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Re: [Archport] Arqueologia na FCSH

Subject :   Re: [Archport] Arqueologia na FCSH
From :   gonçalo amaro <amaro_goncalo@hotmail.com>
Date :   Wed, 16 May 2012 03:14:23 +0000

Estimados colegas,

 

Estou muito surpreendido com a última mensagem do professor Mário Varela Gomes, fundamentalmente porque não esperava como ex-aluno da FCSH, que estivessem a passar este tipo de situações no curso de Arqueologia.

 

Como alguns de vocês sabem, doutorei-me em Arqueologia,no ano de 2010 pela Universidade Autónoma de Madrid (tese sobre Portugal, publicada nos BAR), numa altura em que, se não estou em erro, apenas havia um doutor em Arqueologia na FCSH (a professora Rosa Varela Gomes), como ex-aluno tentei de alguma forma manter ligações com a universidade o que na altura foi impossível, devido à ausência de concursos públicos e outros factores, tomei então a decisão de emigrar para o Chile, uma vez que, o meu objectivo era seguir a carreira num âmbito universitário e de investigação; pretendia também aumentar o meu curriculum na componente pedagógica pensando assim, talvez mais tarde, regressar a Portugal.

 

No entanto, agora que se abrem novos concursos vejo que se mantém a tendência em ter poucos doutorados de Arqueologia na FCSH, dando-se prioridade à contratação de doutores em História para leccionar cadeiras do curso de Arqueologia, os mesmos que acabam por participar activamente na avaliação de teses e de concursos públicos na referida área. Este aspecto do meu ponto de vista é prejudicial para os alunos actuais e futuros, como o foi para mim, pois creio que os especialistas em Arqueologia deveriam ser maioritariamente os responsáveis pela formação dos arqueólogos da FCSH e de qualquer outra universidade onde se desenvolva esta ciência.  

 

Não gosto de dar opiniões sem ter todos os antecedentes, fundamentalmente por estar fora de Portugal há quase dois anos, mas ao ver os comentários de colegas tão respeitáveis como o professor  Mário Varela Gomes e Luís Raposo, decidi também participar e dar a minha opinião.

 

 Creio que este debate na archport pode levar as coisas a bom termo, espero que a discussão desencadeie numa análise profunda do departamento de História da FCSH, assim como na reflexão sobre o que sucedeu nos referidos concursos; por exemplo houve agora recentemente um concurso para professor de Arqueologia, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e, como se sabe, dos sete membros do júri, apenas um não era arqueólogo. 


Saudações cordiais

 

Gonçalo de Carvalho Amaro

ex-aluno de Arqueologia da FCSH



From: 3raposos@sapo.pt
To: Archport@ci.uc.pt
Date: Tue, 15 May 2012 23:05:35 +0100
Subject: Re: [Archport] Arqueologia na FCSH

Não conhecendo em profundidade o que se passa, não posso deixar de manifestar a minha compreensão pelos pontos de vista apresentados pelo Mário Varela Gomes, aliás suportados factualmente.

Eu sou dos defendem o paradigma da História para a Arqueologia; sinto-me acima de tudo historiador. Mas isso não deve ser confundido com negação da autonomia disciplinar, metodológica, teórica e até epistemológica da Arqueologia, que não é uma mera “disciplina auxiliar”, mas sim, como dizia Childe, “uma forma de fazer história”

Reconheço que normalmente este tipo de discussões, melindrosas pelo envolvimento de pessoas porventura todas estimáveis, e desagradáveis ou mesmo contraproducentes pelo prejuízo causado às instituições, não deveriam ter lugar neste tipo de fórum. Mas sendo as coisas como são, felicito a coragem e a frontalidade do Mário Varela Gomes. Revejo-me nessas características e não ficaria bem com a minha consciência se o não dissesse também neste local.

Luís Raposo

----- Original Message -----
Sent: Tuesday, May 15, 2012 4:56 PM
Subject: [Archport] Arqueologia na FCSH

Caros Colegas Arqueólogos:
 
Nunca me escondi por detrás de ninguém ou utilizei qualquer pseudónimo para dizer o que pensava, defender princípios em que creio e a cidadania. Todavia, a existência de um “aluno preocupado” não me surpreende, devido ao tempo em que vivemos, nomeadamente quando o diálogo é substituído pelo autoritarismo.
Não sou adepto de teorias conspiratórias, embora não deixe de, liminarmente, colocar a hipótese de o “aluno preocupado” não ser senão um ou mais provocadores, ansiosos de reacções para que possam expressar-se e/ou exercer represálias. Já caí recentemente em uma de tais artimanhas, urdida por colega, chamemos-lhe assim, que desse modo obteve a promessa para abertura de um concurso, tendo em vista ingressar no quadro universitário.
Mas seja conforme for, não deixarei, para que todos possam avaliar por si, as razões que me movem ao tentar defender a dignidade dos arqueólogos, quando questiono a ausência de doutorados em Arqueologia ou em História Especialidade de Arqueologia ou a sua representação minoritária, nos júris do Curso de Doutoramento em Arqueologia e nos concursos para provimento de Professores Auxiliares de Arqueologia, na FCSH.
Tal conduziu à minha exoneração e à da Doutora Rosa Varela Gomes, respectivamente dos cargos de coordenadores do 2º ciclo e do 1º ciclo do Curso de Arqueologia, por proposta do Coordenador Executivo do Departamento de História, apesar da ausência, em nosso entender e não só, de fundamentos legais.
Nunca tive, com aquele Professor, qualquer problema de carácter pessoal, ao contrário dele para comigo, conforme registou o “aluno preocupado” e, até dada a minha formação, sempre julguei imprescindível a existência de pontes entre a Arqueologia e as outras ciências, pelo que considero aceitável a participação em júris de professores ou especialistas de outras áreas, mas nunca em maioria, conforme a legislação impede.

Para que se possa avaliar, correctamente, o teor do sucedido, seguem os factos:


 Júris do Curso de Doutoramento na Área de Arqueologia


 

Alunos

Júris

15.11.2011

José António Bettencourt

Alexandra Pelúcia – Doutora em História Moderna;

André Teixeira – Doutor em História Moderna;

Francisco Contente Domingues – Doutor em História Moderna.

15.11.2011

Tiago Conde Fraga

João Paulo Costa – Doutor em História Moderna;

André Teixeira – Doutor em História Moderna;

Francisco Contente Domingues – Doutor em História Moderna.

21.10.2011

Luís Carlos S. Gil

João Paulo Costa – Doutor em História Moderna;

André Teixeira – Doutor em História Moderna;

Jorge Manuel Correia – Doutor em Arquitectura.

2.11.2011

Patrícia Sanches de Carvalho

Catarina Tente – Doutora em História, Especialidade de Arqueologia Medieval;

André Teixeira – Doutor em História Moderna;

Amélia Polónia de Silva – Doutora em História. *


* A maioria não são doutores em Arqueologia.

 

Júri para Concurso de Professor Auxiliar de Arqueologia (Arqueologia Medieval) da FCSH (D.R., 2ª série, nº 20, p. 3450)


Presid.: José Esteves Pereira (Vice-Reitor)

Vogais: Iñaki M. Viso – Doutor em História Medieval;
           António Malpica Cuello – Doutor em História Medieval;
           Juan Antonio Q. Castillo – Doutor em História;
           Armando C. F. da Silva – Doutor em Arqueologia;
           João Paulo Costa – Doutor em História Moderna;
          Amélia Aguiar Andrade – Doutora em História Medieval.
(1 Doutor em Arqueologia)

 Júri para Concurso de Professor Auxiliar de Arqueologia Moderna de FCSH (D.R., 2ª série, nº 243, p. 49610).


Presid.: José Esteves Pereira (Vice-Reitor)

Vogais: Iñaki M. Viso – Doutor em História Medieval;
           António Malpica Cuello – Doutor em História Medieval;
           Avelino F. Menezes – Doutor em História Moderna e Contemporânea;
           Rui Carita Silvestre – Doutor em História Moderna;
           João Paulo Costa – Doutor em História Moderna;
           Francisca Contente Domingues – Doutor em História Moderna;
           Pedro Almeida Cardim – Doutor em História Moderna.
(nenhum Doutor em Arqueologia)


É perante os dados apresentados que importa colocarmos as seguintes questões:

Não é a Arqueologia uma disciplina diferente da História, com diversa informação empírica e construção teórica, onde é de relevar a dimensão antropológica?
Queremos ser avaliados e dirigidos, nos contextos académicos e profissionais, por historiadores? Isto não representará um grave precedente?
Não serão os arqueólogos que devem traçar o seu próprio destino?
Será que vamos trocar a nossa dignidade por um prato de lentilhas, como alguns agora fazem, aceitando o ocorrido?
 
 
Saudações Arqueológicas,
Mário Varela Gomes
 




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