Alandroal
quer recuperar o culto endovélico
Público, 11/06/2010, por Maria Antónia Zacarias
Município
aposta em projectar importante legado histórico como produto turístico
Regressar a um passado
longínquo, onde um dos mais conhecidos deuses da Lusitânia foi venerado, é o
desafio da Câmara Municipal de Alandroal, no distrito de Évora. A iniciativa
Por Terras do Endovélico visa recuperar este legado histórico e afirmá-lo como
um produto turístico.
Eventos culturais, desportivos e de lazer, como música celta e cinema,
palestras sobre a temática e ainda uma mostra gastronómica, destacando algumas
receitas e ingredientes da época, serão alguns dos atractivos da iniciativa. Estão
ainda previstos descontos no alojamento em unidades hoteleiras aderentes,
possibilitando a todos os visitantes pernoitar no concelho "plantado à
beira do Alqueva", como nota o presidente da autarquia, João Grilo,
acrescentando que, assim, se poderão desvendar "os últimos segredos que o
Alandroal tem ainda por revelar".
A partir de 19 de Junho, durante nove dias consecutivos, vai ser possível
realizar percursos pedestres de visita aos locais que pretendem mostrar um
pouco da rota da antiga peregrinação pré-clássica, acompanhar o trabalho dos
arqueólogos que estudam a divindade. Segundo o autarca, a iniciativa permitirá
"apreciar locais de rara beleza paisagística e de relevante interesse
histórico como são a Rocha da Mina e o Santuário de São Miguel da Mota",
alegados espaços do culto endovélico.
O presidente da câmara explica querer relançar este tema não só para atrair
novos visitantes, mas também junto da comunidade local. "Entendemos que é
importante que também dentro do concelho haja um maior conhecimento e uma maior
apropriação desta veneração que tivemos no passado e que, hoje, está afastada
do imaginário dos nossos munícipes, apesar de ser um dos nossos factores
identitários", sublinhou.
A adoração endovélica, que teve o seu apogeu há dois mil anos, foi-se perdendo
e transformando pela cultura cristã, mas algumas manifestações mais pagãs
permaneceram, embora de forma muito residual. Segundo João Grilo, toda a zona
de São Miguel da Mota e da ribeira do Lucifécit tem um imaginário, uma
religiosidade e uma espiritualidade muito próprias, que "passou para as
pessoas que vivem no concelho e que ainda está patente em algumas das
manifestações culturais" da região. Embora admitindo ser um pouco
especulativo, o presidente do município avança existirem vestígios de uma
importante peregrinação a São Miguel da Mota a pretexto do culto endovélico,
"que inclusivamente atraía pessoas de Mérida". E aponta a curiosidade
de se manter no concelho uma peregrinação, desta vez católica, ligada à Senhora
da Boa Nova que ainda hoje é uma das mais importantes manifestações e romarias
do Alentejo.
Tendo em conta a aposta neste elemento cultural diferenciador, a autarquia está
a preparar, juntamente com o Museu Nacional de Arqueologia, uma exposição
conjunta do espólio encontrado nas escavações arqueológicas no monte de São Miguel
da Mota, prevendo-se que a mostra possa vir a ser visitada em Lisboa e no
Alandroal.
PAULO ALEXANDRE MONTEIRO
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