[Archport] Uma cultura para o Século XXI
Procedi à leitura exaustiva do manifesto divulgado.
Na conclusão da primeira década do Século XXI, na barafunda de uma profunda crise de valores, perversamente simulada através do empolamento da sua pressuposta relevância ou impacto financeiro, julgados como prdominantes, não posso deixar de colocar alguns comentários, à atenção dos signatários e dos destinatários.
Talvez seja a altura de congregarmos a nossa capacidade de compreensão e de entendimento para superarmos alguns lugares comuns. O que me parece estar em causa não é um episódio, ou uma sucessão de episódios conjunturais. O que me parece estar em causa é todo um modelo e paradigma social.
Deixo aqui apenas alguns tópicos, como apelo para encontrarmos as linhas de orientação que nos conduzam a uma profunda compreensão da problemática que deve ser envolvida e aprofundada na avaliação do papel da cultura na sociedade do futuro.
Tal como a saúde e outros domínios estratégicos civilizacionais, a cultura tem que ser abordada na sua própria natureza. É um domínio de investimento social e civilizacional. Só depois disso pode ser avaliada como um domínio estratégico do desenvolvimento económico e financeiro, produtor de riqueza material, seja, como mercadoria.
Embora alguns continuem a falar em instrução, num domínio tranversal que não reconhece fronteiras entre dois tópicos com papeis sociais distintos, importa redimensionar histórica e contextualmente as circunstâncias em que as duas áreas de intervenção social, educação e instrução, entraram em regime de promiscuidade.
Não podemos continuar a insistir em não operar distinções fundamentais. Uma coisa é cultura como responsabilidade e domínio de intervenção do estado e da comunidade, outra é o território de exercício de intervenção das ditas indústrias culturais. O território em que estes dois domínios se podem cruzar exige-nos cada vez mais profundas reflexões éticas e deontológicas. E isto respeita tanto às áreas da criatividade, do conhecimento, da investigação e da partilha cultural.
A crise que atravessamos exige de nós sérias ponderações, para que a sua superação não resulte meramente na reordenação dos territórios de exercício do poder financeiro e político.
Está nas nossas mãos assumir esta crise na sua real dimensão, como uma crise de paradigma e de modelo social. Para que a história não se repita e para que, daqui a cinquenta anos, não tenhamos que retroceder a este estádio da avaliação dos estratégicos tópicos civilizacionais.
Numa formulação sintética, tentando aprofundar a temática suscitada pelo Manifesto, à vossa atenção.
Manuel de Castro Nunes
--
Manuel de Castro Nunes