, conservar e publicar os sítios todos que aparecem.  Em meu ver, se não houver opinião pública não há futuro para a arquelogia.  Criar uma opinião pública é uma tarefa da inteira responsabilidade dos arqueólogos.  Aqui nos EUA trabalhamos todos os dias com esse objectivo e estamos sempre a milhas de o alcançar.

E tem de haver um consenso qualquer sobre quem faz o quê: se não houver participação das câmaras municipais, dos museus e das universidades, o DANS sózinho não pode resolver problemas nenhuns, nem com um quadro de 50 pessoas. 

Isto é a minha opinião, claro está.

Filipe Castro
Texas



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