[Archport] Resp.: Um texto sobre o património arqueológico subaquático
E eu concordo com a opinião do Filipe - um exemplo acabado da tão
propalada mas nunca estancada "fuga de cérebros", com o país a
assistir, impávido e sereno, ao êxodo dos seus melhores e mais
preparados cidadãos para benefício de países terceiros e da ciência em
geral
E mais: chateia-me imenso que, por entre irresponsabilidades, más
vontades, ignorância, umbiguismo, atavismo e pura incompetência, a
carroça do património cultural subaquático português continue a ser
carregada aos ombros por 3 ou 4 pessoas como o Filipe e que ninguém
faça nada para ajudar. Como bom português que sou, termino citando um
outro qualquer português mais ou menos ilustre que escreveu um dia
algo sobre este assunto. Como o Eça já está um pouco estafado, recorro
ao Almada Negreiros:
"O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as
qualidades e todos os defeitos. Coragem Portugueses, só vos faltam as
qualidades"
Em 15/01/09, filipe castro<fvcastro@hotmail.com> escreveu:
>
> Eu não quero ser chato, mas gostava de lembrar aqui que não é por não ter
> tentado que não trabalho em Portugal. E gostava de lembrar que me ofereci
> ao IGESPAR para escavar, conservar e publicar o navio da Namibia, e que só
> me afastei do projecto porque o IGESPAR "não prescindia de liderar o
> processo", inviabilizando qualquer possibilidade minha de obter as bolsas
> necessárias para pagar a conservação dos artefactos. Como Portugal de
> responsabilizou, eu afastei-me, descansado, e nunca mais pensei nisso.
>
> Mais: acho justo lembrar aqui que se vai sair um artigo na NatGeo (em
> Setembro, em princípio) a ideia foi minha e o artigo resultou de uma data de
> conversas, telefónicas e por carta e email, minhas e dos meus chefes, na
> universidade e no INA. Estou convencido que o artigo vai sair fantástico e
> que vai avançar muitíssimo a causa da arqueologia náutica, e por isso dei os
> cantactos todos aos arqueólogos que escavaram o navio quando me afastei do
> projecto.
>
> E acho que não faz sentido nenhum fulanizar a questão. E muito menos deitar
> as culpas para cima do Dr. Francisco Alves (que me mandou o relatório da
> Namibia e as fotografias todas no dia em que chegou a Portugal). Toda a
> gente sabe que sem ele não havia arqueologia subaquática em Portugal (e que
> sem ele eu nunca teria abandonado a minha profissão para ir estudar
> arqueologia nos EUA). Nesse sentido, o país deve-lhe tudo e eu devo-lhe
> imenso.
>
> As minhas diferenças com o Dr. Francisco Alves não interessam para esta
> discussão. Aliás são públicas e não têm solução: ele acha que em Portugal
> "os filhos comem os pais" e eu acho que "os pais comem os filhos" :o) Como
> somos os dois adultos, resolvemos não tentar trabalhar juntos nos próximos
> 150 anos, mais ou menos, e nunca mais tivemos problemas. Além disso, daqui
> a dois anos torno-me cidadão americano e o mundo, visto daqui, é enorme.
> Não tenho a menor intenção de voltar a tentar trabalhar em Portugal.
>
> Mas muito para além das minhas frustrações pessoais (ou das do Dr. Francisco
> Alves), acho que a lógica e a cultura do IPPAR/IPA/IGESPAR são do século
> passado e não têm futuro: no contexto político actual são absolutamente
> disfuncionais. Não é justo pedir aos políticos que valorizem duas pirogas,
> preciosas, que ninguém sabe que existem. Nem é justo pedir aos jornalistas
> que percebam a diferença entre arqueólogos e antiquários e tomem partido
> pelos arqueólogos. Nem é possível esperar que a equipa do CNANS/DANS chegue
> para apagar os fogos todos, planear, gerir, estudar, escavar, conservar e
> publicar os sítios todos que aparecem. Em meu ver, se não houver opinião
> pública não há futuro para a arquelogia. Criar uma opinião pública é uma
> tarefa da inteira responsabilidade dos arqueólogos. Aqui nos EUA
> trabalhamos todos os dias com esse objectivo e estamos sempre a milhas de o
> alcançar.
>
> E tem de haver um consenso qualquer sobre quem faz o quê: se não houver
> participação das câmaras municipais, dos museus e das universidades, o DANS
> sózinho não pode resolver problemas nenhuns, nem com um quadro de 50
> pessoas.
>
> Isto é a minha opinião, claro está.
>
> Filipe Castro
> Texas
>
>
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