Re: [Archport] IGESPAR: Portal do Arqueólogo
Mas é esse investimento que deve ser feito.
Por isso se lhe chama investimento e não despesa. Os seus resultados não
serão apenas no campo do "armazenamento" da informação, mas na
própria capacidade e qualidade de resposta dos serviços públicos. Creio
que é isso que tem sido feito em vários serviços de vários ministérios:
plataformas poderosas e seguras para as finanças ou segurança social. Também
há as que correm mal, como costuma acontecer com a Educação em altura de
concursos, o que, contudo, se relaciona normalmente com congestionamentos
de tráfego que dificilmente ocorreriam no Igespar. Mas o caminho é este
e há que olhar não apenas para o momento e para o curto prazo, mas pelo
menos a médio prazo. Isto para não estarmos sempre a mudar de soluções
ou simplesmente para nem sequer iniciar uma mudança (mudar não é coisa
fácil neste país). De qualquer forma, um acumular de relatórios em papel
em breve estará (se é que não está já) a gerar o mesmo problema dos
materiais arqueológicos: já não há espaço para os armazenar e o problema
não está a ser abordado de frente. Não podemos "desmaterializar"
os materiais arqueológicos (pois eles são "o conteúdo") e, portanto,
esse assunto requer outras soluções. Mas, pelo contrário, já temos alternativas
relativamente ao suporte em que inscrevemos os nossos discursos.
E se o suporte em papel ainda tem uma
dignidade social superior ao suporte digital, até porque permite uma experienciação
distinta da leitura, os seus custos não devem ser tratados como coisa irrelevante.
Muitas revistas passaram de papel para digital para poderem continuar a
publicar. Outras passaram a editar parte em digital. Outras passaram responder
a procuras maiores, não aumentando a edição, mas criando uma versão digital.
Muitas outras nascem todos os dias já só com formato digital. Naturalmente
o documento escrito não está em vias de desaparecer e o livro muito menos.
Mas certo tipo de documentos e certo tipo de livros sim. Na minha opinião
os relatórios arqueológicos deveriam ser deste último tipo. Se há condições
para que isso se possa fazer agora? Não sei, talvez não. Mas deveria actuar-se
para que fosse possível no médio prazo e com isso evitar soluções apressadas
de última hora, quando os arquivos rebentarem pelas costuras (em espaço
e custos públicos).
António Carlos Valera
Direcção do Núcleo de Investigação Arqueológica - NIA
ERA Arqueologia SA.
Cç. de Santa Catarina, 9C,
1495-705 Cruz Quebrada - Dafundo
antoniovalera@era-arqueologia.pt
www.era-arqueologia.pt
"Jorge Raposo - C.M.
Seixal" <jorge.raposo@cm-seixal.pt>
Sent by: archport-bounces@ci.uc.pt
07-05-2012 15:01
|
To
| "archport@ci.uc.pt" <archport@ci.uc.pt>
|
cc
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Subject
| Re: [Archport] IGESPAR: Portal do Arqueólogo |
|
Boa tarde:
A organização, divulgação
e preservação da informação documental associada à prática arqueológica
é um assunto que merece discussão neste e noutros fóruns profissionais.
Mas, como seria de esperar, essa discussão não é simples, dada a grande
complexidade técnica do tema, tanto no plano das perspectivas de abordagem
(arqueológica, arquivística e documental, jurídica, informática…), como
no da conflitualidade dos direitos e garantias individuais e colectivas.
O debate terá de ser alargado
por outras vias e com outros actores mas, para já, a Maria José tem toda
a razão: independentemente do suporte, o que interessa é a preservação
dos conteúdos! Contudo, para conseguirmos esta última, temos de reflectir
sobre os suportes.
Parece evidente que o suporte
digital é uma solução incontornável, por razões económicas, ambientais,
de partilha de informação, de crescente facilidade e generalidade das ferramentas
informáticas disponíveis (individuais e nos espaços públicos de intranet
e internet).
No entanto, como já se referiu
aqui em mensagens anteriores, não podemos nem devemos ignorar ser esta
uma solução que também implica riscos e carece de alguma normalização,
principalmente quando essas mesmas ferramentas estão em transformação permanente
e acelerada.
Para além dos suportes que
perderam funcionalidade e para os quais já são raros os equipamentos de
leitura (disquetes, discos zip e jazz, discos ópticos…), que dizer dos
ficheiros produzidos em software obsoleto ou em versões antigas de software
actual, que não abrem ou abrem parcial ou totalmente desformatados? É informação
em risco que, no limite, pode estar mesmo perdida, por muitas cópias que
existam dos mesmos ficheiros.
Por outro lado, que condições
tem a tutela para tratar, armazenar e disponibilizar toda esta informação
digital? Do ponto de vista individual, é mais barato produzir um DVD que
um relatório em papel. Mas, à tutela, que reúne todas essas colaborações
individuais, exige-se um investimento significativo em servidores suficientemente
robustos e em plataformas digitais fiáveis, seguras e, também elas, robustas,
sendo necessário apostar ainda em planos organizativos e documentais adequados,
na formação técnica do seu pessoal, etc. Para além do profissionalismo
dos colegas encarregues destas tarefas e dos esforços que vamos conhecendo,
de que o recente Portal do Arqueólogo é mais um meritório exemplo, estão
estas condições garantidas de modo a justificar confiança plena e total
no suporte digital?
Por mim, apostando fortemente
no digital, ainda não consigo fazê-lo sem a “segurança” e o “conforto”
da cópia impressa, organizada e arquivada tradicionalmente, pelo menos
nos fundos documentais que reporto de relevância máxima. Por isso, por
uma questão de bom senso, hoje e nas condições que conheço, tendo a concordar
com o Rui Boaventura.
Mas, como outros colegas
também já referiram, será importante discutir e fixar boas práticas e algum
normativo para as soluções digitais, para que estas sejam claramente soluções
de presente e de futuro, com base em software e em arquitecturas abertas,
com boa acessibilidade e adaptabilidade técnica e tecnológica.
Jorge Raposo
-----Mensagem original-----
De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt]
Em nome de Maria Jose de Almeida
Enviada: segunda-feira, 7 de Maio de 2012 14:29
Para: Rui Boaventura
Cc: archport@ci.uc.pt
Assunto: Re: [Archport] IGESPAR: Portal do Arqueólogo
Rui,
A questão que colocas é muito relevante,
mas não deve ser centrada na dicotomia “papel vs. digital”: muito mais
importante do que o suporte é a preservação dos conteúdos.
Efectivamente, até agora, o papel é mais
durável que qualquer suporte digital disponível. A pedra então, nem se
fala… Mas se dependêssemos da durabilidade do suporte para conhecer, por
exemplo, a literatura greco-latina, conheceríamos… quase nada. Esses conteúdos,
e outros, chegaram até nós porque foram copiados (ou, se preferirem, transferidos
para outros suportes) sucessivamente ao longo do tempo.
A questão a colocar aos guardiães dos
nossos arquivos (em papel, encadernado ou em folhas soltas, numa disquete,
num CD ou num servidor alojado numa nuvem) é o que é que estão a fazer
para preservar os conteúdos dos documentos que lhes confiamos. Se me garantirem
que a informação está a ser preservada no suporte que é mais eficaz hoje
para a quem a usa agora (e amanhã para os que a vierem a utilizar), são-me
indiferentes os meios e materiais utilizados.
A este propósito (e a outros que também
tem passado por esta
discussão) lembro o notável romance de
Ray Bradbury, Fahrenheit 451, que podem ler em papel em várias edições
ou em várias línguas. E até podem ler em formato digital, ainda que o próprio
autor tenha resistido bastante à divulgação neste suporte:
http://www.bbc.co.uk/news/technology-15968500
Maria José de Almeida
Nora 1: Saúda-se o “Portal do Arqueólogo”
como importante primeiro passo dado no sentido da divulgação institucional
da actividade arqueológica realizada em Portugal. Caberá também a nós a
colaboração crítica que permita que esta ferramenta possa ser afinada e
melhorada daqui para a frente.
Nota 2: sabendo que é uma realidade e
um contexto muito diferente, sugiro a consulta de um sistema de informação
análogo que considero das experiências mais interessantes a este nível
http://archaeologydataservice.ac.uk/
2012/5/7 Rui Boaventura <boaventura.rui@gmail.com>:
> O avanço para o o acesso digital
é de facto um passo que se aguardava
> há já algum tempo. E apenas se deseja
sucesso e eficiência, pois
> é/será um instrumento fenomenal.
>
> No entanto a virtualidade desta nova
condição é também um grande
> calcanhar de Aquiles, que se experimenta
e discute noutros foruns. A
> questão arquivística e o grau de
preservação de relatórios digitais.
>
> Pessoalmente continuo defensor que
uma master-copy em papel com
> imagens de qualidade deve ser sempre
obrigatória e depositada para
> depósito legal. As duas décadas em
que tenho estado envolvido em
> investigações arqueo-arquivisticas
têm demonstrado que apesar de
> carcomido e amarelecido, o suporte
de papel permitiu salvaguardar informação por muitos anos.
>
> Ora quantos de nós não tiveram meltdowns
do computador, e outros
> aparelhos digitais - e a recuperação,
mesmo quando há backups nem sempre é a melhor?
>
> Rui
>
> 2012/5/7 <antoniovalera@era-arqueologia.pt>
>>
>> Há muito que advogava uma solução
do género. É aberrante que tanta
>> coisa possa ser tratada online
(finanças, segurança social,
>> procedimentos bancários, projectos
FCT, projectos Gulbenkian, etc,
>> etc. etc.) e a relação borucrática
com o Igespar ainda se mantenha ao
>> nível do papel e do correio tradicional.
>> Mas seria bom que alguas coisas
se acautelassem e outras não ficassem
>> por meias medidas. Dois aspectos
a considerar:
>>
>> - relativamente a relatórios:
>>
>> a) espero que quando se referem
a relatórios entregues pensem em
>> relatórios entregues aprovados;
>> b) como vão ser tidas em linha
de conta as questões dos direitos de
>> autoria? É o relatório considerado
publicação e a sua informação de
>> livre utilização (com natural
citação)?
>> c) a entrega de relatórios vai
simultaneamente continuar a ser feita
>> em papel ou finalmente vamos
também começar a economizar (papel,
>> tinta e
>> espaço) também aí?
>>
>> - relativamente à base de dados
>>
>> a) porque não autorizar que os
arqueólogos registados possam
>> preencher a própria base de dados
de sítios, ficando a informação
>> introduzida sujeita a valização
por técnicos do Igespar. Em vez de
>> estarmos sempre a enviar a Ficha
de Sítio em papel ou formato
>> digitalizado e estar um técnico
do Igespar a introduzir toda essa
>> informação. Seria uma tarefa
distribuída por todos e caberia ao
>> Igespar validar, ou alterar o
que estivesse mal antes dessa
>> validação. Creio que a introdução
de dados não é uma tarefa de grande
>> complexidade e que está ao alcance
de qualquer um. Seria uma forma de responsabilização e simultaneamente
de demonstração de confiança.
>>
>> O que espero mesmo é que não
se venha a ter duplicação de tarefas e
>> documentação, em papel e on line.
É que os relatórios científicos e
>> financeiros para a FCT ou Gulbenkian,
por exemplo, são só online e
>> dispensam o papel.
>>
>>
>>
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