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[Atped] Ponto e Som - 141 - Abril 2009

To :   <atped@ml.ci.uc.pt>
Subject :   [Atped] Ponto e Som - 141 - Abril 2009
From :   luís barata <lbarata@ci.uc.pt>
Date :   Thu, 24 Jun 2010 16:57:06 +0100

Enviamos em anexo o último número da revista "ponto e som".
Luís Barata
Universidade de Coimbra ? Administração
Departamento Académico ? Divisão Técnico-Pedagógica
Apoio Técnico-Pedagógico a Estudantes Deficientes
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----- Original Message -----
Sent: Thursday, June 24, 2010 3:40 PM
Subject: Ponto e Som - 141 - Abril 2009

Ex.mo(a) Sr.(a)

 

Envio em anexo o ficheiro correspondente à revista Ponto e Som Nº 141 de Abril de 2009.

 

Com os melhores cumprimentos,

 

 

Maria Aldegundes M. P. Martins

Biblioteca Nacional de Portugal

Área de Leitura para Deficientes Visuais

Campo Grande, 83, 1749-081 Lisboa

Tel.: +351 217 98 20 99  Fax: +351 217 98 21 38

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mpataco@bn.pt

 

Title: BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL

 

 

 

BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL

 

 :__BIBLIOTECA NACIONAL DE __PORTUGAL

 

 

Área de Leitura para Deficientes Visuais

 

_ÁREA DE _LEITURA PARA _DEFICIENTES _VISUAIS

 

 

 

PONTO E SOM

 

__PONTO _E __SOM

 

 

 

Cultura e Informação

 

 

 

 

 

Publicação trimestral

 

 

N.º 141

 

Abril 2009

 

 

 

A Leitura é uma porta aberta que propicia a sua Integração Social. Leia, leia muito. Não permita que esta se feche para si.

 

 

Biblioteca Nacional de Portugal

Área de Leitura para Deficientes Visuais

Campo Grande, 83, 1749-081 Lisboa

Portugal

 

Telef.: 217982000

Fax: 217982138

Internet: www.bnportugal.pt

E-mail: aldv-leitura@bnportugal.pt

 

 

 

FICHA TÉCNICA

 

Responsabilidade Editorial

Isidro E. Rodrigues (coordenação)

Claudino A. Pinto

Cláudia A. Trigo

 

Edição em Livro Braille e Livro Electrónico

 

Processamento e Impressão

José Luís de Almeida

 

ISSN:: Versão Braille: 0874-5420; 

 Versão Electrónica: 0874-5447 (texto).

 

 

 

SUMÁRIO

 

 

EDITORIAL:

35 Anos de Publicação de "Ponto e Som" 

 

 

PRISMA CULTURAL:

 

Fernando Pessoa: um cliente muito especial

 

Bastardos famosos, Filhos ilegítimos que mudaram o mundo

 

Os Camarões

 

A Sífilis e os Descobrimentos

 

Marrocos: Regresso ao passado, em Mazagão

 

 

VARANDA DO LEITOR:

 

João e Clara na ilha de Sonho

 

Doloroso Ocaso de um Amor Eterno

 

 

AS NOSSAS COLECÇÕES

 

 

 

 

EDITORIAL

 

 

 

 35 Anos de Publicação de "Ponto e Som"

 

por Isidro E. Rodrigues

 

 

35 anos são já passados desde o início do mês de Abril em que um contingente de Capitães das Forças Armadas Portuguesas concertava o plano estratégico a executar para o derrube do Estado Novo. Pois, nesse mesmo mês de Abril em que para todos nós, Portugueses, se abria uma nova página promissora de progresso em liberdade, para os deficientes visuais da Pátria Lusa dava-se início, na Biblioteca Nacional, à publicação de “Ponto e Som”, Revista Trimestral que se propunha preencher um importante espaço no domínio das acessibilidades à informação, à literatura recreativa e formativa, aos diversificados ramos da cultura, em suma, aos saberes que enriquecem e enobrecem o Intelecto Humano.

 

Ao longo destas três décadas e meia, não foram poucas as dificuldades a vencer. Equipamentos rudimentares de impressão, falta de papel adequado às exigências da escrita Braille foram os obstáculos mais renitentes, até Janeiro de 1989, mês em que foi encetado o processamento e impressão contando com meios informáticos recentemente adquiridos.

 

Não obstante, esta publicação jamais, no passado, defraudou as expectativas dos seus leitores. Disseminou informação de carácter literário, artístico, científico, promoveu acções formativas no domínio da aprendizagem do Braille, foi entre nós o maior veículo de informação acerca das novas tecnologias ao serviço dos deficientes visuais. Não esquecendo o serviço relevante que se consubstancia na publicação da rubrica “As Nossas Colecções”, que proporciona aos leitores da ALDV receberem em suas casas, sem demoras injustificáveis, informação concernente às actualizações dos fundos bibliográficos disponíveis, “Ponto e Som” contribuiu em larga medida para que os deficientes visuais conhecessem mais e melhor a história e a missão do livro e das bibliotecas que salvaguardam a sua conservação e promove a respectiva difusão.

 

35 anos de existência activa tem esta publicação que, aquém e além fronteiras, foi veículo de saberes que a todos os deficientes visuais lusófonos gratuitamente disponibilizou; três décadas e meia de labor empenhado a favor da promoção dos cidadãos com deficiência visual, em todas as vertentes de índole intelectual, se celebram neste mês de Abril, com a consciência de dever cumprido e a esperança de que, por detrás das nuvens negras que se adensam no horizonte, esteja um Sol que brilha e que no futuro próximo, esparramando-se por cidades e aldeias, vales e montanhas, a todos contemple com o seu calor e luminosidade fecundantes.

 

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PRISMA CULTURAL

 

 

 

Fernando Pessoa: um cliente muito especial

 

Luís Machado,

In “Era uma Vez um Café”

 

 

Fernando, realmente, um cliente muito especial

 

 

Das muitas personalidades ilustres e famosas que passaram pelo Café Martinho da Arcada, destaca-se obrigatoriamente uma: Fernando Pessoa; melhor: Fernando António Nogueira Pessoa, de seu nome completo, nascido em Lisboa num dia de Santo António, do ano de 1888.

 

Mas afinal quem era (e como era) Fernando Pessoa?

 

Figura cimeira do modernismo literário, incontestavelmente um dos maiores poetas do século XX, escreveu, como se sabe, uma boa parte dos seus poemas à mesa do Martinho da Arcada.

 

Era um homem magro, com uma figura esguia e franzina, media 1,73 m. de altura. Tinha o tronco meio corcovado. O tórax era pouco desenvolvido, bastante metido para dentro, apesar da ginástica sueca que praticava. As pernas eram altas, não muito musculadas e as mãos delgadas e pouco expressivas. Um andar desconjuntado e o passo rápido,  embora irregular, identificava a sua presença à distância.

 

Vestia habitualmente fatos de tons escuros, cinzentos, pretos ou azuis, às  vezes curtos. Usava também chapéu, vulgarmente amachucado, e um  pouco tombado para o lado direito.

 

O rosto era comprido e seco. Por  detrás de uns pequenos óculos redondos, com  lentes grossas, muitas vezes embaciadas, escondiam-se uns  olhos castanhos míopes. O seu olhar quando se fixava em alguém era atento e observador, às vezes mesmo  misterioso. A boca era pequena, de  lábios finos, e quase sempre semicerrados. Usava um bigode à americana que lhe conferia um charme especial. Quando falava durante algum tempo e esforçava as cordas vocais, um dos seus pontos sensíveis, o  timbre de voz alterava-se, tornando-se mais agudo e um pouco  monocórdico. A modulação da passagem de  um tom para outro acabava por reduzir o seu volume vocal  natural e o som então emitido ficava  mais baixo e um pouco gutural, tornando-se menos audível. O  actor João Villaret, que o conheceu  através do poeta António Botto, ouvindo-o ler um dia uns poemas  novos que escrevera, ficou decepcionado  com a leitura, dizendo: "O Botto, o seu amigo com aquela voz,  nunca poderia ser actor".

 

Embora não muito dado ao riso,  Fernando Pessoa tinha uma certa ironia e algum  humor, sobretudo se estava bem disposto, o que acontecia  algumas vezes quando os amigos mais próximos o desafiavam para jantares. Quando ultrapassava a timidez  chegava a ser exuberante e gesticulava  de um modo quase teatral, deixando escapar um riso nervoso, às vezes irritante.

 

Apesar de conviver, no fundo era um  solitário, pouco dado a conversas com  estranhos. No final da sua vida, a melancolia e uma exagerada  angústia existencial acentuavam a tendência para se isolar dos mais próximos e dos próprios familiares.

 

O seu temperamento ansioso foi  interpretado por alguns dos seus biógrafos como uma personalidade do  tipo emotivo não activa. No fundo, era  um tímido introvertido, dado a fortes instabilidades de  sentimentos e de emoções.

 

Dotado de um carácter bastante  complexo, era um homem simples com uma  grande inteligência e uma extrema sensibilidade. Como se sabe,  era reservado e não gostava de falar de  si nem dos seus problemas, protegendo o mais possível a sua  privacidade.

 

Terrivelmente  supersticioso, tinha momentos em que se comportava de uma forma enigmática e  misteriosa, a que decerto não seria  alheia a sua velha atracção pelo oculto, o esotérico e a própria  relação metafísica que tinha com a  vida.

 

Sempre sonhador, acreditava nos  grandes projectos, empenhando-se neles com  extrema lucidez e determinação, às vezes até de uma forma  obsessiva, sobretudo nas coisas que se propunha realizar.

 

De todos os cafés de Lisboa que  frequentou, o Martinho da Arcada foi um  espaço ideal para aliviar a solidão. Utilizava-o, sem parcimónia,  como um escritório de fim de tarde, onde se encontrava, só quando queria, com os amigos mais íntimos.  Diariamente aparecia por volta das sete  da tarde, com uma pasta debaixo do braço. Sentava-se à mesa  (quase sempre na mesma) onde espalhava  vários maços de papéis. Às vezes, se estava sozinho, mesmo  antes do primeiro café, lançava logo  para o papel alguns pensamentos e começava a escrever.  Outras, adoptava uma postura abúlica e  fixava um ponto da sala, alheando-se de tudo e de todos. Apenas  um pigarrear característico, seguido de  tosse seca, denunciavam a sua presença.

 

A família Mourão (nessa altura  proprietária do Martinho e que nutria  por ele grande admiração) jantava todas as noites numa mesa próxima do  poeta e, ao vê-lo encharcar-se em cafés  e bagaços, desafiava-o, muitas vezes, para os acompanhar na  refeição. Pessoa, por timidez, nem  sempre aceitava mas, quando insistiam, acedia por delicadeza, e se  mais não fosse, acabava por comer apenas  uma sopa. Diz-se que Maria Judite Mourão inventou uns ovos  estrelados com queijo só para o obrigar  a comer algo de mais substancial.

 

Sabe-se que Pessoa tinha algumas  fobias: não suportava que lhe tirassem  fotografias, não gostava de falar ao telefone e tinha terror às  trovoadas. A propósito destas, Almada  Negreiros relata-nos um episódio ocorrido num dia chuvoso, em que tinha  marcado encontro com o seu amigo  Pessoa, no Martinho: "Mal tinha começado a conversar com ele quando, subitamente, rebenta uma  tremenda e memorável tempestade. O Terreiro do Paço ficou  logo ligado ao Tejo. Chuva e mais chuva  barulhenta, vento, relâmpagos, trovões, um não parar. Não  me contive e vim à porta. Gritei para  fora: Vivam os raios! Viva o vento! Viva a chuva! Quando voltei à  mesa ele já não estava lá. Mas estava  um pé debaixo da mesa. Era ele todo. Puxei-o, estava pálido como  um defunto transparente".

 

Dos seus gostos, conhece-se que  coleccionava postais e que era  filatelista. Para além do deleite pela leitura, e a sua biblioteca comprova os  muitos livros que "devorou", apreciava música clássica: Beethoven, Chopin, Mozart, Verdi e  Wagner foram seguramente alguns dos  seus compositores favoritos.

 

Nos últimos anos de vida, já sem  amizades nem amores, só e muito  abandonado, movimentava-se num círculo cada vez mais restrito. O  envelhecimento prematuro fazia-se sentir de forma bem visível, sobretudo  pelo aumento da calvície e pelo embranquecimento do  cabelo, a que decerto não foram alheios os excessos praticados: muitas  aguardentes bebidas, muitos cafés  sorvidos e os oitenta cigarros fumados diariamente.

 

Os desgostos da vida, a saúde  precária, agravados por dificuldades económicas, contribuíram decerto para uma morte tão  precoce.

 

Numa quinta-feira de um quase final  de Outono, do ano de 1935 (27 de  Novembro), um atormentado Fernando Pessoa toma, com Almada  Negreiros, o último café no Martinho da Arcada. Dir-se-ia uma despedida romântica digna de um poeta.  Nessa noite, depois de regressar a  casa, é acometido de dores abdominais, agravadas por dolorosas  cólicas hepáticas.

 

Na manhã seguinte, a conselho do  médico que o assiste, Jaime Neves, é  internado, de urgência, no Hospital de S. Luiz dos Franceses, em  Lisboa, local onde, a 30 de Novembro, faleceu.

 

Não obstante já terem passado 69  anos após a sua morte, a grandiosidade  da sua obra e o seu invulgar génio poético  estão hoje ainda longe de estarem completamente decifrados.  Fernando Pessoa continuará  sempre presente, na memória de todos  nós, sobretudo no Martinho da Arcada, que   nunca esquecerá o amigo e  o cliente, realmente, especial.

 

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Bastardos famosos, Filhos ilegítimos que mudaram o mundo

  

In Super Interessante,

Setembro 2007

 

 

Alguns filhos ilegítimos não tiveram dificuldade em triunfar como  reis, papas, pensadores, artistas ou  políticos. Outros tiveram que lutar  contra os próprios complexos e a  rejeição social para poderem  destacar-se.

 

 

Do lado esquerdo do vale que divide  as sete colinas de Lisboa, o imponente  Castelo de São Jorge. Do outro, um  convento carmelita que teimava em ruir, ora com os sismos, ora com as chuvadas. Dentro de cada um dos edifícios, os dois  portugueses mais poderosos do seu tempo: o rei D. João I e o seu  condestável, D. Nuno Álvares Pereira.  As relações entre os dois tinham  arrefecido muito desde que ambos  enfrentaram e desbarataram o exército  castelhano em Aljubarrota; alguns  historiadores crêem mesmo que entre o  rei e o seu antigo general se instalara  uma oposição aberta, e que a escolha do  local onde foi implantado o Convento do  Carmo foi determinada pelo desafio do  antigo general ao seu soberano, que  agora queria limitar o poder excessivo  de um brilhante estratega que ele próprio fizera conde de Arraiolos, de Barcelos e de Ourém.

 

Uma história quase vulgar da crónica  medieval, com soberanos a quererem  controlar os seus nobres mais  destacados, não fora o facto de estes  dois homens, de crucial importância na  História de Portugal (duplamente, pois  estarão também na origem da Casa de  Bragança), terem sido bastardos, isto  é, filhos ilegítimos, naturais,  nascidos fora do casamento.

 

 

O rei e o seu general, bastardos e compadres

 

 

De facto, D. João, nascido em 1357,  era filho de D. Pedro e de uma nobre  galega, Teresa Lourenço, portanto  meio-irmão de D. Fernando I, que  morreria sem herdeiro masculino; feito  mestre de Avis aos sete anos, acabaria  por ser inesperadamente aclamado rei e fundador de uma nova dinastia. Ele  próprio viria a ser, em 1380, pai de um  bastardo, D. Afonso, o primeiro duque de  Bragança, casa de onde sairia, 260 anos  depois, a quarta dinastia.

 

Logo que foi aclamado e se viu não  só a braços com a oposição espanhola  como com os ecos peninsulares da Guerra  dos Cem Anos, D. João I nomeou para  condestável e protector do reino um dos  seus primeiros e mais firmes apoiantes,  D. Nuno Álvares Pereira. Três anos mais  novo do que o rei, D. Nuno era também  ele um filho natural, do nobre Álvaro Gonçalves Pereira e de Iria Gonçalves  do Carvalhal. O condestável teve uma  filha, Beatriz, que veio a casar com o  infante Afonso, filho de D. João I,  pelo que também ele esteve na origem da  Casa de Bragança.

 

 

Quase todas as famílias reais  medievais tiveram os seus bastardos. Não raro, os ilegítimos, por serem mais  velhos, reclamavam direito à sucessão,  recorrendo à violência. A História está  cheia de episódios destes, e do  contrário, de casos em que eram os  soberanos a quererem ver-se livres dos meios-irmãos, que  imaginavam como uma ameaça pendente sobre as suas cabeças. Porém, a maior  parte das crianças nascidas fora do  casamento ficavam completamente  desamparadas.

 

Na Antiguidade, os filhos ilegítimos  eram ignorados pela sociedade. Uma excepção foi Ptolomeu XII, que subiu  ao trono em Alexandria, apesar de ser  bastardo (era meio-irmão de Alexandre,  o Grande). Gregos e romanos tratavam  com especial desprezo os filhos de relações adúlteras. Em muitos casos, o  abandono por infidelidade ou por  motivos económicos implicava a morte  dos menores, e os que sobreviviam  enfrentavam uma existência extremamente  precária e marginal.

 

 

Os Templários admitiram bastardos nas suas fileiras

 

 

Por não se conhecer os pais, eram  baptizados com apelidos que denunciavam  a condição de enjeitados. Se as mães  decidiam criá-los, os filhos naturais  podiam usar o apelido materno, mas  nunca o do pai. Os que não contavam com  o apoio maternal ficavam expostos a uma  existência obscura e miserável.  "Esquecidos pelos progenitores, os bastardos não desempenharam  praticamente nenhuma função social ou  política entre a aristocracia romana",  escrevem P. Ariés e George Duby em  História da Vida Privada.

 

Na Idade Média, a lei estabelecia  que o indivíduo não tinha direito a  qualquer protecção se não fizesse  oficialmente parte de uma família mas  houve excepções. Por exemplo, alguns filhos ilegítimos tiveram acesso à  exclusiva Ordem do Templo, embora  rígidas normas internas os impedissem  de envergar o manto branco.

 

Em França, produziu-se um caso  insólito que deu origem a todo o género  de rumores e falatório no século XVII.  A protagonista foi a monja negra de  Moret, presumível filha natural de  Maria Teresa de Áustria, infanta de  Espanha e rainha de França após o  casamento com Luís XIV.

 

Durante os primeiros meses de vida  conjugal, o monarca cumpriu os seus  deveres para com a roliça e pouco atraente mulher mas, pouco a pouco,  acabou por procurar companhias femininas  mais sedutoras. Todos conheciam os  devaneios do rei, incluindo Maria  Teresa, que se sentia infeliz e isolada  na corte até que, um dia, recebeu um  presente de Beaufort que lhe alegrou a  vida.

 

Tratava-se de um escravo, um menino  de raça negra chamado Nabo. Anos  depois, o escravo transformou-se num  jovem impetuoso que seduziu as damas de  companhia da rainha e, ao que parece, a  própria Maria Teresa. Segundo rezam  algumas crónicas, numa das ocasiões em  que ficou grávida, a rainha deu à luz  uma menina mulata.

 

Enquanto os médicos procuravam  explicar o inexplicável, soube-se na  corte que o atraente escravo aparecera  morto. A família real anunciou que a  menina nascera tão frágil que apenas  sobreviveu 48 dias, uma versão piedosa  para ocultar a infidelidade de Maria Teresa.

 

Trinta anos depois, quando a  rainha já tinha falecido, a bastarda de  cor, também chamada Maria Teresa,  entrou num convento e recebeu uma  pensão vitalícia do rei, o que veio alimentar todas as suspeitas.

 

Tanto na realeza como entre as  pessoas comuns, foram muitos os que  sofreram o trauma de serem ilegítimos  e, embora a situação deixe quase sempre  sequelas, o tempo ajuda a ultrapassar o  estigma. Alguns procuram atenuar a  crise de identidade através da assertividade e do êxito social. João  de Áustria, bastardo de Carlos V, foi  um caso paradigmático de filho natural  obcecado pela fama e pelo  reconhecimento social de condenado à  prisão.

 

Outros reagem com uma atitude  rebelde aos olhos do mundo, como o  escritor francês Jean Genet, cuja obra  exprime uma oposição radical às  convenções sociais. Trata-se de uma atitude bastante compreensível, se  considerarmos que era  filho ilegítimo de uma prostituta. Genet enfrentou, durante anos, uma  série de processos judiciais por roubo  e práticas sexuais indecorosas.  Finalmente, em 1947, o filho natural da  pobre prostituta foi condenado a prisão  perpétua. Na cadeia, escreveu vários  livros que rapidamente lhe trouxeram  grande prestígio literário.

 

Um grupo de autores franceses  encabeçado por Jean-Paul Sartre pediu a  libertação de Jean Genet, a qual lhe  foi concedida em 1948. Trinta e cinco  anos depois conquistou o Prémio  Nacional das Letras, Os críticos  literários consideraram que se tratava  de um existencialista a braços com  problemas de identidade, o que não  deixa de ser compreensível, numa pessoa  que nunca soube quem era o pai.

 

 

Mãe de uma dinastia bastarda

 

 

Catarina II (1729 -1796), uma das  maiores representantes do despotismo  iluminado, era filha de um príncipe  alemão. Entrou na história da Rússia  pelo casamento, em 1745, com Pedro III  da dinastia Romanov, um soberano  impotente e mal amado pelo povo, que morreu numa conspiração, em 1762, na  qual é provável que a mulher tenha  participado. A partir de então,  Catarina governou com mão de ferro o  Império russo e colocou em postos-chave alguns dos seus amantes, incluindo o  atraente conde Soltikov, que se crê ter  sido o verdadeiro pai do futuro czar  Paulo I.

 

Se a interpretação dos historiadores estiver correcta, a partir desse  bastardo, nenhum dos czares que se  seguiram tinha uma única gota de sangue  Romanov. Paulo I foi um homem adoentado  e instável, vítima de ataques de  pânico. Acabou por ser tão odiado como  o seu suposto pai, o czar Pedro III. Em  1801, Paulo I morreu assassinado  durante uma conspiração que se diz ter  sido instigada pelo próprio filho, o futuro Alexandre I.

 

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Os Camarões

  

Por João Aguiar

in TempoLivre, Fev. 2006

 

 

Desta vez, viajamos até ao Brasil e  até ao século XVII para encontrarmos  dois camarões, ou melhor: dois  Camarões, com maiúscula, porque se  trata de nome de gente. Falo de D. António Filipe Camarão e D. Clara  Camarão.

 

 

António Filipe era um índio  brasileiro, da tribo dos Potiguar;  chamava-se, inicialmente, Potty, que  significa "camarão". Ao converter-se ao catolicismo, traduziu  esse nome para português e fez dele o  seu apelido. "Traduziu para português":  podia fazê-lo facilmente, porque,  educado pelos jesuítas, não só aprendeu um português perfeito como até algum  latim.

 

Não sei – e duvido que alguém saiba  – por que razão um índio potiguar se  identificou tão completa e ardentemente  com Portugal e os Portugueses. O que é  certo é que o fez, tanto assim que,  durante dezoito anos a fio, combateu  sem descanso os Holandeses, que estavam  decididos a apoderar-se do Brasil.  Combateu-os em várias frentes,  comandando um regimento indígena: em S.  Lourenço, Porto Calvo, Mata Redonda e Baía, António Filipe Camarão esteve presente e bateu-se como  um leão. Na primeira batalha dos Guararapes, em 1648, comandou a ala  direita do exército português – foi a  sua última intervenção, aliás: pouco depois contraiu uma febre  maligna e morreu a 24 de Agosto desse mesmo ano.

 

Quanto a Clara, era a sua mulher,  índia também, seguiu a tradição do seu  povo, isto é, acompanhou o marido na  guerra – e lutou com não menor  bravura; e se ele comandava um regimento índio, ela batia-se à frente  de um batalhão feminino, cuja acção, ao  que parece, foi decisiva na batalha de  Porto Calvo, em 1637.

 

Porém, a razão que me levou a dedicar  estas linhas ao casal Camarão não se  prende somente com a evocação de feitos  heróicos pertencentes às "malhas que o  império tece", como escreveu Fernando  Pessoa. A outra razão, e talvez a  principal, está ligada àquele "D." que,  logo de início, coloquei antes do nome  de António Filipe Camarão.

 

É que António Filipe tinha direito a  ele, por decisão real. E, além do  tratamento de "Dom", foi-lhe dada  também a comenda da Ordem de Cristo.  Foi-lhe dado ainda o título (e posto) de capitão-mor de todos os índios da  costa do Brasil.

 

Na minha muito humilde maneira de  ver, são estranhas coisas como esta: um  índio receber o título de Dom e o  hábito de Cristo (distinções pelas  quais se bateram, ferozmente e sem êxito, muitos portugueses de centenária  raiz), são coisas insólitas como esta,  e outras do mesmo género, que fazem a  diferença entre a experiência imperial  portuguesa e outros impérios coloniais europeus. É  certo que em termos de avidez, febre de  lucro, prepotências, crueldades e mais  desmandos, não teremos sido muito  diferentes dos outros.

 

Um império é um império e as suas  misérias são sempre as mesmas –  pensemos, por exemplo, no Iraque (e  outros lugares do globo) à luz do  actual império americano. Não tenho,  por isso, a mínima intenção nem a  pretensão de branquear indevidamente o  antigo império português. Ao mesmo  tempo, julgo ser impossível fazer tábua  rasa de certas particularidades que são  importantes. O caso de D. António Filipe Camarão não é único. Vem-me à  memória, por exemplo, um certo Honório Barreto, negro de raça,  guineense de origem, que se distinguiu  – mais, que se ilustrou – no aparelho  colonial português do século XIX como  governador da Guiné.

 

Mais uma vez: são coisas destas que,  permita-se-me a expressão, fazem o sui  generis do nosso caso. É desse sui generis que eu gosto...

 

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A Sífilis e os Descobrimentos

  

Conferências,

In Bol. Clínico, 1990

 

 

... "Herdámos no sangue lusitano

uma boa dosagem de lirismo  além desta sífilis é claro" ...

 

 

Quando Chico Buarque de Holanda, no  seu "Fado Tropical", inclui estes versos, levanta uma questão que suscita alguma  controvérsia. Teriam sido os  Portugueses os responsáveis pelo aparecimento da  Sífilis no Brasil?

 

E se é certo que, nas obras de  Pêro Vaz de Caminha não há nenhuma  referência que sugira a existência de tal doença  em 1500, não implica que não existisse.

 

Por outro lado, a mesma afirmação  levanta uma outra questão. Qual a  origem da Sífilis? Existiria já na Europa em 1493  ou foi trazida pela tripulação de  Colombo nessa data?

 

Esta controvérsia é de hoje como  era de ontem, onde se poderia dizer  existirem duas principais correntes que,  aguerridamente e não poucas vezes  isentas de parcialidade, defendiam a origem da  Sífilis. A Americanista era  representada por Astruc. Outra, a Europeia, tinha como  principal defensor o português Ribeiro  Sanches. De permeio Hensler, que a um tempo  afirmava que a Sífilis era endémica no  Haiti e daí veio para a Espanha, mas que também  teria existido na Europa, embora de  forma esporádica, só se tornando epidémica no  Século XV. Opinião idêntica era  manifestada por Musitano em 1711, acreditando que a  Sífilis sempre tinha existido na Europa  mas que, em 1494, tinha adquirido uma nova  virulência.

 

Uma outra teoria menos crível, a  Africanista, pode ser retirada da obra  em verso sobre doenças venéreas, de Villalobos,  editada em 1498, na qual faz referência ao que se chamava então de boubas. É o primeiro  a descrever de forma aceitável o cancro sifilítico, na suposição de que era aí  que tudo começava. Refere a sua localização aos  órgãos genitais, a elevada  contagiosidade, assim como o secundarismo. Finalmente, designa a doença como Sarna do Egipto,  talvez por pensar que a origem desse mal, como de  tantos outros, só poderia vir dessa  parte do globo, portanto dos infiéis.

 

Esta hipotética origem é  desmentida, entre outros, por Leão o  Africano, personalidade que, tendo vivido em  Granada, foi daí expulso após a  conquista desse reino pelos Reis Católicos. Vai para  Fez e depois de várias peripécias é  capturado por piratas cristãos e levado para Roma,  onde escreve que a Sífilis só passou a  existir em África depois da expulsão dos Judeus e  dos Mouros da Europa.

 

De igual modo, a confirmação de que essa doença aí não  existia, é o facto de os  norte-africanos que viviam na parte ocidental a designarem  por Mal espanhol e os que residiam na  parte oriental por Mal francês.

 

E, porque o pouco espírito  científico do século se prestava para  isso, havia quem defendesse a origem espontânea da  doença, muitas vezes interpretada por  fenómenos naturais, como a reflexão dos raios  solares nos lagos pantanosos  originários das grandes inundações que assolaram diversas   regiões de Itália, em fins do Século XIV.

 

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Marrocos: Regresso ao passado em Mazagão

  

Manuel Giraldes,

In Além-Mar, Out. 2004

 

 

Mazagão, a nossa mais importante  praça-forte em Marrocos, foi portuguesa  desde o princípio do século XVI até meados do século XVIII. O que resta do  conjunto fortificado acaba de ser  considerado pela  UNESCO como  Património da Humanidade.

 

Mas não são só as pedras  que contam: visitá-la é redescobrir um  pouco de nós e da nossa herança árabe.

 

Para quem vem de Marraquexe, a  viagem em direcção à costa atlântica deixa na  retina a monótona insistência dos mesmos tons de  ocre, apenas cortada pela copa de uma  ou outra árvore que encontrou refúgio na  relativa frescura dos pátios das casas  de terra. No meio daquela aridez vagamente acastanhada,  onde, ao longo de quilómetros e quilómetros, não se avista um arbusto, uma erva, a suspeita  de uma gota de água, apenas o sorriso luminoso dos que acorrem a saudar o viajante  consegue emprestar à paisagem alguma  cor e vivacidade.

 

Mal se pressente o primeiro sinal de  sal, vento e mar, nada nos prepara para a  visão quase ofuscante das primeiras casas caiadas.  Todas elas alegradas por uma barra de  um vibrante azul-ultramarino. De repente, é como se  tivéssemos trocado o Sul pelo Norte, e Marrocos se tivesse transfigurado num pedaço  qualquer do Alentejo. A chegada a El Jadida só reforça a  sensação de que nos enganámos no  caminho e, afinal, voltámos a casa.

 

No porto, de  traineiras pintadas com cores bem  vivas, em tudo idênticas às que outrora nos habituámos a ver em  Olhão ou Portimão, jorram no cais  prateados cardumes de sardinhas; em redor, as praias, os  restaurantes, o tom geral da estância  de veraneio insinuam a ilusão de que nos  encontramos algures no Algarve, antes  de as torres, os condomínios, as marinas e os golfes  terem derrotado as casas baixas e o  despojamento próprio de localidades de pescadores;  no velho centro, para lá dos altos  muros da fortaleza, tudo é branco; e, se as ruas estivessem  desertas e não tivéssemos a certeza de  estarmos no Norte de África, juraríamos ter  embarcado numa experiência de turismo  histórico, que nos tivesse levado, sem máquina do tempo  nem nada, a um Portugal há muito  perdido.

 

De certa forma, estamos em Portugal.  Ou El Jadida – A Nova, em árabe – não  fosse o nome com que foi rebaptizada a cidade que  cresceu em torno da praça-forte de  Mazagão, edificada a mando de el-rei D. Manuel no início do  século XVI.

 

Foi aliás Mazagão que  mereceu ser recentemente classificada pela UNESCO,  que considerou a cidadela, o 19.º sítio representativo da nossa expansão a ser  incluído na lista do Património da  Humanidade, "um exemplo precoce da  arquitectura militar da Renascença" e "um extraordinário  exemplo da troca de influências entre  as culturas europeia e marroquina, com claro  reflexo na arquitectura, tecnologia e planeamento urbano".

 

 

Cisterna pioneira

 

 

Rafael Moreira, um historiador de  arte que estudou a construção da praça,  sublinha que não se trata apenas da "cidade mais  importante feita por portugueses" em  Marrocos, mas também da "primeira cidade planeada da  expansão portuguesa". É, de resto, esse planeamento – "a interligação entre as  muralhas e o urbanismo" – que antecipa "um princípio de racionalidade novo, bem renascentista". Isto apesar  de a primeira fortificação, confiada a  Diogo e Francisco de Arruda (o arquitecto da Torre de  Belém), coincidir com o apogeu do  manuelino, o gótico tardio que se  tornou a expressão máxima em arquitectura da nossa aventura  marítima. Logo em 1541, D. João III  manda proceder à construção das poderosas muralhas. A  obra começou em Agosto e, no seu essencial, já estava pronta cerca de um ano depois.

 

Para o especialista, a peça mais  notável do conjunto agora classificado,  de que faz ainda parte a igreja manuelina da Assunção, é a  imensa cisterna, suportada por 25  colunas: É "lindíssima e enorme. Dá para abastecer de água uma  armada inteira, com seis, sete ou oito  navios." Para ter uma ideia do seu arrojo pioneiro,  diga-se que, só 15 anos depois da sua  construção, é que Miguel, filho de Francisco de Arruda,  edifica no Forte de S. Julião da Barra  (Lisboa) a primeira cisterna moderna nacional. E fá-la à  imagem da de Mazagão.

 

 

Histórias cruzadas

 

 

A ampla baía norte-africana foi  considerada o ancoradouro mais seguro  da costa ocidental de Marrocos até à construção do porto de  Casablanca, em pleno século XX. Já os cartagineses tinham apreciado o porto  de abrigo, a que deram o nome de Rusibis. Porém,  quando os nossos navegadores começaram  a rondá-lo, no século XV, fomos buscar um topónimo  berbere citado por um autor árabe do  século XII para nomeá-lo.

 

Saímos de Mazagão, a nossa última  praça marroquina, em 1769. Nos anos que se seguiram, a fortaleza foi caindo em ruínas. Se hoje  resiste, em muito o deve a França: foi durante o protectorado francês, já na  primeira metade do século passado, que os seus Serviços Históricos procederam ao  restauro do que se viria a tornar uma importante atracção turística.

 

Tal como deram nome a Mazagão, os  portugueses deram o nome ao país,  independente desde 1956: porque  chamaram Marrocos à primeira capital do reino, Marraquexe,  que hoje recuperou o seu nome árabe "Marrâkux",  mas mais uma vez estropiado pelos  ocupantes franceses (Marrakech).

 

Ironicamente, em Marraquexe  encontra-se o que resta do sumptuoso palácio que Ahmede Almançor  mandou construir para celebrar a sua  estrondosa vitória sobre D. Sebastião, em 1578, em  Alcácer-Quibir.

 

Se demos o nome ao  reino, este devolve-nos, entre amenas ruínas e um adejar de cegonhas,  a imagem da fase mais negra da nossa  história como nação.  Não importa. Vitórias e derrotas,  presenças e ausências, memórias e  esquecimentos. Por tudo e apesar de tudo, portugueses e  marroquinos mantêm uma relação  subterrânea, inconsciente, mas palpável. Talvez por isso seja tão fácil regressar ao passado em Mazagão.

 

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VARANDA DO LEITOR

 

 

 

João e Clara na Ilha de Sonho

  

Conto Infanto-Juvenil,

Euluso de Nascimento

 

 

Clara, ao acordar, ouve a mãe que no  quintal anda já a tratar da bicharada.  Salta da cama, corre à casa-de-banho  para fazer as suas necessidades  matinais e tomar um duche rápido, vai à  cozinha onde come uma maçã reineta e  uma pratada de flocos de aveia que a  mãe deixara já preparada para ela em  cima da mesa; corre ao quintal,  verifica que o dia promete ser quente e  luminoso e pergunta à mãe pelo irmão.

 

Esta, sem deixar de regar os  canteiros, onde florescem hortenses,  goivos, cravos, amores-perfeitos, rosas  e outras espécies, diz-lhe:

 

– Oh minha querida, o teu irmão já  há mais de uma hora que se raspou para  a praia. Agora já ele deve ter tomado  uma boa banhoca.

 

Ouvindo isto, Clara vai buscar o  fato-de-banho e a toalha e, dizendo  adeus à mãe, corre à praia a juntar-se  ao João madrugador. Rapidamente lá  chega – o que não é de admirar, porque  esta fica muito próxima da sua casa e  ela é ágil quanto baste para o  conseguir.

 

O extenso areal está lindo,  branco; branco e inundado de luz;  deserto de pessoas mas não das alvas  gaivotas que a cobrem voando ou  pousadas; não se vê lá ninguém, nem  mesmo o seu irmãozinho. O mar, esse,  está calmíssimo, parece um lago  dormindo ao sol, um espelho cristalino  onde se pode mirar a própria imagem.  Percorre a praia lés a lés; corre atrás  das gaivotas, que logo levantam voo e  lhe fogem; banha-se na babugem das  ondas que lhe acariciam o corpo magro,  mas de formas harmoniosas; vai ao longo  da praia, atraída por um golfinho que a  conduz até um rochedo, lá ao fundo,  onde descobre finalmente o mano, que  anda a apanhar lapas.

 

Então, finalmente juntos, os  dois irmãos e o golfinho ficam-se por  ali a brincar, até que este os convida  para dar um passeio pelo mar, montados  no seu dorso.

 

Ouvindo esta proposta, os dois  manos entreolham-se, estupefactos, não  acreditando nos seus ouvidos, ou  duvidando da interpretação dada às  palavras do cetáceo amigo. Tanto João  como Clara ficam incrédulos. Não é  possível que o que julgam ter ouvido  seja a sério. Eles bem gostariam que  aquilo fosse verdadeiro, mas, uma coisa  assim tão inesperada não podia ser  aceite de ânimo leve.

 

Adivinhando a tempestade de  emoções que a sua oferta causara no  espírito dos seus amiguinhos, o  golfinho logo se apressa a tirar-lhes  as dúvidas:

 

– Meus amigos, não fiquem assim  a pensar que o meu convite é uma  loucura; que é qualquer coisa  impraticável. Para terem a certeza de  que isto não é uma ilusão, vamos fazer  uma pequena experiência: João, tu que  sabes nadar bem, salta para cima do meu dorso. Eu levo-te até àquela bóia,  acolá. Se achares que estás a correr  perigo, atiras-te à água e nadas para  terra.

 

Confiante, o menino monta o  golfinho e de imediato este se afasta  velozmente da orla da praia, voltando a  ela em escassos minutos. A sensação é  tão fantástica! O entusiasmo de João é  de tal modo contagiante, que Clara não  hesita um segundo para se decidir.  Nesse instante tudo se prepara para os  dois jovens embarcarem na mais  espantosa viagem, no mais excitante e  fabuloso cruzeiro.

 

Plenamente confiantes, João e  Clara saltam para o dorso do golfinho  amigo, que se compromete a  proporcionar-lhes uma aventura nunca  sonhada.

 

Assim, através de um mar de  águas límpidas e cristalinas, brilhando  ao sol como um gigantesco espelho, o  golfinho nada veloz, para o largo. A  linha da praia, de areia branquíssima  salpicada por pequenas e coloridas  embarcações a remos, vai ficando cada vez mais distante; a costa, umas vezes  constituída por rochas abruptas,  elevadas falésias e outras escarpas,  promontórios altaneiros, e outras vezes  por praias de todos os tamanhos e  feitios, desenha-se, recortada, lá  atrás, com seus cabos entrando pelo mar  dentro, com pequenos golfos, baías e  enseadas penetrando-a graciosamente, e  com a foz de dois rios que, em  estuário, penetram o oceano com as suas  doces águas. Sempre rumo ao Sul e, portanto, na direcção do sol, que se  vai erguendo mais e mais na abóbada  celeste, Clara e João, cavalgando o  dorso da estranha montada, contemplam,  de longe já, toda aquela encantadora  costa, o casario que acima dela se  espalha, os campos cobertos por verdejantes pomares e vinhedos, hortas  e extensas searas, as vertentes de  montes, colinas e até serras que mais  além ostentam formações florestais onde  se adivinha uma efervescente vida  animal.

 

Chegados a um local onde havia  um banco de areia e bastantes rochedos  submersos, o golfinho pára para  descansar um pouco e para que os seus  convidados possam admirar as fantásticas  paisagens marinhas existentes a  escassos metros abaixo da superfície  das repousantes águas, que parecem  adormecidas, acariciadas pela luz solar  que nelas penetra até ao fundo do mar.  Então, aqueles dois felizardos ficam  extasiados na contemplação do areal, de  uma brancura nunca vista; rochedos  dourados ostentando portas e janelas  que dão para o interior de cavernas de  todos os tamanhos; cavernas que servem  de abrigo a cardumes imensos de peixes  coloridos, que se passeiam por jardins  e florestas aí existentes, formados por  diversificadas espécies de algas.

 

O fundo do mar encanta-os; mas a  hora da partida chega e eles aí vão no  seu cruzeiro, que em breve os leva a  uma linda ilha, na qual, ao  desembarcarem, encontram um bando de crianças que brinca na praia, vigiado  pelos olhos atentos de Amélia, Carmen e  José – os monitores de uma colónia de  férias que todos os anos, durante os  meses de Julho e Agosto, assenta  arraiais nesse pequeno paraíso cercado  por um mar de sonho.

 

Carmen, ao ver aproximar-se da  orla da praia os dois meninos  aventureiros, corre para eles,  acompanhada pelos outros dois monitores  e o bando; ajudam-nos a saltar para  terra e, de imediato, lhes perguntam se  estão bem, se têm fome ou sede, se  precisam de alguma coisa.

 

Passada a surpresa do encontro e  conhecendo já o que se havia passado  com aqueles pequenos marinheiros,  Carmen leva-os até junto de uma linda  fonte cavada na rocha, de onde brota,  entre verdejantes fetos e aveludados  tapetes de musgo, abundante água fresca e cristalina que,  formando um regato, corre para o mar,  ali em baixo, cantarolando e saltitando  de pedra em pedra. Aqui, serenamente,  porque o leito da corrente é quase plano; ali, apressando-se, porque há  uma descida em plano inclinado ou mesmo  uma pequena cascata. Aí se refrescam e  se consolam, matando a sede que era  muita.  Em seguida, as simpáticas monitoras  servem às crianças, como mãezinhas  carinhosas, auxiliadas pela Deolinda e pela Nair, um abundante e  saboroso almoço. Todos se deliciam  comendo aqueles gostosos petiscos que  a tia Eugénia (excelente cozinheira)  acabara de preparar com a ajuda da avó  Inês, da Maria José e da Rosa.

 

Todos, numa grande tenda, em  torno de uma mesa, também enorme,  almoçam, bastante divertidos e  excitados, por terem entre si dois  aventureiros que não tiveram medo de  vir pelo mar fora até àquela ilha,  situada já bem longe da costa  continental.

 

Terminada a refeição, os miúdos  correm em debandada para a rua, como  cabritos fartos de leite, a gozar o sol  maravilhoso e aquele ar puríssimo que  fortifica o corpo e o espírito. Entretanto, Carmen convida Clara e João  a subir à colina mais alta da ilha, de  onde podem admirar, até à linha do  horizonte, o pedaço do planeta Terra,  de que, no momento, eles são o centro.

 

Sobem por veredas pedregosas que  atravessam bosques; serpenteiam em volta  de rochedos de formatos e tonalidades  diferenciados, mas todos de beleza  incomparável; passam junto a fontes  magníficas; atravessam regatos e  ribeiros; contornam pequenos lagos,  tufos de fetos e de outras plantas  habitados por diversas espécies de  roedores – nomeadamente coelhos,  lebres, esquilos e ratos –, espécies  várias de insectos, como gafanhotos  gigantes, lindas borboletas, cigarras  que cantam por todo o lado, laboriosas abelhas que colhem o pólen das  múltiplas variedades de maravilhosas  flores que embelezam e perfumam cada  recanto daquele éden, onde abundam  também aves de cores e tamanhos muito  diversificados, que voam em todas as  direcções, fazendo ouvir os seus  magníficos cantos.

 

Chegados que foram ao ponto mais  alto da ilha, o deslumbramento é total!

 

Sobre as suas cabeças, um céu de um  azul puríssimo, com o luminoso Sol já  na descida que o levará, cerca de sete  horas mais tarde, a mergulhar no mar, a  Ocidente; aos seus pés estende-se o  tapete verde, que cobre todas as  vertentes até ao mar, lá em baixo, que continua azul e calmo e magnificamente  ornamentado pelos muitos veleiros e  luxuosos paquetes, gigantescos  cargueiros e incontáveis pequenas  embarcações e alguns vasos de guerra,  sulcando-o em todas as direcções.

 

Olhando para Norte, vêem, lá ao  longe, uma mancha escura que os chama à  realidade. Aquela mancha é a terra onde  os seus pais devem estar a sofrer,  devido à sua ausência tão prolongada.

 

A tarde vai já quase a meio e o  caminho que têm que percorrer é longo. Têm que  se apressar.

 

Assim, descem rapidamente a  colina; agradecem toda a simpatia com  que os receberam e dirigem-se à praia  onde o golfinho os espera, brincando no  meio das pequenas ondas, que vêm  rebentar na praia, desfazendo-se em  espuma.

 

Ao vê-los, passa a rebentação,  aproximando-se o mais possível da areia  para que João e Clara não percam tempo  no embarque. Tudo é realizado em  alegria, mas com pena de ter sido breve  o tempo ali passado, num mundo de  sonho, com pessoas tão encantadoras.

 

Em breve, o golfinho salta já  nas ondas; os anfitriões gritam da  praia os desejos de boa viagem para os  tripulantes; o navio vivo afasta-se  cada vez mais veloz. João e Clara acenam ainda um derradeiro adeus. O  golfinho não nada; ganha asas e, em  longos saltos, voa sobre as mansas  águas, ou deixa-se transportar na  crista das ondas.

 

A viagem corre de vento em popa.  O golfinho não perde tempo. Sem  descanso acelera mais e mais, porque  quer deixar na praia os seus amigos,  ainda antes de o Sol se esconder por  detrás da linha do horizonte. O  astro-rei, já ao nível do Oceano,  dardeja as ondas com os seus raios  fulgurantes, que fazem delas autênticos  caleidoscópios. O mar está fabuloso,  cheio de luz e cor, com tonalidades e  cambiantes nunca por eles imaginados.

 

Chegam finalmente à praia e,  despedindo-se do amigo cetáceo, com uma  carícia na sua cabeça, correm a buscar  as toalhas que haviam deixado numa  furna cavada na rocha e, correndo  sempre, dirigem-se a casa, pressentindo  que os pais estejam em pânico, devido à  sua longa ausência.

 

Felizmente tal não sucede,  porque eles estavam convencidos de que  os seus filhos estariam, como tantas  vezes, em casa dos tios, na brincadeira  com os primos.

 

Ouvindo aquela história, o casal  nem quer acreditar que os filhos  estejam a falar verdade. De princípio,  pensam que os meninos estão a brincar;  mas, à medida que vão conhecendo os  pormenores, têm que admitir ser  verdadeira a história contada pelos  dois aventureiros, já que a descrição  da ilha corresponde inteiramente à  realidade. A ilha é mesmo verdadeira,  existe, de facto, lá para Sul, a  algumas milhas da costa, e é  habitualmente escolhida para nela se  instalar uma colónia de férias durante os meses de Verão.

 

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Doloroso Ocaso de "um Amor Eterno"

  

Conto de

Telma Nantes de Matos

 

 

O cheiro de café invade a casa;  respira-se o ar densamente aromatizado  em todos os cantos e recantos do lar em  que, ainda há bem pouco tempo a  felicidade parecia ser inesgotável e  duradoura.

 

Ela ali está, sentada à mesa, qual  estátua grega eternizando tragicamente  a dor humana provocada pelo abandono do  ente amado, pelos amores não  correspondidos em qualidade e  intensidade igual ao que por ele o seu  coração ainda acalenta. Ela ali está,  ostentando a nobreza da sua alma, a  dignidade do seu carácter indivisível,  intocável.

 

Os seus negros cabelos molhados,  espalhados pelos ombros, descem pelas  costas, cobrindo parte do seu corpo  seminu, perolado de incontáveis  gotículas de água escorrentes que dão  àquela aveludada pele morena a grandeza  de um expositor mágico de pedras preciosas emergindo do seu corpo  fremente, palpitante de amor por  alguém que jamais reconhecera o  tesouro que cruelmente ora rejeitava.

 

Um misto de nativa e executiva; de  força, energia e encanto da Natureza;  de trato fino e elegantes posturas,  adquiridas no seio de família  saudavelmente estruturada, no convívio social e, fundamentalmente, no processo  educativo que dela fez a mulher que se impõe pelas suas qualidades, pela sua  capacidade técnica, pelos saberes e  cultura que detém; com os seus  trejeitos desastrados, desprovidos de  preconceitos, e o seu jeito delicado e  harmonioso; com sua maneira de ser o  que exactamente é, ela assume-se por inteiro: coerente, verdadeira, íntegra,  digna, nobre.

 

 

Entre a doçura e a amargura que lhe  invade corpo e alma, feito o café que  tenta tomar, mas não o conseguindo, ela  trava uma luta titânica dentro de si:  deseja ser forte, enfrentar com realismo a tempestade de sentimentos  que lhe foi imposta e, em simultâneo,  deixa-se dominar pelo peso da dor que  torna seu corpo fremente, convulsivo.

 

Dos seus olhos, feitos cachoeiras,  verte escaldantes lágrimas que em  torrente sulcam o seu lindo rosto  normalmente sorridente, fazendo dele  leito de caudaloso rio.

 

 

– Por que choras? Linda mulher.

 

 

Ela não consegue parar de chorar e  debulhada em lágrimas degusta  lentamente o café do jeito que ele  gosta.

 

À sua frente continua o lugar de seu  "amor eterno". Lugar que está vazio...

 

O café fumegante e aromático está na  xícara esperando o seu "amor eterno"...  Mas o lugar está vazio...

 

Não teve o beijo; não teve o abraço.

 

Não teve despedida nem mesmo teve um  simples adeus.

 

Ele não está ali... Ele se foi e nem  avisou!

 

O lugar está vazio... Mas ele deixou  as lembranças, a saudade, a tristeza, a  amargura que invade dolorosamente a  alma da terna e linda mulher que ali,  em solidão esmagadora, se debate com a  crueldade do homem que, sem uma leve  pontinha de piedade, a abandonou...

 

Contudo, ele deixou o "amor eterno".

 

 

– Por que choras? Linda mulher.

 

 

Dos seus olhos vertem as lágrimas que  não querem cessar.

 

Ele se foi..., mas deixou as  lembranças.

 

Para o seu "amor eterno" ela despiu-se  totalmente... Desabotoou suas roupas e  suas fantasias. Mostrou sua fraqueza e  sua fortaleza, Mostrou suas alegrias e  suas dores, contou sua história e o  jeito com que gosta de fazer amor.

 

Com seu "amor eterno" ela mostrou a  mulher que sorri, que chora, que  vacila, que fica linda sendo  desastrada  e atrapalhada, que é fascinante sendo  divertida, que é perfeita quando é sincera.

 

Com seu "amor eterno" ela conseguiu  ser ela mesma:

 

Forte e frágil, tola e inteligente,  doce e amarga, triste e alegre. Não foi  preciso esconder os seus pequenos  defeitos.

 

 

Mas o seu "amor eterno" a deixou! Nem  sequer se despediu...

 

Deixou a saudade e as lembranças.

 

Saudades... Saudades dos momentos  felizes. Lembranças... Lembranças da  linda história de amor.

 

Dos encontros e desencontros...

 

Dos amores e desamores...

 

Das alegrias e das tristezas...

 

Do amor vivido intensamente... Do  amor não vivido plenamente...

 

 

E o perfume do café traz a lembrança  do seu "amor eterno".

 

 

O lugar está vazio!

 

O café esfriou.

 

E o choro não quer cessar.

 

 

– Por que choras, linda? Por que  choras, Mulher?

 

 

– Pelo meu "amor eterno" que me  deixou!

 

 

– Mas tu, linda mulher, sempre forte  e sábia, positiva e determinada a não  te deixares abater pelas contrariedades  da vida, tu, que contornaste  dificuldades, anulaste obstáculos, revelaste já teres alma de vencedora,  deixas-te agora submergir pela tempestade provocada pelo abandono de  um homem que não te merecia? Oh mítica filha das virgens florestas que ainda  persistem na América do Sul, pelo que  em ti meus olhos enxergam, tu és  suficientemente clarividente para  visionares nas mais íntimas profundezas  de tua alma os factores do teu  desespero, as razões que conduziram o teu inconsistente “amor eterno" a te  deixar, sem piedade, mergulhada na  solidão, no deserto da desesperança de  tudo e de todos.

 

– A minha vida não tem sentido, está  cheia de encontros e desencontros, de  amores e desamores. Tudo é encanto e  desencanto; tudo demasiadamente  transitório, restando para mim, no  final, dor e pranto.

 

 

– Mas, linda mulher, afinal não te  conheço. Eu quero acreditar que Tu  sabes ser forte e determinada, és  corajosa e nobre de sentimentos. E  assim sendo, por que não exorcizas os  males que degradam a tua existência, que  torturam a tua alma já destroçada pela  dor do abandono?

 

 

– Porque o meu "amor eterno" me  deixou!

 

 

Se foi sem um beijo, sem uma ternura,  sem uma palavra e, possivelmente, sem um  olhar. Deixou sobre a mesa as chaves  desta casa, e se foi.

 

 

– Linda mulher, quem te conhece,  despreocupada mas responsável, alegre  mas com transparências de tristeza, com  doce sorriso nos lábios mostrando a  seriedade da alma, com ternura na voz e  nos gestos, mas firmeza nas atitudes,  nos comportamentos; quem te admira a  beleza física, que se harmoniza em  pleno com a do intelecto, não pode ser indiferente ao teu penar, não pode  permitir-se ser insensível, seguindo  em frente.

 

Linda mulher, reage. Pensa que se ele  te abandonou, cruelmente e sem pudor,  nesse pranto doloroso, se ele mostrou, sem vergonha, o egoísmo de quem os  sentimentos de outrem não contam, de  quem apenas usufrui, enquanto lhe  apetece, a dádiva do amor de alguém sem  cuidar de partilhar afectos, ternuras,  em suma, a vida por inteiro, não é merecedor de ser designado por “amor  eterno", nem mesmo é digno de uma  lágrima que se escape das pálpebras  de uma mulher.

 

 

– O meu "amor eterno" me deixou, não  cuidando saber da dor que em mim ficou!

 

Mas o amanhã vai chegar, a dor vai  passar, as lágrimas vão secar, a  esperança virá de novo, a vida vai  prosseguir e eu vou voltar a sorrir-lhe  como sempre o fiz; vou guardar no coração o perfume da saudade das  felizes vivências passadas.

 

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AS NOSSAS COLECÇÕES

 

 

 

No primeiro trimestre foram incorporadas as seguintes obras:

 

 

Nota. Sempre que uma nova obra exista  já em formato ou formatos diferentes, estes serão indicados de  forma abreviada imediatamente a seguir à referência da respectiva obra.

 

As abreviaturas usadas são as  seguintes:

 

L.B. para Livros em Braille;

A.A. para Audiolivros Analógicos;

A.D. para Audiolivros Digitais;

L.E. para Livros Electrónicos.

 

 

1 — Livros em Braille

 

908 Monografias

 

Córdoba: Destino accesible. 1v-   

 

 

2 — Audiolivros

 

Audiolivros Digitais

 

32 Política

 

Scheuer, Michael — Orgulho imperial:  Porque está o Ocidente a perder a guerra contra o terrorismo/  trad. Miguel Mata; lido por Maria do Rosário Garção. Dados, som em  MP3 (55 ficheiros: 1,8GB). 11h41

 

 

792 Teatro. Representação teatral

 

792.2 Drama falado. Peças

 

A história da cruz: Baseado numa  velha lenda: Folhetim radiofónico/ adap. Judite Navarro. Dados, som em MP3  (29 ficheiros: 615MB). 9h13

 

Stowe, Harriet Beecher — A cabana do  pai Tomás: Folhetim radiofónico/ adap. Luz Franco. Dados,  som em MP3 (13 ficheiros: 372MB). 3h49

 

 

82 Literatura

 

82-31 Romance

 

Del Castillo, Michel — A viola/ trad.  Mário Henrique Leiria; lido por Maria Helena Baptista. Dados, som  em MP3 (9 ficheiros: 156MB). 2h52

 

Holden, Wendy — Simplesmente divina/  trad. Manuela Madureira; lido por Maria Clara. Dados, som em MP3 (35  ficheiros: 1,01GB). 12h41

 

Roth, Philip — Património: Uma  história verdadeira: Romance/ trad. Fernanda Pinto Rodrigues; rev. Eulália  Pyrrait; lido por Maria do Rosário Garção. Dados, som em MP3 (24  ficheiros: 403MB). 7h23

 

Saramago, José — As intermitências da  morte: Romance/ lido por Helena Marujo. Dados, som em MP3 (19  ficheiros: 422MB). 7h44

 

Solzhenitsyn, Alexander — Um dia na  vida de Ivan Denisovich/ Aleksandr Isaevítch Solzenicyn; trad.  H. Silva Letra; lido por Maria Helena Baptista. Dados, som em MP3 (13  ficheiros: 338MB). 5h48

 

82-311.6 Romance histórico. Político. De guerra

 

Sinoué, Gilbert — O menino de Bruges/  trad. Ida Boavida; lido por Maria de Fátima Hasse Fernandes. Dados,  som em MP3 (32 ficheiros: 987MB). 11h48. L.B., L.E.

 

 

82-93 Literatura infantil e juvenil

 

Soares, Luísa Ducla — Contos para  rir/ lido por Margarida Quintão Lages. Dados, som em MP3 (17 ficheiros:  152MB). 1h26

 

 

3 — Livros Electrónicos  

 

As obras precedidas de asterisco  foram-nos gentilmente oferecidas por leitores, a quem agradecemos.

 

Embora não possamos  responsabilizarmo-nos pela correcção dos respectivos textos, vamos pô-las à  disposição dos nossos leitores.

 

322 Relações entre o estado e a  igreja. Política em relação à religião

 

Manhattan, Avro — O holocausto do  Vaticano/ trad. Mary Schultze. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 552KB).

 

82 Literatura

 

82-31 Romance

 

* Amaral Júnior, João — A primeira  semana de casada: Romance. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 356KB).

 

* Amaral Júnior, João — A última  semana de solteira: Romance. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 272KB).

 

* Cunhal, Álvaro — Um risco na areia.  Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 264KB).

 

* Hauptmann, Gaby — Atira-te ao  homem/ trad. Maria Manuela Parada Ramos. Dados, texto em RTF (1 ficheiro:  860KB).

 

* Santos, José Rodrigues dos — A vida  num sopro: Romance. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 976KB).

 

 

82-312.4 Romance policial. Romance de  crimes. Romance de mistério, suspense. Thrillers

 

* Hoag, Tami — Antecedentes  perigosos/ trad. Teresa Bernardes. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 1,15MB)

 

 

82-34 Conto

 

Couto, Mia, pseud. — Estórias  abensonhadas: Contos. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 188KB). L.B.

 

 

82-84 Máximas. Sentenças. Aforismos.  Adágios. Provérbios. Pensamentos

 

Jacq, Christian — A sabedoria viva do  antigo Egipto/ trad. Maria do Carmo Abreu. Dados, texto em RTF (1  ficheiro: 136KB). L.B.

 

 

82-93 Literatura infantil e juvenil

 

* Blyton, Enid — Os cinco nos  rochedos do demónio/ trad. Maria da Graça Moctezuma. Dados, texto em RTF (1  ficheiro: 500KB). L.B.

 

 

82-94 História como género literário.  Escritos históricos. Historiografia. Crónicas. Anais.  Memórias. Diários. Biografias e autobiografias

 

* Jessop, Carolyn, Palmer, Laura,  co-aut. — A fuga/ trad. Maria João Camacho. Dados, texto em RTF (1  ficheiro: 1,11MB).

 

* Saramago, José — As pequenas memórias. Dados, texto em RTF (1 ficheiro: 304KB).

 

 

4 – Publicações Periódicas

 

 

Activa Braille-: Revista de informação bimestral. Laveiras (Paço de Arcos): Edimpresa. 2008: Novembro-Dezembro. 2009: Janeiro-Fevereiro

 

Amèrica Latina-: Boletín informativo de la Unión Latinoamericana de Ciegos. La Habana: ULAC.2007: Maio-2008: Abril, 2v

 

Colores-: La revista argentina para ciegos.Córdoba: Gobirno de la provincia de Córdoba. 2008: Dezembro

 

Correo del Sur-. Buenos Aires: Editora Nacional Braille.2009: n.º 345

 

Donne Moi Tes Yeux-. Paris: Association Donne Moi Tes Yeux.[2008]: n.º 219

 

Et la Lumière Fut. Paris: Association Valentin Haüy.2008: Novembro. 2009: Janeiro

 

La Glaneuse. Lausanne: Asile des Aveugles. 2008: Outubro; Novembro; Dezembro

 

Jornal de Notícias-: Cultura e informação. Porto: JN. 2009: Janeiro-Fevereiro

 

New Books. Peterborough: RNIB. 2009: Janeiro, 2v; Março, 2v

 

Nosotras-: Revista bimestral de interès general para la mujer. Buenos Aires: Editora Nacional Braille y Libro Parlante. 2009: n.º 30

 

Poliedro-: Revista de tiflologia e cultura. Porto: Centro Prof. Albuquerque e Castro – Edições Braille. 2009: Janeiro; Fevereiro; Março

 

Pontinhos-: Revista infanto-juvenil para cegos. Rio de Janeiro: Instituto Benjamin Constant.2008: Outubro-Dezembro

 

Progress. Peterborough: RNIB. 2008: Agosto; Setembro; Outubro

 

Read on. Stockport: Royal National Institute of Blind People — National Library Service. 2009: n.º 6

 

Revista Brasileira para Cegos-. Rio de Janeiro: Instituto Benjamin Constant. 2008: Outubro-Dezembro

 

Rosa-dos-Ventos-: Revista infanto-juvenil. Porto: Centro Prof. Albuquerque e Castro – Edições Braille. 2009: Janeiro; Fevereiro; Março

 

Visão Braille-: Revista de informação mensal. Laveiras (Paço de Arcos): Edimpresa. 2008: Novembro; Dezembro. 2009: Janeiro; Fevereiro

 

Visão Júnior Braille-: Revista de informação bimestral. Laveiras (Paço de Arcos): Edimpresa. 2008: Setembro-Outubro; Novembro-Dezembro. 2009: Janeiro-Fevereiro

 

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