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Re: [Archport] Sobre o sismo de L'Aquila e a reabilitação urbana em Portugal

To :   archport <archport@ci.uc.pt>
Subject :   Re: [Archport] Sobre o sismo de L'Aquila e a reabilitação urbana em Portugal
From :   Joao Araújo Gomes <jpagomes@gmail.com>
Date :   Thu, 16 Apr 2009 13:23:35 +0100

Caro fórum,

Pretendo fazer um comentário em relação a algumas observações que já foram feitas a propósito do sismo de L'Aquila e o eventual episódio sísmico (e não sismológico!!!) a Portugal está sujeito.

A inevitabilidade de um evento sísmico é quase tão óbvia como esta mesma conclusão. O que se pode, e deve fazer, para minimizar o impacto de um sismo em terra (uma vez que o epicentro pode ocorrer no mar e se não tiver magnitude nem proximidade suficiente de uma costa não gera um tsunami) é uma avaliação periódica de riscos e medidas de mitigação desses mesmos riscos.

Pode parecer que os monumentos mais antigos que precisam de obras de reforço estrutural mais urgente são relegados para segundo plano. Mas o que é facto é que na maior parte dos casos essas mesmas obras de reestruturação exigiriam um impacto severo no aspecto exterior dos edifícios e monumentos históricos - coisa que alteraria consideravelmente o valor patrimonial do objecto. Um problema, portanto!

É certo que se podem e devem fazer - repito obras de minimização de risco sísmico em todo o tipo de edifícios, quer actuais quer históricos. O que não se pode diminuir é a perigosidade sísmica, esta inteiramente geológica. Já se disse, e bem, que Lisboa corre um sério risco de catástrofe no caso de acontecer um terramoto como o de 1755. O que ainda não se disse é que não é Lisboa o principal sítio de perigo para a população mas sim a zona litoral Algarvia. Em 1755 o Algarve não estava tão densamente povoado como agora.

Embora Portugal seja um país que esteja localizado numa zona com muitas falhas activas, essas falhas são todas intra-placas. Isto é, são falhas que não geram sismos com magnitudes tão elevadas como o sismo de 1755 que terá tido o epicentro no mar na zona  conhecida como banco de Gorringe onde as micro-placas da Península Ibérica e Africana convergem de forma oblíqua ao longo do acidente geológico Açores-Gibraltar. Esta zona sim, pode gerar sismos de magnitude muito elevada mas, e felizmente, de recorrência mínima à escala temporal humana.

A ideia de que um episódio como o de 1755 já devia ter acontecido tem lógica mas não está inteiramente correcta. Embora as placas tectónicas, e micro-placas, se desloquem a uma velocidade mais ou menos constante, não é obrigatório que os sismos que decorrem da libertação de tensão se repitam a uma escala temporal certa. Desde que essa libertação de tensão se faça até pode ser que não se repita um sismo tão grande. Para nós seria melhor que sentíssemos muitos e frequentes sismos  porque seria sinal de que essa energia estaria a ser constantemente libertada.

No entanto, e é aqui que quero chegar, é sempre melhor pensar que um sismo de proporções gigantescas possa acontecer a qualquer momento e que é altura de melhorar e reforçar os principais edifícios, sobretudo nos locais mais densamente povoados.

Volto a repetir que embora se fale quase exclusivamente em Lisboa, a zona que mais sentiu o sismo de 1755 foi o Algarve - na altura pouco povoado. O cenário de sermos atingidos por um sismo semelhante e logo de seguida por um Tsunami em pleno mês de Agosto às 16 da tarde é ideia que certamente não agradará os mais estivais - portugueses e estrangeiros.

Cumprimentos

--
João Araújo Gomes
Arqueólogo

CEG - Faculdade de Letras
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