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Re: [Archport] Injustiças em Arqueologia... ou não?

Subject :   Re: [Archport] Injustiças em Arqueologia... ou não?
From :   António Lopes <o_impertinente@hotmail.com>
Date :   Fri, 6 Nov 2009 23:49:03 +0000

Cara Cláudia!
A situação dos técnicos não andará longe da situação dos licenciados com o sistema de Bolonha. Talvez, até, a dos técnicos seja menos confusa, mas, a legislação é clara e, gostemos ou não, a remessa a que pertencemos (ou, no meu caso, em breve pertencerei como licenciado) só poderá dirigir trabalhos arqueológicos com um mestrado.
Quanto à escavação descrita, as questões de foro pessoal fogem do âmbito desta lista. Já aquilo que diz respeito ao profissionalismo, antes de ser denunciado aqui contra desconhecidos, deve ser comunicado ao I.G.E.S.P.A.R. Se realmente considera que houve negligência nos trabalhos, é a isso que a ética profissional obriga.
Não devemos, no entanto, esquecer que, muitas vezes, o rigor diz respeito ao método e não ao arqueólogo. E se, por exemplo, há profissionais competentes que escavam determinados contextos com metodologias que implicam a localização tridemensional de quase todos os materiais, com definição das várias realidades estratigráficas - horizontais ou verticais, geológicas ou antrópicas -, outros igualmente competentes recorrem a métodos que dão prioridade à relação entre UE's ("open area"). Não será, portanto, motivo de alarme que os fragmentos de cerâmica da mesma UE sejam colocados no mesmo saco. Não é que seja apologista desta metodologia, mas, como acredito na adequação dos métodos ao contexto, perante uma dada realidade, poderá ser a opção mais adequada. Recomendo uma leitura do "Archaeological Site Manual" (MoLas, 1994), disponível em linha, uma obra útil para perceber (embora não tenha sido suficiente para me converter ao "open area") que uma escavação pode ser mais que quadrículas e unidade

From: lazulinha@hotmail.com
To: archport@ci.uc.pt
Date: Fri, 6 Nov 2009 19:36:08 +0000
Subject: [Archport] Injustiças em Arqueologia... ou não?

Sou licenciada em Técnicas de Arqueologia, curso decorrente no Instituto Politécnico de Tomar. Recentemente fui solicitada para trabalhos numa escavação nos arredores de Lisboa, onde reparei não haver o mínimo cuidado com a preservação do sítio arqueológico; tratava-se de uma Anta. Na zona circundante ao Corredor da Anta reparei numa quantidade substancial de "pontos brancos" e, ao aproximar-me, reparei que se tratava de "pancadas" de Pico; ou seja, quem escavou aquela zona, não teve qualquer cuidado em preservar a área, nem mesmo por questões de estética ( para fins fotográficos, que fosse ). A acrescentar a esta primeira impressão que retirei dos trabalhos efectuados no sítio, constatei que, na opinião dos orientadores da escavação, 6 ou 7 peças seriam demasiadas... para lavar. Reparei também que nas etiquetas que normalmente se juntam nos sacos onde se vão guardando as peças arqueológicas, não havia qualquer registo ( fugindo á regra e indo, sim, de encontro ás ordens dos orientadores ) da pessoa que as descobriu; ainda, não sendo por falta de sacos, as peças eram todas guardadas no mesmo saco ( pondo em risco a preservação das mesmas e denotando até uma certa falta de organização e de esmero profissional ).
No meio disto tudo, o que mais me chocou, como Técnica de Arqueologia foi o facto de partirem sempre do princípio que eu não sabia tirar coordenadas ou desenhar e me terem mandado - única e exclusivamente - escavar com o Pico ( para lá da camada de superfície ) sem parar, durante horas ( sendo que, de cada vez que eu me levantava para endireitar as costas, era de imediato chamada á atenção ).
    Por fim, imponho-me só a acrescentar o seguinte:
parecer-vos-á correcta a seguinte conjuntura: Uma escavação com 2 orientadores, 1 técnica de arqueologia e 1 servente de obras; 2 orientadores tiram fotografias, algumas coordenadas, algum desenho; 1 técnica de arqueologia e 1 servente escavam afincadamente com um Pico.
 
E ainda me chamavam de "colega"...
 
Gostaria, portanto, de saber se há razões para haver indignação numa situação destas, ou se é uma situação perfeitamente aceitável, legal e ética. Deixo, assim, a seguinte questão, que acho de suma pertinência: Porque razão ainda somos, os "novos" Técnicos de Arqueologia, equiparados a verdadeiros trolhas? Será preconceito? Será ignorância? Será superioridade?
    É factual que um Técnico de Arqueologia tem aptidões para orientar uma escavação, em toda a sua amplitude; fazer registos, escavar, tirar coordenadas, desenhar, fazer trabalho de laboratório, etc. Porque razão não nos deixam fazer o nosso trabalho e nos mandam "para baixo"? Além disto, os métodos de escavação variam assim tanto, para que existam técnicas em que não se trata o material com esmero? Haverá alguma técnica de escavação em que a dita seja levada a cabo apenas com um pico, apenas com o intuito de descer uns quantos níveis? Não me parece...
    Afinal de contas, que competências nos traz o título de "Técnicos de Arqueologia"? Afinas de contas, de que modo podemos fazer reconhecer o nosso trabalho e a nossa ética?


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