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Re: [Archport] Boas notícias. Porém...

To :   Archport <archport@ci.uc.pt>
Subject :   Re: [Archport] Boas notícias. Porém...
From :   Jorge Russo <russochief@gmail.com>
Date :   Mon, 4 Mar 2013 12:49:11 +0000

Muito bom dia a todos,

Desta vez o debate é bem mais construtivo e construído de conteúdo, o que me apraz registar.

Já o disse antes sobre este mesmo assunto, considero que a repressão não pode ser a única ferramenta, nem neste, nem em qualquer outro assunto.

Assim sendo, a questão chave no meu entender, reside nas medidas de "reabilitação", sem as quais a repressão estará sempre dissonante da eficácia, se não mesmo contrária e inversamente proporcional.

Ora, a "reabilitação" não se fará por iniciativa do detetorismo, isso será certo. Deste modo, também já o disse, considero a chave para minorar este problema, minorar sim, porque nunca será debelado por inteiro, naturalmente, o envolvimento daquela comunidade com a e na Academia, sendo que só assim será possível sensibiliza-la, e só sensibilizada se "civilizará".

Tudo seria fácil se a lei se cumprisse, simples e voluntariamente. No meu entender a questão ao nível dos detetoristas devia ser vista assim, cumprir a lei, ponto! mas de igual modo devia proceder a tutela, por exemplo no que respeita ao pagamento das recompensas previstas. Devo desde já dizer, que tenho sérias reservas quanto a este método de prémio pecuniário para incentivar o ato de cidadania, ou que o devia ser antes de mais.

Na verdade, não se pode esperar que uma comunidade honre a relação, quando esta é, à partida e na sua esmagadora maioria das vezes, incumprida pela Tutela.

Apenas um exemplo, o de Peniche, que durante quase uma década foi inoculada com uma onda de declarações de achado, provavelmente por via da, então, intensa atividade arqueológica subaquática que ali se desenvolveu, e não mais se repetiu naquele plano.

No final, muitos achados por pagar e informações prometidas sobre conclusões e estudos, nunca chegaram aos achadores. Dificilmente estaremos perante uma nova onda deste tipo, ali, infelizmente, asseguram-nos os achadores e as muitas pessoas que alegam saber e não dizem, o costume.

Esperemos que o mesmo não se venha a passar com Troia, era cometer um erro duas vezes.

 

Melhores cumprimentos,

 
 
 
Jorge Russo
Portugal
http://independent.academia.edu/JorgeRusso
Email: russochief@gmail.com
Mobil: +351 919 387 227
Skype: russochief
NAS Member: 3769


No dia 4 de Março de 2013 à34 12:26, Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com> escreveu:

Vou lendo as diversas intervenções e preparando uma de fundo, na convicção de que esta questão pode estar condenada a ressurgir ciclicamente, sempre que surgir uma ocorrência que a suscite, para retomar a ‘’caverna’’ exactamente no estado em que ressurgiu.

É, do meu ponto de vista, altura de se esgotar até às últimas consequências este debate, pelo que louvo, como sempre, a intervenção de todos os que nele participam, cada um representando, no essencial, uma determinada forma de olhar o problema.

Cabe-me, todavia, assinalar desde já alguns pressupostos de que parto.

Não está, de forma alguma, determinada uma ‘’ratio’’ de contribuição do detectorismo na globalidade do que poderíamos considerar práticas perturbantes do ‘’saque arqueológico’’, nomeadamente em Portugal, admitindo que o caso espanhol é distinto na sua especificidade.

A ideia com que fico sempre é a de que a fúria dos arqueólogos contra o detectorismo, falo sobre a especificidade do caso português, é quase um dispositivo de expiação. Sabendo, e estando a proceder à sua documentação, que está também por avaliar a contribuição que certas práticas arqueológicas, nomeadamente em contexto de acompanhamento de obras, têm tido para o ‘’saque arqueológico’’.

A intrusão num sítio arqueológico para o efeito de proceder a uma escavação ‘’de emergência’’, proceder a um levantamento topográfico de estruturas e ao levantamento de materiais, para que depois as máquinas e a obra possam avançar, apenas se distingue substancialmente do detectorismo por ser da iniciativa de arqueólogos.

A forma como, na sujeição aos interesses económicos e financeiros de grandes empresas como a Portucel, se continua a permitir uma relação caótica e ‘’selvagem’’ com a florestação industrial é talvez um dos factores de risco para o património arqueológico mais perturbantes em Portugal. O mesmo se diria acerca das barragens.

Mas a verdade é que a arqueologia fez um pacto de sustentabilidade mediante o vínculo a um certo silêncio sobre essas questões.

No que toca a uma honesta e autêntica política de salvaguarda e promoção do património, todas as questões se cruzam em algum ponto.

E o problema é que, estando em causa sobretudo, pelo que me parece, o património móvel extraído dos seus contextos de jazida, um objecto arqueológico, recuperado ou não aos autores do seu espólio, perdeu as componente substanciais da sua natureza arqueológica. Mas os lugares espoliados mantêm-na.

De resto, será de facto interessante, com suporte mesmo em relatos objectivos, conhecer o universo do detectorismmo português, quem envolve, em que contexto e qual a sua real dimensão. E as razões pelas quais as práticas punitivas nunca tiveram sucesso.

Para mim, pessoalmente, o detectorismo é uma prática inaceitável, tanto quanto outras que têm sido consideradas arqueológicas.

O que penso é que uma política eficaz de combate ao detectorismo e práticas afins exige uma ponderação rigorosa e uma concepção estruturante e globalizante do que há para fazer no contexto penal e no contexto da prevenção.

Por isso, estimo a informação que os restantes intervenientes vão disponibilizando, para a colectar numa abordagem estruturada, que será sempre, também, uma reflexão profunda sobre o que nunca se fez no domínio de uma política coerente de relação com o património arqueológico.

 

 

Saudações.


--
Manuel de Castro Nunes

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