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Re: [Archport] O que é a arqueologia?

To :   Joao Araújo Gomes <jpagomes@gmail.com>, "archport@ci.uc.pt" <archport@ci.uc.pt>
Subject :   Re: [Archport] O que é a arqueologia?
From :   joão Pereira <trainzeiro@gmail.com>
Date :   Tue, 1 Apr 2014 09:05:30 +0100

Peço imensa desculpa por o defeito de pensar. Obrigado, JP


No dia 31 de Março de 2014 às 17:52, Joao Araújo Gomes <jpagomes@gmail.com> escreveu:
É revoltante assistir à degradação da relação profissional a propósito de um tema que tudo tinha para levantar um profícuo debate...

Anuncio, também eu, a minha desistência da subscrição deste fórum, não obstante o meritório esforço do Professor José d'Encarnação para a sua elevação.

Creio que, aqui, a relação entre a produtividade científica e a publicação de "ideias archportianas" se adivinha inversamente proporcional.

Cumprimentos aos colegas,

Mas um abraço aos amigos.

João Araújo Gomes


No dia 31 de Março de 2014 às 17:23, joão Pereira <trainzeiro@gmail.com> escreveu:

Quando me refiro ao deserto do medo não me refiro a este forum.


No dia 31 de Março de 2014 às 17:05, José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt> escreveu:

«Deserto do medo»? Posso saber porquê? Desde que a discussão seja feita com lisura e não com ironia, não vejo porque há-de haver medo.

E se alguém não tem medo e, aliás, não perde pitada do que – sempre mais ou menos acintosamente – alguém vai escrevendo, para lhe responder na mesma moeda é o João Pereira. Pela-se por uma polémica!

Agora, como imagina, hoje há toda a facilidade em criar blogues e fóruns de discussão, que têm, naturalmente, os seus moderadores. Pode incluir um comentário num blogue sem que o proprietário desse blogue o autorize?

 

J. d’E.

 


De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome de joão Pereira
Enviada em: segunda-feira, 31 de Março de 2014 16:47


Para: Goncalo de Carvalho Amaro; archport@ci.uc.pt
Assunto: Re: [Archport] O que é a arqueologia?

 

Se os arqueólogos não escrevem História, estão escrevem o quê?

 

Se a Arqueologia não escreve no tempo histórico, então escreve no tempo de quê? Da ante-história como fazem os nossos colegas da Geologia?

 

Esses meninos da filosofia entemdem alguma coisa de História? Escreveram alguma coisa? Deram ao trabalho de ver que trabalho é preciso para escreve algumas linhas de História ?

 

Que eu saiba os artefactos que maioritariamente os arqueólogos estudam foram feitos e usados por pessoas, logo á História que fazem se increverem num qualquer tempo, seja ele pontual, seja ele decorrido.

 

Se é ou não perigoso escrever e falar ... claro que é, Muitos dos ousam falar / escrever são poscritos por colegas de secretária, de campo ....

 

Talvez por isso este forum e outros sejam desertos do medo.

 

já reparaste quantas pessoas recebem estas mensagens e quantas falam ou escrevem ...

 

No dia 31 de Março de 2014 às 16:33, Goncalo de Carvalho Amaro <gdecarvalho@uc.cl> escreveu:

Caro João, acho que não entendeu bem a minha reflexão, ou então apenas temos visões distintas sobre a Arqueologia.

 

“Alguém tem dúvidas de que, quando se faz arqueologia, se está a escrever História? Ou mesmo que se se produz Antropologia, acontece o mesmo?- Depende do que entende por cada uma das disciplinas, se está a falar em História como conceito abstrato, isto é fora do âmbito disciplinar, até poderia estar de acordo se, por outro lado, se refere à História disciplina da modernidade (aquele modelo que nos passaram na escola) então discordo completamente.

 

A Arqueologia, na minha opinião, não trabalha com um “tempo histórico” e o arqueólogo pode ou não escrever História, depende da sua escolha, eu prefiro falar de memória (alguns historiadores também o fazem quando fogem ao historicismo oficial), ou até de património.

 

Citando a Andreas Huyssen  – historiador cultural – hoje em dia temos de ter algum cuidado quando falamos de História e também compreender o que implica esse conceito, depois de Proust, Foucault, Derrida, Lyotard, Benjamin e dos pensadores pós-coloniais, cito: “(...) history was also  te mise-en-scène of modernity. One learn from history. That was the assumption. For about two centuries, history in the West was quite successful in its project to anchor the  ever more transitory present of modernity and the nation in a multifaceted but strong narrative of historical time” (Huyssen, 2003:2). 

 

“Talvez em ambas as disciplinas (arqueologia e antropologia) as grandes diferenças estejam na escala temporal !? Não sei a que se refere com escala temporal. Ambas trabalham no presente. Eu acho que a diferença está sobretudo na presença de pessoas; uma trabalha com seres humanos, outra com os seus vestígios, apesar de existirem casos onde está separação se diluiu como a Etnoarqueologia ou a Antropologia da tecnologia de Lemmonier.

 

Caro Hans, "Arqueologia, Antropologia assim como  História (ou estória????) estão hoje ligadas e acrescentam-se". Claro que sim, quem disse o contrário? Em meu entender, a arqueologia é uma disciplina autónoma e não um apêndice da História ou da Antropologia, e claro que sim que estão ligadas e estabelecem contactos “de igual para igual” e não “de cima para baixo”.

 

É muito difícil explicar conceitos por e-mail, fazê-lo num fórum até pode ser perigoso (e eu já deveria ter aprendido isso). Recomendo as seguintes leituras que expressam, muito melhor que eu, os conceitos que quis transmitir:

 

Alcock, S. and Van Dyke, S. 2003. The Archaeology of Memory. Oxford: Blackwell.

Andreassen, E., Bjerck, H., Olsen, B. 2010. Persistent Memories. Pyramiden – A Soviet mining town in the High Arctic. Trondheim: Tapir.

Descola, P. 2005. Par-delà nature et culture. Paris: Gallimard.

Friedman, J. 2002. From roots to routes. Tropes for trippers. Anthropological Theory 2(1): 21–36.

Hernando, A. 2008. Why has history not appreciated maintenance activities? In Engendering Social Dynamics: The Archaeology of Maintenance Activities. (S. Montón-Subías and M. Sánchez-Romero, eds.). BAR International Series 1862. Oxford: Archaeopress, pp. 9-16.

Hodder, I., 1982. Symbols in action: ethnoarchaeological studies in material culture. Cambridge University Press, Cambridge.

Huyssen, A. 2003. Present Pasts. Stanford: Stanford University Press.

Olivier, L. 2008. Le sombre abîme du temps. Paris: Seuil.

Olsen, B. 2003. 2003. Material culture after text: re-membering things. Norwegian Archaeological Review 36(2), 87-104.

Pearson, M. and Shanks, M. 2001. Theatre/Archaeology. London: Routledge.

 

 


De: archport-bounces@ci.uc.pt [archport-bounces@ci.uc.pt] en nombre de joão Pereira [trainzeiro@gmail.com]
Enviado el: lunes, 31 de marzo de 2014 11:33
Para: Hans Wilhelm Daehnhardt; archport@ci.uc.pt
Asunto: Re: [Archport] O que é a arqueologia?

Não basta dizer obsoleta...

 

No dia 31 de Março de 2014 às 15:26, Hans Wilhelm Daehnhardt <haswi@hotmail.de> escreveu:

É uma discussão obsoleta! Arqueologia, Antropologia assim como  História (ou estória????) estão hoje ligadas e acrescentam-se. 
Hans 


Date: Mon, 31 Mar 2014 14:48:41 +0100
From: trainzeiro@gmail.com
To: arteminvenite@gmail.com; archport@ci.uc.pt
Subject: Re: [Archport] O que é a arqueologia?

 

O que é a Arqueologia? Ou não seria melhor perguntar o que é a História? Alguém tem dúvidas de que, quando se faz arqueologia, se está a escrever História? Ou mesmo que se se produz Antropologia, acontece o mesmo?

 

Talvez em ambas as disciplinas (arqueologia e antropologia) as grandes diferenças estejam na escala temporal !?

 

Admiro-me, ainda e de certo modo, como  ou porque se discute uma coisa destas ...

 

No dia 26 de Março de 2014 às 14:38, Manuel de Castro Nunes <arteminvenite@gmail.com> escreveu:

Intervenho no assunto apenas para chamar a atenção para que, no âmbito de uma disciplina que usufruíu de um papel estruturador na delimitação dos temas sobre que se edificava a modernidade, a medicina, durante quatro séculos, desde Vesalio à fundação das escolas médico-cirúrigicas, se debateu sobre se a cirurgia era ou não medicina e saber se a cirurgia era uma ''ciência'' auxiliar da medicina, ou a medicina uma ''ciência'' auxiliar da cirurgia.

Sendo certo que os primeiros cirurgiões eram barbeiros e que cirurgia significa, literalmente, o ''trabalho da mão''.

A cirurgia acabou por aglutinar a medicina, de tal forma que podemos dizer que um dos seus mais louvados recursos, a imagiologia, na sua ampla acepção, nasceu e desenvolveu-se como uma ''ciência'' auxiliar da cirurgia, preliminar da intervenção cirúrgica.

É de notar, também, que, no âmbito das novas tendências da neurologia, Damásio ''et allii'', a imagiologia procura a consciência, não se sabe ainda com que propósito, se cirúrgico, se médico, se meramente curioso. Sendo caso para dizer que onde a cabeça não chega podem sempre chegar as mãos.

Recorrendo à historiografia ou à narrativa, também não é consensual o que seja uma e outra, somos levados a deduzir que os patronos da ''ciência'' sempre demonstraram um carinho e afecto discricionário pela cirurgia, na convicção de que, na maioria dos contextos, as soluções mais eficazes para as enfermidades eram cirúrgicas e os mais hábeis eram os barbeiros.

E ficamos assim irreversivelmente confinados no tema da ''sustentabilidade''.

Saudações.

Manuel.

 

No dia 26 de Março de 2014 às 00:16, Luiz Oosterbeek <loost@ipt.pt> escreveu:

Um debate importante sobre este tema reuniu colegas da Europa e do Brasil nas IX Jornadas de Arqueologia Iberoamericana, realizadas em Criciúma em 2013, onde se reflectiu também sobre a importância do Brasil e da América do Sul na estruturação do pensamento de F. Braudel e Lévi-Strauss (no âmbito da missão francesa, na década de 30 do século passado). As actas serão apresentadas em Mação, nas X Jornadas, no próximo dia 2 de Abril.

Um abraço,

 

Luiz Oosterbeek

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Pró-Presidente do Instituto Politécnico de Tomar

Av. Dr. Cândido Madureira 13, P - 2300 Tomar, Portugal

Tel. +351249346363; Fax. +351249346366

 

Secretary-General of UISPP (Union Internationale des Sciences Préhistoriques et protohistoriques)

 

De: archport-bounces@ci.uc.pt [mailto:archport-bounces@ci.uc.pt] Em nome de Goncalo de Carvalho Amaro
Enviada: terça-feira, 25 de Março de 2014 19:27
Para: Archport@ci.uc.pt
Cc: vitor.oliveirajorge@gmail.com
Assunto: [Archport] O que é a arqueologia?

 

Há pouco mais de um ano escrevi aqui um comentário onde perguntava qual deveria ser o motor da arqueologia: a história ou a antropologia? A maioria, n@ archport, respondeu-me que claramente deveria ser a história, aqui no Chile que definitivamente a antropologia – aliás, ainda tenho aqui um tema pendente no que diz respeito à minha licenciatura, pois é em história variante arqueologia (e isso parece ser inconcebível aqui nas costas do Pacifico) – no entanto, na altura defendi que o motor da arqueologia deveria ser a própria arqueologia, influenciado que estava pela proposta de uma arqueologia simétrica e por Bjornar Olsen. Hoje em dia, e a preparar uma conferência sobre o Tempo e o Património, e depois de ter mastigado, convenientemente, a arqueologia simétrica (- no prelo - “El acercamiento interdisciplinario a la cotidianidad, la historia de los objetos a traves de la Arqueología. A proposito de  ‘Archaeology. The discipline of things’”. Revista Historia) e até a ter criticado em certa medida (- no prelo – “La Arqueología en sí misma. Una visión (a)simétrica de dos propuestas de Olsen”. MATS 2.), continuo a achar que a arqueologia, enquanto proposta disciplinar, é totalmente independente e diferente das outras duas, na realidade, até poderia perfeitamente viver sem ambas; contudo, essa não é a ideia, seria uma descaracterização, pois a arqueologia é por essência interdisciplinar: uma ponte entre as ciências exactas e as sociais, um elo entre mente e matéria e um trabalho colectivo.

 

Têm sido vários os autores de outras áreas a utilizar o termo arqueologia para tentar explicar conceitos, alternativas ao discurso e à memória (Foucault e Freud entre os mais conhecidos), no entanto, a maioria dos arqueólogos ainda não se apercebeu das vantagens desse filão (chamado arqueologia) e como, por exemplo, na actualidade, a principal corrente de estudo do património cultural explora o conceito ahistórico de um tempo fluido e descompartimentado, sem uma evidente separação entre presente e passado com base na arqueologia. John Carman, Laurajane Smith e Felipe Criado-Boado levaram para o património o verdadeiro tempo arqueológico, que não é o passado mais sim o presente, ou não fosse a arqueologia feita no presente (como nos diz Julian Thomas). 

 

Na actualidade como arqueólogos temos prácticamente dois caminhos (certamente existiram mais opções, apenas teorizo): ou fazemos património ou fazemos história. Ao fazermos património, aproximamo-nos das pessoas, servimos de intermediários entre os objectos e os seres humanos, assumimos claramente a interdisciplina e também a ausência de verdades absolutas, por outro lado, ao fazermos história, aproximamo-nos do discurso, deixamos de ter um papel activo, catalogamos materiais, veneramos estratos, e fundamentamente negamos a nossa essência como arqueólogos, pois deixamos de estar em contacto directo com o passado e passamos a “acreditar” que o passado é imutável e que o registro arqueológico pouco pode fazer em relação ao que já está escrito.

 

É inegável o papel e influencia de alguns historiadores e antropólogos (mas também de químicos, físicos, geólogos, filósofos e geógrafos) nas várias propostas e correntes de pensamento arqueológico, mas já é tempo de pensarmos por nós próprios e, sobretudo, é fundamental reflectir sobre o que entendemos por arqueologia?

 

Uma vez que, agora Olivier já é lido neste fórum (se calhar até já o era antes) atrevo-me a compartir, novamente, a minha opinião. Entendo que a arqueologia trabalha – na sua essência – sobre a memória (material), não sobre o registro do passado, aquele que tem como base a escrita descritiva de uns sobre outros; passo a citar:

 

“archaeology deals with the material memory of the past and [thus] it is the work of the archaeologist to study the way in which memory is constituted over time, in which case the present, understood as ‘nowness’, would become the locus for interpreting the past” ( in Olivier, L.  The Dark Abyss of Time: Archaeology and Memory Altamira Press, Walnut Creek, 2011, p.99).

Um abraço e peço desculpa por este relato em português de um pensamento concebido em castelhano.

PS: Este é um comentário pessoal, sem qualquer intenção ou pretensão de ser uma opinião melhor ou pior que as outras... é apenas uma reflexão compartida.

 

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Manuel de Castro Nunes


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João Araújo Gomes

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