Re: [Archport] REF: Comunicado GTPS - Marcha contra o Desemprego
(continuo aqui o que seguiu sem querer)
Fui até sindicalizado por muitos e bons anos. O que eu disse é que
achava que era melhor encontrar-se uma forma de luta diferente da de
uma Marcha. Uma que fosse mais imaginativa e que chamasse mais a
atenção da sociedade para a importância da arqueologia e dos seus
técnicos.
É que, não sei se repararam já, mas do modo a que estamos rapidamente
a regredir até a uma sociedade de subsistência, talvez até uma de
sobrevivência, e da forma em que a cultura e a arqueologia e as
humanidades e a cultura em geral são um pequeno ponto no topo da
pirâmide de Maslow, ninguém vai deitar uma lágrima por nós. Ou sentir
a nossa falta.
Mas, como já disse em privado a um membro desta lista, não esperem que
perca mais o meu tempo a sugerir o que quer que seja a quem tanto
delibera e decide sobre "formas de luta".
Em 9 de outubro de 2012 17:34, Alexandre Monteiro <no.arame@gmail.com> escreveu:
> Já trabalhei no IPA e já fui "dispensado" - leia-se despedido - de lá,
> com um mês de notificação, depois de ter largado uma carreira no
> ensino pela alegria da precaridade de ser avençado do Estado. Também
> eu tinha rendas e alimentação e contas que pagar. Portanto, caro
> André, dispense-me do moralismo - been there, done that, way long
> back.
>
> E depois, volta a encanitar-me que as pessoas tresleiam o que escrevo.
> Eu não disse que era contra as pessoas se maifestarem - aliás, já fui
> a muitas, fui até levado à do 1º de Maio de 74.
>
> Em 9 de outubro de 2012 17:10, André Freitas
> <andremfreitas@portugalmail.pt> escreveu:
>> E em que é que "trabalhos de divulgação ou de beneficiação do património"
>> feitos de forma gratuita (como aparentemente sugere, pois o tempo gasto
>> nessa marcha não é pago a ninguém) beneficiaria aqueles que são afectados
>> "pelo flagelo da precariedade e da instabilidade laboral", pelo "desemprego
>> no sector"?
>>
>> Como raio é que trabalhar de forma voluntária a troco de uma mão cheia de
>> nada, iria ajudar "os trabalhadores de Arqueologia, tal como os restantes
>> trabalhadores portugueses, se encontram numa situação cada vez mais
>> insustentável e privada dos mais elementares direitos".
>>
>> Eu não compreendo como se pode confundir uma coisa com a outra, mas faço-lhe
>> a seguinte sugestão Alexandre:
>> Possivelmente, conhece alguns funcionários públicos que irão integrar o
>> pacote dos tais milhares a quem não vão renovar o contrato. Possivelmente
>> conhece (se não conhecer eu arranjo-lhe o contacto de uns quantos) alguns ou
>> muitos trabalhadores da arqueologia, entre técnicos, arqueólogos, etc, que
>> atravessam um momento muito complicado, sem trabalho, sem subsidios, sem as
>> minimas condições para prosseguir a sua actividade, mas mais importante que
>> tudo, que estão a viver à custa de pais, irmãos, amigos, trabalhos
>> esporádicos, etc, e não vêm um futuro nada risonho pela frente.
>>
>> Lanço-lhe um desafio caro Alexandre, eu apelo-lhes a que gastem um dia do
>> seu tempo a manifestarem-se!
>> Você diz-lhes directamente para que de forma voluntária e gratuitamente
>> gastem uma boa parte do seu tempo "em trabalhos de divulgação ou de
>> beneficiação do Património". Exactamente o mesmo tipo de trabalhos para que
>> eles estão habilitados, para os quais investiram os seus estudos, a partir
>> dos quais tencionavam construir uma vida estável, e para os quais já foram
>> pagos.
>> Depois colocamos aqui as respostas que obtivemos...
>>
>> Que tal acha da ideia? Isto pode ser chato e mesmo confragedor.
>> Fazemos antes assim: imagine que é despedido, tem 25, 30, 35, 40 anos, tem
>> uma renda para pagar, ou vive em casa dos pais. Os pais não são ricos, não
>> podem ajudar, ou mesmo podendo, isso vai contra a sua dignidade. Tem filhos,
>> ou só um cão, um gato, um peixe, o que for. Não tem poupanças nenhumas
>> porque nunca recebeu nada de jeito. Não herdou nenhuma fortuna. Não recebe
>> nenhum subsidio. Anda já há uns meses à procura de trabalho, um em que lhe
>> paguem pelo que faz, não interessa o quê, e não encontra nada. Há uma
>> manifestação para chamar a atenção para a situação em que você, e outros
>> como você se encontra...
>>
>> Depois aperece um génio, um iluminado, que afinal tem a solução para todos
>> os seus problemas e diz-lhe:
>>
>> "Vais a uma manifestação? Não tens mais nada que fazer? E que tal se
>> continuasses a fazer o que fazias antes, mesmo que não te paguem para isso?"
>>
>> Não sei o que o caro Alexandre responderia a essa mente brilhante. Aquilo
>> que eu diria a esse "génio" não o vou reproduzir aqui, por respeito,
>> educação, e sobretudo para não baixar ainda mais o nível a que esta
>> mailinglist muitas vezes chega.
>> Contudo, acredito que o Alexandre seja capaz de imaginar o conteúdo de tal
>> resposta, e digo-lhe já que não era um discurso nem cordial, nem
>> construtivo... Faça uso da sua imaginação!
>>
>> PS: não faço nem pretendo fazer parte de qualquer estrutura sindical.
>> Simplesmente revolta-me que alguém sugira que a solução para os problemas
>> com que nos deparamos actualmente, seja a simples resignação. As
>> manifestações não serão sozinhas a solução, é verdade, mas ajudam a que se
>> perceba a dimensão dos problemas, e a que as pessoas se mobilizem. Agora
>> trabalhar de borla, não obrigado. Não tenho pais ricos, e não reconheço a
>> ninguém o direito de dizer que a arqueologia é apenas para quem tem
>> capacidade finaceira para a exercer.
>>
>>
>> André Freitas
>> Arqueólogo
>>
>>
>>
>>
>> Citando Alexandre <no.arame@gmail.com>:
>>
>> Não teria mais impacto usar-se o tempo gasto nessa marcha em trabalhos de
>> divulgação ou de beneficiação do Património?
>>
>> Enviado do meu HTC
>>
>>
>> ________________________________
>>
>> De: Grupo pró sindicato Arqueologia <gtsindicato@gmail.com>
>> Enviado: quinta-feira, 4 de Outubro de 2012 18:02
>> Para: archport@ci.uc.pt
>> Assunto: [Archport] Comunicado GTPS - Marcha contra o Desemprego
>>
>> No seguimento da reunião do GTPS no passado dia 2 de Outubro, vimos por este
>> meio divulgar o seguinte comunicado:
>>
>>
>> "Caros Colegas,
>>
>>
>> - Considerando que o sector da Arqueologia é fortemente marcado pelo flagelo
>> da precariedade e da instabilidade laboral;
>> - Considerando que o desemprego no sector é um fenómeno em amplo
>> crescimento, nomeadamente em virtude da paragem de vários projectos e obras
>> nacionais, mas também do sub-financiamento das instituições ligadas à
>> Arqueologia;
>> - Considerando que os trabalhadores de Arqueologia, tal como os restantes
>> trabalhadores portugueses, se encontram numa situação cada vez mais
>> insustentável e privada dos mais elementares direitos; ... "
>>
>>
>> O comunicado pode ser lido na integra aqui.
>>
>> --
>> Grupo de Trabalho Pró-Sindicato em Arqueologia
>> http://www.sindicatodearqueologia.blogspot.com
>> http://www.facebook.com/gtpsarqueologia
>> gtsindicato@gmail.com
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>> Archport mailing list
>> Archport@ci.uc.pt
>> http://ml.ci.uc.pt/mailman/listinfo/archport
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