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Re: [Archport] Lei da Rolha

Subject :   Re: [Archport] Lei da Rolha
From :   Rui Boaventura <boaventura.rui@gmail.com>
Date :   Mon, 23 Feb 2009 22:45:54 +0000

Caro Gonçalo M. Bettencourt
 
As suas mensagens ao longo do tempo neste fórum revelam alguma coisa mal resolvida com os funcionários públicos, nomeadamente com aqueles que gerem o património cultural desta República Portuguesa. Mas isso só o próprio poderá resolver. Presumo que também se deva em parte aos cerca de 30 anos de políticos incompetentes constantemente culparem os funcionários públicos por aquilo que não conseguem fazer pelo país. Pode haver maus funcionários, assim como há bons funcionários (o mesmo se passará no privado), mas cada vez mais desmoralizados e cansados dos devaneios dos srs. políticos. Curiosamente, a crise que o mundo atravessa deve-se a patrões e gestores mal formados, apenas interessados em si próprios e nos seus lucros, borrifando-se para a coisa pública e os seus empregados - o mesmo se poderia dizer dos srs. políticos que se alimentam nos seus cargos públicos de nomeação política, para depois saltarem para um qualquer posto bem pago no privado.  
 
Quanto à questão de fundo da circular interna do IGESPAR. Esta reflecte claramente um objectivo específico de calar os funcionários, de promover a autocensura, mas também condicionar as liberdades e garantias de qualquer cidadão. Enquanto funcionário com certeza que se deve cumprir um conjunto de regras de conduta profissional com a entidade patronal, mas também com a ética deontológica da profissão, pelo menos para aqueles que a assumiram. Neste caso passa pela salvaguarda do património. Imagina um médico a ser obrigado a negar tratamentos por ordem superior, como este e outros governos têm tentado impor? As áreas são distintas, mas a destruição do património mina a identidade e a cidadania, assim como um doença grave destroi um ser humano. Tudo com peso e medida e muito bom senso.
 
Rui
 
  
 
2009/2/23 G M <grunhosearqueologos@gmail.com>
Carissimos
A questão colocada não tem nada a ver com a destruição ou não do Património, mas sim com uma premissa fundamental em qualquer administração pública e privada - liderança e cadeia de comando.

Só posso dizer que este assunto é mais um "fait-divers", para não se discutir a reorganização do meio arqueológico.
É uma vergonha que a nossa classe possua tão poucos conhecimentos de organização e gestão, mesmo do património.
Na administração pública um técnico tem o direito e dever de dar um parecer técnico, mas a decisão é do seu superior hierárquico.
Bem ou mal, a favor ou contra, é ele q decide.
O técnico como funcionário público está obrigado à isenção, sigilo, zelo, correcção; obediência, assiduidade; lealdade e pontualidade.
Esta circular interna não é mais do que um lembrar a esses arqueólogos que existe uma hierarquia e q não é tudo à balda. a
Quem fala em censura e aniquilamento técnico devia ir trabalhar para a privada.
Calava e não piava. Se estão mal venham daí

Este é um grave problema da classe.
Cumprimentos
G.B.

2009/2/20 Rui Boaventura <boaventura.rui@gmail.com>
Circula agora no IGESPAR um esclarecimento em tom de aviso e incentivo à autocensura dos técnicos superiores, à bela maneira cavaquista da Lei da Rolha, agora adaptada ao socialismo neo-cavaquista do Sr. Sócrates e seus subalternos (Ministro da Cultura, Director e Subdirectores do IGESPAR).
 
Acontece, se qualquer técnico superior discordar da decisão hierarquicamente superior, tem que calar e não bufar! Por exemplo, se um achado arqueológico de grande importância surgir, e contrariamente ao parecer técnico, e a bem do Estado (?) isso não interessar aos dirigentes políticos que dirigem o IGESPAR, o técnico tem que defender a decisão superior - contra a defesa do património cultural!
 
Voltámos ao tempo do Santos Pinheiro e das suas alucinações ditatoriais? Maus ventos socialistas atingem esta República Portuguesa dos Bananas!!!
 
A cidadania consciente é de facto o último recurso para combater e denunciar estes devaneios salazarentos.
 
Já agora, prefiro pensar que seja coincidência, mas os avençados do IGESPAR, herdados do ex-IPA apenas têm contrato até Maio deste ano. Será a impotência para fazer melhor, ou competência destruir os resquícios do ex-IPA?
 
Rui

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