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Re: [Archport] Fwd: Escavações arqueológicas revelam o passado escravagista de Portugal

To :   regis barbosa <regisbfanzine@gmail.com>
Subject :   Re: [Archport] Fwd: Escavações arqueológicas revelam o passado escravagista de Portugal
From :   Luís Raposo <3raposos@sapo.pt>
Date :   Tue, 26 Sep 2023 13:05:21 +0100

Agradeço o esclarecimento.
Aguardemos, pois, resultados, esperando que não haja aqui algo que popularmente se expressa em "entradas de leão, saídas de sendeiro".
O tema é indiscutivelmente importante, científica e socialmente.
Mais uma razão para o abordar com todo o rigor e seriedade, esperando que haja resultados realmente palpáveis.
Para já, para já, aquilo que temos é o que já sabíamos, tanto pela via da documentação e investigação históricas e da tradição oral, como até pela via da arte e do património (cf. as referências já aqui feitas pelo Jorge Feio à representação de negros, muito presumivelmente com estatuto de escravizados). Querer "meter a arqueologia pelo buraco da agulha", pode até lograr convencer quem já está predisposto para ser convencido (mesmo em concursos da FCT...) , pode promover carreiras e centros universitários, mas depois, bom depois, existe essa coisa chata que é a confrontaçãao com a prova dos factos.
Luís Raposo


----- Mensagem de regis barbosa <regisbfanzine@gmail.com> ---------
Data: Tue, 26 Sep 2023 10:03:35 +0100
De: regis barbosa <regisbfanzine@gmail.com>
Assunto: Re: [Archport] Fwd: Escavações arqueológicas revelam o passado escravagista de Portugal
Para: Jacinta Bugalhão <jacintabugalhao@gmail.com>
Cc: archport <archport@ci.uc.pt>

Bom dia a todos,

As críticas aqui expostas sobre o projeto Ecologias da Liberdade pecam pela pressa. Os primeiros resultados sequer foram apresentados. O que temos são matérias jornalísticas sobre a escavação no monte do Vale de Lachique, o que é comum em arqueologia. Felizmente. 

Mesmo assim podemos fazer algumas considerações. O tema tem não só interesse científico como tem grande interesse na sociedade. De facto trata da escravatura africana na Idade Moderna, com todas as implicações que ecoam até hoje. Por outro lado, o projeto é desenvolvido por uma equipa multidisciplinar com investigadores que trabalham em instituições reconhecidas, concretamente a Universidade de Durham, a UNIARQ e o Laboratório de Arqueociências da DGPC. Conta ainda com o apoio do Município de Alcácer do Sal. 

Para além disto, o projeto tem conseguido um desejável envolvimento da comunidade, seja da população local seja do movimento associativo. É um projeto sério, que teve o mérito de obter financiamento pela FCT (quem anda pela investigação sabe que não é fácil). Tem um enquadramento teórico robusto (concorde-se ou não), usa metodologias de ponta, tem o devido enquadramento institucional e tem profissionais qualificados. 

Espero que haja debate, e muito. E que este debate tenha a excelência e o rigor do projeto Ecofredom.

Saudações arqueológicas,

Regis Barbosa 


A segunda, 25/09/2023, 15:28, Jacinta Bugalhão <jacintabugalhao@gmail.com> escreveu:
... Que saudades eu já tinha
Do meu grande imperiozinho
Sem racismo nenhum...
Éramos todos tão unidos
Vieram as independências
Tivemos todos de fugir...

A segunda, 25/09/2023, 15:16, Alexandre Monteiro <alexandre.monteiro@gmail.com> escreveu:
Claro que sim. Apesar de estarmos na net, nada melhor que citações de artigos contra declarações cheias de pontos de interrogação.


Sim, fugiram da independência. Muitos milhares, como a Sita Valles e o José Van-Dunem, não conseguiram - ou não quiseram - fugir a tempo, e foram violados e assassinados pelos vencedores da luta colonial. Como aconteceu com milhares de ex-combatentes africanos, que lutaram no Exército Português e foram deixados para trás pelo Acordo de Argel, especialmente na Guiné-Bissau.

Podemos continuar a discussão, que já retirei o ferrão de onde ele foi posto. :)

Em seg., 25 de set. de 2023 às 15:06, Jacinta Bugalhão <jacintabugalhao@gmail.com> escreveu:
A sério Alexandre?
A enviar me citações?

Logo, fugiram da independência???

Vamos parar com isto. E deixar prosseguir a discussão séria. 
Que para variar está interessante. 
Tirando as ferroadas venenosas que não fazem falta nenhuma.
Jacinta

A segunda, 25/09/2023, 14:40, Alexandre Monteiro <alexandre.monteiro@gmail.com> escreveu:
" A segunda fase [de emigração africana], a partir de 1975 e até finais dos anos 80, corresponde aos novos fluxos gerados pela descolonização dos antigos territórios portugueses em África. É a fase da diversificação. Com as independências da Guiné-Bissau (1974), Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Angola (todas em 1975), aumenta o número de imigrantes africanos, mas sobretudo diversificam-se as suas origens. Os caboverdianos deixam de ser o único grupo com uma presença numérica significativa, formando-se contingentes de imigrantes de todas as cinco ex-colónias. Os novos imigrantes chegam ao mesmo tempo, e no mesmo movimento, que os mais de 500 mil portugueses e seus descendentes que residiam nas ex-colónias, nomeadamente em Angola e Moçambique, na altura designados «retornados», nome que entretanto passou à história. Os africanos que chegam nessa fase são como que retornados negros e mestiços. São pessoas que, no contexto da descolonização, por razões familiares, profissionais, políticas, optam ou são obrigados a vir para Portugal. Entre eles contam-se pessoas de famílias mistas, de portugueses e africanos; antigos funcionários de vários serviços da administração portuguesa nas ex-colónias; ou ainda homens que fizeram a guerra colonial do lado do exército português, especialmente na Guiné-Bissau, e que vieram para escapar à perseguição política, quando não à morte. Por todas estas razões, mais do que imigrantes laborais propriamente ditos, os protagonistas destes fluxos pós-descolonização podem ser mais adequadamente designados «luso-africanos»".




Em seg., 25 de set. de 2023 às 13:21, Jacinta Bugalhão <jacintabugalhao@gmail.com> escreveu:
Estava tudo a ir tão bem e certo, até que,
... comunidades africanas racializadas estabelecidas hoje em Portugal - que resultam  de (...) fugas à independência das ex-colónias africanas"
Portantos, as comunidades africanas racializadas estabelecidas hoje em Portugal fugiram (entre outras causas) da independência das ex-colónias africanas.
Maravilhoso!!!!

Alexandre Monteiro <alexandre.monteiro@gmail.com> escreveu no dia segunda, 25/09/2023 à(s) 11:03:
Na verdade, não se trata de arqueologia. A arqueologia trata de materialidades. Pelas declarações dadas ao Público:

1) "por este monte terá passado"

2) "não se identificou qualquer documentação que faça referência a trabalhadores de origem africana"

3) encontraram-se apenas "materiais (...) como moedas (...) porcelana chinesa (...) faiança (...)" sem qualquer ligação a escravos

4) "a chegada do arroz a este território é ainda um mistério"

5) "é muito provável que esta propriedade tivesse escravizados"

6) "de [Cacheu] saíram muitos que vieram para Portugal, talvez alguns para o Sado..."

se verifica pelas reticências dadas ao Público pelo Investigador Principal, que deste monte veio uma mão cheia de nada e outra cheia de ativismo. 

Materialidades? Aparentemente, zero. O que faz sentido - não estamos no Brasil nem nos EUA. Todos os escravos - romanos, eslavos, mouros, subsaarianos - que entraram no que hoje é território português foram há muito fenotipicamente absorvidos pelo resto da população, não podendo nós estabelecer um nexo causal direto entre as comunidades africanas racializadas estabelecidas hoje em Portugal - que resultam esmagadoramente de emigrações do século XX, fugas à independência das ex-colónias africanas e emigração laboral dos anos 90 - e a escravatura da Idade Moderna e Contemporânea.

Quiçá por isso mesmo, por não haver materialidades, o Observador se tenha visto obrigado a ilustrar a notícia da Lusa que surgiu no seu site com as imagens de uma múmia pré-inca, encontrada no Peru....




Na minha opinião, todas estas notícias em jornais são um mau serviço à arqueologia e à História, nada mais que um péssimo contributo científico, bom apenas para obter cliques nos jornais, construído sobre os velhos clichês de que há um tabu sobre a escravatura em Portugal - não há, tenho aqui em casa três estantes cheias de livros sobre o assunto - e assente na ignorância de quem lê Foucault e Frantz Fanon, não lendo fontes primárias e desprezando quem realmente sabe destes assunto - investigadores a sério, pessoas como Isabel Castro Henriques, Arlindo Caldeira, João Pedro Marques e Valentim Alexandre.

Do meu ponto de vista, ao contrário do que afirma o IP, para se resolverem "as desigualdades sociais que continuam a marcar a sociedade portuguesa, do ponto de vista étnico-racial, étnico económico e social” é preciso agir com o nosso voto e a nossa agência cidadã, não instrumentalizando a arqueologia e a História, como fizeram Hitler e Estaline, aqui há umas décadas atrás. Até porque os fachos também gostam de mentir às cavalitas da arqueologia...



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Em dom., 24 de set. de 2023 às 18:12, Isabel Luna <misabel.luna@gmail.com> escreveu:

"Cada vez mais pesquisadores revelam que houve escravidão africana também na metrópole."

Alguém andou a faltar às aulas de História de Portugal ou, então, nunca consultou, sequer, coisas tão simples como registos paroquiais.
Quando a Arqueologia precisa de notícias bombásticas para revelar ignorância e verdades de La Palice, é a própria disciplina que cai em descrédito.


---------- Forwarded message ---------
De: Rui Gomes Coelho <ruigomescoelho@gmail.com>
Date: domingo, 24/09/2023 à(s) 09:47
Subject: [Archport] Escavações arqueológicas revelam o passado escravagista de Portugal
To: Archport <archport@ci.uc.pt>



Escavações arqueológicas revelam o passado escravagista de Portugal

As imagens que mais vêm à tona quando se pensa em africanos escravizados é a do Brasil colonial, especialmente com as imensas plantações de cana e os engenhos. Faz sentido: estudos recentes estimam que foram trazidos da África para a colônia estabelecida por Portugal no Novo Mundo pelo menos 5,8 milhões de indivíduos escravizados entre os século 16 e 19 — quase a metade do total de toda a América.

Mas o passado escravagista português não se resume ao emprego de mão-de-obra forçada nas colônias. Cada vez mais pesquisadores revelam que houve escravidão africana também na metrópole — ou seja, em Portugal — no mesmo período.

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