Lista archport

Mensagem

[Archport] Boas notícias. Porém...

Subject :   [Archport] Boas notícias. Porém...
From :   Manuel Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com>
Date :   Mon, 4 Mar 2013 12:26:34 +0000

Vou lendo as diversas intervenções e preparando uma de fundo, na convicção de que esta questão pode estar condenada a ressurgir ciclicamente, sempre que surgir uma ocorrência que a suscite, para retomar a ‘’caverna’’ exactamente no estado em que ressurgiu.

É, do meu ponto de vista, altura de se esgotar até às últimas consequências este debate, pelo que louvo, como sempre, a intervenção de todos os que nele participam, cada um representando, no essencial, uma determinada forma de olhar o problema.

Cabe-me, todavia, assinalar desde já alguns pressupostos de que parto.

Não está, de forma alguma, determinada uma ‘’ratio’’ de contribuição do detectorismo na globalidade do que poderíamos considerar práticas perturbantes do ‘’saque arqueológico’’, nomeadamente em Portugal, admitindo que o caso espanhol é distinto na sua especificidade.

A ideia com que fico sempre é a de que a fúria dos arqueólogos contra o detectorismo, falo sobre a especificidade do caso português, é quase um dispositivo de expiação. Sabendo, e estando a proceder à sua documentação, que está também por avaliar a contribuição que certas práticas arqueológicas, nomeadamente em contexto de acompanhamento de obras, têm tido para o ‘’saque arqueológico’’.

A intrusão num sítio arqueológico para o efeito de proceder a uma escavação ‘’de emergência’’, proceder a um levantamento topográfico de estruturas e ao levantamento de materiais, para que depois as máquinas e a obra possam avançar, apenas se distingue substancialmente do detectorismo por ser da iniciativa de arqueólogos.

A forma como, na sujeição aos interesses económicos e financeiros de grandes empresas como a Portucel, se continua a permitir uma relação caótica e ‘’selvagem’’ com a florestação industrial é talvez um dos factores de risco para o património arqueológico mais perturbantes em Portugal. O mesmo se diria acerca das barragens.

Mas a verdade é que a arqueologia fez um pacto de sustentabilidade mediante o vínculo a um certo silêncio sobre essas questões.

No que toca a uma honesta e autêntica política de salvaguarda e promoção do património, todas as questões se cruzam em algum ponto.

E o problema é que, estando em causa sobretudo, pelo que me parece, o património móvel extraído dos seus contextos de jazida, um objecto arqueológico, recuperado ou não aos autores do seu espólio, perdeu as componente substanciais da sua natureza arqueológica. Mas os lugares espoliados mantêm-na.

De resto, será de facto interessante, com suporte mesmo em relatos objectivos, conhecer o universo do detectorismmo português, quem envolve, em que contexto e qual a sua real dimensão. E as razões pelas quais as práticas punitivas nunca tiveram sucesso.

Para mim, pessoalmente, o detectorismo é uma prática inaceitável, tanto quanto outras que têm sido consideradas arqueológicas.

O que penso é que uma política eficaz de combate ao detectorismo e práticas afins exige uma ponderação rigorosa e uma concepção estruturante e globalizante do que há para fazer no contexto penal e no contexto da prevenção.

Por isso, estimo a informação que os restantes intervenientes vão disponibilizando, para a colectar numa abordagem estruturada, que será sempre, também, uma reflexão profunda sobre o que nunca se fez no domínio de uma política coerente de relação com o património arqueológico.

 

 

Saudações.


--
Manuel de Castro Nunes
Mensagem anterior por data: Re: [Archport] Boas Notícias! (Pero...) Próxima mensagem por data: Re: [Archport] Boas notícias. Porém...
Mensagem anterior por assunto: [Archport] Boas notícias, porém... Próxima mensagem por assunto: Re: [Archport] Boas notícias. Porém...