Estimados colegas,
Estou muito surpreendido com a
última mensagem do professor Mário Varela Gomes, fundamentalmente porque não
esperava como ex-aluno da FCSH, que estivessem a passar este tipo de situações no curso de
Arqueologia.
Como alguns de vocês sabem, doutorei-me em Arqueologia,no ano de 2010 pela Universidade Autónoma de Madrid
(tese sobre Portugal, publicada nos BAR), numa altura em que, se não estou em
erro, apenas havia um doutor em Arqueologia na FCSH (a professora Rosa Varela
Gomes), como ex-aluno tentei de alguma forma manter ligações com a universidade
o que na altura foi impossível, devido à ausência de
concursos públicos e outros factores, tomei então a decisão de
emigrar para o Chile, uma vez que, o meu objectivo era seguir a carreira
num âmbito universitário e de investigação; pretendia também aumentar
o meu curriculum na componente pedagógica pensando assim, talvez mais tarde,
regressar a Portugal.
No entanto, agora que se abrem novos
concursos vejo que se mantém a tendência em ter poucos
doutorados de Arqueologia na FCSH, dando-se prioridade à contratação de
doutores em História para leccionar cadeiras do curso de Arqueologia, os mesmos
que acabam por participar activamente na avaliação de teses e de concursos públicos
na referida área. Este aspecto do meu ponto de vista é prejudicial para os alunos
actuais e futuros, como o foi para mim, pois creio que os especialistas em
Arqueologia deveriam ser maioritariamente os responsáveis pela formação dos arqueólogos
da FCSH e de qualquer outra universidade onde se desenvolva esta ciência.
Não gosto de dar opiniões sem ter todos os
antecedentes, fundamentalmente por estar fora de Portugal há quase dois anos,
mas ao ver os comentários de colegas tão respeitáveis como o professor Mário Varela Gomes e Luís Raposo, decidi
também participar e dar a minha opinião.
Creio que este debate na archport pode
levar as coisas a bom termo, espero que a discussão desencadeie numa análise
profunda do departamento de História da FCSH, assim como na
reflexão sobre o que sucedeu nos referidos concursos; por exemplo houve agora
recentemente um concurso para professor de Arqueologia, na Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa e, como se sabe, dos sete membros do júri, apenas um não era arqueólogo.
Saudações cordiais
Gonçalo de Carvalho Amaro
ex-aluno de Arqueologia da FCSH
From: 3raposos@sapo.pt To: Archport@ci.uc.pt Date: Tue, 15 May 2012 23:05:35 +0100 Subject: Re: [Archport] Arqueologia na FCSH
Não conhecendo em
profundidade o que se passa, não posso deixar de manifestar a
minha compreensão pelos pontos de vista apresentados pelo Mário Varela
Gomes, aliás suportados factualmente.
Eu sou dos defendem o
paradigma da História para a Arqueologia; sinto-me acima de tudo historiador.
Mas isso não deve ser confundido com negação da autonomia disciplinar,
metodológica, teórica e até epistemológica da Arqueologia, que não é uma mera
“disciplina auxiliar”, mas sim, como dizia Childe, “uma forma de fazer
história”
Reconheço que normalmente
este tipo de discussões, melindrosas pelo envolvimento de pessoas porventura
todas estimáveis, e desagradáveis ou mesmo contraproducentes pelo prejuízo
causado às instituições, não deveriam ter lugar neste tipo de fórum. Mas sendo
as coisas como são, felicito a coragem e a frontalidade do Mário Varela Gomes.
Revejo-me nessas características e não ficaria bem com a minha consciência se o
não dissesse também neste local.
Luís
Raposo
----- Original Message -----
Sent: Tuesday, May 15, 2012 4:56 PM
Subject: [Archport] Arqueologia na
FCSH
Caros Colegas Arqueólogos: Nunca me escondi por detrás de ninguém ou utilizei
qualquer pseudónimo para dizer o que pensava, defender princípios em que creio
e a cidadania. Todavia, a existência de um “aluno preocupado” não me
surpreende, devido ao tempo em que vivemos, nomeadamente quando o diálogo é
substituído pelo autoritarismo.Não sou adepto de teorias conspiratórias, embora não
deixe de, liminarmente, colocar a hipótese de o “aluno preocupado” não ser
senão um ou mais provocadores, ansiosos de reacções para que possam
expressar-se e/ou exercer represálias. Já caí recentemente em uma de tais
artimanhas, urdida por colega, chamemos-lhe assim, que desse modo obteve a
promessa para abertura de um concurso, tendo em vista ingressar no quadro
universitário.Mas seja conforme for, não deixarei, para que todos
possam avaliar por si, as razões que me movem ao tentar defender a dignidade
dos arqueólogos, quando questiono a ausência de doutorados em Arqueologia ou
em História Especialidade de Arqueologia ou a sua representação minoritária,
nos júris do Curso de Doutoramento em Arqueologia e nos concursos para
provimento de Professores Auxiliares de Arqueologia, na
FCSH.Tal conduziu à minha exoneração e à da Doutora Rosa
Varela Gomes, respectivamente dos cargos de coordenadores do 2º ciclo e do 1º
ciclo do Curso de Arqueologia, por proposta do Coordenador Executivo do
Departamento de História, apesar da ausência, em nosso entender e não só, de
fundamentos legais.Nunca tive, com aquele Professor, qualquer problema
de carácter pessoal, ao contrário dele para comigo, conforme registou o “aluno
preocupado” e, até dada a minha formação, sempre julguei imprescindível a
existência de pontes entre a Arqueologia e as outras ciências, pelo que
considero aceitável a participação em júris de professores ou especialistas de
outras áreas, mas nunca em maioria, conforme a legislação
impede.
Para que se possa avaliar, correctamente, o teor do
sucedido, seguem os factos:
Júris do Curso de Doutoramento na Área de
Arqueologia
|
Alunos |
Júris |
15.11.2011 |
José António Bettencourt |
Alexandra Pelúcia – Doutora em História
Moderna;
André Teixeira – Doutor em História
Moderna;
Francisco Contente Domingues – Doutor em História
Moderna. |
15.11.2011 |
Tiago Conde Fraga |
João Paulo Costa – Doutor em História
Moderna;
André Teixeira – Doutor em História
Moderna;
Francisco Contente Domingues – Doutor em História
Moderna. |
21.10.2011 |
Luís Carlos S. Gil |
João Paulo Costa – Doutor em História
Moderna;
André Teixeira – Doutor em História
Moderna;
Jorge Manuel Correia – Doutor em
Arquitectura. |
2.11.2011 |
Patrícia Sanches de
Carvalho |
Catarina Tente – Doutora em História, Especialidade de
Arqueologia Medieval;
André Teixeira – Doutor em História
Moderna;
Amélia Polónia de Silva – Doutora em História.
* |
* A maioria não são doutores em
Arqueologia.
Júri para Concurso de Professor Auxiliar de
Arqueologia (Arqueologia Medieval) da FCSH (D.R., 2ª série, nº 20, p.
3450)
Presid.: José Esteves Pereira
(Vice-Reitor) Vogais: Iñaki M. Viso – Doutor em História
Medieval;
António Malpica Cuello – Doutor em História
Medieval;
Juan Antonio Q. Castillo – Doutor em
História;
Armando C. F. da Silva – Doutor em
Arqueologia;
João Paulo Costa – Doutor em História
Moderna;
Amélia Aguiar Andrade – Doutora em História
Medieval.(1 Doutor em
Arqueologia)
Júri para Concurso de Professor Auxiliar de
Arqueologia Moderna de FCSH (D.R., 2ª série, nº 243, p.
49610).
Presid.: José Esteves Pereira
(Vice-Reitor) Vogais: Iñaki M. Viso – Doutor em História
Medieval;
António Malpica Cuello – Doutor em História
Medieval;
Avelino F. Menezes – Doutor em História Moderna e
Contemporânea;
Rui Carita Silvestre – Doutor em História
Moderna;
João Paulo Costa – Doutor em História
Moderna;
Francisca Contente Domingues – Doutor em História
Moderna;
Pedro Almeida Cardim – Doutor em História
Moderna.(nenhum Doutor em
Arqueologia)
É perante os dados apresentados que importa
colocarmos as seguintes questões: Não é a Arqueologia uma disciplina diferente da
História, com diversa informação empírica e construção teórica, onde é de
relevar a dimensão antropológica?Queremos ser avaliados e dirigidos, nos contextos
académicos e profissionais, por historiadores? Isto não representará um grave
precedente?Não serão os arqueólogos que devem traçar o seu
próprio destino?Será que vamos trocar a nossa dignidade por um prato
de lentilhas, como alguns agora fazem, aceitando o
ocorrido? Saudações Arqueológicas,Mário Varela Gomes
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