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Re: [Archport] IGESPAR: Portal do Arqueólogo

To :   Maria Jose de Almeida <mariajosedealmeida@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] IGESPAR: Portal do Arqueólogo
From :   Rui Boaventura <boaventura.rui@gmail.com>
Date :   Mon, 7 May 2012 14:01:26 +0000

 Primeiramente, quando coloquei a questão, longe de mim acicatar a dicotomia papel vs. digital que vejo como uma falsa questão.

Eu sou um fã incondicional dos suportes digitais enquanto meio de trabalho, arquivo e divulgação, e deles me tenho servido diariamente por esse espaço virtual, poupando muitas deslocações, papel e tinteiros (hoje em dia quase sempre leio via ecrã). Contudo, apesar das maravilhas deste mundo novo que ipads, nooks e fires têm trazido, não esqueço que o suporte físico lenhoso continua a ser crucial para a preservação da memória colectiva, e no caso concreto do registo científico. Os novos meios técnicos deveriam ser apenas instrumentos de trabalho e divulgação e não um fim em si.

Há não muitos anos batalhei para que a RPA fosse mantida no seu formato lenhoso porque era (e é) um meio físico para o intercâmbio e enriquecimento do acervo da biblioteca de Arqueologia do então IPA (hoje ex-IGESPAR e futuro DGPC?). E continuará a sê-lo por mais alguns anos, creio.

A manutenção de um depósito físico de todos os relatórios técnico-científicos produzidos (devidamente enquadrado e organizado) é para mim algo incontornável, mas que não invalida o digital, pelo contrário, sustenta-o. Portanto, este último não torna de todo obsoleta a primeira solução - pelo contrário, precisa e baseia-se nele.

Em muitos meses leio com agrado a discussão suscitada pela disponibilização do Portal do Arqueólogo. Mas que isso não sirva para mais desculpas, tanto de arqueólogos como de instituições - existe um enquadramento (com lacunas é certo), mas que é já suficiente como orientador de boas práticas. Existe um código deontológico definido (assim os arqueólogos o sigam) e há regras arquivísticas estabelecidas para procedimentos administrativos e técnico-científicos. Recordo ainda que a própria FCT mantém um arquivo materializado de teses produzidas sob o seu beneplácito. 

Rui 


2012/5/7 Maria Jose de Almeida <mariajosedealmeida@gmail.com>
Rui,

A questão que colocas é muito relevante, mas não deve ser centrada na
dicotomia “papel vs. digital”: muito mais importante do que o suporte
é a preservação dos conteúdos.

Efectivamente, até agora, o papel é mais durável que qualquer suporte
digital disponível. A pedra então, nem se fala… Mas se dependêssemos
da durabilidade do suporte para conhecer, por exemplo, a literatura
greco-latina, conheceríamos… quase nada. Esses conteúdos, e outros,
chegaram até nós porque foram copiados (ou, se preferirem,
transferidos para outros suportes) sucessivamente ao longo do tempo.

A questão a colocar aos guardiães dos nossos arquivos (em papel,
encadernado ou em folhas soltas, numa disquete, num CD ou num servidor
alojado numa nuvem) é o que é que estão a fazer para preservar os
conteúdos dos documentos que lhes confiamos. Se me garantirem que a
informação está a ser preservada no suporte que é mais eficaz hoje
para a quem a usa agora (e amanhã para os que a vierem a utilizar),
são-me indiferentes os meios e materiais utilizados.

A este propósito (e a outros que também tem passado por esta
discussão) lembro o notável romance de Ray Bradbury,  Fahrenheit 451,
que podem ler em papel em várias edições ou em várias línguas. E até
podem ler em formato digital, ainda que o próprio autor tenha
resistido bastante à divulgação neste suporte:
http://www.bbc.co.uk/news/technology-15968500

Maria José de Almeida

Nora 1: Saúda-se o “Portal do Arqueólogo” como importante primeiro
passo dado no sentido da divulgação institucional da actividade
arqueológica realizada em Portugal. Caberá também a nós a colaboração
crítica que permita que esta ferramenta possa ser afinada e melhorada
daqui para a frente.

Nota 2: sabendo que é uma realidade e um contexto muito diferente,
sugiro a consulta de um sistema de informação análogo que considero
das experiências mais interessantes a este nível
http://archaeologydataservice.ac.uk/


2012/5/7 Rui Boaventura <boaventura.rui@gmail.com>:
> O avanço para o o acesso digital é de facto um passo que se aguardava há já
> algum tempo. E apenas se deseja sucesso e eficiência, pois é/será um
> instrumento fenomenal.
>
> No entanto a virtualidade desta nova condição é também um grande calcanhar
> de Aquiles, que se experimenta e discute noutros foruns. A questão
> arquivística e o grau de preservação de relatórios digitais.
>
> Pessoalmente continuo defensor que uma master-copy em papel com imagens de
> qualidade deve ser sempre obrigatória e depositada para depósito legal. As
> duas décadas em que tenho estado envolvido em investigações
> arqueo-arquivisticas têm demonstrado que apesar de carcomido e amarelecido,
> o suporte de papel permitiu salvaguardar informação por muitos anos.
>
> Ora quantos de nós não tiveram meltdowns do computador, e outros aparelhos
> digitais - e a recuperação, mesmo quando há backups nem sempre é a melhor?
>
> Rui
>
> 2012/5/7 <antoniovalera@era-arqueologia.pt>
>>
>> Há muito que advogava uma solução do género. É aberrante que tanta coisa
>> possa ser tratada online (finanças, segurança social, procedimentos
>> bancários, projectos FCT, projectos Gulbenkian, etc, etc. etc.) e a relação
>> borucrática com o Igespar ainda se mantenha ao nível do papel e do correio
>> tradicional.
>> Mas seria bom que alguas coisas se acautelassem e outras não ficassem por
>> meias medidas. Dois aspectos a considerar:
>>
>> - relativamente a relatórios:
>>
>> a) espero que quando se referem a relatórios entregues pensem em
>> relatórios entregues aprovados;
>> b) como vão ser tidas em linha de conta as questões dos direitos de
>> autoria? É o relatório considerado publicação e a sua informação de livre
>> utilização (com natural citação)?
>> c) a entrega de relatórios vai simultaneamente continuar a ser feita em
>> papel ou finalmente vamos também começar a economizar (papel, tinta e
>> espaço) também aí?
>>
>> - relativamente à base de dados
>>
>> a) porque não autorizar que os arqueólogos registados possam preencher a
>> própria base de dados de sítios, ficando a informação introduzida sujeita a
>> valização por técnicos do Igespar. Em vez de estarmos sempre a enviar a
>> Ficha de Sítio em papel ou formato digitalizado e estar um técnico do
>> Igespar a introduzir toda essa informação. Seria uma tarefa distribuída por
>> todos e caberia ao Igespar validar, ou alterar o que estivesse mal antes
>> dessa validação. Creio que a introdução de dados não é uma tarefa de grande
>> complexidade e que está ao alcance de qualquer um. Seria uma forma de
>> responsabilização e simultaneamente de demonstração de confiança.
>>
>> O que espero mesmo é que não se venha a ter duplicação de tarefas e
>> documentação, em papel e on line. É que os relatórios científicos e
>> financeiros para a FCT ou Gulbenkian, por exemplo, são só online e dispensam
>> o papel.
>>
>>
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