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Re: [Archport] Como destruir um parque arqueológico nacional por 60 milhões de euros

To :   "Francisco Sande Lemos" <sandelemos@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] Como destruir um parque arqueológico nacional por 60 milhões de euros
From :   "Paulo Monteiro" <pmonteiro@ntasa.pt>
Date :   Thu, 27 Oct 2011 09:05:25 +0100

A União, Quinta-Feira, dia 27 de Outubro de 2011

EDITORIAL

Um cais de cruzeiros sem olhar para São Miguel

Um cais de cruzeiros, acompanhado por um investimento de 60 milhões de euros. Se juntarmos a localização – Angra do Heroísmo, a linha de raciocínio encaminha-se para uma conclusão aparentemente óbvia: excelente notícia para a ilha Terceira.

Porém, as aparências também podem iludir raciocínios. O cais de cruzeiros não é uma questão linear desde o seu início.

Quando se perspectivava uma discussão pública, com o consequente enquadramento técnico, sobre a sua localização (Angra do Heroísmo ou Praia da Vitória), Carlos César determinou Angra e todas as restantes vozes remeteram-se ao silêncio.

Decorreu um longo tempo (que até permitiu a criação da ideia de que o cais de cruzeiros passaria à história, ou pelo menos ficaria congelado, face aos tempos de vacas esqueléticas), até que o secretário da Economia apresentou um projecto “aberto a sugestões de alteração”.

Vasco Cordeiro (que também é o cabeça de lista socialista às próximas eleições regionais) deixou ainda claro que o início da obra não acontecerá nesta legislatura, pormenor que permite desenvolver leituras políticas, no mínimo, curiosas.

Para já, sabe-se então que o cais de cruzeiros representa um investimento de 60 milhões de euros, sem as mais do que prováveis derrapagens financeiras, as quais, é bom que se note, não são assumidas por Bruxelas.

Espera-se ainda por estudos financeiros que fundamentam, de forma clara, a aposta no turismo de cruzeiros por estas paragens. Quantos barcos por ano? A permanência média dos turistas em terra permitirá a criação de mais-valias evidentes para o comércio local? Uma rede de cruzeiros no arquipélago (com escalas em Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta) será atractiva em termos turísticos?

Um pormenor: em Ponta Delgada, os empresários com lojas nas Portas do Mar, com localização privilegiada em relação aos turistas dos cruzeiros, não conseguem pagar as rendas.

Uma questão/alerta para o futuro: os custos da manutenção do cais de cruzeiros de Angra já estão quantificados?

Sem entrar (até por falta de capacidade) em pormenores técnicos sobre o projecto que está em fase de discussão pública, facilmente se percebe que é a derradeira machadada no visual na outrora bela baía angrense, bem como a proximidade, eventualmente excessiva, do parque arqueológico subaquático.

Já agora, com um investimento tão avultado, restará dinheiro para outras obras na ilha Terceira nos próximos planos e orçamentos da Região? Por exemplo, no domínio das infraestruturas portuárias, o Porto Oceânico da Praia da Vitória necessita de melhoramentos valentes.

Esperamos apenas que o debate em torno do tema não seja sintetizado pela costumeira argumentação de que “deve ser construído um cais de cruzeiros na Terceira porque São Miguel também tem um”. Todos já demos para este peditório.

 

 

http://www.auniao.com/noticias/ver.php?id=25766

 

 

 

 

 

 

From: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] On Behalf Of Francisco Sande Lemos
Sent: 26 October 2011 02:30
To: Alexandre Monteiro
Cc: archport
Subject: Re: [Archport]Como destruir um parque arqueológico nacional por 60 milhões de euros

 

O que desejo é que lute com maior energia contra políticos para os quais já não adjectivos possíveis, mas que devido à toleima (de que se orgulham) ou interesses escondidos destroem o país.

Oxalá as iniciativas que enumerou produzam resultado.

 

Saudações,

 

Francisco Sande Lemos 

 

2011/10/26 Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com>

 A APA interpelou por escrito o Governo Regional - suponho que nunca recebeu resposta.

 

Por outro lado, espero que o anúncio público deste projecto se faça finalmente - é que desse modo fica justificada a minha ida ao Ministério Público, para apresentar queixa por violação de vários diplomas e enquadramentos legais. Mais ainda: finalmente darão entradas nas duas Assembleias Legislativas, a Regional e a Nacional, duas petições contra esta obra, reunidas que estão já as assinaturas legalmente exigidas. 

 

Em todo o caso, é de lamentar que, a contra-gosto, este Governo lapuz e medíocre me obrigue, com esta toleima, a tomar atitudes que provocam graves danos à imagem desta  Região Autónoma (pretensamente, uma região amiga do ambiente, auto-sustentável,  rica em belezas naturais e parca em cimento, lixo e terceiro-mundismo): é que não só há uma petição/queixa a decorrer no Parlamento Europeu como ainda lhes vou malhar forte e feio no próximo simpósio da UNESCO em Bruxelas, onde precisamente vou apresentar este caso como aquilo que não se deve fazer em termos de gestão do património cultural subaquático:

 

Abstract: Angra bay - the Azorean harbour that served Angra city, an UNESCO World Heritage Site renowned since the Age of Discoveries – is no larger than 10 soccer fields. In spite of having such a diminute area, at least 96 shipwrecks have occurred there between 1522 and 1998  - the majority of them Portuguese and Spanish ships coming back from the India or the New World.

Plundered by treasure hunters in 1972, threatened by commercial salvage activities between 1993 and 1996, mutilated by a marina in 1998, Angra bay was turned into a classified underwater archaeological preserve in 2005. In spite of that, the bay is now slated to be the location of a Transatlantic Cruising Ship Pier – a move that will impact the scores of historical wrecks still to be discovered under it’s sandy bottom way beyond any mitigation measures that might be taken.

The case of Angra bay, as well as several others that will be quoted, is a fine example of how the fundamental protection of underwater cultural heritage is not carved in stone and how nautical archaeologists must have their voices heard in “what development?”, “where?” and “at what cost?” discussion.

 

http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/CLT/pdf/Agenda%20scientific%20Colloquium%20EN_02.pdf

 

 

Uma coisa aprendi eu, na luta contra os caçadores de tesouros: é que, se uma pulga não pára um comboio, pode encher de comichão o maquinista.

 

_ _

Alexandre Monteiro

Instituto de Arqueologia e Paleociências (UNL/UAlg)

Av. Berna 26C

1069-061 Lisboa

Portugal

 

 

 

Em 26 de outubro de 2011 01:45, Francisco Sande Lemos <sandelemos@gmail.com> escreveu:

 

Qual é o sentido da discussão pública de um projecto que não se vai iniciar nesta legislatura. 

Políticos do continente e das ilhas não aprendem. Gasta-se dinheiro e energia a discutir uma obra que talvez nunca se concretize por falta de dinheiro.

 

Propaganda política?

 

De qualquer modo a Associação dos Arqueólogos Portugueses e a Associação Profissional de Arqueologia deviam interpelar de forma acutilante o Governo Regional dos Açores, lançando uma campanha contra a obra, emitindo comunicados conjunto, solicitando uma audiência ao Secretário de Estado da Cultura, promovendo um debate público sobre gastos excessivos em tempo de crise e destruição paralela dos recursos endógenos com valor turístico.

 

Aliás é um verdadeiro insulto aos contribuintes portugueses pois que não há segundo a notícia qualquer estudo de mercado: "O documento apresentado não disponibiliza o estudo de mercado e, por isso, não são avançadas estimativas quanto ao número de cruzeiros que poderão aportar no terminal, nem de passageiros que poderão desembarcar em Angra do Heroísmo"

 

Nem uma análise SWAT sabem fazer?

 

Saudações,

 

Francisco Sande Lemos 

2011/10/26 Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com>

 

Cais de Cruzeiros custa 60 milhões (Geral)


Diário Insular, Terça-Feira, dia 25 de Outubro de 2011

 

As estimativas para o terminal de cruzeiros de Angra do Heroísmo apontam para um custo de cerca de 60 milhões de euros, disse ontem a DI o secretário regional da Economia.   

 

Ainda assim, de acordo com Vasco Cordeiro, o custo final dependerá das alterações que possam vir a ser feitas no projeto agora apresentado.   

 

Em declarações ao nosso jornal, o responsável adiantou que a obra não avança ainda nesta legislatura, sendo que neste momento decorre o período de discussão pública do projeto.       

 

PROJETO   

 

O projeto idealizado para o terminal de cruzeiros de Angra do Heroísmo inclui um cais com um comprimento de 350 a 400 metros, fundos de serviço com -12 metros (ZH), uma plataforma de apoio de 20 metros de largura, um terrapleno de 20.000 m², uma rampa para navios ferry roll on-roll off e uma gare que servirá os passageiros do terminal de cruzeiros e o transporte de passageiros inter-ilhas.  

 

A solução de arranjo geral adotada deve ser concebida da forma a minimizar os problemas de agitação na marina e no saco do Porto das Pipas, reforçar a proteção marítima do Porto das Pipas, garantir a circulação automóvel e o parqueamento em todo o terrapleno e melhorar o ordenamento da área molhada da marina.   

 

O cais de cruzeiros ficará, assim, apto para receber navios de cruzeiro com um comprimento de 300 metros, boca de 35.5 metros, calado de 8.5 metros e deslocamento de 65.000 toneladas.   

 

Os navios ferry que aportarem em Angra do Heroísmo poderão ter 120 metros de comprimento, boca de 22 metros, calado de 4.5 metros e 6.200 toneladas.   

 

"O que nos interessa neste momento é a funcionalidade do projeto, aquilo que é colocado como solução, de forma dotar o cais de todas as condições para afirmar-se não só na Terceira, mas também noutras ilhas dos Açores", afirmou o secretário regional da Economia.   

 

O documento apresentado não disponibiliza o estudo de mercado e, por isso, não são avançadas estimativas quanto ao número de cruzeiros que poderão aportar no terminal, nem de passageiros que poderão desembarcar em Angra do Heroísmo.

 

Ainda assim, Vasco Cordeiro assegura que com esta infraestutura o número de cruzeiros a parar nos Açores vai aumentar significativamente. 

 

VASCO CORDEIRO SOBRE O CAIS DE CRUZEIROS DE ANGRA DO HEROÍSMO

 

"Estamos totalmente abertos  a sugestões para alteração do projeto"   

 

O secretário regional da Economia disse estar disponível para acolher sugestões e críticas ao projeto do terminal de cruzeiros de Angra do Heroísmo.

  

"Estamos interessados na recolha do contributo dos angrenses, das suas apreciações e das suas críticas, relativamente ao cais de cruzeiros de Angra do Heroísmo. Estamos totalmente abertos a sugestões para alteração do projeto", disse Vasco Cordeiro a DI.   

 

É neste sentido que a Direcção Geral dos Portos da Terceira e Graciosa apresenta hoje, às 20h30 no pequeno auditório do Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo, a "Elaboração do projeto de execução, do estudo de impacte ambiental e das peças processuais para a execução da empreitada de construção do terminal de cruzeiros de Angra do Heroísmo".   

 

A apresentação aborda as questões da prestação de serviços, condições base a que deverá obedecer o terminal de cruzeiros, condições naturais, condições de abrigo e obras a fazer.   

 

O projeto hoje apresentado teve em conta, aliás, as opiniões produzidas nos encontros promovidos pelo Instituto Histórico da Ilha Terceira.   

 

"Os debates do Instituto tornaram claras preocupações com o enquadramento funcional  do terminal, pelo que, numa fase prévia do projeto, foram pedidas as conclusões que influenciaram o projeto", sustentou Vasco Cordeiro.       

 

O projeto vai estar depois disponível para consulta nos portos de Angra e da Praia. 

 

"Se alguma entidade pretender esclarecimentos mais profundos, estamos disponíveis para dar conta do processo", adiantou o secretário regional da Economia.

 

 

 

 

 

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