Caro Machado Borges Estou perfeitamente a par da relação do Pigafetta, tal como estou a par de (quase) todas as outras crónicas, anais, narrativas, décadas, lendas e demais narrativas relativas aos Descobrimentos. Há 15 anos que não leio outra coisa. Mais, já andei por quase todos os arquivos e levantei e transcrevi incontáveis manuscritos inéditos relativos aos mesmos. Não sei se isso faz de mim melhor ou pior opinador quanto à personalidade de um português que morreu ao serviço de Castela (e quantos castelhanos não vieram para Portugal e deram bons e leais servidores da coroa portuguesa? Assim, de repente, lembro-me de Alfonso, filho bastardo de Enrique II de Castela, conde de Noroña, que deu origem, por varonia, às casas dos Marqueses de Vila Real, Angeja e Fronteira, entre outras, e vários fronteiros do Norte de África, alguns capitães de naus das Índias, vice-governadores delas, etc.). Mas, é claro, não poderia concordar mais consigo: opiniões são opiniões e valem o que valem. Agora, não posso deixar de opiniar que também acho que, em vez de andarmos a que carpir pela gesta marítima de antanho, haveria que – por exemplo – catalogar, indexar, transcrever, publicar e traduzir (para inglês, francês e espanhol) toda a documentação que existe nos mais variados arquivos nacionais. Aquilo que se passa no Arquivo Histórico Ultramarino, por exemplo, é vergonhoso: não fossem os brasileiros a fazer os índices das caixas do Reino, através do projecto Resgate, e os macaenses os relativos à caixa de Macau, o AHU estaria ainda no mesmo caos que estava. Pior, cada vez que se pede um documento vem-nos às mãos o original, esboroando-se a cada manuseamento, mais e mais – aliás, as caixas estão todas cheias de fragmentos de papel (salva-se neste panorama nacional a Universidade dos Açores que tem vindo a transcrever, indexar e publicar os conteúdos de todas as caixas do fundo Açores, na sua segunda série do Arquivo dos Açores. E já agora, recentrando esta discussão na arqueologia e fugindo ao “fora-de-tópico”, haveria que saber encontrar a vontade política e científica para nos dedicarmos à prospecção e escavação de sítios de naufrágios portugueses – até porque fica claro que o problema da existência de bens subaquáticos de do período dos Descobrimentos nas nossas águas ultrapassa o âmbito dos interesses específicos do país, para se projectar em dois planos de muito mais vastas dimensões: - em primeiro lugar, numa escala mundial, com esses bens a integrar-se num património comum a toda a Humanidade por serem detentores de um valor universal excepcional, cujo estudo e salvaguarda se tem que garantir de modo eficaz. - em segundo lugar, já numa escala nacional, porque esses bens, exactamente por serem os únicos vestígios materiais remanescentes de navios portugueses da época dos Descobrimentos, têm obviamente um interesse relevante para a permanência da identidade da cultura portuguesa através do tempo, integrando de forma indiscutível o património cultural do nosso País – afinal sabe-se hoje mais sobre os barcos gregos ou romanos da Antiguidade Clássica (porque foram localizados e porque foram escavados cientificamente, basta ver o excelente trabalho feito pelo Xavier Nieto na Catalunha) do que sobre os galeões ou caravelas portugueses de há 400 anos atrás. Finalizo, aproveitando a praia-mar de citações: “nós nunca nos realizamos; somos dois abismos - um poço fitando o céu”
From: V.
Machado Borges [mailto:v.m.borges@netcabo.pt]
A sua opinião sobre o valor de Fernão de Magalhães, ou da viagem que empreendeu, nada tem que ver com a catalogação deste importante livro digitalizado. Goste dele ou não, o facto é que está, apesar da sua opinião, indissoluvelmente ligado à história de Portugal.. Este é um facto objectivo, e não uma opinião. Por isso mesmo, deveria ter uma entrada que o permitisse encontrar na base de dados, até por ser referido desde logo no prólogo, por um dos seus companheiros de viagem. Também em todo o livro Portugal e os portugueses são (naturalmente) referidos vezes sem conta o que justificaria a referência. Mas nós gostamos muito de desvalorizar o nosso passado, e a nossa capacidade, passada ou presente... O facto é que na base de dados não há nenhuma colaboração portuguesa. Isso é que nos deveria preocupar, e não a sua opinião sobre o valor de Fernão de Magalhães, ou sobre a importância que para a época teve a viagem de circum-navegação, até no sentido do que hoje chamamos “globalização”, que não era o tema da conversa. Naturalmente que discordo em absoluto da sua opinião, mas isso também não interessa para o caso. Já agora seria útil ler o livro, bem interessante, escrito por um italiano que pagou para ir na viagem, e é um testemunho credível, apesar de alguma dificuldade pela baixa definição. Mas há outras versões na Net. Segundo Pigafetta, Magalhães terá morrido valorosamente em combate, (...”Se não fora aquele pobre capitão nenhum de nós se salvava nem o barco, porque enquanto ele combatia, os outros salvaram-se no batel “...) e afirmar “ morreu na praia” ou “os conhecimentos que adquiriu não foram os suficientes para escapar a uma mão cheia de asiáticos” mostra uma total incompreensão da coragem, da audácia e dos conhecimentos de quem se enfia nuns barquitos e se aventura por mares desconhecidos e povos perigosos, com 256 marinheiros, que foram morrendo pelo caminho, tendo regressado somente 18, entre os quais o autor do livro. E dos cinco navios que partiram, só um completou a viagem. Diria mesmo que mostra uma falta de respeito por toda uma história de assumir riscos e avançar para o desconhecido, por todos os que morreram nessa gesta “dando novos mundos ao mundo” coragem que, de outra forma aliás hoje continua na diáspora. Só a descoberta e travessia em 1520 do estreito que hoje tem o seu nome, tendo sido o primeiro Europeu a fazer essa travessia e a atravessar o Pacífico, mereceria mais consideração. Quanto ao regresso, fez-se por um mundo já conhecido através dos portugueses... Voltando a citar Pessoa: ...
De quem é a dança que a noite aterra? São os Titans, os filhos da Terra, Que dançam da morte do marinheiro Que quiz cingir o materno vulto - Cingil-o, dos homens, o primeiro -, Na praia ao longe por fim sepulto.
Dançam, nem sabem que a alma ousada Do morto ainda comanda a armada, Pulso sem corpo ao leme a guiar As naus no resto do fim do espaço; Que até ausente soube cercar A terra inteira com seu abraço.
Violou a Terra. Mas elles não o sabem, e dançam na solidão; ...
Infelizmente Pessoa tem razão quando dizia: Senhor, a noite veio e a alma é vil. Tanta foi a tormenta e a vontade! Restam-nos hoje, no silencio hostil, O mar universal e a saudade. ... Quanto ao site, é uma louvável iniciativa, apesar de por enquanto ser muito pobre, como podemos ver. Será bom que se faça algo para o desenvolver, e a participação portuguesa será indispensável, tanto mais que temos contribuído significativamente, à medida das nossas capacidades financeiras, para a digitalização de obras importantes. Assim haja apoio do estado às iniciativas pontuais já que não há uma estratégia clara e significativa de política cultural. Não é preciso sermos técnicos BAD, para sabermos das dificuldades com que as instituições se debatem.
From: archport-bounces@ci.uc.pt
[mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] On Behalf
Of Paulo Monteiro
Aparentemente, os conhecimentos que adquiriu não
foram os suficientes para escapar a uma mão cheia de asiáticos nem foram
necessários para que o resto da frota voltasse a Espanha... De: Rui Diz o meucaro amigo Tenente Valentim e muito bem “Logo em 1505 parte para a Índia numa armada comandada por D. Francisco de Almeida. Nos mares do Índico permanecerá oito anos. Acompanha Diogo Lopes Sequeira a Malaca em 1509, naufragando no regresso; participa na conquista de Goa ao lado de Afonso de Albuquerque no ano de 1510; no ano seguinte faz parte do contingente, também liderado por Afonso de Albuquerque, que toma a estratégica cidade de Malaca. Entretanto, ainda no Oriente, estabelece uma relação muito próxima com Francisco Serrão, que veio a ser o feitor das ricas ilhas das Molucas. Através desta amizade e, posteriormente, duma troca epistolar regular tem acesso a informações preciosas, de âmbito cartográfico e geográfico, acerca da localização daquelas ilhas, onde abundavam as especiarias. De volta a Lisboa, em 1513, incorpora nesse mesmo ano as forças que sob o comando de D. Jaime, Duque de Bragança, tomam a praça marroquina de Azamor. Responsável pelos despojos da conquista, é acusado da forma pouco clara como repartiu as "presas".”
Portando os conhecimentos e a experiência adquiridos nada valem???
De: archport-bounces@ci.uc.pt
[mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome de
Paulo Monteiro
Magalhães até poderia ser português mas não vejo
grandes razões para incensar alguém que, mais do que morrer na praia, morreu a
meio da viagem. De: archport-bounces@ci.uc.pt Belo presente de Ano Novo!. Obrigado! A propósito, desejo a tod@s um óptimo ano. O acesso a bibliotecas digitais online, abertas e gratuitas é uma enorme conquista cultural da humanidade. Permite-nos ter acesso directo, imediato, das nossas casas, a tesouros culturais, e só desejo que as bibliotecas e centros de documentação nacionais, apesar de terem de lutar contra a conjuntura actual desfavorável, colaborem sem reservas nesta “publicação” mundial e marquem a nossa presença. Infelizmente, se entrarem por “Espanha” encontrarão o “Diário da Viagem de Magalhães” (referido aliás na mensagem) que está classificado como “Espanha” “Itália” “Mundo” Filipinas” ... e não tem uma entrada por “Portugal”. Mas se abrirem (com o excelente visualizador) na pág. 13 linha 3 e na pág. 14 linha 11 lerão claramente (apesar das imagens terem baixa resolução – outros docs têm resolução bem maior) nessas duas primeiras páginas de texto a indicação da nacionalidade portuguesa de Fernão de Magalhães... Das 50 entradas com referência a Portugal, nenhuma tem origem na colaboração nacional – nenhuma biblioteca referida é portuguesa... Felizmente há Brasil, para defender e divulgar a língua e a cultura lusas! Há 13 entradas pelo menu, mas 50 pela “pesquisa”, pela palavra Portugal. Há muitos outros documentos portugueses, mas referenciados por Angola, Moçambique, etc. a grande maioria da Biblioteca Nacional do Brasil. Estive lá este ano, bem como no Gabinete Português de Leitura, e a preservação e defesa da língua portuguesa é de facto hoje essencialmente feita pelos países de expressão lusa, principalmente o Brasil, mas Timor, tão longe, também nos dá uma lição de portugalidade... Senhor, a noite veio e a alma é vil. Tanta foi a tormenta e a vontade! Restam-nos hoje, no silencio hostil, O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós creou, Se ainda ha vida ainda não é finda. O frio morto em cinzas a occultou: A mão do vento póde erguel-a ainda.
Dá o sopro, a aragem – ou desgraça ou ancia-, Com que a chamma do exforço se remoça, E outra vez conquistemos a Distancia – Do mar ou outra, mas que seja nossa!
Abraços, VMB
PS – da edição “clonada” da Mensagem, recentemente lançada pela Guimarães Editora e exclusiva da FNAC, e que é preciosa.
From:
archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] On Behalf Of José d'Encarnação
Olá, Amiga(o)!
Divulgo tal como recebi, porque se me afigura de todo o interesse. Perdoe-me se não tento uma formatação adequada; mas creio que está compreensível.
J. d'E.
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