Caros archportianos,
Foi com muito agrado que pude ler a opinião de alguém com tão invejável curriculum e experiência (Prof. José d'Encarnação) a expôr as mesmas profundas dúvidas quanto ao actual estado da ciência e investigação em Portugal.
Agora respondendo ao Alexandre Monteiro:
Pelo que pude ler das intervenções até agora aqui expostas, ninguém se opôs totalmente contra a escrita em inglês. Quem quiser, que publique onde e como quiser, desde que o principal critério seja o da qualidade.
O ponto que se focou, e que tanto mal-estar tem provocado, é que escrever em inglês se tornou institucionalmente OBRIGATÓRIO para quem investiga. Há uma subtil, mas importante diferença...
Mais: pelos vistos, já nem basta escrever em inglês; tem de se escrever nas revistas X ou Y, catalogadas pela bases de dados bibliográficas ISI ou Scopus. Como quem aqui já mencionou, são uma espécie de "agências de notação financeiras" aplicadas à investigação! E como muito dinheiro à mistura, já agora...
(cf. este artigo de opinião que, já agora, nem sequer vem das minhas "águas políticas":
http://www.esquerda.net/opiniao/os-bar%C3%B5es-do-conhecimento/26604)
Eu já não trabalho em Arqueologia há alguns anos, e tenho trabalhado em Geografia/Ordenamento do Território, na academia. E estou prestes a sair deste mundo, porque, a meu ver (e não estou sozinho, pelos vistos) este está cada vez mais paranóico quanto a "rankings" e avaliações e "impact factors" e n.º de publicações e n.º de orientandos, e n.º disto e n.º daquilo! A academia transformou-se numa autêntica fábrica de chouriços, sujeita aos caprichos da mercantilização e do "produtivismo" e dos artigos 'a martelo'!
Como em qualquer ditadura, também nesta existem os "fanáticos" (no topo ou a meio caminho de lá) e os "lacaios" (na base). Ora, não me considero um fanático, e deixei de ter paciência e estômago para ser lacaio.
Cumprimentos a todos!
Carlos Delgado
Em 2014-08-04 18:46, Alexandre Monteiro escreveu:
Há um artigo que anda aí pela internet, de arqueólogo conceituado, que me parece fabuloso - a julgar pelo resumo (em inglês) e pelas ilustrações.Infelizmente, o arqueólogo em causa é sueco. Não é que ser sueco seja uma infelicidade. O que é uma infelicidade, para mim, é que o sueco escreveu o dito artigo - que, friso, me parece estupendo e capaz de me ajudar na minha própria linha de investigação - na sua língua natal. Exacto, escreveu-o em sueco.Ora, eu sei ler em português. E em francês. E em espanhol. E até em inglês. Infelizmente, o sueco para mim, é grego. Como imagino seja um artigo meu escrito em português, para quase toda a gente que não fale português ou castelhano (e mesmo esses, fazem que não o entendem).Logo, deixem lá as pessoas publicar na língua franca de hoje em dia que, quer se goste ou não, não deixa de ser o înglês. Ao menos alargamos o nosso público. Até porque, muitas vezes, ao escrevermos apenas em português, mais valia andarmos a pregar aos peixes...
Em 4 de agosto de 2014 09:06, joão Pereira <trainzeiro@gmail.com> escreveu:
Caro Encarnação,Parece que desta vez sou capaz de concordar consigo (julgo que o texto seja seu).No entanto, a crise de mentalidades e de valores que grasa na arqueologia, parece que abrange também, o resto da investigação científica portuguesa.Ora bem, os desaforos de quem avalia, a ideia que a ciência só é válida se for escrita em inglês e mais umas quanta palermices ditas modernas, dignas do desenvolvimento do cérebro humana alastra-se pela imbecilidade global de que somente nós conseguimos atingir.Era o que faltava, era que o valor científico dos trabalhos de cada somente teriam valor se prescrevesse aquelas condições.Quase se torna uma religião abjecta como os usos de alguns, muitos fazem das religiões, o facto o inglês ser a grande lingua da grande comunidadedos doutos.Até agora foi muito giro as universidades, e quejandos, de escrevem em inglês, qual lingua global que toda a gente entende.Agora com o tiro nos pés está visto que a cura vai ser desgastante, afastando os verdadeiros valores para discussões alienígenas, dando mais espaço aos que por sorte do destino, do fado, nasceram num país de lingua oficial inglesa.Nem sei se hei-de rir se chorar.João Paulo Pereira
No dia 3 de Agosto de 2014 às 22:49, José d'Encarnação <jde@fl.uc.pt> escreveu:
_______________________________________________Em anexo, um texto de opinião, que submeto à apreciação, acerca do modo como estão a ser avaliados os trabalhos científicos.
J. d’E.
.............................................
Professor Doutor José d'Encarnação
R. Eça de Queirós, 89
PAMPILHEIRA
P - 2750-662 CASCAIS
Tel. (+351) 214 866 409
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