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[Archport] A PROPÓSITO DO MUSEU REGIONAL DE BEJA

To :   "museum" <museum@ci.uc.pt>, "archport" <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] A PROPÓSITO DO MUSEU REGIONAL DE BEJA
From :   José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>
Date :   Fri, 17 Feb 2012 16:36:23 -0000

 

Ecce Homo

 

Antes de lavar as mãos e de O entregar aos seus próprios, Pôncio Pilatos terá recebido Jesus com as palavras:  “eis o homem”.  O tipo de quem se fala.  Desnudado.  Humilhado.  Acorrentado.  Esfacelado por uma coroa de espinhos:  “eis o homem”.  Uma simples expressão de circunstância que o Evangelho, segundo São João, perpetuou.  E que a própria Igreja se habituou, desde os seus primórdios, a atribuir às representações artísticas em que o Nazareno aparece em pleno flagelo:  “eis o homem”.  No Museu Regional de Beja existe um dos mais intrigantes e misteriosamente belos Ecce Homo que a humanidade pode contemplar.  Trata-se de um retrato a óleo, sobre tábua, da escola primitiva portuguesa.  Uma representação em estilo gótico onde Cristo aparece sob um imaculado manto branco que lhe cobre a cabeça até aos olhos, mas que Lhe desnuda o torso.  As mãos, cruzadas à frente, estão atadas pela mesma corda que Lhe circunda o pescoço.  É uma obra, arrepiante, esta.  Onde a tranquila harmonia do traço se confunde com o gritante sofrimento do Retratado, misteriosamente.  Mas este é apenas um dos muitos tesouros que a colecção de pintura do Museu guarda.  Como tesouros incomparáveis existem nas demais colecções que o telhado do convento de Nossa Senhora da Conceição ainda vai abrigando.  O Museu Regional de Beja tem um acervo impar e riquíssimo.  Que pertence a todos nós.  E que está em vias de ser encerrado por incumprimento orçamental por parte da Câmara Municipal de Beja.  O Museu é propriedade da Assembleia Distrital, mas está em Beja.  Todas as autarquias do distrito devem contribuir para a sua preservação e valorização.  Mas deve caber ao município bejense o grosso da sua sustentação.  O Museu é um orgulho para a cidade e não um peso.  E aquele que hoje ousar lavar dali as mãos, como em tempos o fez o administrador romano de Jerusalém, ficará igualmente para a história da infâmia.  Mas, ao contrário de Pilatos, na ocasião certa, serão as pessoas a apontar e a exclamar:  “eis o homem”...

 

 

 

 

Editorial de Paulo Barriga, in “Diário do Alentejo”, 17/02/2012.

 

 

 


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