Re: [Archport] Digest Archport, volume 83, assunto 17
Concordo perfeitamente Professor Carlos Fabião.
Que mais Côas apareçam para evoluir, desenvolver e dinamizar a nossa
Arqueologia!!
2010/8/7, archport-request@ci.uc.pt <archport-request@ci.uc.pt>:
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> 1. REF: Re: "Porque é que me pergunta pelos visitantes?"
> (Alexandre Monteiro)
> 2. Viva o Museu do Côa!!! (Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabiao)
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>
> Message: 1
> Date: Fri, 6 Aug 2010 12:42:28 +0100
> From: Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com>
> Subject: [Archport] REF: Re: "Porque é que me pergunta pelos
> visitantes?"
> To: Antonio Martinho Baptista <ambaptista1950@sapo.pt>, ARCHPORT
> <archport@ci.uc.pt>
> Message-ID: <4c5bf524.42ecd80a.47d7.2e57@mx.google.com>
> Content-Type: text/plain; charset="iso-8859-1"
>
> Excelente, a Carta da Maria José de Almeida à Directora do Público, saída na
> edição de hoje deste jornal.
>
> Enviado do meu HTC
>
> ----- Mensagem Original -----
> De: Antonio Martinho Baptista <ambaptista1950@sapo.pt>
> Enviado: quinta-feira, 5 de Agosto de 2010 20:39
> Para: ARCHPORT <archport@ci.uc.pt>
> Assunto: Re: [Archport] "Porque é que me pergunta pelos visitantes?"
>
> Cara Maria José Almeida (e demais archportianos)
>
> Pois a mim nada me custa dizê-lo, mas Helena Matos não tem (nem
> parcialmente) razão. Porque a uma inimiga de estimação do Côa não se lhe
> poder dar qualquer pingo de razão. Porque todos os argumentos que lhe vamos
> ouvindo e lendo por aí, são sempre contra o facto político e económico e
> cultural e honroso para o país que foi o cancelamento da barragem em finais
> de 1995. Nunca uma opinião ou argumento lhe ouvi em defesa do excepcional
> património rupestre do Côa. Que os terá! Ou pensa-se que os políticos de 95
> iam tomar tais decisões apenas pressionados por um imaginário bando de
> maltrapilhos paleolíticos, como verrinosamente nos classifica um tal de Mira
> Amaral? Por isso, como é usual no debate político (pois também é disso que
> se trata), nunca se pode dar razão (ainda que meia) ao adversário.
> Mas tu tens razão no teu argumentário, porque a minha resposta à 155ª vez
> (!!!) que me fizeram essa pergunta, não podia deixar de ser outra.
> Mas deixa-me acrescentar algo ao que foi publicado. Estava eu a tentar
> encetar o ataque a uma taça de arroz doce (confesso-me um indígena que se
> tornou guloso com a idade) quando me aparece (sem prévia combinata) a
> simpática jornalista do Público. Nunca por nunca deixei um jornalista sem
> resposta e enquanto terminava o repasto lá fomos falando. E a minha
> resposta-pergunta teve um pouco do espírito que o jornal transmitiu. Mas
> tinha mais. Perguntava-lhe também quem teria sido o autor desse número
> imaginário que durante anos foi de 200.000 e agora é de 300.000 e sei que
> números assim não podem ser atirados ao ar sem termos estudos de mercado que
> os suportem e eu sinceramente não conheço nenhum com credibilida
>
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>
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>
> Message: 2
> Date: Fri, 6 Aug 2010 17:12:17 +0100
> From: Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabiao <cfabiao@fl.ul.pt>
> Subject: [Archport] Viva o Museu do Côa!!!
> To: "archport@ci.uc.pt" <archport@ci.uc.pt>
> Message-ID:
> <02C89D92308C7F4BBE0FBD47A73449D7C662FC1D10@UL-MBCLUSTER01.ul.pt>
> Content-Type: text/plain; charset="Windows-1252"
>
> Caros Amigos:
> Tenho assistido com interesse, mas com alguma perplexidade a todo este
> debate em torno da recente inauguração do Museu do Côa.
> Em primeiro lugar, cumpre-me afirmar que só mesmo com o maior regozijo
> poderemos (e deveremos) encarar este ponto de um processo de há muito
> iniciado e que, infelizmente, só agora alcançou esta etapa fundamental. Não
> percebo como é possível esquecer que de aqui, do Côa, partiu a grande
> renovação da arqueologia portuguesa.
> Será talvez um bom momento para reflectirmos sobre o que correu bem e menos
> bem em todo este processo.
> Em primeiro lugar, a paragem da construção da barragem e a opção pela
> criação do Parque Arqueológico do Côa constituiu uma feliz coincidência
> (embora efémera) de múltiplos factores. Estava em fim de ciclo o
> Primeiro-Ministro Cavaco Silva, estava em ascensão no principal partido da
> oposição um homem culto e consumidor de Cultura (aspecto nada despiciendo) e
> um homem oriundo do interior do país e, como tal, profundamente conhecedor
> dos bloqueios próprios desse mesmo interior e com ideias interessantes para
> a sua superação. Tinha também esse partido, na área da Cultura, aquele que
> foi, no meu entender, o único verdadeiro Ministro da Cultura que existiu em
> Portugal (e não me estou a esquecer de ninguém antes e depois de Manuel
> Maria Carrilho).
> Como sou historiador de formação (e provavelmente um pouco mais antigo do
> que muitos dos leitores deste fórum) começo por lembrar um par de factos,
> que me parecem relevantes, sobretudo porque espantosamente esquecidos dos
> nossos jornalistas e ?opinion makers?:
>
> 1. Antes de se ter encontrado uma única gravura rupestre no Vale do
> Côa, havia já uma forte movimentação e mesmo um abaixo-assinado
> internacional contra a construção da barragem, pelo impacte que a mesma
> poderia ter no Douro vinhateiro, em geral, e na Quinta da Ervamoira, em
> particular, liderado pela Casa Ramos Pinto:
>
> http://www.fortheloveofport.com/profiles-in-port/ramos-pinto
>
>
>
> 2. A decisão política de travar a barragem e de pensar uma estratégia
> global de desenvolvimento para o vale do Côa foi efectivamente lançada e
> inclusivamente criado um Programa operacional (Procôa) para potenciar de um
> modo sistémico os recurso locais, em articulação com a sua riqueza
> arqueológica:
>
> http://naturlink.sapo.pt/article.aspx?menuid=20&cid=1879&bl=1
>
>
>
> 3. A Classificação do Vale do Côa como Património da Humanidade foi um
> processo célere decorrente dos sólidos estudos científicos e técnicos então
> elaborados e não uma acção de lóbi de arqueólogos portugueses (só mesmo um
> louco poderá supor que os arqueólogos portugueses teriam capacidade para uma
> tal acção a nível internacional)
>
> http://whc.unesco.org/en/list/866
>
> http://whc.unesco.org/en/news/512
>
>
> 4. O facto de o Vale do Côa ser um dos locais portugueses
> classificados como Património Cultural da Humanidade é algo que nos deveria
> encher de orgulho e que constitui (também) um inestimável valor económico.
>
> Posto isto, importa perguntar o que não terá corrido bem no processo Côa - e
> é evidente que muita coisa não correu bem, os links acima indicados são
> meramente ilustrativos, mas, em um deles, podemos ler a previsão da tão
> aguardada abertura do Museu do Côa para 2006?
>
> O que não terá corrido bem:
>
> 1. Creio que houve um evidente ?adormecimento? do processo Côa, após a
> criação do PAVC. Os arqueólogos e os responsáveis do Parque não entenderam
> devidamente o mundo em que vivem e não cuidaram de alimentar regularmente os
> media com o tema do Vale do Côa ? só mesmo a título de exemplo, veja-se como
> Atapuerca sabe lidar bem com essa necessidade de constantemente mediatizar
> as realidades arqueológicas?
>
> 2. Mas, sobretudo, o que falhou no Côa foi a sociedade civil. Quando
> se vai a V. N. de Foz Côa não há hotelaria para acolher visitantes, não há
> restauração abundante e de qualidade, não há outras actividades que permitam
> potenciar comercialmente o local. Tudo isso não é responsabilidade dos
> arqueólogos, mas penso que não deverá, em nenhuma circunstância, ser
> esquecido pelos arqueólogos, porque o fracasso como potenciador do
> desenvolvimento económico local do PAVC acaba por se reflectir nas
> actividades, orçamentos e projectos do mesmo.
> Quanto ao mais, podem alinhar-se uns quantos argumentos que objectivamente
> rebatem aqueles que nos media têm sido apresentados.
>
> 1. Só há 20000 visitantes no Parque?... E quantos visitantes teria V.
> N. de Foz Côa se não houvesse o Parque?
>
> 2. O valor económico?... Quanto vale um Património e um equipamento
> capaz de criar emprego e desenvolvimento local numa região deprimida e
> despovoada do Interior Português, sem outras alternativas visíveis?
>
> 3. Alternativas económicas de preclaros especialistas?... De quem?...
> Do Engenheiro Mira Amaral, estrénuo defensor da barragem, que preconizou, um
> dia, a utilização maciça do eucaliptal, porque o eucalipto seria o nosso
> ?petróleo verde??... Poderemos imaginar como estaria hoje o país se tivessem
> dado ouvidos ao visionário engenheiro.
> Já agora, especialista por especialista, prefiro o Michael Porter, que
> sempre é Professor na Harvard Business School e que, entre outras coisas,
> definiu os ?clusters? da vini-viticultura e do Turismo, como duas das áreas
> estratégicas para o desenvolvimento económico de Portugal. Como facilmente
> se compreende dois evidentes potenciais de Foz Côa, do Foz Côa do Parque e
> Museu, não de Foz Côa com barragem:
> http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/edicion_impresa/politica/pt/desarrollo/1060967.html
> http://www.viniportugal.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=12&Itemid=27
> Análise económica é isto, ou seja, trabalhar com um feixe diversificado de
> variáveis, não é decidir entre fazer barragens ou conservar arte rupestre?
> Voltando ao ponto de partida, o que terá falhado então no processo do Côa,
> se os poderes públicos criaram um Parque, se criaram um Programa de
> Desenvolvimento Integrado (Procôa) e se agora até inauguraram um Museu?
> Claro que o Museu chegou tarde, muito tarde, por ter perdido toda a onda
> mediática das gravuras do Côa, veja-se como tem evoluído o número de
> visitantes no local, desde 1996 até hoje?
> Falhou, a sociedade civil, particularmente, diria, o sector empresarial do
> Turismo. Justamente um dos tais ?clusters? fundamentais identificados pelo
> Professor Porter, mas desgraçadamente gerido por gente de pouca visão e
> ambição. E este sector falha não só no Côa, mas em todo o país, veja-se a
> polémica suscitada pelo Programa Allgarve (um nome que, em si, é já um
> verdadeiro manifesto) do presente ano, onde os museus locais estão ausentes:
> http://www.publico.pt/Cultura/regionalizacao-do-algarve-comeca-pelos-museus-sem-pedir-licenca-ao-governo_1435171
> Sobre a oferta de camas e restauração em V.N. de Foz Côa veja-se o
> expressivo panorama:
> http://viajar.clix.pt/dormir.php?c=142&lg=pt&w=vila_nova_de_foz_coa_hoteis
> (cinco unidades, entre as quais um parque de campismo e dois
> restaurantes!!!... Aqui para nós, se fôssemos turistas de fim de semana com
> vontade de conhecer as gravuras será que nos sentíamos atraídos por um lugar
> com esta oferta?)
> Falha também, como não poderia deixar de ser, o poder político, incapaz de
> delinear estratégias coerentes no domínio da Cultura e da sua articulação,
> por exemplo, som o Sector do Turismo, tal como falhou no incompreensível
> atraso na criação do Museu, um equipamento indispensável pelas fortes
> condicionantes de visita ao vale propriamente dito.
> Falham em geral as nossas elites ou até mesmo a sociedade no seu todo? Por
> terem níveis de consumo de produtos culturais incompreensíveis.
> Todos nós conhecemos pessoas que não perdem uma (ou mais) ida ao teatro,
> sempre que vão a Londres, mas que em Portugal não põem os pés numa sala,
> sabemos também que, por países, Portugal é o segundo lugar de origem dos
> visitantes do Museo Nacional de Arte Romano, em Mérida, mas os museus
> portugueses têm os tais números exasperantes.
> Os nossos governantes e as nossas elites não são consumidores de cultura e,
> por isso mesmo, não sentem sequer a necessidade da sua existência, muito
> menos de a apoiar (o Engº Guterres terá sido a grande excepção destes
> últimos anos, tal como Durão Barroso, que pouco tempo cá esteve).
> Os media são também, neste particular, deploráveis, cada vez mais centrados
> na pequena intriga política e no mexerico baixo, quando não no mais sórdido
> sensacionalismo. Sobre a capacidade de informar desses media, basta lembrar
> que durante anos a fio todos os órgãos de comunicação social falavam,
> falavam a tornavam a falar das ?pinturas rupestres? do Côa. E não deixa de
> ser curioso como o Vale do Côa suscita tantos ódios acesos entre os chamados
> "opinion makers"...
> Neste cenário adverso, em que populações, mas sobretudo poderes públicos e
> investidores privados, não sentem necessidade de ter museus, teatros,
> exposições, livros, etc.; e onde se não pode contar com qualquer efeito
> positivo de pedagogia cívica dos media, os arqueólogos não podem de todo
> descurar as acções directas de divulgação e promoção do património
> arqueológico, sob pena de se confinarem irremediavelmente a um gueto cada
> vez mais povoado, é certo, mas cada vez mais apertado também.
> Neste cenário, em vez de estarmos a discutir detalhes, bem poderíamos cerrar
> fileiras no aplauso ao Museu do Côa ou, como diria o de há muito falecido
> camarada Mao Zedong, Que Mil Côas Floresçam na Arqueologia Portuguesa!!!
>
> Carlos Fabião
>
>
> ------------------------------
>
> _______________________________________________
> Archport mailing list
> Archport@ci.uc.pt
> http://ml.ci.uc.pt/mailman/listinfo/archport
>
>
> Fim da Digest Archport, volume 83, assunto 17
> *********************************************
>