O cyberbullying, nova forma de
bullying que envolve o uso das novas tecnologias da informação e da
comunicação, é um fenómeno que tem vindo a ser alvo de crescente atenção
por parte de agentes educativos, de investigadores e dos próprios meios
de comunicação, face à dimensão que pode assumir, em resultado do uso
crescente e diversificado destas tecnologias pelas crianças e pelos
jovens. O desenvolvimento das novas tecnologias da informação e da
comunicação veio acrescentar ao problema do bullying novas dimensões e
características. De facto através do email, o SMS e os chats, o YouTube,
e as redes sociais, como o Hi5 e o Facebook, tão significativas para os
jovens, para além dos enormes benefícios que trouxeram nos planos das
relações, da divulgação e da construção dos saberes, vieram igualmente a
revelar-se como poderosos instrumentos de agressão e de perseguição.
Embora exista já alguma investigação nacional e europeia relativamente à
temática do cyberbullying,
ainda pouco se sabe sobre o fenómeno, sobre a sua natureza, o que se
reflecte na falta de (in)formação para intervir com eficácia preventiva e
educativa.
O projecto europeu CyberTraining: A Research-based Training Manual On Cyberbullying tem procurado, por um
lado, desenvolver uma compreensão aprofundada deste problema e, por
outro, fazer face à ausência de programas sistemáticos e consolidados no
diagnóstico e intervenção na situação. Trata-se de um trabalho
internacional apoiado pela Comunidade Europeia que teve o seu início em
Outubro de 2008 e terá o seu término em Outubro 2010, e que tem como
objectivo fundamental desenvolver um manual para formadores sobre cyberbullying fundamentado e
suportado numa investigação participada, a nível europeu, por
especialistas, investigadores e pelos próprios formadores.
Para além da equipa portuguesa - João Amado (coordenação), Teresa Pessoa
e Armanda Matos - Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da
Universidade de Coimbra - estão presentes 6 países europeus1 na
concepção e desenvolvimento de um Manual para Formadores na área do cyberbullying, com edição em eBook e
impressa em língua inglesa, alemã, portuguesa e espanhola.
A concepção e desenvolvimento do manual de formação assentou num processo
de investigação multinivel que se processou em diversas fases. A primeira
fase exigiu a realização de dois estudos: o primeiro consistiu numa
análise de necessidades efectuada pela equipa portuguesa junto de
formadores de diferentes países; o segundo, desenvolvido pelo Zentrum für
Empirische Pädagogische Forschung (zepf) da Universidade de Koblenz -
Landau, na Alemanha, pretendeu sistematizar as perspectivas de
especialistas acerca do problema do cyberbullying
e reunir informação sobre a investigação e os projectos desenvolvidos na
Europa em torno desta problemática. As várias fases representaram
momentos de investigação no que concerne à definição de conceitos, de
materiais e casos de boas práticas nos diversos países que culminaram em
relatórios europeus aprofundados relativos à temática do Cyberbullying e que, finalmente,
irão servir de base à construção do Manual de formadores O Manual irá
incluir: um capítulo sobre questões gerais da formação; um capítulo sobre
questões básicas relacionadas com o cyberbullying;
um capítulo sobre questões básicas relativas às TIC; um outro capítulo
sobre estratégias europeias para fazer face ao problema do cyberbullying; um outro capítulo
sobre como trabalhar com pais; um outro capítulo sobre como trabalhar com
escolas, um outro capítulo sobre trabalho com crianças e jovens. Este
trabalho terminará com uma compilação exaustiva de referências, links e
outros recursos para formadores.
Finalmente o Manual constituir-se-á como um instrumento, de cariz
essencialmente prático, que visa responder, de forma eficaz, às
dificuldades várias com que os formadores se vêem confrontados nas suas
actividades de formação e, assim, apresentar-se como um recurso útil e
válido, com orientações, recursos e propostas educativas que possam ter
um verdadeiro impacto na prevenção do fenómeno de cyberbullying entre crianças e
jovens.
1 A Alemanha, que coordena o projecto através do Centro
de Investigação Educacional (Zentrum für Forschung empirische
Pädagogische, ZEPF). A Bulgária, através da Infoart que desenvolve
projectos em tecnologias de edição electrónica, e-learning. A Espanha,
através do Departamento de Psicologia Evolutiva e da Educação da
Universidade de Sevilha (U.S.), da Universidade Autónoma de Madrid e da
Universidade de Córdoba. A Inglaterra, através da Faculdade de Ciências
Médicas e da Saúde da Universidade de Surrey. A Irlanda, através do
Centro de Investigação e Recursos Anti-Bullying, Trinity College em Dublin. A Suiça,
através da Ynternet.org, Instituto dedicado à investigação e formação em
eCultura e que tem participado em vários programas de aprendizagem ao
longo da vida.
|