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[Archport] ENC: RES: Um aviso que me parece importante

To :   "archport" <archport@ci.uc.pt>
Subject :   [Archport] ENC: RES: Um aviso que me parece importante
From :   José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt>
Date :   Sat, 22 Feb 2014 18:20:57 -0000

De: António Carlos de Valera [mailto:acvalera25@gmail.com]
Enviada em: sábado, 22 de Fevereiro de 2014 16:05
Assunto: Re: [Archport] RES: Um aviso que me parece importante

"A passagem do AP a revista com arbitragem científica é uma boa notícia. Mas penso que não vai chegar. Será necessário que mais uma ou outra caminhe nesse sentido, ainda que não seja fácil, como se sabe. E digo isto por duas razões.

A primeira tem a ver com a procura. A actual necessidade de “pontuar” fez com que a procura deste tipo de revistas tenha aumentado bruscamente, ao ponto de as mesmas já não terem capacidade de resposta em tempo útil. Exemplo meu: um artigo proposto aos TP feita em Maio de 2013 só teria publicação, se aceite, no segundo semestre de 2015. Até lá a revista já estava fechada. Ora dois anos de espera tornariam o texto desactualizado (pois abordava um assunto com desenvolvimentos em curso). O resultado foi procurar outra revista e encurtar a publicação num ano e meio. Mas para isso é necessário ter mais oferta onde publicar com arbitragem.

A segunda tem a ver com as críticas que costumam ser feitas aos abusos deste sistema, os quais denunciei no livro Holocénico, O Blog há já alguns anos. Estas críticas podem ser sintetizadas no controlo que o sistema permite a alguns relativamente a outros. Retirar a chancela de qualidade a uns artigos que eventualmente a mereçam (com os actuais meios de comunicação já não é possível impedir que as ideias circulem e nisso as restantes revistas desempenham um papel central) e dá-la a outros que talvez a mereçam menos. Ou seja, a manipulação do sistema em benefício de certos poderes, com as consequências conhecidas em termos de acessos a financiamentos, carreiras e lugares. Ora a existência de um maior número de revistas com arbitragem combate este tipo de controlo, favorecendo um mais correcto funcionamento do sistema.

É que o sistema existe para discriminar qualidade, para que seja o mérito o critério de acesso a financiamentos e a tudo o resto. O problema não está tanto na ferramenta (eventualmente poderia ser melhorada), mas mais no uso que dela se faz. A polícia existe para proteger o cidadão, mas pode ser utilizada para o oprimir.

No final, é o velho problema, muito humano, de luta pelo poder e pelo controlo de posições de privilégio e que faz, quase que invariavelmente, que os sistemas de avaliação sejam mal utilizados (em Portugal nem vale a pena falar do assunto).

E as revistas não arbitradas podem ter um papel importante no regular deste mesmo sistema, pois funcionam como válvula de escape e termo de comparação que pode ser muito comprometedor para as revistas com avaliação inter pares. Talvez também por isso (mas não só) eu goste e me tenha envolvido em projectos editoriais “idependentes”. Por isso, pretender ter arbitragem não significa não acarinhar o que não a tem. Muito pelo contrário."

 

PS - Jorge Raposo, o meu texto é claro e não dá lugar a equívocos. A responsabilidade da marosca é de quem constroi os seus currículos com informações falsas, não de qualquer revista. Foi isso que denunciei. Quanto ao que penso de revistas sem arbitragem e do seu papel e qualidade, basta ver a minha colaboração com a Almadan e as que eu prórpio edito ou editei.

 

Em 22 de fevereiro de 2014 12:16, José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt> escreveu:

         Raramente, como sabem, entro na discussão de temas aqui abordados, uma vez que tento procurar alguma isenção e proporcionar liberdade de expressão. Contudo, desta feita, as reflexões de Jorge Raposo não me deixaram indiferente. Primeiro, porque integro o conselho científico de mais de uma dezena de publicações e sou, por isso, chamado com alguma frequência, a dar o meu parecer sobre propostas de textos para publicação; segundo, porque eu próprio vejo os meus textos submetidos a apreciação por parte dos meus pares e já segui as sugestões que um ou outro ‘revisor’ me deu.

         Permita-se-me, porém, que acentue três aspectos, resultantes já da experiência destes últimos anos:

         1º) Concordo inteiramente com a opinião de Jorge Raposo, quando afirma em jeito de pergunta: «A creditação e qualificação científica não podem (devem?) ser processos abertos, comprovados e validados pelo tempo e pelo reconhecimento colectivo de uma determinada comunidade científica?».  

         2º) A apreciação prévia não pode servir – e já serviu – para impedir que alguém (eventual rival em concursos públicos, por exemplo) publique, mormente se perfilhar interpretações não ‘alinhadas’ com a do ‘revisor’. Preze-se, acima de tudo, a liberdade de opinião; se a afirmação não está devidamente fundamentada, pode sempre o revisor chamar a atenção para isso, a fim de o autor acautelar desde logo as críticas que lhe poderão fazer; mas tal não pode nem deve ser impeditivo de uma publicação. Já li quem avaliasse negativamente um texto porque… não era citado nele e não se fizesse eco da sua publicação mais recente (mesmo que ainda não disponível para consulta).

         3º) Estamos mal os que nos dedicamos às Ciências Sociais e Humanas, porque os senhores que mandam foram formados no que chamam as Ciências Exactas, o que para eles, isso sim, é que é Ciência! Por isso, os critérios oficiais para atribuição de bolsas ou de apoios seguem (ou parecem seguir) esses modelos, normalmente hauridos nas universidades estrangeiras (do Norte da Europa ou da América), onde a vida académica e científica obedece a parâmetros bem diferentes dos da Europa do Sul. Por exemplo, esta pressão para se publicar em inglês ou para se publicar só em revistas estrangeiras, porque só isso é que conta para a avaliação é, a meu ver, um erro crasso, suicida, contra o qual todos deveríamos lutar! E compreende-se bem porquê: o que querem é que a nossa língua não vingue; o que querem é que as nossas revistas não ganhem preponderância. Perdoe-se-me, mas… eu acho que, a continuarmos assim, estamos a dar o ouro ao bandido. E ele, bem regalado, fica com ele!...

 

         Post-scriptum: Tomo a liberdade de a alargar à histport e à museum, porque se trata de uma questão transversal.


De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome de Maria Jose de Almeida
Enviada em: sábado, 22 de Fevereiro de 2014 11:11
Para: archport@ci.uc.pt
Assunto: Re: [Archport] Um aviso que me parece importante

 

é de facto um assunto que tem muito que se lhe diga… a quem tenha escapado, recomendo vivamente a leitura deste texto:

 

 

 

Aviso à navegação: nada disto deve ser confundido ou aproveitado como pretexto para baixar os padrões de qualidade na produção científica; merece é uma séria reflexão a forma como estamos a quantificar e definir qualidade

 

 

On 22 Feb 2014, at 10:33, Almadan <director.almadan@gmail.com> wrote:

 

Bom dia:

 

Respeitando e compreendendo a opinião de António Valera e outras posições posteriormente expressas nesta lista, e uma vez que a Al-Madan foi expressamente citada, deixo um breve esclarecimento.

As condições de participação na Al-Madan estão detalhadas nas Normas de Colaboração disponibilizadas através do sítio web da revista (http://www.almadan.publ.pt).

São públicas e, creio, claras para todos os colaboradores.

Por isso, se existe algum tipo de “marosca” associada à forma como trabalhos aí publicados são apresentados em currículos, a revista não alimenta essa situação nem pode ser responsabilizada por ela.

 

Se me é permitida uma também breve nota reflexiva sobre o tema, seria bom que meditássemos igualmente sobre a bondade de um sistema de pontuação e valoração científica centrado exclusivamente na arbitragem prévia, principalmente em comunidades científicas e académicas relativamente pequenas como a portuguesa. A verdade é que muitos e bons trabalhos são editados em publicações sem a dita arbitragem prévia (revistas, actas, monografias), sendo depois claramente validados pelos seus pares, através da rápida circulação, difusão e menção em múltiplas referências bibliográficas. A creditação e qualificação científica não podem (devem?) ser processos abertos, comprovados e validados pelo tempo e pelo reconhecimento colectivo de uma determinada comunidade científica? Que “peso” dar à “arbitragem” que resulta da interação disciplinar e científica posterior à publicação, e que “peso” deverá valer a arbitragem prévia por um ou dois especialistas? Faz sentido ter avaliações de projectos científicos ou académicos que considerem apenas trabalhos publicados com sistema de avaliação prévia, e não toda a produção escrita de um determinado autor, mesmo quando largamente aceite e partilhada pelos seus pares?

É um tema polémico, que ultrapassa fronteiras, admito, mas merece ser pensado.

 

Cumprimentos..

 

     Jorge Raposo

 

 

Revista Al-Madan -- Direcção

Centro de Arqueologia de Almada

Apartado EC 603 Pragal

2801-601 Almada

Tel. / Fax: 212 766 975

Telm.: 96 735 48 18

 

Informação geral sobre os volumes impressos e a revista digital

 

Al-Madan Online http://issuu.com/almadan

Revista digital em distribuição integral

 

De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.ptEm nome de antoniovalera@era-arqueologia.pt
Enviada: sexta-feira, 21 de Fevereiro de 2014 12:27
Para: archport@ci.uc.pt
Assunto: [Archport] Um aviso que me parece importante

 

Tenho vindo a tomar conhecimento que alguns colegas arqueólogos utilizam nos seus currículos, referenciados como artigos com arbitragem científica, textos publicados em revistas que não têm essas mesma arbitragem. De entre outras, Vipasca e Almadan são exemplos. Não está em causa o valor das publicações, naturalmente. Nem sequer o valor dos textos em concreto. Está em causa outra coisa. Sendo que hoje a avaliação curricular, no que respeita a publicações, se faz cada vez mais (nalguns casos exclusivamente) com base em trabalhos publicados em revistas com arbitragem científica, é bom que se comece a ter noção que há quem ande enganado ou a tentar enganar. 

Que eu saiba, não há ainda em Portugal qualquer revista de Arqueologia que tenha arbitragem científica, que como sabemos é uma prática com normas bem estabelecidas e com reconhecimento internacional. 
Está mais do que na hora de se criar pelo menos uma, que provavelmente não chegará já para as encomendas. 
Entretanto, atenção aos currículos... 
É que se cá nós conhecemos as revistas e reconhecemos a marosca, para um júri internacional a coisa até pode passar. 

António Carlos Valera
Direcção do Núcleo de Investigação Arqueológica - NIA
ERA Arqueologia SA.
Cç. de Santa Catarina, 9C
1495-705 Cruz Quebrada - Dafundo
antoniovalera@era-arqueologia.pt
www.era-arqueologia.pt

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