Enviamos em anexo o último número da revista "ponto
e som".
Luís Barata
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From: Maria Aldegundes
Pataco
Sent: Thursday, June 24, 2010 3:40 PM
Subject: Ponto e Som - 141 - Abril 2009 Ex.mo(a)
Sr.(a) Envio em anexo o ficheiro
correspondente à revista Ponto e Som Nº 141 de Abril de
2009. Com os melhores
cumprimentos, Maria Aldegundes M. P.
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BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL
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Área de Leitura para Deficientes Visuais
_ÁREA DE _LEITURA PARA _DEFICIENTES _VISUAIS
PONTO E SOM
__PONTO _E __SOM
Cultura e Informação
Publicação trimestral
N.º 141
Abril 2009
A Leitura é uma porta aberta que propicia a sua Integração Social. Leia, leia muito. Não permita que esta se feche para si.
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FICHA TÉCNICA
Responsabilidade Editorial
Isidro E. Rodrigues (coordenação)
Claudino A. Pinto
Cláudia A. Trigo
Edição em Livro Braille e Livro Electrónico
Processamento e Impressão
José Luís de Almeida
ISSN:: Versão Braille: 0874-5420;
Versão Electrónica: 0874-5447 (texto).
35 Anos de Publicação de "Ponto e Som"
Fernando Pessoa: um cliente muito especial
Bastardos famosos, Filhos ilegítimos que mudaram o mundo
Marrocos: Regresso ao passado, em Mazagão
Doloroso Ocaso de um Amor Eterno
35 Anos de Publicação de "Ponto e Som"
por Isidro E. Rodrigues
35 anos são já passados desde o início do mês de Abril em que um contingente de Capitães das Forças Armadas Portuguesas concertava o plano estratégico a executar para o derrube do Estado Novo. Pois, nesse mesmo mês de Abril em que para todos nós, Portugueses, se abria uma nova página promissora de progresso em liberdade, para os deficientes visuais da Pátria Lusa dava-se início, na Biblioteca Nacional, à publicação de “Ponto e Som”, Revista Trimestral que se propunha preencher um importante espaço no domínio das acessibilidades à informação, à literatura recreativa e formativa, aos diversificados ramos da cultura, em suma, aos saberes que enriquecem e enobrecem o Intelecto Humano.
Ao longo destas três décadas e meia, não foram poucas as dificuldades a vencer. Equipamentos rudimentares de impressão, falta de papel adequado às exigências da escrita Braille foram os obstáculos mais renitentes, até Janeiro de 1989, mês em que foi encetado o processamento e impressão contando com meios informáticos recentemente adquiridos.
Não obstante, esta publicação jamais, no passado, defraudou as expectativas dos seus leitores. Disseminou informação de carácter literário, artístico, científico, promoveu acções formativas no domínio da aprendizagem do Braille, foi entre nós o maior veículo de informação acerca das novas tecnologias ao serviço dos deficientes visuais. Não esquecendo o serviço relevante que se consubstancia na publicação da rubrica “As Nossas Colecções”, que proporciona aos leitores da ALDV receberem em suas casas, sem demoras injustificáveis, informação concernente às actualizações dos fundos bibliográficos disponíveis, “Ponto e Som” contribuiu em larga medida para que os deficientes visuais conhecessem mais e melhor a história e a missão do livro e das bibliotecas que salvaguardam a sua conservação e promove a respectiva difusão.
35 anos de existência activa tem esta publicação que, aquém e além fronteiras, foi veículo de saberes que a todos os deficientes visuais lusófonos gratuitamente disponibilizou; três décadas e meia de labor empenhado a favor da promoção dos cidadãos com deficiência visual, em todas as vertentes de índole intelectual, se celebram neste mês de Abril, com a consciência de dever cumprido e a esperança de que, por detrás das nuvens negras que se adensam no horizonte, esteja um Sol que brilha e que no futuro próximo, esparramando-se por cidades e aldeias, vales e montanhas, a todos contemple com o seu calor e luminosidade fecundantes.
Fernando Pessoa: um cliente muito especial
Luís Machado,
In “Era uma Vez um Café”
Fernando, realmente, um cliente muito especial
Das muitas personalidades ilustres e famosas que passaram pelo Café Martinho da Arcada, destaca-se obrigatoriamente uma: Fernando Pessoa; melhor: Fernando António Nogueira Pessoa, de seu nome completo, nascido em Lisboa num dia de Santo António, do ano de 1888.
Mas afinal quem era (e como era) Fernando Pessoa?
Figura cimeira do modernismo literário, incontestavelmente um dos maiores poetas do século XX, escreveu, como se sabe, uma boa parte dos seus poemas à mesa do Martinho da Arcada.
Era um homem magro, com uma figura esguia e franzina, media 1,73 m. de altura. Tinha o tronco meio corcovado. O tórax era pouco desenvolvido, bastante metido para dentro, apesar da ginástica sueca que praticava. As pernas eram altas, não muito musculadas e as mãos delgadas e pouco expressivas. Um andar desconjuntado e o passo rápido, embora irregular, identificava a sua presença à distância.
Vestia habitualmente fatos de tons escuros, cinzentos, pretos ou azuis, às vezes curtos. Usava também chapéu, vulgarmente amachucado, e um pouco tombado para o lado direito.
O rosto era comprido e seco. Por detrás de uns pequenos óculos redondos, com lentes grossas, muitas vezes embaciadas, escondiam-se uns olhos castanhos míopes. O seu olhar quando se fixava em alguém era atento e observador, às vezes mesmo misterioso. A boca era pequena, de lábios finos, e quase sempre semicerrados. Usava um bigode à americana que lhe conferia um charme especial. Quando falava durante algum tempo e esforçava as cordas vocais, um dos seus pontos sensíveis, o timbre de voz alterava-se, tornando-se mais agudo e um pouco monocórdico. A modulação da passagem de um tom para outro acabava por reduzir o seu volume vocal natural e o som então emitido ficava mais baixo e um pouco gutural, tornando-se menos audível. O actor João Villaret, que o conheceu através do poeta António Botto, ouvindo-o ler um dia uns poemas novos que escrevera, ficou decepcionado com a leitura, dizendo: "O Botto, o seu amigo com aquela voz, nunca poderia ser actor".
Embora não muito dado ao riso, Fernando Pessoa tinha uma certa ironia e algum humor, sobretudo se estava bem disposto, o que acontecia algumas vezes quando os amigos mais próximos o desafiavam para jantares. Quando ultrapassava a timidez chegava a ser exuberante e gesticulava de um modo quase teatral, deixando escapar um riso nervoso, às vezes irritante.
Apesar de conviver, no fundo era um solitário, pouco dado a conversas com estranhos. No final da sua vida, a melancolia e uma exagerada angústia existencial acentuavam a tendência para se isolar dos mais próximos e dos próprios familiares.
O seu temperamento ansioso foi interpretado por alguns dos seus biógrafos como uma personalidade do tipo emotivo não activa. No fundo, era um tímido introvertido, dado a fortes instabilidades de sentimentos e de emoções.
Dotado de um carácter bastante complexo, era um homem simples com uma grande inteligência e uma extrema sensibilidade. Como se sabe, era reservado e não gostava de falar de si nem dos seus problemas, protegendo o mais possível a sua privacidade.
Terrivelmente supersticioso, tinha momentos em que se comportava de uma forma enigmática e misteriosa, a que decerto não seria alheia a sua velha atracção pelo oculto, o esotérico e a própria relação metafísica que tinha com a vida.
Sempre sonhador, acreditava nos grandes projectos, empenhando-se neles com extrema lucidez e determinação, às vezes até de uma forma obsessiva, sobretudo nas coisas que se propunha realizar.
De todos os cafés de Lisboa que frequentou, o Martinho da Arcada foi um espaço ideal para aliviar a solidão. Utilizava-o, sem parcimónia, como um escritório de fim de tarde, onde se encontrava, só quando queria, com os amigos mais íntimos. Diariamente aparecia por volta das sete da tarde, com uma pasta debaixo do braço. Sentava-se à mesa (quase sempre na mesma) onde espalhava vários maços de papéis. Às vezes, se estava sozinho, mesmo antes do primeiro café, lançava logo para o papel alguns pensamentos e começava a escrever. Outras, adoptava uma postura abúlica e fixava um ponto da sala, alheando-se de tudo e de todos. Apenas um pigarrear característico, seguido de tosse seca, denunciavam a sua presença.
A família Mourão (nessa altura proprietária do Martinho e que nutria por ele grande admiração) jantava todas as noites numa mesa próxima do poeta e, ao vê-lo encharcar-se em cafés e bagaços, desafiava-o, muitas vezes, para os acompanhar na refeição. Pessoa, por timidez, nem sempre aceitava mas, quando insistiam, acedia por delicadeza, e se mais não fosse, acabava por comer apenas uma sopa. Diz-se que Maria Judite Mourão inventou uns ovos estrelados com queijo só para o obrigar a comer algo de mais substancial.
Sabe-se que Pessoa tinha algumas fobias: não suportava que lhe tirassem fotografias, não gostava de falar ao telefone e tinha terror às trovoadas. A propósito destas, Almada Negreiros relata-nos um episódio ocorrido num dia chuvoso, em que tinha marcado encontro com o seu amigo Pessoa, no Martinho: "Mal tinha começado a conversar com ele quando, subitamente, rebenta uma tremenda e memorável tempestade. O Terreiro do Paço ficou logo ligado ao Tejo. Chuva e mais chuva barulhenta, vento, relâmpagos, trovões, um não parar. Não me contive e vim à porta. Gritei para fora: Vivam os raios! Viva o vento! Viva a chuva! Quando voltei à mesa ele já não estava lá. Mas estava um pé debaixo da mesa. Era ele todo. Puxei-o, estava pálido como um defunto transparente".
Dos seus gostos, conhece-se que coleccionava postais e que era filatelista. Para além do deleite pela leitura, e a sua biblioteca comprova os muitos livros que "devorou", apreciava música clássica: Beethoven, Chopin, Mozart, Verdi e Wagner foram seguramente alguns dos seus compositores favoritos.
Nos últimos anos de vida, já sem amizades nem amores, só e muito abandonado, movimentava-se num círculo cada vez mais restrito. O envelhecimento prematuro fazia-se sentir de forma bem visível, sobretudo pelo aumento da calvície e pelo embranquecimento do cabelo, a que decerto não foram alheios os excessos praticados: muitas aguardentes bebidas, muitos cafés sorvidos e os oitenta cigarros fumados diariamente.
Os desgostos da vida, a saúde precária, agravados por dificuldades económicas, contribuíram decerto para uma morte tão precoce.
Numa quinta-feira de um quase final de Outono, do ano de 1935 (27 de Novembro), um atormentado Fernando Pessoa toma, com Almada Negreiros, o último café no Martinho da Arcada. Dir-se-ia uma despedida romântica digna de um poeta. Nessa noite, depois de regressar a casa, é acometido de dores abdominais, agravadas por dolorosas cólicas hepáticas.
Na manhã seguinte, a conselho do médico que o assiste, Jaime Neves, é internado, de urgência, no Hospital de S. Luiz dos Franceses, em Lisboa, local onde, a 30 de Novembro, faleceu.
Não obstante já terem passado 69 anos após a sua morte, a grandiosidade da sua obra e o seu invulgar génio poético estão hoje ainda longe de estarem completamente decifrados. Fernando Pessoa continuará sempre presente, na memória de todos nós, sobretudo no Martinho da Arcada, que nunca esquecerá o amigo e o cliente, realmente, especial.
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Bastardos famosos, Filhos ilegítimos que mudaram o mundo
In Super Interessante,
Setembro 2007
Alguns filhos ilegítimos não tiveram dificuldade em triunfar como reis, papas, pensadores, artistas ou políticos. Outros tiveram que lutar contra os próprios complexos e a rejeição social para poderem destacar-se.
Do lado esquerdo do vale que divide as sete colinas de Lisboa, o imponente Castelo de São Jorge. Do outro, um convento carmelita que teimava em ruir, ora com os sismos, ora com as chuvadas. Dentro de cada um dos edifícios, os dois portugueses mais poderosos do seu tempo: o rei D. João I e o seu condestável, D. Nuno Álvares Pereira. As relações entre os dois tinham arrefecido muito desde que ambos enfrentaram e desbarataram o exército castelhano em Aljubarrota; alguns historiadores crêem mesmo que entre o rei e o seu antigo general se instalara uma oposição aberta, e que a escolha do local onde foi implantado o Convento do Carmo foi determinada pelo desafio do antigo general ao seu soberano, que agora queria limitar o poder excessivo de um brilhante estratega que ele próprio fizera conde de Arraiolos, de Barcelos e de Ourém.
Uma história quase vulgar da crónica medieval, com soberanos a quererem controlar os seus nobres mais destacados, não fora o facto de estes dois homens, de crucial importância na História de Portugal (duplamente, pois estarão também na origem da Casa de Bragança), terem sido bastardos, isto é, filhos ilegítimos, naturais, nascidos fora do casamento.
O rei e o seu general, bastardos e compadres
De facto, D. João, nascido em 1357, era filho de D. Pedro e de uma nobre galega, Teresa Lourenço, portanto meio-irmão de D. Fernando I, que morreria sem herdeiro masculino; feito mestre de Avis aos sete anos, acabaria por ser inesperadamente aclamado rei e fundador de uma nova dinastia. Ele próprio viria a ser, em 1380, pai de um bastardo, D. Afonso, o primeiro duque de Bragança, casa de onde sairia, 260 anos depois, a quarta dinastia.
Logo que foi aclamado e se viu não só a braços com a oposição espanhola como com os ecos peninsulares da Guerra dos Cem Anos, D. João I nomeou para condestável e protector do reino um dos seus primeiros e mais firmes apoiantes, D. Nuno Álvares Pereira. Três anos mais novo do que o rei, D. Nuno era também ele um filho natural, do nobre Álvaro Gonçalves Pereira e de Iria Gonçalves do Carvalhal. O condestável teve uma filha, Beatriz, que veio a casar com o infante Afonso, filho de D. João I, pelo que também ele esteve na origem da Casa de Bragança.
Quase todas as famílias reais medievais tiveram os seus bastardos. Não raro, os ilegítimos, por serem mais velhos, reclamavam direito à sucessão, recorrendo à violência. A História está cheia de episódios destes, e do contrário, de casos em que eram os soberanos a quererem ver-se livres dos meios-irmãos, que imaginavam como uma ameaça pendente sobre as suas cabeças. Porém, a maior parte das crianças nascidas fora do casamento ficavam completamente desamparadas.
Na Antiguidade, os filhos ilegítimos eram ignorados pela sociedade. Uma excepção foi Ptolomeu XII, que subiu ao trono em Alexandria, apesar de ser bastardo (era meio-irmão de Alexandre, o Grande). Gregos e romanos tratavam com especial desprezo os filhos de relações adúlteras. Em muitos casos, o abandono por infidelidade ou por motivos económicos implicava a morte dos menores, e os que sobreviviam enfrentavam uma existência extremamente precária e marginal.
Os Templários admitiram bastardos nas suas fileiras
Por não se conhecer os pais, eram baptizados com apelidos que denunciavam a condição de enjeitados. Se as mães decidiam criá-los, os filhos naturais podiam usar o apelido materno, mas nunca o do pai. Os que não contavam com o apoio maternal ficavam expostos a uma existência obscura e miserável. "Esquecidos pelos progenitores, os bastardos não desempenharam praticamente nenhuma função social ou política entre a aristocracia romana", escrevem P. Ariés e George Duby em História da Vida Privada.
Na Idade Média, a lei estabelecia que o indivíduo não tinha direito a qualquer protecção se não fizesse oficialmente parte de uma família mas houve excepções. Por exemplo, alguns filhos ilegítimos tiveram acesso à exclusiva Ordem do Templo, embora rígidas normas internas os impedissem de envergar o manto branco.
Em França, produziu-se um caso insólito que deu origem a todo o género de rumores e falatório no século XVII. A protagonista foi a monja negra de Moret, presumível filha natural de Maria Teresa de Áustria, infanta de Espanha e rainha de França após o casamento com Luís XIV.
Durante os primeiros meses de vida conjugal, o monarca cumpriu os seus deveres para com a roliça e pouco atraente mulher mas, pouco a pouco, acabou por procurar companhias femininas mais sedutoras. Todos conheciam os devaneios do rei, incluindo Maria Teresa, que se sentia infeliz e isolada na corte até que, um dia, recebeu um presente de Beaufort que lhe alegrou a vida.
Tratava-se de um escravo, um menino de raça negra chamado Nabo. Anos depois, o escravo transformou-se num jovem impetuoso que seduziu as damas de companhia da rainha e, ao que parece, a própria Maria Teresa. Segundo rezam algumas crónicas, numa das ocasiões em que ficou grávida, a rainha deu à luz uma menina mulata.
Enquanto os médicos procuravam explicar o inexplicável, soube-se na corte que o atraente escravo aparecera morto. A família real anunciou que a menina nascera tão frágil que apenas sobreviveu 48 dias, uma versão piedosa para ocultar a infidelidade de Maria Teresa.
Trinta anos depois, quando a rainha já tinha falecido, a bastarda de cor, também chamada Maria Teresa, entrou num convento e recebeu uma pensão vitalícia do rei, o que veio alimentar todas as suspeitas.
Tanto na realeza como entre as pessoas comuns, foram muitos os que sofreram o trauma de serem ilegítimos e, embora a situação deixe quase sempre sequelas, o tempo ajuda a ultrapassar o estigma. Alguns procuram atenuar a crise de identidade através da assertividade e do êxito social. João de Áustria, bastardo de Carlos V, foi um caso paradigmático de filho natural obcecado pela fama e pelo reconhecimento social de condenado à prisão.
Outros reagem com uma atitude rebelde aos olhos do mundo, como o escritor francês Jean Genet, cuja obra exprime uma oposição radical às convenções sociais. Trata-se de uma atitude bastante compreensível, se considerarmos que era filho ilegítimo de uma prostituta. Genet enfrentou, durante anos, uma série de processos judiciais por roubo e práticas sexuais indecorosas. Finalmente, em 1947, o filho natural da pobre prostituta foi condenado a prisão perpétua. Na cadeia, escreveu vários livros que rapidamente lhe trouxeram grande prestígio literário.
Um grupo de autores franceses encabeçado por Jean-Paul Sartre pediu a libertação de Jean Genet, a qual lhe foi concedida em 1948. Trinta e cinco anos depois conquistou o Prémio Nacional das Letras, Os críticos literários consideraram que se tratava de um existencialista a braços com problemas de identidade, o que não deixa de ser compreensível, numa pessoa que nunca soube quem era o pai.
Mãe de uma dinastia bastarda
Catarina II (1729 -1796), uma das maiores representantes do despotismo iluminado, era filha de um príncipe alemão. Entrou na história da Rússia pelo casamento, em 1745, com Pedro III da dinastia Romanov, um soberano impotente e mal amado pelo povo, que morreu numa conspiração, em 1762, na qual é provável que a mulher tenha participado. A partir de então, Catarina governou com mão de ferro o Império russo e colocou em postos-chave alguns dos seus amantes, incluindo o atraente conde Soltikov, que se crê ter sido o verdadeiro pai do futuro czar Paulo I.
Se a interpretação dos historiadores estiver correcta, a partir desse bastardo, nenhum dos czares que se seguiram tinha uma única gota de sangue Romanov. Paulo I foi um homem adoentado e instável, vítima de ataques de pânico. Acabou por ser tão odiado como o seu suposto pai, o czar Pedro III. Em 1801, Paulo I morreu assassinado durante uma conspiração que se diz ter sido instigada pelo próprio filho, o futuro Alexandre I.
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Por João Aguiar
in TempoLivre, Fev. 2006
Desta vez, viajamos até ao Brasil e até ao século XVII para encontrarmos dois camarões, ou melhor: dois Camarões, com maiúscula, porque se trata de nome de gente. Falo de D. António Filipe Camarão e D. Clara Camarão.
António Filipe era um índio brasileiro, da tribo dos Potiguar; chamava-se, inicialmente, Potty, que significa "camarão". Ao converter-se ao catolicismo, traduziu esse nome para português e fez dele o seu apelido. "Traduziu para português": podia fazê-lo facilmente, porque, educado pelos jesuítas, não só aprendeu um português perfeito como até algum latim.
Não sei – e duvido que alguém saiba – por que razão um índio potiguar se identificou tão completa e ardentemente com Portugal e os Portugueses. O que é certo é que o fez, tanto assim que, durante dezoito anos a fio, combateu sem descanso os Holandeses, que estavam decididos a apoderar-se do Brasil. Combateu-os em várias frentes, comandando um regimento indígena: em S. Lourenço, Porto Calvo, Mata Redonda e Baía, António Filipe Camarão esteve presente e bateu-se como um leão. Na primeira batalha dos Guararapes, em 1648, comandou a ala direita do exército português – foi a sua última intervenção, aliás: pouco depois contraiu uma febre maligna e morreu a 24 de Agosto desse mesmo ano.
Quanto a Clara, era a sua mulher, índia também, seguiu a tradição do seu povo, isto é, acompanhou o marido na guerra – e lutou com não menor bravura; e se ele comandava um regimento índio, ela batia-se à frente de um batalhão feminino, cuja acção, ao que parece, foi decisiva na batalha de Porto Calvo, em 1637.
Porém, a razão que me levou a dedicar estas linhas ao casal Camarão não se prende somente com a evocação de feitos heróicos pertencentes às "malhas que o império tece", como escreveu Fernando Pessoa. A outra razão, e talvez a principal, está ligada àquele "D." que, logo de início, coloquei antes do nome de António Filipe Camarão.
É que António Filipe tinha direito a ele, por decisão real. E, além do tratamento de "Dom", foi-lhe dada também a comenda da Ordem de Cristo. Foi-lhe dado ainda o título (e posto) de capitão-mor de todos os índios da costa do Brasil.
Na minha muito humilde maneira de ver, são estranhas coisas como esta: um índio receber o título de Dom e o hábito de Cristo (distinções pelas quais se bateram, ferozmente e sem êxito, muitos portugueses de centenária raiz), são coisas insólitas como esta, e outras do mesmo género, que fazem a diferença entre a experiência imperial portuguesa e outros impérios coloniais europeus. É certo que em termos de avidez, febre de lucro, prepotências, crueldades e mais desmandos, não teremos sido muito diferentes dos outros.
Um império é um império e as suas misérias são sempre as mesmas – pensemos, por exemplo, no Iraque (e outros lugares do globo) à luz do actual império americano. Não tenho, por isso, a mínima intenção nem a pretensão de branquear indevidamente o antigo império português. Ao mesmo tempo, julgo ser impossível fazer tábua rasa de certas particularidades que são importantes. O caso de D. António Filipe Camarão não é único. Vem-me à memória, por exemplo, um certo Honório Barreto, negro de raça, guineense de origem, que se distinguiu – mais, que se ilustrou – no aparelho colonial português do século XIX como governador da Guiné.
Mais uma vez: são coisas destas que, permita-se-me a expressão, fazem o sui generis do nosso caso. É desse sui generis que eu gosto...
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Conferências,
In Bol. Clínico, 1990
... "Herdámos no sangue lusitano
uma boa dosagem de lirismo além desta sífilis é claro" ...
Quando Chico Buarque de Holanda, no seu "Fado Tropical", inclui estes versos, levanta uma questão que suscita alguma controvérsia. Teriam sido os Portugueses os responsáveis pelo aparecimento da Sífilis no Brasil?
E se é certo que, nas obras de Pêro Vaz de Caminha não há nenhuma referência que sugira a existência de tal doença em 1500, não implica que não existisse.
Por outro lado, a mesma afirmação levanta uma outra questão. Qual a origem da Sífilis? Existiria já na Europa em 1493 ou foi trazida pela tripulação de Colombo nessa data?
Esta controvérsia é de hoje como era de ontem, onde se poderia dizer existirem duas principais correntes que, aguerridamente e não poucas vezes isentas de parcialidade, defendiam a origem da Sífilis. A Americanista era representada por Astruc. Outra, a Europeia, tinha como principal defensor o português Ribeiro Sanches. De permeio Hensler, que a um tempo afirmava que a Sífilis era endémica no Haiti e daí veio para a Espanha, mas que também teria existido na Europa, embora de forma esporádica, só se tornando epidémica no Século XV. Opinião idêntica era manifestada por Musitano em 1711, acreditando que a Sífilis sempre tinha existido na Europa mas que, em 1494, tinha adquirido uma nova virulência.
Uma outra teoria menos crível, a Africanista, pode ser retirada da obra em verso sobre doenças venéreas, de Villalobos, editada em 1498, na qual faz referência ao que se chamava então de boubas. É o primeiro a descrever de forma aceitável o cancro sifilítico, na suposição de que era aí que tudo começava. Refere a sua localização aos órgãos genitais, a elevada contagiosidade, assim como o secundarismo. Finalmente, designa a doença como Sarna do Egipto, talvez por pensar que a origem desse mal, como de tantos outros, só poderia vir dessa parte do globo, portanto dos infiéis.
Esta hipotética origem é desmentida, entre outros, por Leão o Africano, personalidade que, tendo vivido em Granada, foi daí expulso após a conquista desse reino pelos Reis Católicos. Vai para Fez e depois de várias peripécias é capturado por piratas cristãos e levado para Roma, onde escreve que a Sífilis só passou a existir em África depois da expulsão dos Judeus e dos Mouros da Europa.
De igual modo, a confirmação de que essa doença aí não existia, é o facto de os norte-africanos que viviam na parte ocidental a designarem por Mal espanhol e os que residiam na parte oriental por Mal francês.
E, porque o pouco espírito científico do século se prestava para isso, havia quem defendesse a origem espontânea da doença, muitas vezes interpretada por fenómenos naturais, como a reflexão dos raios solares nos lagos pantanosos originários das grandes inundações que assolaram diversas regiões de Itália, em fins do Século XIV.
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Marrocos: Regresso ao passado em Mazagão
Manuel Giraldes,
In Além-Mar, Out. 2004
Mazagão, a nossa mais importante praça-forte em Marrocos, foi portuguesa desde o princípio do século XVI até meados do século XVIII. O que resta do conjunto fortificado acaba de ser considerado pela UNESCO como Património da Humanidade.
Mas não são só as pedras que contam: visitá-la é redescobrir um pouco de nós e da nossa herança árabe.
Para quem vem de Marraquexe, a viagem em direcção à costa atlântica deixa na retina a monótona insistência dos mesmos tons de ocre, apenas cortada pela copa de uma ou outra árvore que encontrou refúgio na relativa frescura dos pátios das casas de terra. No meio daquela aridez vagamente acastanhada, onde, ao longo de quilómetros e quilómetros, não se avista um arbusto, uma erva, a suspeita de uma gota de água, apenas o sorriso luminoso dos que acorrem a saudar o viajante consegue emprestar à paisagem alguma cor e vivacidade.
Mal se pressente o primeiro sinal de sal, vento e mar, nada nos prepara para a visão quase ofuscante das primeiras casas caiadas. Todas elas alegradas por uma barra de um vibrante azul-ultramarino. De repente, é como se tivéssemos trocado o Sul pelo Norte, e Marrocos se tivesse transfigurado num pedaço qualquer do Alentejo. A chegada a El Jadida só reforça a sensação de que nos enganámos no caminho e, afinal, voltámos a casa.
No porto, de traineiras pintadas com cores bem vivas, em tudo idênticas às que outrora nos habituámos a ver em Olhão ou Portimão, jorram no cais prateados cardumes de sardinhas; em redor, as praias, os restaurantes, o tom geral da estância de veraneio insinuam a ilusão de que nos encontramos algures no Algarve, antes de as torres, os condomínios, as marinas e os golfes terem derrotado as casas baixas e o despojamento próprio de localidades de pescadores; no velho centro, para lá dos altos muros da fortaleza, tudo é branco; e, se as ruas estivessem desertas e não tivéssemos a certeza de estarmos no Norte de África, juraríamos ter embarcado numa experiência de turismo histórico, que nos tivesse levado, sem máquina do tempo nem nada, a um Portugal há muito perdido.
De certa forma, estamos em Portugal. Ou El Jadida – A Nova, em árabe – não fosse o nome com que foi rebaptizada a cidade que cresceu em torno da praça-forte de Mazagão, edificada a mando de el-rei D. Manuel no início do século XVI.
Foi aliás Mazagão que mereceu ser recentemente classificada pela UNESCO, que considerou a cidadela, o 19.º sítio representativo da nossa expansão a ser incluído na lista do Património da Humanidade, "um exemplo precoce da arquitectura militar da Renascença" e "um extraordinário exemplo da troca de influências entre as culturas europeia e marroquina, com claro reflexo na arquitectura, tecnologia e planeamento urbano".
Cisterna pioneira
Rafael Moreira, um historiador de arte que estudou a construção da praça, sublinha que não se trata apenas da "cidade mais importante feita por portugueses" em Marrocos, mas também da "primeira cidade planeada da expansão portuguesa". É, de resto, esse planeamento – "a interligação entre as muralhas e o urbanismo" – que antecipa "um princípio de racionalidade novo, bem renascentista". Isto apesar de a primeira fortificação, confiada a Diogo e Francisco de Arruda (o arquitecto da Torre de Belém), coincidir com o apogeu do manuelino, o gótico tardio que se tornou a expressão máxima em arquitectura da nossa aventura marítima. Logo em 1541, D. João III manda proceder à construção das poderosas muralhas. A obra começou em Agosto e, no seu essencial, já estava pronta cerca de um ano depois.
Para o especialista, a peça mais notável do conjunto agora classificado, de que faz ainda parte a igreja manuelina da Assunção, é a imensa cisterna, suportada por 25 colunas: É "lindíssima e enorme. Dá para abastecer de água uma armada inteira, com seis, sete ou oito navios." Para ter uma ideia do seu arrojo pioneiro, diga-se que, só 15 anos depois da sua construção, é que Miguel, filho de Francisco de Arruda, edifica no Forte de S. Julião da Barra (Lisboa) a primeira cisterna moderna nacional. E fá-la à imagem da de Mazagão.
Histórias cruzadas
A ampla baía norte-africana foi considerada o ancoradouro mais seguro da costa ocidental de Marrocos até à construção do porto de Casablanca, em pleno século XX. Já os cartagineses tinham apreciado o porto de abrigo, a que deram o nome de Rusibis. Porém, quando os nossos navegadores começaram a rondá-lo, no século XV, fomos buscar um topónimo berbere citado por um autor árabe do século XII para nomeá-lo.
Saímos de Mazagão, a nossa última praça marroquina, em 1769. Nos anos que se seguiram, a fortaleza foi caindo em ruínas. Se hoje resiste, em muito o deve a França: foi durante o protectorado francês, já na primeira metade do século passado, que os seus Serviços Históricos procederam ao restauro do que se viria a tornar uma importante atracção turística.
Tal como deram nome a Mazagão, os portugueses deram o nome ao país, independente desde 1956: porque chamaram Marrocos à primeira capital do reino, Marraquexe, que hoje recuperou o seu nome árabe "Marrâkux", mas mais uma vez estropiado pelos ocupantes franceses (Marrakech).
Ironicamente, em Marraquexe encontra-se o que resta do sumptuoso palácio que Ahmede Almançor mandou construir para celebrar a sua estrondosa vitória sobre D. Sebastião, em 1578, em Alcácer-Quibir.
Se demos o nome ao reino, este devolve-nos, entre amenas ruínas e um adejar de cegonhas, a imagem da fase mais negra da nossa história como nação. Não importa. Vitórias e derrotas, presenças e ausências, memórias e esquecimentos. Por tudo e apesar de tudo, portugueses e marroquinos mantêm uma relação subterrânea, inconsciente, mas palpável. Talvez por isso seja tão fácil regressar ao passado em Mazagão.
Conto Infanto-Juvenil,
Euluso de Nascimento
Clara, ao acordar, ouve a mãe que no quintal anda já a tratar da bicharada. Salta da cama, corre à casa-de-banho para fazer as suas necessidades matinais e tomar um duche rápido, vai à cozinha onde come uma maçã reineta e uma pratada de flocos de aveia que a mãe deixara já preparada para ela em cima da mesa; corre ao quintal, verifica que o dia promete ser quente e luminoso e pergunta à mãe pelo irmão.
Esta, sem deixar de regar os canteiros, onde florescem hortenses, goivos, cravos, amores-perfeitos, rosas e outras espécies, diz-lhe:
– Oh minha querida, o teu irmão já há mais de uma hora que se raspou para a praia. Agora já ele deve ter tomado uma boa banhoca.
Ouvindo isto, Clara vai buscar o fato-de-banho e a toalha e, dizendo adeus à mãe, corre à praia a juntar-se ao João madrugador. Rapidamente lá chega – o que não é de admirar, porque esta fica muito próxima da sua casa e ela é ágil quanto baste para o conseguir.
O extenso areal está lindo, branco; branco e inundado de luz; deserto de pessoas mas não das alvas gaivotas que a cobrem voando ou pousadas; não se vê lá ninguém, nem mesmo o seu irmãozinho. O mar, esse, está calmíssimo, parece um lago dormindo ao sol, um espelho cristalino onde se pode mirar a própria imagem. Percorre a praia lés a lés; corre atrás das gaivotas, que logo levantam voo e lhe fogem; banha-se na babugem das ondas que lhe acariciam o corpo magro, mas de formas harmoniosas; vai ao longo da praia, atraída por um golfinho que a conduz até um rochedo, lá ao fundo, onde descobre finalmente o mano, que anda a apanhar lapas.
Então, finalmente juntos, os dois irmãos e o golfinho ficam-se por ali a brincar, até que este os convida para dar um passeio pelo mar, montados no seu dorso.
Ouvindo esta proposta, os dois manos entreolham-se, estupefactos, não acreditando nos seus ouvidos, ou duvidando da interpretação dada às palavras do cetáceo amigo. Tanto João como Clara ficam incrédulos. Não é possível que o que julgam ter ouvido seja a sério. Eles bem gostariam que aquilo fosse verdadeiro, mas, uma coisa assim tão inesperada não podia ser aceite de ânimo leve.
Adivinhando a tempestade de emoções que a sua oferta causara no espírito dos seus amiguinhos, o golfinho logo se apressa a tirar-lhes as dúvidas:
– Meus amigos, não fiquem assim a pensar que o meu convite é uma loucura; que é qualquer coisa impraticável. Para terem a certeza de que isto não é uma ilusão, vamos fazer uma pequena experiência: João, tu que sabes nadar bem, salta para cima do meu dorso. Eu levo-te até àquela bóia, acolá. Se achares que estás a correr perigo, atiras-te à água e nadas para terra.
Confiante, o menino monta o golfinho e de imediato este se afasta velozmente da orla da praia, voltando a ela em escassos minutos. A sensação é tão fantástica! O entusiasmo de João é de tal modo contagiante, que Clara não hesita um segundo para se decidir. Nesse instante tudo se prepara para os dois jovens embarcarem na mais espantosa viagem, no mais excitante e fabuloso cruzeiro.
Plenamente confiantes, João e Clara saltam para o dorso do golfinho amigo, que se compromete a proporcionar-lhes uma aventura nunca sonhada.
Assim, através de um mar de águas límpidas e cristalinas, brilhando ao sol como um gigantesco espelho, o golfinho nada veloz, para o largo. A linha da praia, de areia branquíssima salpicada por pequenas e coloridas embarcações a remos, vai ficando cada vez mais distante; a costa, umas vezes constituída por rochas abruptas, elevadas falésias e outras escarpas, promontórios altaneiros, e outras vezes por praias de todos os tamanhos e feitios, desenha-se, recortada, lá atrás, com seus cabos entrando pelo mar dentro, com pequenos golfos, baías e enseadas penetrando-a graciosamente, e com a foz de dois rios que, em estuário, penetram o oceano com as suas doces águas. Sempre rumo ao Sul e, portanto, na direcção do sol, que se vai erguendo mais e mais na abóbada celeste, Clara e João, cavalgando o dorso da estranha montada, contemplam, de longe já, toda aquela encantadora costa, o casario que acima dela se espalha, os campos cobertos por verdejantes pomares e vinhedos, hortas e extensas searas, as vertentes de montes, colinas e até serras que mais além ostentam formações florestais onde se adivinha uma efervescente vida animal.
Chegados a um local onde havia um banco de areia e bastantes rochedos submersos, o golfinho pára para descansar um pouco e para que os seus convidados possam admirar as fantásticas paisagens marinhas existentes a escassos metros abaixo da superfície das repousantes águas, que parecem adormecidas, acariciadas pela luz solar que nelas penetra até ao fundo do mar. Então, aqueles dois felizardos ficam extasiados na contemplação do areal, de uma brancura nunca vista; rochedos dourados ostentando portas e janelas que dão para o interior de cavernas de todos os tamanhos; cavernas que servem de abrigo a cardumes imensos de peixes coloridos, que se passeiam por jardins e florestas aí existentes, formados por diversificadas espécies de algas.
O fundo do mar encanta-os; mas a hora da partida chega e eles aí vão no seu cruzeiro, que em breve os leva a uma linda ilha, na qual, ao desembarcarem, encontram um bando de crianças que brinca na praia, vigiado pelos olhos atentos de Amélia, Carmen e José – os monitores de uma colónia de férias que todos os anos, durante os meses de Julho e Agosto, assenta arraiais nesse pequeno paraíso cercado por um mar de sonho.
Carmen, ao ver aproximar-se da orla da praia os dois meninos aventureiros, corre para eles, acompanhada pelos outros dois monitores e o bando; ajudam-nos a saltar para terra e, de imediato, lhes perguntam se estão bem, se têm fome ou sede, se precisam de alguma coisa.
Passada a surpresa do encontro e conhecendo já o que se havia passado com aqueles pequenos marinheiros, Carmen leva-os até junto de uma linda fonte cavada na rocha, de onde brota, entre verdejantes fetos e aveludados tapetes de musgo, abundante água fresca e cristalina que, formando um regato, corre para o mar, ali em baixo, cantarolando e saltitando de pedra em pedra. Aqui, serenamente, porque o leito da corrente é quase plano; ali, apressando-se, porque há uma descida em plano inclinado ou mesmo uma pequena cascata. Aí se refrescam e se consolam, matando a sede que era muita. Em seguida, as simpáticas monitoras servem às crianças, como mãezinhas carinhosas, auxiliadas pela Deolinda e pela Nair, um abundante e saboroso almoço. Todos se deliciam comendo aqueles gostosos petiscos que a tia Eugénia (excelente cozinheira) acabara de preparar com a ajuda da avó Inês, da Maria José e da Rosa.
Todos, numa grande tenda, em torno de uma mesa, também enorme, almoçam, bastante divertidos e excitados, por terem entre si dois aventureiros que não tiveram medo de vir pelo mar fora até àquela ilha, situada já bem longe da costa continental.
Terminada a refeição, os miúdos correm em debandada para a rua, como cabritos fartos de leite, a gozar o sol maravilhoso e aquele ar puríssimo que fortifica o corpo e o espírito. Entretanto, Carmen convida Clara e João a subir à colina mais alta da ilha, de onde podem admirar, até à linha do horizonte, o pedaço do planeta Terra, de que, no momento, eles são o centro.
Sobem por veredas pedregosas que atravessam bosques; serpenteiam em volta de rochedos de formatos e tonalidades diferenciados, mas todos de beleza incomparável; passam junto a fontes magníficas; atravessam regatos e ribeiros; contornam pequenos lagos, tufos de fetos e de outras plantas habitados por diversas espécies de roedores – nomeadamente coelhos, lebres, esquilos e ratos –, espécies várias de insectos, como gafanhotos gigantes, lindas borboletas, cigarras que cantam por todo o lado, laboriosas abelhas que colhem o pólen das múltiplas variedades de maravilhosas flores que embelezam e perfumam cada recanto daquele éden, onde abundam também aves de cores e tamanhos muito diversificados, que voam em todas as direcções, fazendo ouvir os seus magníficos cantos.
Chegados que foram ao ponto mais alto da ilha, o deslumbramento é total!
Sobre as suas cabeças, um céu de um azul puríssimo, com o luminoso Sol já na descida que o levará, cerca de sete horas mais tarde, a mergulhar no mar, a Ocidente; aos seus pés estende-se o tapete verde, que cobre todas as vertentes até ao mar, lá em baixo, que continua azul e calmo e magnificamente ornamentado pelos muitos veleiros e luxuosos paquetes, gigantescos cargueiros e incontáveis pequenas embarcações e alguns vasos de guerra, sulcando-o em todas as direcções.
Olhando para Norte, vêem, lá ao longe, uma mancha escura que os chama à realidade. Aquela mancha é a terra onde os seus pais devem estar a sofrer, devido à sua ausência tão prolongada.
A tarde vai já quase a meio e o caminho que têm que percorrer é longo. Têm que se apressar.
Assim, descem rapidamente a colina; agradecem toda a simpatia com que os receberam e dirigem-se à praia onde o golfinho os espera, brincando no meio das pequenas ondas, que vêm rebentar na praia, desfazendo-se em espuma.
Ao vê-los, passa a rebentação, aproximando-se o mais possível da areia para que João e Clara não percam tempo no embarque. Tudo é realizado em alegria, mas com pena de ter sido breve o tempo ali passado, num mundo de sonho, com pessoas tão encantadoras.
Em breve, o golfinho salta já nas ondas; os anfitriões gritam da praia os desejos de boa viagem para os tripulantes; o navio vivo afasta-se cada vez mais veloz. João e Clara acenam ainda um derradeiro adeus. O golfinho não nada; ganha asas e, em longos saltos, voa sobre as mansas águas, ou deixa-se transportar na crista das ondas.
A viagem corre de vento em popa. O golfinho não perde tempo. Sem descanso acelera mais e mais, porque quer deixar na praia os seus amigos, ainda antes de o Sol se esconder por detrás da linha do horizonte. O astro-rei, já ao nível do Oceano, dardeja as ondas com os seus raios fulgurantes, que fazem delas autênticos caleidoscópios. O mar está fabuloso, cheio de luz e cor, com tonalidades e cambiantes nunca por eles imaginados.
Chegam finalmente à praia e, despedindo-se do amigo cetáceo, com uma carícia na sua cabeça, correm a buscar as toalhas que haviam deixado numa furna cavada na rocha e, correndo sempre, dirigem-se a casa, pressentindo que os pais estejam em pânico, devido à sua longa ausência.
Felizmente tal não sucede, porque eles estavam convencidos de que os seus filhos estariam, como tantas vezes, em casa dos tios, na brincadeira com os primos.
Ouvindo aquela história, o casal nem quer acreditar que os filhos estejam a falar verdade. De princípio, pensam que os meninos estão a brincar; mas, à medida que vão conhecendo os pormenores, têm que admitir ser verdadeira a história contada pelos dois aventureiros, já que a descrição da ilha corresponde inteiramente à realidade. A ilha é mesmo verdadeira, existe, de facto, lá para Sul, a algumas milhas da costa, e é habitualmente escolhida para nela se instalar uma colónia de férias durante os meses de Verão.
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Doloroso Ocaso de "um Amor Eterno"
Conto de
Telma Nantes de Matos
O cheiro de café invade a casa; respira-se o ar densamente aromatizado em todos os cantos e recantos do lar em que, ainda há bem pouco tempo a felicidade parecia ser inesgotável e duradoura.
Ela ali está, sentada à mesa, qual estátua grega eternizando tragicamente a dor humana provocada pelo abandono do ente amado, pelos amores não correspondidos em qualidade e intensidade igual ao que por ele o seu coração ainda acalenta. Ela ali está, ostentando a nobreza da sua alma, a dignidade do seu carácter indivisível, intocável.
Os seus negros cabelos molhados, espalhados pelos ombros, descem pelas costas, cobrindo parte do seu corpo seminu, perolado de incontáveis gotículas de água escorrentes que dão àquela aveludada pele morena a grandeza de um expositor mágico de pedras preciosas emergindo do seu corpo fremente, palpitante de amor por alguém que jamais reconhecera o tesouro que cruelmente ora rejeitava.
Um misto de nativa e executiva; de força, energia e encanto da Natureza; de trato fino e elegantes posturas, adquiridas no seio de família saudavelmente estruturada, no convívio social e, fundamentalmente, no processo educativo que dela fez a mulher que se impõe pelas suas qualidades, pela sua capacidade técnica, pelos saberes e cultura que detém; com os seus trejeitos desastrados, desprovidos de preconceitos, e o seu jeito delicado e harmonioso; com sua maneira de ser o que exactamente é, ela assume-se por inteiro: coerente, verdadeira, íntegra, digna, nobre.
Entre a doçura e a amargura que lhe invade corpo e alma, feito o café que tenta tomar, mas não o conseguindo, ela trava uma luta titânica dentro de si: deseja ser forte, enfrentar com realismo a tempestade de sentimentos que lhe foi imposta e, em simultâneo, deixa-se dominar pelo peso da dor que torna seu corpo fremente, convulsivo.
Dos seus olhos, feitos cachoeiras, verte escaldantes lágrimas que em torrente sulcam o seu lindo rosto normalmente sorridente, fazendo dele leito de caudaloso rio.
– Por que choras? Linda mulher.
Ela não consegue parar de chorar e debulhada em lágrimas degusta lentamente o café do jeito que ele gosta.
À sua frente continua o lugar de seu "amor eterno". Lugar que está vazio...
O café fumegante e aromático está na xícara esperando o seu "amor eterno"... Mas o lugar está vazio...
Não teve o beijo; não teve o abraço.
Não teve despedida nem mesmo teve um simples adeus.
Ele não está ali... Ele se foi e nem avisou!
O lugar está vazio... Mas ele deixou as lembranças, a saudade, a tristeza, a amargura que invade dolorosamente a alma da terna e linda mulher que ali, em solidão esmagadora, se debate com a crueldade do homem que, sem uma leve pontinha de piedade, a abandonou...
Contudo, ele deixou o "amor eterno".
– Por que choras? Linda mulher.
Dos seus olhos vertem as lágrimas que não querem cessar.
Ele se foi..., mas deixou as lembranças.
Para o seu "amor eterno" ela despiu-se totalmente... Desabotoou suas roupas e suas fantasias. Mostrou sua fraqueza e sua fortaleza, Mostrou suas alegrias e suas dores, contou sua história e o jeito com que gosta de fazer amor.
Com seu "amor eterno" ela mostrou a mulher que sorri, que chora, que vacila, que fica linda sendo desastrada e atrapalhada, que é fascinante sendo divertida, que é perfeita quando é sincera.
Com seu "amor eterno" ela conseguiu ser ela mesma:
Forte e frágil, tola e inteligente, doce e amarga, triste e alegre. Não foi preciso esconder os seus pequenos defeitos.
Mas o seu "amor eterno" a deixou! Nem sequer se despediu...
Deixou a saudade e as lembranças.
Saudades... Saudades dos momentos felizes. Lembranças... Lembranças da linda história de amor.
Dos encontros e desencontros...
Dos amores e desamores...
Das alegrias e das tristezas...
Do amor vivido intensamente... Do amor não vivido plenamente...
E o perfume do café traz a lembrança do seu "amor eterno".
O lugar está vazio!
O café esfriou.
E o choro não quer cessar.
– Por que choras, linda? Por que choras, Mulher?
– Pelo meu "amor eterno" que me deixou!
– Mas tu, linda mulher, sempre forte e sábia, positiva e determinada a não te deixares abater pelas contrariedades da vida, tu, que contornaste dificuldades, anulaste obstáculos, revelaste já teres alma de vencedora, deixas-te agora submergir pela tempestade provocada pelo abandono de um homem que não te merecia? Oh mítica filha das virgens florestas que ainda persistem na América do Sul, pelo que em ti meus olhos enxergam, tu és suficientemente clarividente para visionares nas mais íntimas profundezas de tua alma os factores do teu desespero, as razões que conduziram o teu inconsistente “amor eterno" a te deixar, sem piedade, mergulhada na solidão, no deserto da desesperança de tudo e de todos.
– A minha vida não tem sentido, está cheia de encontros e desencontros, de amores e desamores. Tudo é encanto e desencanto; tudo demasiadamente transitório, restando para mim, no final, dor e pranto.
– Mas, linda mulher, afinal não te conheço. Eu quero acreditar que Tu sabes ser forte e determinada, és corajosa e nobre de sentimentos. E assim sendo, por que não exorcizas os males que degradam a tua existência, que torturam a tua alma já destroçada pela dor do abandono?
– Porque o meu "amor eterno" me deixou!
Se foi sem um beijo, sem uma ternura, sem uma palavra e, possivelmente, sem um olhar. Deixou sobre a mesa as chaves desta casa, e se foi.
– Linda mulher, quem te conhece, despreocupada mas responsável, alegre mas com transparências de tristeza, com doce sorriso nos lábios mostrando a seriedade da alma, com ternura na voz e nos gestos, mas firmeza nas atitudes, nos comportamentos; quem te admira a beleza física, que se harmoniza em pleno com a do intelecto, não pode ser indiferente ao teu penar, não pode permitir-se ser insensível, seguindo em frente.
Linda mulher, reage. Pensa que se ele te abandonou, cruelmente e sem pudor, nesse pranto doloroso, se ele mostrou, sem vergonha, o egoísmo de quem os sentimentos de outrem não contam, de quem apenas usufrui, enquanto lhe apetece, a dádiva do amor de alguém sem cuidar de partilhar afectos, ternuras, em suma, a vida por inteiro, não é merecedor de ser designado por “amor eterno", nem mesmo é digno de uma lágrima que se escape das pálpebras de uma mulher.
– O meu "amor eterno" me deixou, não cuidando saber da dor que em mim ficou!
Mas o amanhã vai chegar, a dor vai passar, as lágrimas vão secar, a esperança virá de novo, a vida vai prosseguir e eu vou voltar a sorrir-lhe como sempre o fiz; vou guardar no coração o perfume da saudade das felizes vivências passadas.
No primeiro trimestre foram incorporadas as seguintes obras:
Nota. Sempre que uma nova obra exista já em formato ou formatos diferentes, estes serão indicados de forma abreviada imediatamente a seguir à referência da respectiva obra.
As abreviaturas usadas são as seguintes:
L.B. para Livros em Braille;
A.A. para Audiolivros Analógicos;
A.D. para Audiolivros Digitais;
L.E. para Livros Electrónicos.
1 — Livros em Braille
908 Monografias
Córdoba: Destino accesible. 1v-
2 — Audiolivros
Audiolivros Digitais
32 Política
Scheuer, Michael — Orgulho imperial: Porque está o Ocidente a perder a guerra contra o terrorismo/ trad. Miguel Mata; lido por Maria do Rosário Garção. Dados, som em MP3 (55 ficheiros: 1,8GB). 11h41
792 Teatro. Representação teatral
792.2 Drama falado. Peças
A história da cruz: Baseado numa velha lenda: Folhetim radiofónico/ adap. Judite Navarro. Dados, som em MP3 (29 ficheiros: 615MB). 9h13
Stowe, Harriet Beecher — A cabana do pai Tomás: Folhetim radiofónico/ adap. Luz Franco. Dados, som em MP3 (13 ficheiros: 372MB). 3h49
82 Literatura
82-31 Romance
Del Castillo, Michel — A viola/ trad. Mário Henrique Leiria; lido por Maria Helena Baptista. Dados, som em MP3 (9 ficheiros: 156MB). 2h52
Holden, Wendy — Simplesmente divina/ trad. Manuela Madureira; lido por Maria Clara. Dados, som em MP3 (35 ficheiros: 1,01GB). 12h41
Roth, Philip — Património: Uma história verdadeira: Romance/ trad. Fernanda Pinto Rodrigues; rev. Eulália Pyrrait; lido por Maria do Rosário Garção. Dados, som em MP3 (24 ficheiros: 403MB). 7h23
Saramago, José — As intermitências da morte: Romance/ lido por Helena Marujo. Dados, som em MP3 (19 ficheiros: 422MB). 7h44
Solzhenitsyn, Alexander — Um dia na vida de Ivan Denisovich/ Aleksandr Isaevítch Solzenicyn; trad. H. Silva Letra; lido por Maria Helena Baptista. Dados, som em MP3 (13 ficheiros: 338MB). 5h48
82-311.6 Romance histórico. Político. De guerra
Sinoué, Gilbert — O menino de Bruges/ trad. Ida Boavida; lido por Maria de Fátima Hasse Fernandes. Dados, som em MP3 (32 ficheiros: 987MB). 11h48. L.B., L.E.
82-93 Literatura infantil e juvenil
Soares, Luísa Ducla — Contos para rir/ lido por Margarida Quintão Lages. Dados, som em MP3 (17 ficheiros: 152MB). 1h26
3 — Livros Electrónicos
As obras precedidas de asterisco foram-nos gentilmente oferecidas por leitores, a quem agradecemos.
Embora não possamos responsabilizarmo-nos pela correcção dos respectivos textos, vamos pô-las à disposição dos nossos leitores.
322 Relações entre o estado e a igreja. Política em relação à religião
Manhattan, Avro — O holocausto do Vaticano/ trad. Mary Schultze. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 552KB).
82 Literatura
82-31 Romance
* Amaral Júnior, João — A primeira semana de casada: Romance. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 356KB).
* Amaral Júnior, João — A última semana de solteira: Romance. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 272KB).
* Cunhal, Álvaro — Um risco na areia. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 264KB).
* Hauptmann, Gaby — Atira-te ao homem/ trad. Maria Manuela Parada Ramos. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 860KB).
* Santos, José Rodrigues dos — A vida num sopro: Romance. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 976KB).
82-312.4 Romance policial. Romance de crimes. Romance de mistério, suspense. Thrillers
* Hoag, Tami — Antecedentes perigosos/ trad. Teresa Bernardes. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 1,15MB)
82-34 Conto
Couto, Mia, pseud. — Estórias abensonhadas: Contos. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 188KB). L.B.
82-84 Máximas. Sentenças. Aforismos. Adágios. Provérbios. Pensamentos
Jacq, Christian — A sabedoria viva do antigo Egipto/ trad. Maria do Carmo Abreu. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 136KB). L.B.
82-93 Literatura infantil e juvenil
* Blyton, Enid — Os cinco nos rochedos do demónio/ trad. Maria da Graça Moctezuma. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 500KB). L.B.
82-94 História como género literário. Escritos históricos. Historiografia. Crónicas. Anais. Memórias. Diários. Biografias e autobiografias
* Jessop, Carolyn, Palmer, Laura, co-aut. — A fuga/ trad. Maria João Camacho. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 1,11MB).
* Saramago, José — As pequenas memórias. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 304KB).
4 – Publicações Periódicas
Activa Braille-: Revista de informação bimestral. Laveiras (Paço de Arcos): Edimpresa. 2008: Novembro-Dezembro. 2009: Janeiro-Fevereiro
Amèrica Latina-: Boletín informativo de la Unión Latinoamericana de Ciegos. La Habana: ULAC.2007: Maio-2008: Abril, 2v
Colores-: La revista argentina para ciegos.Córdoba: Gobirno de la provincia de Córdoba. 2008: Dezembro
Correo del Sur-. Buenos Aires: Editora Nacional Braille.2009: n.º 345
Donne Moi Tes Yeux-. Paris: Association Donne Moi Tes Yeux.[2008]: n.º 219
Et la Lumière Fut. Paris: Association Valentin Haüy.2008: Novembro. 2009: Janeiro
La Glaneuse. Lausanne: Asile des Aveugles. 2008: Outubro; Novembro; Dezembro
Jornal de Notícias-: Cultura e informação. Porto: JN. 2009: Janeiro-Fevereiro
New Books. Peterborough: RNIB. 2009: Janeiro, 2v; Março, 2v
Nosotras-: Revista bimestral de interès general para la mujer. Buenos Aires: Editora Nacional Braille y Libro Parlante. 2009: n.º 30
Poliedro-: Revista de tiflologia e cultura. Porto: Centro Prof. Albuquerque e Castro – Edições Braille. 2009: Janeiro; Fevereiro; Março
Pontinhos-: Revista infanto-juvenil para cegos. Rio de Janeiro: Instituto Benjamin Constant.2008: Outubro-Dezembro
Progress. Peterborough: RNIB. 2008: Agosto; Setembro; Outubro
Read on. Stockport: Royal National Institute of Blind People — National Library Service. 2009: n.º 6
Revista Brasileira para Cegos-. Rio de Janeiro: Instituto Benjamin Constant. 2008: Outubro-Dezembro
Rosa-dos-Ventos-: Revista infanto-juvenil. Porto: Centro Prof. Albuquerque e Castro – Edições Braille. 2009: Janeiro; Fevereiro; Março
Visão Braille-: Revista de informação mensal. Laveiras (Paço de Arcos): Edimpresa. 2008: Novembro; Dezembro. 2009: Janeiro; Fevereiro
Visão Júnior Braille-: Revista de informação bimestral. Laveiras (Paço de Arcos): Edimpresa. 2008: Setembro-Outubro; Novembro-Dezembro. 2009: Janeiro-Fevereiro
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