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Re: [Archport] IGESPAR: Portal do Arqueólogo

Subject :   Re: [Archport] IGESPAR: Portal do Arqueólogo
Date :   Mon, 7 May 2012 16:10:39 +0100

Mas é esse investimento que deve ser feito. Por isso se lhe chama investimento e não despesa. Os seus resultados não serão apenas no campo do "armazenamento" da informação, mas na própria capacidade e qualidade de resposta dos serviços públicos. Creio que é isso que tem sido feito em vários serviços de vários ministérios: plataformas poderosas e seguras para as finanças ou segurança social. Também há as que correm mal, como costuma acontecer com a Educação em altura de concursos, o que, contudo, se relaciona normalmente com congestionamentos de tráfego que dificilmente ocorreriam no Igespar. Mas o caminho é este e há que olhar não apenas para o momento e para o curto prazo, mas pelo menos a médio prazo. Isto para não estarmos sempre a mudar de soluções ou simplesmente para nem sequer iniciar uma mudança (mudar não é coisa fácil neste país). De qualquer forma, um acumular de relatórios em papel  em breve estará (se é que não está já) a gerar o mesmo problema dos materiais arqueológicos: já não há espaço para os armazenar e o problema não está a ser abordado de frente. Não podemos "desmaterializar" os materiais arqueológicos (pois eles são "o conteúdo") e, portanto, esse assunto requer outras soluções. Mas, pelo contrário, já temos alternativas relativamente ao suporte em que inscrevemos os nossos discursos.
E se o suporte em papel ainda tem uma dignidade social superior ao suporte digital, até porque permite uma experienciação distinta da leitura, os seus custos não devem ser tratados como coisa irrelevante. Muitas revistas passaram de papel para digital para poderem continuar a publicar. Outras passaram a editar parte em digital. Outras passaram responder a procuras maiores, não aumentando a edição, mas criando uma versão digital. Muitas outras nascem todos os dias já só com formato digital. Naturalmente o documento escrito não está em vias de desaparecer e o livro muito menos. Mas certo tipo de documentos e certo tipo de livros sim. Na minha opinião os relatórios arqueológicos deveriam ser deste último tipo. Se há condições para que isso se possa fazer agora? Não sei, talvez não. Mas deveria actuar-se para que fosse possível no médio prazo e com isso evitar soluções apressadas de última hora, quando os arquivos rebentarem pelas costuras (em espaço e custos públicos).

António Carlos Valera
Direcção do Núcleo de Investigação Arqueológica - NIA
ERA Arqueologia SA.
Cç. de Santa Catarina, 9C,
1495-705 Cruz Quebrada - Dafundo
antoniovalera@era-arqueologia.pt
www.era-arqueologia.pt


"Jorge Raposo - C.M. Seixal" <jorge.raposo@cm-seixal.pt>
Sent by: archport-bounces@ci.uc.pt

07-05-2012 15:01

To
"archport@ci.uc.pt" <archport@ci.uc.pt>
cc
Subject
Re: [Archport] IGESPAR: Portal do Arqueólogo





Boa tarde:
 
A organização, divulgação e preservação da informação documental associada à prática arqueológica é um assunto que merece discussão neste e noutros fóruns profissionais. Mas, como seria de esperar, essa discussão não é simples, dada a grande complexidade técnica do tema, tanto no plano das perspectivas de abordagem (arqueológica, arquivística e documental, jurídica, informática…), como no da conflitualidade dos direitos e garantias individuais e colectivas.
O debate terá de ser alargado por outras vias e com outros actores mas, para já, a Maria José tem toda a razão: independentemente do suporte, o que interessa é a preservação dos conteúdos! Contudo, para conseguirmos esta última, temos de reflectir sobre os suportes.
Parece evidente que o suporte digital é uma solução incontornável, por razões económicas, ambientais, de partilha de informação, de crescente facilidade e generalidade das ferramentas informáticas disponíveis (individuais e nos espaços públicos de intranet e internet).
No entanto, como já se referiu aqui em mensagens anteriores, não podemos nem devemos ignorar ser esta uma solução que também implica riscos e carece de alguma normalização, principalmente quando essas mesmas ferramentas estão em transformação permanente e acelerada.
Para além dos suportes que perderam funcionalidade e para os quais já são raros os equipamentos de leitura (disquetes, discos zip e jazz, discos ópticos…), que dizer dos ficheiros produzidos em software obsoleto ou em versões antigas de software actual, que não abrem ou abrem parcial ou totalmente desformatados? É informação em risco que, no limite, pode estar mesmo perdida, por muitas cópias que existam dos mesmos ficheiros.
Por outro lado, que condições tem a tutela para tratar, armazenar e disponibilizar toda esta informação digital? Do ponto de vista individual, é mais barato produzir um DVD que um relatório em papel. Mas, à tutela, que reúne todas essas colaborações individuais, exige-se um investimento significativo em servidores suficientemente robustos e em plataformas digitais fiáveis, seguras e, também elas, robustas, sendo necessário apostar ainda em planos organizativos e documentais adequados, na formação técnica do seu pessoal, etc. Para além do profissionalismo dos colegas encarregues destas tarefas e dos esforços que vamos conhecendo, de que o recente Portal do Arqueólogo é mais um meritório exemplo, estão estas condições garantidas de modo a justificar confiança plena e total no suporte digital?
Por mim, apostando fortemente no digital, ainda não consigo fazê-lo sem a “segurança” e o “conforto” da cópia impressa, organizada e arquivada tradicionalmente, pelo menos nos fundos documentais que reporto de relevância máxima. Por isso, por uma questão de bom senso, hoje e nas condições que conheço, tendo a concordar com o Rui Boaventura.
Mas, como outros colegas também já referiram, será importante discutir e fixar boas práticas e algum normativo para as soluções digitais, para que estas sejam claramente soluções de presente e de futuro, com base em software e em arquitecturas abertas, com boa acessibilidade e adaptabilidade técnica e tecnológica.
 
    Jorge Raposo
 
 
-----Mensagem original-----
De: archport-bounces@ci.uc.pt [
mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome de Maria Jose de Almeida
Enviada: segunda-feira, 7 de Maio de 2012 14:29
Para: Rui Boaventura
Cc: archport@ci.uc.pt
Assunto: Re: [Archport] IGESPAR: Portal do Arqueólogo

 
Rui,
 
A questão que colocas é muito relevante, mas não deve ser centrada na dicotomia “papel vs. digital”: muito mais importante do que o suporte é a preservação dos conteúdos.
 
Efectivamente, até agora, o papel é mais durável que qualquer suporte digital disponível. A pedra então, nem se fala… Mas se dependêssemos da durabilidade do suporte para conhecer, por exemplo, a literatura greco-latina, conheceríamos… quase nada. Esses conteúdos, e outros, chegaram até nós porque foram copiados (ou, se preferirem, transferidos para outros suportes) sucessivamente ao longo do tempo.
 
A questão a colocar aos guardiães dos nossos arquivos (em papel, encadernado ou em folhas soltas, numa disquete, num CD ou num servidor alojado numa nuvem) é o que é que estão a fazer para preservar os conteúdos dos documentos que lhes confiamos. Se me garantirem que a informação está a ser preservada no suporte que é mais eficaz hoje para a quem a usa agora (e amanhã para os que a vierem a utilizar), são-me indiferentes os meios e materiais utilizados.
 
A este propósito (e a outros que também tem passado por esta
discussão) lembro o notável romance de Ray Bradbury,  Fahrenheit 451, que podem ler em papel em várias edições ou em várias línguas. E até podem ler em formato digital, ainda que o próprio autor tenha resistido bastante à divulgação neste suporte:
http://www.bbc.co.uk/news/technology-15968500
 
Maria José de Almeida
 
Nora 1: Saúda-se o “Portal do Arqueólogo” como importante primeiro passo dado no sentido da divulgação institucional da actividade arqueológica realizada em Portugal. Caberá também a nós a colaboração crítica que permita que esta ferramenta possa ser afinada e melhorada daqui para a frente.
 
Nota 2: sabendo que é uma realidade e um contexto muito diferente, sugiro a consulta de um sistema de informação análogo que considero das experiências mais interessantes a este nível http://archaeologydataservice.ac.uk/
 
 
2012/5/7 Rui Boaventura <boaventura.rui@gmail.com>:
> O avanço para o o acesso digital é de facto um passo que se aguardava
> há já algum tempo. E apenas se deseja sucesso e eficiência, pois
> é/será um instrumento fenomenal.
>
> No entanto a virtualidade desta nova condição é também um grande
> calcanhar de Aquiles, que se experimenta e discute noutros foruns. A
> questão arquivística e o grau de preservação de relatórios digitais.
>
> Pessoalmente continuo defensor que uma master-copy em papel com
> imagens de qualidade deve ser sempre obrigatória e depositada para
> depósito legal. As duas décadas em que tenho estado envolvido em
> investigações arqueo-arquivisticas têm demonstrado que apesar de
> carcomido e amarelecido, o suporte de papel permitiu salvaguardar informação por muitos anos.
>
> Ora quantos de nós não tiveram meltdowns do computador, e outros
> aparelhos digitais - e a recuperação, mesmo quando há backups nem sempre é a melhor?
>
> Rui
>
> 2012/5/7 <antoniovalera@era-arqueologia.pt>
>>
>> Há muito que advogava uma solução do género. É aberrante que tanta
>> coisa possa ser tratada online (finanças, segurança social,
>> procedimentos bancários, projectos FCT, projectos Gulbenkian, etc,
>> etc. etc.) e a relação borucrática com o Igespar ainda se mantenha ao
>> nível do papel e do correio tradicional.
>> Mas seria bom que alguas coisas se acautelassem e outras não ficassem
>> por meias medidas. Dois aspectos a considerar:
>>
>> - relativamente a relatórios:
>>
>> a) espero que quando se referem a relatórios entregues pensem em
>> relatórios entregues aprovados;
>> b) como vão ser tidas em linha de conta as questões dos direitos de
>> autoria? É o relatório considerado publicação e a sua informação de
>> livre utilização (com natural citação)?
>> c) a entrega de relatórios vai simultaneamente continuar a ser feita
>> em papel ou finalmente vamos também começar a economizar (papel,
>> tinta e
>> espaço) também aí?
>>
>> - relativamente à base de dados
>>
>> a) porque não autorizar que os arqueólogos registados possam
>> preencher a própria base de dados de sítios, ficando a informação
>> introduzida sujeita a valização por técnicos do Igespar. Em vez de
>> estarmos sempre a enviar a Ficha de Sítio em papel ou formato
>> digitalizado e estar um técnico do Igespar a introduzir toda essa
>> informação. Seria uma tarefa distribuída por todos e caberia ao
>> Igespar validar, ou alterar o que estivesse mal antes dessa
>> validação. Creio que a introdução de dados não é uma tarefa de grande
>> complexidade e que está ao alcance de qualquer um. Seria uma forma de responsabilização e simultaneamente de demonstração de confiança.
>>
>> O que espero mesmo é que não se venha a ter duplicação de tarefas e
>> documentação, em papel e on line. É que os relatórios científicos e
>> financeiros para a FCT ou Gulbenkian, por exemplo, são só online e
>> dispensam o papel.
>>
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