«O património industrial, legado pela sociedade industrial que nos antecedeu, encontra-se sobre particular ameaça de perda, quer pelas suas características tendencialmente amplas e funcionais, pelos problemas ambientais e estruturais que muitos carregam, e pelo estigma social de memórias negras de eventos associados. Com a actual expansão e renovação urbana, e à medida que a sociedade pós-industrial e do conhecimento traz elevadas alterações culturais e sociais, a transformação e destruição deste património, muitas vezes sem registo e salvaguarda, configura-se como uma rápida perda de conhecimentos e de recursos. A arqueologia industrial torna-se assim particularmente relevante na actualidade, para identificar, estudar, salvaguardar e comunicar os vestígios materiais da sociedade industrial. Nesta aula aberta abordaremos as diferentes escalas de trabalho e de análise, desde as paisagens ao saber-fazer imaterial, passando pelos sítios e pelo património móvel, apresentando as diferentes metodologias utilizadas para recolha e interpretação das fontes oferecidas por este período histórico. Acompanhando a evolução tecnológica e social, o estudo arqueológico deste período passa a ter como fontes elementos novos e diversos, tal como a fotografia ou o aumento das publicações periódicas e da documentação oficial, e mais tarde a imagem em movimento e a memória oral, que se apresentam como recursos que, a par da cultura material que sobreviveu até aos nossos dias, nos ajuda a compreender e a aprender com a sociedade industrial.».
«Leonor Medeiros é arqueóloga, sediada em Lisboa, Portugal, e professora auxiliar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa (NOVA FCSH). Com um doutoramento em Património e Arqueologia Industrial pela Michigan Technological University (EUA), e um Mestrado em Gestão de Património pelo Ironbridge International Institute of Cultural Heritage (UoB, Reino Unido), foca-se actualmente no inventário e documentação do património cultural em colaboração com as comunidades pós-industriais, especialmente no âmbito da arqueologia industrial e da arqueologia comunitária. É investigadora integrada no CHAM – Centro de Humanidades, Presidente da APAI - Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial, e membro da Direção do TICCIH – Comité Internacional para a Conservação do Património Industrial.».