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[Archport] Porto Torrão e o estado da arte

Subject :   [Archport] Porto Torrão e o estado da arte
From :   rui mataloto <rmataloto@gmail.com>
Date :   Sat, 24 Oct 2009 23:39:29 +0100

Caros colegas,

 

A questão, verdadeiramente sindical, suscitada pela tomada de posição de alguns arqueólogos da equipa de escavação de Porto Torrão, vem apenas levantar a ponta do véu sobre um problema de enormes proporções que assombra a arqueologia preventiva em Portugal, que é, sejamos claros, a qualidade da prestação de serviços em Arqueologia.

                Enquanto tivermos uma força de trabalho totalmente desarticulada, um mercado que se rege pelo preço mais baixo, com uma regulação pouco mais que nula, será impossível remunerar devidamente os trabalhadores especializados do sector.

                A questão da remuneração não é, como pensam muitos dos principais agentes da Arqueologia nacional, uma questão meramente sindical e económica, mas sim bem mais abrangente e totalmente relacionada com a qualidade do trabalho prestado.

                A exigência de qualidade na prestação de serviços em Arqueologia, e só esta, poderá alterar substancialmente o estado da Arqueologia preventiva.

Que qualidade se pode exigir a um recém-licenciado que trabalha 10 a 12h, num acompanhamento, em frente de uma máquina, e acaba por trazer uns míseros 35 a 45 euros “brutos”/dia?

Mas de igual modo questiono, como remunerar melhor um jovem arqueólogo que mal sabe ler cotas ou compreender o processo tafonómico que originou a estratigrafia que tem que escavar?

Sejamos francos e claros, com as tabelas remuneratórias geralmente apresentadas é impossível garantir, em muitas situações, um trabalho sério e de qualidade, com equipas bem formadas por profissionais com larga experiência. Enquanto o critério for o custo mais baixo, sem se estabelecerem os devidos patamares de qualidade e profissionalismo, não será possível alterar a situação actual.

Questionemo-nos sobre quantas vezes uma escavação arqueológica foi interrompida pela falta de qualidade ou desadequação das metodologias? Quantas vezes uma empresa de Arqueologia teve que arcar com os custos da interrupção de uma obra pela prestação de maus serviços em arqueologia? Serão certamente contadas situações … e todos sabemos que deveriam ter sido muitas mais …

E este não é um manifesto contra as empresas, que apenas reagem às pretensões e possibilidades do mercado … Bem conheço algumas daquelas que se negam a efectuar trabalhos onde os orçamentos impedem uma actuação minimamente profissional ...

Apenas uma actuação mais profunda e exigente das entidades competentes pela gestão da arqueologia nacional poderá alterar este estado da arte, que assola grande parte do trabalho arqueológico nacional.

Quando assim for, veremos que as empresas pagarão melhor, pelos melhores profissionais, ao invés do que agora sucede, que se digladiam pelo recrutamento daqueles que se predispõem a “trabalhar” pelo valor mais baixo.
 
Rui Mataloto
 

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