De: António Carlos de
Valera [mailto:acvalera25@gmail.com]
"A passagem
do AP a revista com arbitragem científica é uma boa notícia. Mas penso que não
vai chegar. Será necessário que mais uma ou outra caminhe nesse sentido, ainda
que não seja fácil, como se sabe. E digo isto por duas razões. A primeira
tem a ver com a procura. A actual necessidade de “pontuar” fez com
que a procura deste tipo de revistas tenha aumentado bruscamente, ao ponto de
as mesmas já não terem capacidade de resposta em tempo útil. Exemplo meu: um
artigo proposto aos TP feita em Maio de 2013 só teria publicação, se aceite, no
segundo semestre de 2015. Até lá a revista já estava fechada. Ora dois anos de
espera tornariam o texto desactualizado (pois abordava um assunto com
desenvolvimentos em curso). O resultado foi procurar outra revista e encurtar a
publicação num ano e meio. Mas para isso é necessário ter mais oferta onde
publicar com arbitragem. A segunda
tem a ver com as críticas que costumam ser feitas aos abusos deste sistema, os
quais denunciei no livro Holocénico, O Blog há já alguns anos. Estas críticas
podem ser sintetizadas no controlo que o sistema permite a alguns relativamente
a outros. Retirar a chancela de qualidade a uns artigos que eventualmente a
mereçam (com os actuais meios de comunicação já não é possível impedir que as
ideias circulem e nisso as restantes revistas desempenham um papel central) e
dá-la a outros que talvez a mereçam menos. Ou seja, a manipulação do sistema em
benefício de certos poderes, com as consequências conhecidas em termos de
acessos a financiamentos, carreiras e lugares. Ora a existência de um maior
número de revistas com arbitragem combate este tipo de controlo, favorecendo um
mais correcto funcionamento do sistema. É que o
sistema existe para discriminar qualidade, para que seja o mérito o critério de
acesso a financiamentos e a tudo o resto. O problema não está tanto na
ferramenta (eventualmente poderia ser melhorada), mas mais no uso que dela se
faz. A polícia existe para proteger o cidadão, mas pode ser utilizada para o
oprimir. No final, é
o velho problema, muito humano, de luta pelo poder e pelo controlo de posições
de privilégio e que faz, quase que invariavelmente, que os sistemas de
avaliação sejam mal utilizados (em Portugal nem vale a pena falar do assunto). E as revistas
não arbitradas podem ter um papel importante no regular deste mesmo sistema,
pois funcionam como válvula de escape e termo de comparação que pode ser muito
comprometedor para as revistas com avaliação inter pares. Talvez também por
isso (mas não só) eu goste e me tenha envolvido em projectos editoriais
“idependentes”. Por isso, pretender ter arbitragem não significa
não acarinhar o que não a tem. Muito pelo contrário." PS - Jorge
Raposo, o meu texto é claro e não dá lugar a equívocos. A responsabilidade da
marosca é de quem constroi os seus currículos com informações falsas, não de
qualquer revista. Foi isso que denunciei. Quanto ao que penso de revistas sem
arbitragem e do seu papel e qualidade, basta ver a minha colaboração com a
Almadan e as que eu prórpio edito ou editei. Em 22 de fevereiro
de 2014 12:16, José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt> escreveu:
Raramente, como sabem, entro na discussão de temas aqui abordados, uma vez que
tento procurar alguma isenção e proporcionar liberdade de expressão. Contudo,
desta feita, as reflexões de Jorge Raposo não me deixaram indiferente.
Primeiro, porque integro o conselho científico de mais de uma dezena de
publicações e sou, por isso, chamado com alguma frequência, a dar o meu parecer
sobre propostas de textos para publicação; segundo, porque eu próprio vejo os
meus textos submetidos a apreciação por parte dos meus pares e já segui as
sugestões que um ou outro ‘revisor’ me deu.
Permita-se-me, porém, que acentue três aspectos, resultantes já da experiência
destes últimos anos: 1º)
Concordo inteiramente com a opinião de Jorge Raposo, quando afirma em jeito de
pergunta: «A creditação e
qualificação científica não podem (devem?) ser processos abertos, comprovados e
validados pelo tempo e pelo reconhecimento colectivo de uma determinada
comunidade científica?». 2º)
A apreciação prévia não pode servir – e já serviu – para impedir
que alguém (eventual rival em concursos públicos, por exemplo) publique,
mormente se perfilhar interpretações não ‘alinhadas’ com a do
‘revisor’. Preze-se, acima de tudo, a liberdade de opinião; se a
afirmação não está devidamente fundamentada, pode sempre o revisor chamar a
atenção para isso, a fim de o autor acautelar desde logo as críticas que lhe
poderão fazer; mas tal não pode nem deve ser impeditivo de uma publicação. Já
li quem avaliasse negativamente um texto porque… não era citado nele e
não se fizesse eco da sua publicação mais recente (mesmo que ainda não
disponível para consulta). 3º)
Estamos mal os que nos dedicamos às Ciências Sociais e Humanas, porque os
senhores que mandam foram formados no que chamam as Ciências Exactas, o que
para eles, isso sim, é que é Ciência! Por isso, os critérios oficiais para
atribuição de bolsas ou de apoios seguem (ou parecem seguir) esses modelos,
normalmente hauridos nas universidades estrangeiras (do Norte da Europa ou da
América), onde a vida académica e científica obedece a parâmetros bem
diferentes dos da Europa do Sul. Por exemplo, esta pressão para se publicar em
inglês ou para se publicar só em revistas estrangeiras, porque só isso é que
conta para a avaliação é, a meu ver, um erro
crasso, suicida, contra
o qual todos deveríamos lutar! E compreende-se bem porquê: o que querem é que a
nossa língua não vingue; o que querem é que as nossas revistas não ganhem
preponderância. Perdoe-se-me, mas… eu acho que, a continuarmos assim, estamos a dar o ouro ao bandido. E ele, bem
regalado, fica com ele!... Post-scriptum: Tomo a liberdade de a alargar à histport e à museum, porque se trata de uma questão transversal. De: archport-bounces@ci.uc.pt
[mailto:archport-bounces@ci.uc.pt]
Em nome de Maria Jose de Almeida é de facto um
assunto que tem muito que se lhe diga… a quem tenha escapado, recomendo
vivamente a leitura deste texto: Maria José de
Almeida Aviso à navegação:
nada disto deve ser confundido ou aproveitado como pretexto para baixar os
padrões de qualidade na produção científica; merece é uma séria reflexão a
forma como estamos a quantificar e definir qualidade On 22 Feb 2014, at
10:33, Almadan <director.almadan@gmail.com>
wrote: Bom dia: Respeitando e compreendendo a opinião de António Valera
e outras posições posteriormente expressas nesta lista, e uma vez que a Al-Madan
foi expressamente citada, deixo um breve esclarecimento. As condições de participação na Al-Madan estão
detalhadas nas Normas de Colaboração disponibilizadas
através do sítio web da revista (http://www.almadan.publ.pt). São públicas e, creio, claras para todos os
colaboradores. Por isso, se existe algum tipo de “marosca”
associada à forma como trabalhos aí publicados são apresentados em currículos, a
revista não alimenta essa situação nem pode ser responsabilizada por ela. Se me é permitida uma também breve nota reflexiva sobre
o tema, seria bom que meditássemos igualmente sobre a bondade de um sistema de
pontuação e valoração científica centrado exclusivamente na arbitragem prévia, principalmente em
comunidades científicas e académicas relativamente pequenas como a portuguesa.
A verdade é que muitos e bons trabalhos são editados em publicações sem a dita
arbitragem prévia (revistas, actas, monografias), sendo depois claramente
validados pelos seus pares, através da rápida circulação, difusão e menção em
múltiplas referências bibliográficas. A creditação e qualificação científica
não podem (devem?) ser processos abertos, comprovados e validados pelo tempo e
pelo reconhecimento colectivo de uma determinada comunidade científica? Que
“peso” dar à “arbitragem” que resulta da interação
disciplinar e científica posterior à publicação, e que “peso”
deverá valer a arbitragem prévia por um ou dois especialistas? Faz sentido ter
avaliações de projectos científicos ou académicos que considerem apenas
trabalhos publicados com sistema de avaliação prévia, e não toda a produção
escrita de um determinado autor, mesmo quando largamente aceite e partilhada
pelos seus pares? É um tema polémico, que ultrapassa fronteiras, admito,
mas merece ser pensado. Cumprimentos.. Jorge Raposo Revista Al-Madan -- Direcção Centro de Arqueologia de Almada Apartado EC 603 Pragal 2801-601 Almada Tel. / Fax: 212 766 975 Telm.: 96 735 48 18 E-mail: director.almadan@gmail.com Al-Madan http://www.almadan.publ.pt Informação geral sobre os volumes impressos
e a revista digital Al-Madan Online http://issuu.com/almadan Revista digital em distribuição integral De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome de antoniovalera@era-arqueologia.pt Tenho vindo a
tomar conhecimento que alguns colegas arqueólogos utilizam nos seus currículos,
referenciados como artigos com arbitragem científica, textos publicados em
revistas que não têm essas mesma arbitragem. De entre outras, Vipasca e Almadan
são exemplos. Não está em causa o valor das publicações, naturalmente. Nem
sequer o valor dos textos em concreto. Está em causa outra coisa. Sendo que
hoje a avaliação curricular, no que respeita a publicações, se faz cada vez
mais (nalguns casos exclusivamente) com base em trabalhos publicados em
revistas com arbitragem científica, é bom que se comece a ter noção que há quem
ande enganado ou a tentar enganar. _______________________________________________
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