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Re: [Archport] IGESPAR: Portal do Arqueólogo

Subject :   Re: [Archport] IGESPAR: Portal do Arqueólogo
From :   "Jorge Raposo - C.M. Seixal" <jorge.raposo@cm-seixal.pt>
Date :   Mon, 7 May 2012 15:01:56 +0100

Boa tarde:
 
A organização, divulgação e preservação da informação documental associada à prática arqueológica é um assunto que merece discussão neste e noutros fóruns profissionais. Mas, como seria de esperar, essa discussão não é simples, dada a grande complexidade técnica do tema, tanto no plano das perspectivas de abordagem (arqueológica, arquivística e documental, jurídica, informática…), como no da conflitualidade dos direitos e garantias individuais e colectivas.
O debate terá de ser alargado por outras vias e com outros actores mas, para já, a Maria José tem toda a razão: independentemente do suporte, o que interessa é a preservação dos conteúdos! Contudo, para conseguirmos esta última, temos de reflectir sobre os suportes.
Parece evidente que o suporte digital é uma solução incontornável, por razões económicas, ambientais, de partilha de informação, de crescente facilidade e generalidade das ferramentas informáticas disponíveis (individuais e nos espaços públicos de intranet e internet).
No entanto, como já se referiu aqui em mensagens anteriores, não podemos nem devemos ignorar ser esta uma solução que também implica riscos e carece de alguma normalização, principalmente quando essas mesmas ferramentas estão em transformação permanente e acelerada.
Para além dos suportes que perderam funcionalidade e para os quais já são raros os equipamentos de leitura (disquetes, discos zip e jazz, discos ópticos…), que dizer dos ficheiros produzidos em software obsoleto ou em versões antigas de software actual, que não abrem ou abrem parcial ou totalmente desformatados? É informação em risco que, no limite, pode estar mesmo perdida, por muitas cópias que existam dos mesmos ficheiros.
Por outro lado, que condições tem a tutela para tratar, armazenar e disponibilizar toda esta informação digital? Do ponto de vista individual, é mais barato produzir um DVD que um relatório em papel. Mas, à tutela, que reúne todas essas colaborações individuais, exige-se um investimento significativo em servidores suficientemente robustos e em plataformas digitais fiáveis, seguras e, também elas, robustas, sendo necessário apostar ainda em planos organizativos e documentais adequados, na formação técnica do seu pessoal, etc. Para além do profissionalismo dos colegas encarregues destas tarefas e dos esforços que vamos conhecendo, de que o recente Portal do Arqueólogo é mais um meritório exemplo, estão estas condições garantidas de modo a justificar confiança plena e total no suporte digital?
Por mim, apostando fortemente no digital, ainda não consigo fazê-lo sem a “segurança” e o “conforto” da cópia impressa, organizada e arquivada tradicionalmente, pelo menos nos fundos documentais que reporto de relevância máxima. Por isso, por uma questão de bom senso, hoje e nas condições que conheço, tendo a concordar com o Rui Boaventura.
Mas, como outros colegas também já referiram, será importante discutir e fixar boas práticas e algum normativo para as soluções digitais, para que estas sejam claramente soluções de presente e de futuro, com base em software e em arquitecturas abertas, com boa acessibilidade e adaptabilidade técnica e tecnológica.
 
    Jorge Raposo
 
 
-----Mensagem original-----
De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome de Maria Jose de Almeida
Enviada: segunda-feira, 7 de Maio de 2012 14:29
Para: Rui Boaventura
Cc: archport@ci.uc.pt
Assunto: Re: [Archport] IGESPAR: Portal do Arqueólogo
 
Rui,
 
A questão que colocas é muito relevante, mas não deve ser centrada na dicotomia “papel vs. digital”: muito mais importante do que o suporte é a preservação dos conteúdos.
 
Efectivamente, até agora, o papel é mais durável que qualquer suporte digital disponível. A pedra então, nem se fala… Mas se dependêssemos da durabilidade do suporte para conhecer, por exemplo, a literatura greco-latina, conheceríamos… quase nada. Esses conteúdos, e outros, chegaram até nós porque foram copiados (ou, se preferirem, transferidos para outros suportes) sucessivamente ao longo do tempo.
 
A questão a colocar aos guardiães dos nossos arquivos (em papel, encadernado ou em folhas soltas, numa disquete, num CD ou num servidor alojado numa nuvem) é o que é que estão a fazer para preservar os conteúdos dos documentos que lhes confiamos. Se me garantirem que a informação está a ser preservada no suporte que é mais eficaz hoje para a quem a usa agora (e amanhã para os que a vierem a utilizar), são-me indiferentes os meios e materiais utilizados.
 
A este propósito (e a outros que também tem passado por esta
discussão) lembro o notável romance de Ray Bradbury,  Fahrenheit 451, que podem ler em papel em várias edições ou em várias línguas. E até podem ler em formato digital, ainda que o próprio autor tenha resistido bastante à divulgação neste suporte:
http://www.bbc.co.uk/news/technology-15968500
 
Maria José de Almeida
 
Nora 1: Saúda-se o “Portal do Arqueólogo” como importante primeiro passo dado no sentido da divulgação institucional da actividade arqueológica realizada em Portugal. Caberá também a nós a colaboração crítica que permita que esta ferramenta possa ser afinada e melhorada daqui para a frente.
 
Nota 2: sabendo que é uma realidade e um contexto muito diferente, sugiro a consulta de um sistema de informação análogo que considero das experiências mais interessantes a este nível http://archaeologydataservice.ac.uk/
 
 
2012/5/7 Rui Boaventura <boaventura.rui@gmail.com>:
> O avanço para o o acesso digital é de facto um passo que se aguardava
> há já algum tempo. E apenas se deseja sucesso e eficiência, pois
> é/será um instrumento fenomenal.
>
> No entanto a virtualidade desta nova condição é também um grande
> calcanhar de Aquiles, que se experimenta e discute noutros foruns. A
> questão arquivística e o grau de preservação de relatórios digitais.
>
> Pessoalmente continuo defensor que uma master-copy em papel com
> imagens de qualidade deve ser sempre obrigatória e depositada para
> depósito legal. As duas décadas em que tenho estado envolvido em
> investigações arqueo-arquivisticas têm demonstrado que apesar de
> carcomido e amarelecido, o suporte de papel permitiu salvaguardar informação por muitos anos.
>
> Ora quantos de nós não tiveram meltdowns do computador, e outros
> aparelhos digitais - e a recuperação, mesmo quando há backups nem sempre é a melhor?
>
> Rui
>
> 2012/5/7 <antoniovalera@era-arqueologia.pt>
>>
>> Há muito que advogava uma solução do género. É aberrante que tanta
>> coisa possa ser tratada online (finanças, segurança social,
>> procedimentos bancários, projectos FCT, projectos Gulbenkian, etc,
>> etc. etc.) e a relação borucrática com o Igespar ainda se mantenha ao
>> nível do papel e do correio tradicional.
>> Mas seria bom que alguas coisas se acautelassem e outras não ficassem
>> por meias medidas. Dois aspectos a considerar:
>>
>> - relativamente a relatórios:
>>
>> a) espero que quando se referem a relatórios entregues pensem em
>> relatórios entregues aprovados;
>> b) como vão ser tidas em linha de conta as questões dos direitos de
>> autoria? É o relatório considerado publicação e a sua informação de
>> livre utilização (com natural citação)?
>> c) a entrega de relatórios vai simultaneamente continuar a ser feita
>> em papel ou finalmente vamos também começar a economizar (papel,
>> tinta e
>> espaço) também aí?
>>
>> - relativamente à base de dados
>>
>> a) porque não autorizar que os arqueólogos registados possam
>> preencher a própria base de dados de sítios, ficando a informação
>> introduzida sujeita a valização por técnicos do Igespar. Em vez de
>> estarmos sempre a enviar a Ficha de Sítio em papel ou formato
>> digitalizado e estar um técnico do Igespar a introduzir toda essa
>> informação. Seria uma tarefa distribuída por todos e caberia ao
>> Igespar validar, ou alterar o que estivesse mal antes dessa
>> validação. Creio que a introdução de dados não é uma tarefa de grande
>> complexidade e que está ao alcance de qualquer um. Seria uma forma de responsabilização e simultaneamente de demonstração de confiança.
>>
>> O que espero mesmo é que não se venha a ter duplicação de tarefas e
>> documentação, em papel e on line. É que os relatórios científicos e
>> financeiros para a FCT ou Gulbenkian, por exemplo, são só online e
>> dispensam o papel.
>>
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